sexta-feira, 21 de novembro de 2025

Jesus, um Rei diferente (Cristo Rei)

                        

Jesus, um Rei diferente

Reflitamos a passagem do Evangelho (Lc 23, 35-43) proclamado na Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo (ano C).

Voltamos ao tema da conversão, que é tão importante para a teologia de Lucas, e que sobressai tão fortemente na narração da Paixão do Senhor.

A narração da Paixão não é para que tenhamos pena de Jesus, tão pouco compaixão pelas Suas dores. Somente isto não basta:

"A melhor atitude é ter consciência dos próprios pecados, arrepender-se deles e tirar da Cruz de Jesus, a coragem e a força para mudar de vida” (1).

Isto é o que aprendemos com um dos crucificados ao lado de Jesus (Lc 23,40-42) ao se dirigir ao outro crucificado: 

“'Nem sequer temes a Deus, tu que sofres a mesma condenação. Para nós é justo, porque estamos recebendo o que merecemos; mas Ele não fez nada de mal’. E acrescentou: ‘Jesus lembra-Te de mim quando entrares no Teu reinado’”.

Oremos:

Honra, glória, poder e louvor a Jesus, nosso Rei e Senhor!
Ontem, hoje e sempre, porque sois verdadeiramente Homem e Deus e Reina possibilitando-nos a graça da conversão;

Honra, glória, poder e louvor a Jesus, nosso Rei e Senhor!
Ontem, hoje e sempre, porque sois verdadeiramente Homem e Deus e Reina salvando-nos e o céu abrindo-nos.

Honra, glória, poder e louvor a Jesus, nosso Rei e Senhor!
Ontem, hoje e sempre, porque sois verdadeiramente Homem e Deus e Reina amando-nos.

Honra, glória, poder e louvor a Jesus, nosso Rei e Senhor!
Ontem, hoje e sempre, porque sois verdadeiramente Deus e Reina, e pela causa deste Reino, a morte de cruz vivendo, gloriosamente Ressuscitando.

Honra, glória, poder e louvor a Jesus, nosso Rei e Senhor!
Ontem, hoje e sempre, porque sois verdadeiramente Deus e Reina no consumando amor até o fim no Trono Glorioso da Cruz.

Honra, glória, poder e louvor a Jesus, nosso Rei e Senhor!
Ontem, hoje e sempre, porque sois verdadeiramente Homem e Deus e Reina dando-Se a Si mesmo.

Honra, glória, poder e louvor a Jesus, nosso Rei e Senhor!
Ontem, hoje e sempre, porque sois verdadeiramente Homem e Deus e Reina “perdendo” a Sua vida para que o mundo possa viver.

Honra, glória, poder e louvor a Jesus, nosso Rei e Senhor!
Ontem, hoje e sempre, porque sois verdadeiramente Homem e Deus e inverte a lógica do ter, poder e ser, vivendo a partilha, o serviço e a humildade.

Honra, glória, poder e louvor a Jesus, nosso Rei e Senhor!
Ontem, hoje e sempre. Amém.

  
(1)         Lecionário Comentado – Ed Paulus – Lisboa -2010 - p.863

Cristificar, eis a nossa missão! (Cristo Rei)

                                                            


Cristificar, eis a nossa missão!

Cristificar, mais que um
verbo a conjugar, pelo Verbo viver…

Ser cristão é "Cristificar".

Mas, este verbo não existe, dirão, devaneios da mente, loucura, algo sem absoluto sentido…

Cristificar é um neologismo, não procure no dicionário. Importa, porém, que nos leva a pensar...

Não nos percamos no secundário, procuremos na realidade que nos cerca significados para “cristificar”:

Cristificar é em primeiro momento tornar-se Cristo, a tal ponto que possamos dizer como o Apóstolo Paulo: Já não sou quem vivo, é Cristo quem vive em mim (cf. Gl 2,20).

Tornando-se Cristo, e Ele vivendo em nós, ser sinal de Sua presença no mundo. Torná-Lo visível, crível, tocável, presente, solidário, deve ser nossa missão permanente.

Cristificar é deixar-se conduzir pela Sua Palavra, pelo Seu ensinamento, acolher e viver a Boa Nova do Evangelho (Cf. Lc 4,16-21).

Cristificar é tornar-se semelhante a Ele, configurar-se a Ele, tendo d’Ele mesmos sentimentos (cf. Fl 2,5).

Cristificar é completar em nossa carne o que falta a Sua Paixão por amor a Sua Igreja (cf. Cl 1,24).

Cristificar é ser misericordioso como o Pai (Lc 6,36).

Cristificamos quando prolongamos no dia a dia a Eucaristia que celebramos e o Cristo que comungamos.

Cristificamos quando o Mistério no Altar Celebrado, crido, adorado, sem medo, por absoluto amor, nas mais diversas situações testemunhado.

Cristificamos quando o Pão no Altar for, por todos, partilhado, renova-se o compromisso com a paz e justiça, aurora de um mundo transformado.

Cristificamos quando assumimos nossa condição de fermento na massa levedando o mundo, para que acorde numa nova aurora de esperança.

Cristificamos quando assumimos a missão de ser sal para dar sabor à vida, gosto de Deus à humanidade, construindo laços de amizade/fraternidade.

Cristificamos quando não deixamos apagar a Luz de Deus que em nós habita, numa fé que não esmorece diante das provações da vida.

Cristificar solidificando a família, tendo Jesus como rocha, pedra fundamental sobre a qual se edifica a Igreja doméstica, onde o amor, lei maior, jamais pode faltar (cf. Mt 7).

Cristificar cultivando o jardim de Deus, não com saudades do paraíso, mas como um alegre, incansável e inadiável compromisso.

Cristificar não erigindo a torre de Babel para chegar aos céus, mas na cruz cotidiana carregada fortalecer laços de partilha e comunhão, no amor a Deus e a toda Sua criação.

Cristificar não permite o furtar-se de compromissos em todos os âmbitos de nossa vida.

Cristificar não nos permite da luta fugir; lutando sempre na ousadia e teimosia de quem sabe pela defesa da sagrada vida resistir.

Cristificar não nos permite indiferenças, acomodações, discriminações, alienações. Não nos permite braços cruzar, na espera de um amanhã melhor, como se Deus de nós não quisesse precisar. Não nos é permitido das responsabilidades múltiplas, esquivar, renunciar.

Cristificar é ser outro Cristo para tantos outros Cristos que nos rodeiam: famintos, analfabetos, idosos, desamados, desesperançados, abandonados, encarcerados, mutilados, nos porões da humanidade condenados…

Cristificar, repito, é tornar-se outro Cristo! Fácil? Absolutamente não! Mas, o verdadeiro cristão sabe que não encontrará facilidades; sabe que o verdadeiro cristianismo não se vive sem o Mistério da Cruz, pela qual o Amor veio e entrou no mundo.

Cristificar é, enfim, renunciar a si mesmo, tomar a sua cruz de cada dia, e seguir o Senhor. A vida consumir, numa alegre e esperançosa entrega da glória eterna. A cruz é inevitavelmente, em sua exata medida, instrumento de libertação, quer para o tempo presente, quer para a glória dos céus.

Em todo tempo, inclusive na pós-modernidade em que estamos inseridos, é preciso aprender a conjugar o verbo cristificar.

Cristificar, mais que um verbo a conjugar, pelo Verbo viver…



PS: Apropriado para a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo; bem como quando na Liturgia se proclama a passagem do Livro do Gênesis (Gn 11,1-9) sobre a torre de Babel

Cristo Reina quando nosso coração se inflama de amor (Cristo Rei)

                                                                   

Cristo Reina quando nosso coração se inflama de amor

Chegando ao final de mais um Ano Litúrgico, celebramos, com toda a Igreja, a Solenidade de Cristo Rei do Universo, proclamando ao mundo que Ele é o Senhor de nossa vida.

Com júbilo, renovamos nosso compromisso de discípulos missionários do Senhor, amando como Ele ama. Um amor incondicional que ama até o fim e, de modo especial, os mais empobrecidos com os quais se identifica.

Reinar com Jesus é fazer d’Ele e de sua Palavra o centro de nossa vida, pautar nossa existência, todo nosso pensar, sentir e agir à luz de Seus ensinamentos. 

Trilhando o caminho da fé, ancorados pela esperança e inflamados pelo fogo da caridade, seremos iluminados pela verdade, teremos a vida plena prometida abundantemente. É preciso ter coragem de carregar o trono de Jesus, que aos olhos do mundo nada tem de encantador, ao contrário. Carregar o trono onde Ele foi entronizado e coroado: a Cruz! Expressão que nos inquieta: a Cruz é o trono do Senhor!

Um longo caminho percorremos e reinamos com o Senhor no realizar de  cada pequeno gesto, sempre acompanhado de muito amor e que, portanto, aos olhos de Deus tornam-se grandes.

Coroamos o Senhor como servos inúteis que somos com o nosso trabalho, portanto, não podemos ser econômicos em descobrir modos e expressões efetivas e afetivas para coroá-Lo; amando a Deus sobre todas as coisas, com nossa alma, força, mente e entendimento e ao nosso próximo como Ele nos amou. 

Quem a Deus ama, reina com o Senhor servindo alegremente. Que continuemos coroando o Senhor, resistindo às tentações que nos acompanham a todo instante, sem jamais sucumbir a elas, vigilantes e pacientes nas tribulações e adversidades, pois tudo podemos n’Aquele que nos fortalece e, na mais bela expressão de gratidão e gratuidade.

A Ele todo o louvor e glória. Tão somente assim O coroamos e O proclamamos Rei do Universo e  Senhor de nossa vida.

quinta-feira, 20 de novembro de 2025

“Nunc Dimittis”

                                                          


“Nunc Dimittis”

A Igreja reza à noite, todos os dias, a Oração das Completas, e nela está contido o “Nunc Dimittis” - "agora deixe partir",  rezado por Simeão, homem justo e piedoso, quando da apresentação do Senhor no Templo (Lc 2,29-32).

Cristo, Luz das nações e glória de Seu povo, é um cântico evangélico que pode também ser rezado por quantos puderem nas orações da noite, ao terminar um dia de intensas atividades, preocupações e eventual cansaço, para um bom descanso e um novo dia bem iniciado:

“Antífona: Salvai-nos, Senhor, quando velamos, guardai-nos também quando dormimos! Nossa mente vigie com o Cristo, nosso corpo repouse em Sua paz!

“–29 Deixai, agora, Vosso servo ir em paz,
conforme prometestes, ó Senhor.

30 Pois meus olhos viram Vossa salvação
31 que preparastes ante a face das nações:

32 uma Luz que brilhará para os gentios
e para a glória de Israel, o Vosso povo.”

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. 
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Antífona: Salvai-nos, Senhor, quando velamos, guardai-nos também quando dormimos! Nossa mente vigie com o Cristo, nosso corpo repouse em Sua paz!

Rezando com os Salmos - 100 (101)

 


Trilhemos o caminho do bem e da justiça

 “–1 Eu quero cantar o amor e a justiça,
cantar os meus hinos a Vós, ó Senhor!
–2 Desejo trilhar o caminho do bem,
mas quando vireis até mim, ó Senhor?

– Viverei na pureza do meu coração,
no meio de toda a minha família.
–3 Diante dos olhos eu nunca terei
qualquer coisa má, injustiça ou pecado.

– Detesto o crime de quem vos renega;
que não me atraia de modo nenhum!
–4 Bem longe de mim, corações depravados,
nem nome eu conheço de quem é malvado.

–5 Farei que se cale diante de mim
quem é falso e às ocultas difama seu próximo;
– o coração orgulhoso, o olhar arrogante
não vou suportar e não quero nem ver.

–6 Aos fiéis desta terra eu volto meus olhos;
que eles estejam bem perto de mim!
– Aquele que vive fazendo o bem
será meu ministro, será meu amigo.

–7 Na minha morada não pode habitar
o homem perverso e aquele que engana;
– aquele que mente e que faz injustiça
perante meus olhos não pode ficar.

–8 Em cada manhã haverei de acabar
com todos os ímpios que vivem na terra;
– farei suprimir da cidade de Deus
a todos aqueles que fazem o mal.”

O Salmo 100(101) nos apresenta os propósitos de um rei justo:

Programa de um rei fiel a Deus, inspirado na meditação da Lei e na sabedoria de Israel: amar a o bem, fugir da iniquidade, rodear-se de gente reta e sincera, proteger os justos e exterminar os malfeitores.” (1)

Como discípulos missionários do Senhor tenhamos estes santos propósitos impelidos pelo Mandamento que o Senhor nos deu, atentos às Suas Palavras – “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” (Jo 14,15).



(1) Comentário da Bíblia Edições CNBB – p. 811

“Fica conosco, Senhor, suplicamos...”

                                               


“Fica conosco, Senhor, suplicamos...”
 
Na Liturgia das Horas, encontramos esta oração nas Vésperas, que nos remete ao Evangelho de Lucas (Lc 24, 13-35), que podemos repetir em cada entardecer, certos de que a noite cai lentamente, cede lugar ao anoitecer; como o sol poente cederá lugar à lua, em suas fases naturais:
 
“Ficai conosco, Senhor Jesus, porque a tarde cai e, sendo nosso companheiro na estrada, aquecei-nos os corações e reanimai nossa esperança, para Vos reconhecermos com os irmãos nas Escrituras e no partir do Pão. Vós, que sois Deus com o Pai, na unidade do Espírito Santo”. (1)
 

Oremos:
 
Fica conosco, Senhor, e ao participarmos da Tua Mesa,  e na partilha do Pão da Eucaristia, reconheçamos Tua real presença, como os discípulos que Te reconheceram ao partir o Pão, e os olhos foram abertos.
 
Fica conosco, Senhor, e jamais nosso coração seja endurecido e tardio para entender o Mistério de Tua Paixão, Morte e Ressurreição; e que a Tua Palavra nos ilumine e faça arder nosso coração.

 
Fica conosco, Senhor, sobretudo para que solidifiquemos nossa amizade e intimidade contigo, de modo especialíssimo ao participarmos da Ceia da Eucaristia.

 
Fica conosco, Senhor, em todos os momentos, favoráveis ou adversos, obscuros ou luminosos, opacos ou radiantes de luz, alegres ou tristes, angustiados ou cheios de esperança.

 
Fica conosco, Senhor, fortaleça nossa fé, reanima nossa esperança e inflama nossos corações, na mais pura e desejável caridade para com o nosso próximo.

 
Fica conosco, Senhor, pois és nosso “companheiro na estrada”, companheiro de viagem, sobretudo quando passarmos por vales tenebrosos e montanhas de dificuldades.

 
Fica conosco, Senhor, na travessia de desertos áridos da existência, a fim de que vençamos as tentações (ter, poder e ser), porque, contigo, mais que vencedores o somos.

 
Fica conosco, Senhor, a Ti nos dirigimos confiantes, pois Tu vives e Reinas com o Teu Pai, na comunhão com o Espírito Santo, na mais perfeita comunhão de amor.  Amém. 

 

(1)   Oração das Vésperas- Liturgia das Horas (cf Lc 24,13-35)

Lágrimas...

                                                                     


Lágrimas...

As lágrimas nos olhos da viúva verteram,
Ao carregar o corpo morto do filho único,
Enterrava sua esperança, sua segurança,
Seu porto seguro, não mais consigo.

Restava tão apenas seguir o cortejo,
Depositar o corpo no local preparado
Para que se cumpra a Palavra:
“Do pó viestes, ao pó retornas”

Que mais podia ela esperar, agora tão solitária,
Sem o fruto nascido de suas entranhas?
Enterrar um pedaço de si mesma,
Pois assim se sente toda mãe ao fazer isto.

Agora ficariam as lembranças corrosivas da alma
O vazio da ausência, preenchido pela saudade,
Que tende a crescer a cada dia que passa,
Crescerá a saudade, porque expressão de amor.

Vendo as lágrimas nos olhos da viúva,
O coração do Senhor mais uma vez foi tocado,
Por ela compaixão sentindo, a vida ao filho devolvendo...
"Levanta-te, Eu te ordeno!"

As Palavras do Senhor se fizeram ouvir,
Manifestando Seu poder sobre a vida e a morte.
Nada pode impedir a ação do Deus de Amor,
Nem mesmo a dor, a enfermidade e a morte.

É próprio do Amor de Deus, glorifico:
Romper a barreira do aparentemente impossível,
Para nos devolver a vida, a serenidade,
A esperança, os sonhos, as alegres conquistas.

Lágrimas...

Dos olhos de outra mulher, lágrimas foram vertidas,
E, com elas, os pés do próprio Senhor banhou,
Com seus cabelos, rompendo preconceitos,
Os secou, com perfume ungiu, de beijo cobriu.

É a pecadora publicamente conhecida,
Que carregava o peso de uma vida vazia e sem sentido,
Vida agora renovada, pelo Amor Encarnado, perdoada,
Pela fé que tinha, salva, em paz, novos caminhos.

Jesus não seca suas lágrimas, mas permite que caiam,
Que elas vertam, porque são suave expressão de amor,
De acolhida, sede de perdão, e ainda mais, compreensão,
Para um reencontro consigo mesma, para feliz ser.

Ela acreditou que tão somente Jesus
Com jeito novo a amaria, sem dúvida alguma,
Que suas lágrimas em vão não cairiam,
Sabe que é bem pouco o que oferece, pelo muito recebido.

Prostra-se aos pés do Senhor, que ama e perdoa,
Uma lição para a humanidade deixaria.
Alegria encontramos quando o mesmo fazemos,
Descendo de nossa arrogância e hipocrisia.

Jesus não seca as suas lágrimas, ao contrário,
Permite que elas copiosamente se multipliquem,
Pois somente quando nossos pecados choramos,
Com penitência e propósitos acompanhados, renascemos.

Lágrimas...

As lágrimas da viúva e as lágrimas da pecadora
Encontram do Senhor resposta diferente:
A uma Ele ama e a alegria e a vida do filho devolve,
A outra ama e a alegria da vida nova comunica.

Vertamos nossas lágrimas diante do Senhor,
Também com sede de vida, alegria e esperança,
Imensurável sede de perdão, compreensão,
Acolhida, confiança e o Amor do Senhor encontramos.

Lágrimas...

PS: Poema inspirado nas passagens do Evangelho de São Lucas  (Lc 7, 11-17;  7,36-50). 

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG