sábado, 27 de dezembro de 2025

Em poucas palavras (São João Evangelista)

                                             


Peregrinar na esperança com o discípulo amado

A transmissão da fé cristã é, antes de mais, o anúncio de Jesus Cristo, para Levar à fé n'Ele. Desde o princípio, os primeiros discípulos arderam no desejo de anunciar Cristo:  «Nós é que não podemos deixar de dizer o que vimos e escutamos» (At 4, 20). E convidam os homens de todos os tempos a entrar na alegria da sua comunhão com Cristo:

«O que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e as nossas mãos tocaram acerca do Verbo da vida, é o que nós vos anunciamos, pois a vida manifestou-Se e nós vimo-la e dela damos testemunho: nós vos anunciamos a vida eterna que estava junto do Pai e nos foi manifestada. Nós vos anunciamos o que vimos e ouvimos, para que estejais também em comunhão conosco. E a comunhão em que estamos é com o Pai e com o Seu Filho, Jesus Cristo. E escrevemos tudo isto para a nossa alegria ser completa» (1 Jo, 1, 1-4).”

(1)               Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n. 425

São João Evangelista viu e ouviu o Senhor

                                                           

São João Evangelista viu e ouviu o Senhor

No dia 27 de dezembro, celebramos a Festa de São João Evangelista, e somos enriquecidos por um dos Tratados do Bispo Santo Agostinho (séc. V), à luz da Primeira Epístola de São João.

“O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos, o que tocamos com as nossas mãos acerca do Verbo da Vida. Quem poderia tocar com suas mãos o Verbo, se não fosse porque o Verbo Se fez carne e habitou entre nós?

 O Verbo, que Se fez carne para poder ser tocado com as mãos, começou a ser carne no seio da Virgem Maria; mas não foi então que começou a ser o Verbo, porque, como diz São João, Ele era desde o princípio. Vede como a sua Epístola é confirmada pelas Palavras do seu Evangelho que acabais de escutar: No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus.

Talvez haja alguém que tome a expressão «Verbo da Vida» como se fosse referida a Cristo, mas não ao corpo de Cristo que podia ser tocado com as mãos. Reparai no que vem a seguir: E a Vida manifestou-Se. Portanto, Cristo é o Verbo da Vida.

E como Se manifestou? Era desde o princípio, mas não Se tinha manifestado aos homens; apenas Se tinha manifestado aos Anjos, que O contemplavam e se alimentavam d’Ele como de seu pão. Mas que diz a Escritura? O homem comeu o Pão dos Anjos.

Portanto, a Vida manifestou-Se na carne, para que, nesta manifestação, aquilo que só o coração podia ver, fosse visto também com os olhos e desta forma sarasse os corações. De fato o Verbo só pode ser visto com o coração, ao passo que a carne pode ser vista também com os olhos corporais. Éramos capazes de ver a carne, mas não éramos capazes de ver o Verbo. Por isso o Verbo Se fez carne que nós podemos ver, para sarar em nós aquilo que nos torna capazes de ver o Verbo.

Nós damos testemunho do Verbo e vos anunciamos a vida eterna, que estava junto do Pai e foi manifestada em nós, isto é, foi manifestada entre nós e, ainda mais claramente, foi-nos manifestada.

Nós vos anunciamos o que vimos e ouvimos. Prestai atenção: Nós vos anunciamos o que vimos e ouvimos. Eles viram o Senhor presente na carne, ouviram as Palavras da sua boca e anunciaram-nas a nós. Por isso também nós ouvimos, mas não vimos.

Seremos nós, por isso, menos afortunados que aqueles que viram e ouviram? Mas então, porque acrescenta: Para que estejais também em comunhão conosco? Eles viram e nós não vimos; e, apesar disso, estamos em comunhão, porque temos uma fé comum.

E a nossa comunhão é com o Pai e com o Seu Filho, Jesus Cristo; e vos escrevemos isto, para que a vossa alegria seja completa”.

Tendo celebrado o Natal do Senhor, contemplemos e adoremos a Vida, Jesus, que Se manifestou na carne.

Vejamos com os olhos do coração. João, Pedro, e os apóstolos viram e ouviram o Verbo. D’Ele se tornaram Apóstolos, e foram enviados para proclamar a Sua Palavra, com a proteção e a presença de Sua Mãe, a Estrela da Evangelização.

Não vimos a Carne com os olhos da carne, mas vemos com o olhar da fé e, como nos disse o bispo, podemos nos alegrar da mesma forma, porque eles ouviram e nos falaram d’Ele.

Não podemos vê-Lo como viram, mas podemos ouvir por meio deles que nos falam do Verbo, e assim, sintamos a mesma alegria “...na mesma comunhão de vida, na mesma caridade, na mesma unidade”. 

PS: 1 Jo 1,1-3

Os sete sinais no Evangelho no quarto Evangelho

                                               


Os sete sinais no Evangelho no quarto Evangelho

Na primeira parte da sua obra, João Apóstolo e Evangelista, procura nos revelar quem é Jesus Cristo e sua missão, bem como apresentar a Sua natureza divina.

Ele nos apresenta através de sete sinais:

  • As bodas de Caná (Jo 2,1-12)
  • A Cura do filho de um funcionário real (Jo 4,43-54)
  • A Cura do enfermo na piscina de Betesda (paralítico) (Jo 5,1-47)
  • A Multiplicação dos pães (Jo 6,1-15)
  • O Caminhar sobre as águas do mar (Jo 6,16-70)
  • A Cura do cego de nascença (Jo 9,1-41)
  • A Ressurreição de Lázaro (Jo 11,1-54)

 

São João Apóstolo e Evangelista: o discípulo amado

                                                   


São João Apóstolo e Evangelista: o discípulo amado

Celebramos no dia 27 de dezembro a Festa de São João Apóstolo e Evangelista em plena oitava do Natal do Senhor.

Este foi quem na ceia repousou sobre o peito do Senhor, e a ele, como aos outros apóstolos foram revelados os segredos do Reino que se espalhou por toda a terra, com palavras de vida, como nos lembra a antífona da entrada da Missa de sua Festa.

A este Evangelista, Jesus se revela de forma mais íntima, manifestando-se a ele como o Filho de Deus feito homem.

João era filho de Zebedeu, rico pescador de Betsaida (Mc 1,20; Mt 4,18-22, Jo 1,44), e de Salomé, uma das mulheres que se puseram a serviço de Jesus e de seus apóstolos.

João foi provavelmente educado, como o irmão Tiago, em ambientes da seita dos zelotes  (Mc 3,17; Lc 9,53-56).

Antes de seguir Jesus era discípulo de João Batista (Jo 1,35-41), e foi encaminhado pelo próprio João Batista para seguir Jesus.

Do grupo dos apóstolos foi um dos mais ativos, e a quem o Senhor confiou o maior número de encargos e os mais íntimos segredos (Mt 17,1-8; Mc 13,3; Lc 22,8; Jo 13,23; Mt 26,37; Jo 19,26; 20;3).

Participou do Concílio de Jerusalém (Gl 2,9) e, exercendo longa vida apostólica, foi exilado na ilha de Patmos, ao tempo de Domiciano (Ap 1).

No centro do seu Evangelho apresentou a manifestação de Deus ao mundo na pessoa do Cristo: Jesus é Filho de Deus, e se apresenta como tal várias vezes como aquele que diz “Eu sou” de formas muito concretas e múltiplas.

A estas  manifestações João dá o nome de “testemunho” ou de “missão”, numa série de “sinais da glória de Deus”.

O mais importante destes realiza-se na “hora da glorificação de Cristo no Mistério Pascal”, e estes sinais perpetuam-se na vida da Igreja e nos Sacramentos da presença do Senhor.

João nos deixou suas Cartas na Sagrada Escritura, que prolongam o ensinamento de seu Evangelho: Deus que é “Amor e luz”, os deveres cristãos derivados da caridade e as precauções contra o pecado, e outros temas fundamentais.

O Livro do Apocalipse, também seu,  é essencialmente uma meditação sobre o significado da história, redigida segundo um gênero literário muito usado no mundo hebraico, com o intuito de fortalecer a fé cristã exposta a perseguições: Cristo já venceu o mundo e Satanás; os que participam dos sofrimentos de Cristo participarão também do seu triunfo. Com Jesus, o Princípio e o Fim, o vencedor, também seus seguidores o serão, na fidelidade e coragem ao viver a fé no testemunho cotidiano (1).

Como vemos, é notável a participação deste Apóstolo e Evangelista no Mistério da Encarnação do Verbo, e sua missão Redentora de toda a humanidade.

Teve a graça de ver, ouvir e tocar o Salvador, como ele mesmo nos diz em sua Primeira Carta – “o que era desde o princípio, o que nós ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida” (1 Jo 1,1).

Como Apóstolo e Evangelista conviveu com o próprio Jesus, e com Ele se manteve fiel até o fim, aos pés da cruz, e foi testemunha de Sua Ressurreição como vemos nos Evangelhos.

Oremos:

“Ó Deus todo-poderoso, nós vos pedimos que o Verbo feito Carne, que São João anunciou com seu Evangelho, habite sempre entre nós por este  Mistério que celebramos. Por Cristo, Nosso Senhor. Amém” (2)


(1)Fonte de pesquisa: Missal Cotidiano – Editora Paulus – p. 1838
(2) Oração depois da Comunhão da Missa da Festa de São João Apóstolo e Evangelista

São João Evangelista: Ele tocou na Carne do Verbo da Vida

                                                                    

São João Evangelista: Ele tocou na Carne do Verbo da Vida

"Não poderia ficar para sempre
morto Aquele a quem tanto amei"

Celebraremos no dia 27 de dezembro a Festa do Evangelista São João, “o discípulo que Jesus amava”.

João, juntamente com Pedro, é o primeiro a receber o alegre anúncio da Ressurreição. E, como sabemos pelo Evangelho, ele corre e chega primeiro ao sepulcro, pelo fato de ser mais jovem ou mesmo por ser amado por Jesus e sentir ânsias de reencontrar o Amado.

Entretanto, João mesmo impelido pelo amor e com a agilidade na corrida, que o possibilitou chegar primeiro, o respeito pela idade mais avançada somado ao papel eclesial de Pedro à frente da comunidade, o levou a discernir e saber esperar e deixando que este entrasse primeiro.

O discípulo amado soube esperar, pois é próprio do amor saber esperar pacientemente e reconhecer o lugar que lhe é próprio. 

Pedro ficou surpreso ao verificar os detalhes descritos tal como Maria Madalena houvera anunciado.

O discípulo amado, além da confirmação, faz um ato de fé: João viu e acreditou, tal como havia sido dito nas Escrituras, que Jesus haveria de ressuscitar dos mortos (Jo 20,9).

“Trata-se de uma profissão de fé que nasce da experiência daquilo que São João viveu e intuiu naquela manhã de Páscoa. Uma compreensão tornada possível e credível por estar estabelecida na sua relação de amor e de amizade com Jesus. Assim aconteceu também a Maria de Magdala, que, na sua procura, é movida pelo amor e pelo afeto por Jesus e, quando o Ressuscitado a chama pelo nome, reconhece-O e encontra-O vivo” (1).

O discípulo amado não mais se conteve, e sua vida se consumou no alegre anúncio e testemunho de que o Amado agora vive e reina gloriosamente.

Não pode calar mais quem tocara na Carne do Verbo da Vida. Agora, é a alegria de poder testemunhá-Lo vivo e levando a todos à mesma comunhão e amizade com o Senhor, Aquele que não mais nos chama de servos, mas de amigos.

Com João, inúmeras lições, mas a primordial é a relação de amor, intimidade e amizade com o Senhor, visibilizada no anúncio e testemunho incansável a todos os povos.

Em nossas comunidades, urge que fortaleçamos nossa relação de amor com a Trindade Santa e com nosso próximo, modos inseparáveis de viver o Mandamento do Amor que o Senhor nos confiou.


(1) Lecionário Comentado - Volume Advento/Natal - Paulus - Lisboa - pág. 267-268.

Em poucas palavras

                                                 


“Maria, sarça ardente da teofania definitiva”

“Em Maria, o Espírito Santo manifesta o Filho do Pai feito Filho da Virgem. Ela é a sarça ardente da teofania definitiva: cheia do Espírito Santo, mostra o Verbo na humildade da sua carne; e é aos pobres (Lc 2,15) e às primícias das nações (Mt 2,11) que Ela O dá a conhecer.” (1)

 

 

(1)Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n. 724

Ah, se nossas famílias escutassem o Anjo do Senhor... (ano A)

                                                        

Ah, se nossas famílias escutassem o Anjo do Senhor...

Na Liturgia da Palavra na Festa da Sagrada Família (ano A), refletimos sobre aquele momento inesquecível em que por três vezes há menção da comunicação do anjo a José. 

A primeira comunicação é quando o Anjo diz em sonho a José: “Levanta-te, pega o menino e sua mãe foge para o Egito” (Mt 2,13).

No Egito o anjo continua acompanhando e comunicando a José os desígnios divinos: “Levanta-te, pega o menino e sua mãe e volta para a terra de Israel: pois aqueles que procuravam matar o menino já estão mortos” (Mt 2,20).

E por último: “... depois de receber um aviso em sonho, José retirou-se para a região da Galileia, e foi morar numa cidade chamada Nazaré” (Mt 2,22-23).

Como o próprio Missal Dominical afirma: “Nem tudo é idílio, paz e serenidade na família: ela passa pelos sofrimentos e dificuldades do exílio e da perseguição; pelas crises do trabalho, da separação, da emigração, do afastamento dos pais... como em todas as outras, há alegrias e sofrimentos, desde o nascimento até a infância e a idade adulta; ela amadurece através dos acontecimentos alegres e tristes para cada um de seus membros... Maria e José não se calam, não apresentam objeções sobre a opção de Jesus; inconsciente e intuitivamente percebem que é uma escolha que os exclui (ou parece excluí-los) da vida de seu único filho, uma opção semeada das lágrimas e sangue, mas a aceitam, porque essa é a vontade de Deus”.

Fixemo-nos por alguns instantes contemplando a Sagrada Família, lá no Egito, distante dos seus, em terra estranha, tudo tão diferente. Longe de suas raízes, como tantos hoje...

E, certamente não veremos nem ouviremos lamentações, posturas incrédulas e nem revolta contra Deus... Nem blasfêmias se elevaram contra Deus por tamanho infortúnio, por tamanha responsabilidade, por imensurável peso carregado sobre os ombros. 

É impensável e impossível que José tenha dito, como talvez alguns de nós diríamos: “Por que estou nesta enroscada, se esta criança nem é minha?”, “Não basta tanta gozação, ironia que suportei dos amigos... (que amigos?)”, “que fria, que roubada eu entrei...”. “Ah se pudesse voltar atrás, não teria assumido esta missão”. “Não devia ter ouvido o anjo na primeira vez, devia ter ouvido meus instintos e ter abandonado Maria em segredo...”.

Da mesma forma, é impensável e impossível, sequer um momento, Maria ter percebido tais expressões borbulhando na mente e fervendo no coração de José. Jamais Maria teria assim pensado ou tão pouco dito: “deveria ter dito não ao anjo”, “Deus deveria ter escolhido outra...”, “Se não tivesse aceitado a ação do Espírito, se não tivesse acreditado nesta possibilidade, hoje estaria junto de meus pais, sem nenhum medo no coração, não teria ouvido tanta coisa como ouvi dos meus amigos e familiares...”

Na sua mente e coração apenas uma certeza: “O Senhor fez em mim maravilhas...”. No seu coração a “Cantora Divina” que entraria, alguns anos depois, nos céus, apenas cantava e se reencantava com o Magnificat...

Sabia que o seu sim dado, não inconsequentemente, mas dado com toda coragem, jamais poderia deixar de encontrar resposta de Deus, pois é próprio do Amor de Deus se fazer presente, não somente na hora que chama, mas em todos os momentos do envio, da missão.  É próprio do amor se manifestar ininterruptamente para que o êxito da missão do amado chegue a pleno termo.

Ah, quantas lições esta Santa Família, Sacra Família, Sagrada Família, Santíssima Família.

Cada vez mais aprendemos que o amor de Deus e as coisas divinas são mais do que inexprimíveis em palavras, mas contempladas no coração, como no coração daqueles da Sagrada Família...

Urge que nossas famílias aprendam mais esta lição para que sejam um reflexo desta, que é por todo o sempre a Família de todas as famílias, porque nela o Verbo encontrou aceitação, acolhida, espaço, proteção, cuidado, carinho, ternura, palavras de sabedoria, aprendizados primeiros que toda criança deve ter.

Aquela criança ali carregada, como já fora carregada no ventre, que um dia em forma de homem, coração pela lança trespassado, sem vida, na espera da Ressurreição também em seus braços receberá, e na Mesa do Altar, estremecida, extasiada, emocionada, ouvirá, quando os Apóstolos disserem – “Isto é meu Corpo dado por vós... Tomai todos e bebei, este é o Cálice do meu Sangue...”

Os primeiros choros consolados, as primeiras dores aliviadas, as primeiras feridas curadas, as primeiras gotas de sangue caídas, contempladas, os primeiros sorrisos partilhados, os primeiros sonhos plantados, e um dia, na Mesa da Eucaristia, eternizados em alegre e confiante certeza de que o Reino de Amor, Verdade, Justiça e Paz foi inaugurado.

Maria e José nos ensinem as mais belas lições do silêncio orante, contemplativo, do relacionamento familiar edificante e estruturante, do trabalho árduo e participativo na obra da criação divina.

Tenhamos ouvidos e coração de José e de Maria, para acolher o Menino Deus, o Verbo, com mesmo amor, carinho, paixão e ternura...

Tenhamos, também, coragem de ouvir o Anjo de Deus que nos interpela, incansavelmente, no amor e na defesa da vida... 

Quem sou eu

Minha foto
4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG