segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

“Cala-te, sai deste homem!”

                                                     

“Cala-te, sai deste homem!”

 

“De um só homem é lançada a legião e envida a dois mil porcos,
o que nos permite ver que é precioso o que se salva e de pouco valor o que se perde.”


Sejamos enriquecidos pelo Comentário de São Jerônimo, Bispo da Igreja (séc. V), sobre a passagem do Evangelho de São Marcos (Mc 5,1-20) proclamada na quarta segunda-feira do Tempo Comum (ano B)

“E Jesus ameaçou: Cala-te e sai deste homem. A verdade não necessita de testemunho da mentira. Não vim para ser reconhecido pelo teu testemunho, mas para precipitar-te de minha criatura.

Não é belo o louvor na boca do pecador. Não necessito do testemunho daquele ao qual quero atormentar. Cala-te. Teu silêncio seja o meu louvor. Não quero que a tua voz me louve, mas os teus tormentos: tua pena é meu louvor.

Não me é agradável que me louves, mas que se retire. Cala-te e sai deste homem. Como se dissesse: sai de minha casa, o que fazes em minha morada? Eu desejo entrar: Cala-te e sai deste homem.

Deste homem, ou seja, deste animal racional. Sai deste homem: abandona esta morada preparada para mim. O Senhor deseja a sua casa: sai deste homem, deste animal racional.

Sai deste homem, disse também em outro lugar a uma legião de demônios para que saíssem de um homem e entrassem nos porcos.

Vede quão preciosa é a alma humana. Isto contradiz àqueles que creem que nós e os animais temos uma mesma alma e trazemos um mesmo espírito.

De um só homem é lançada a legião e envida a dois mil porcos, o que nos permite ver que é precioso o que se salva e de pouco valor o que se perde.

Sai deste homem e vai-te para os porcos, vai-te para os animais, vai-te para onde queiras, vai-te aos abismos. Abandona ao homem, ou seja, abandona uma propriedade particularmente minha.

Sai deste homem: não quero que tu possuas ao homem; para mim é uma injúria que habites no homem, sendo eu o que habita nele.

Eu assumi o corpo humano, eu habito no homem. Essa carne que possuis é parte de minha carne, portanto, sai deste homem.

E o espírito imundo, agitando-o violentamente... Com estes sinais mostrou sua dor, agitando-o violentamente.

Aquele demônio, ao sair, como não podia causar dano à alma, o fez ao corpo, e, como não podia fazer-se compreender por outro meio, manifesta com sinais corporais que saiu.

E o espírito imundo, agitando-o violentamente... Porque ali estava o espírito impuro que foge do espírito puro. E dando um grito, saiu dele. Com o clamor da voz e a agitação do corpo manifestou que saía.” (1)

Contemplemos a ação libertadora de Jesus, ontem, hoje e sempre em Sua Igreja.

Quão preciosos somos aos olhos de Deus, e nada pode roubar nossa liberdade, tão pouco violar a sacralidade de nossa existência.

Acolhamos com fé a Palavra do Senhor, que nos liberta de toda possessão, e faz luminosos nossos caminhos.

Experimentemos, cotidianamente, a força da Palavra de Deus, e dela nos saciemos incessantemente, renovando nossas forças no bom combate da fé.

 

(1)Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes – 2013 – pág. 379-380

Em poucas palavras...

                                              


Jamais a desventura de não aceitar o Senhor

“... há muitos modos de dizer ‘não a Deus’, e todos se voltam contra nós: recusar a luz é ficar na escuridão, recusar o calor é permanecer no frio, recusar o alegre anúncio é tristeza.

Contudo, luz, calor, alegre anúncio irão para os outros que os acolherão. Cristo é a ‘Salvação’: não aceitá-Lo é desventura.” (1)

 

 

(1)             Comentário do Missal  Cotidiano, sobre a passagem do Evangelho de Marcos (Mc 12,1-12)  

Editora Paulus – pág. 846

O crepitar da chama em nossos corações

 


O crepitar da chama em nossos corações

Livrai-nos, Senhor, da tentação das propostas de um messianismo fácil e triunfalista, pois não foi assim que Vos apresentastes como o Verdadeiro Messias.

Renovai em nós o amor, zelo e ardor da missão evangelizadora, com coragem para as renúncias e melhor segui-Lo e servi-Lo na pessoa de nosso próximo, carregando, com ousadia e fidelidade, nossa cruz de cada dia.

Ajudai-nos a viver a graça da fé em Vós, que vivestes plena fidelidade ao Pai na comunhão com o Santo Espírito, até o fim na missão redentora da humanidade, fazendo crepitar a chama do amor em nossos corações.

Concedei-nos a sabedoria para cultivar e manter viva a esperança da chegada do Vosso Reino, já presente entre nós, lançando as sementes fecundadoras de novos tempos, recriando o paraíso, não como uma vil saudade, mas compromisso inadiável sempre.

Inflamai-nos com o fogo do Santo Espírito, para que vivamos a caridade como a plenitude da Lei, como vivestes e nos ensinastes a viver (cf. Rm 13,10), enriquecidos pelos sete dons, e assim, produzirmos os sagrados frutos do Espírito (Gl 5,22). Amém.

 

PS: Passagem do Evangelho de Marcos (Mc 12,35-37)


Vivamos a loucura da Cruz

                                                        


Vivamos a loucura da Cruz


Na terça-feira da sétima Semana do Tempo Comum, ouvimos a passagem do Evangelho de Marcos (Mc 9, 30-37), que trata do segundo anúncio da Paixão do Senhor.

Este anúncio desconcerta os discípulos, que compreendem que seguir Jesus implica em viver como Ele, ou seja, ser servo de todos.

Assim nos diz o comentário do Missal:

“... A experiência deveria mostrar que a suposta loucura evangélica é a suprema sabedoria. A cobiça, a intolerância, a inveja, a submissão aos instintos humanos de posse e de domínio, sempre geraram guerras e conflitos, encobertos ou declarados, não só no mundo, mas também nas comunidades cristãs e na própria Igreja.

Os frutos da paz e da justiça amadurecem lentamente, mas com firmeza, quando cada qual, em vez de tentar dominar os outros, torna-se humilde ‘servo de todos’. As comunidades cristãs, a Igreja, ‘serva e pobre’, devem oferecer ao mundo uma imagem da cidade do Alto.” (1)

Celebrando o Mistério da Eucaristia, mais uma vez, alimentados por Ela e pela Palavra proclamada, também nós, discípulos missionários, renovemos sagrados compromissos de nos tornarmos, cada vez mais, como Jesus, nosso Divino Mestre e Senhor.

Deste modo, cumpriremos plenamente a Lei Divina impressa nas entranhas de nosso coração, e viveremos o duplo Mandamento do Amor a Deus e ao próximo, e para tanto, supliquemos a graça divina necessária.

Oremos:

“Concedei, ó Deus todo-poderoso, que procurando conhecer sempre o que é reto, realizemos vossa vontade em nossas palavras e ações. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso filho, na unidade do Espírito Santo. Amém”



(1) Missal Quotidiano Dominical e Ferial - Editora Paulus - p.1959

A inveja nos fragiliza


A inveja nos fragiliza

Na quinta-feira da segunda semana do Tempo Comum, ouvimos a passagem do Primeiro Livro de Samuel (1 Sm 18,6-9;19-17, em que Saul procura matar Davi, depois deste ter vencido Golias, como ouvimos na passagem do mesmo Livro (1 Sm17,32-33.37.40-51).

Assim lemos no Comentário do Missal Cotidiano:

“O ciúme por alguém (Davi) que ele (Salomão) considerava melhor e mais aceito por Deus e pelo povo bloqueou-o nos seus sentimentos mais profundos de admiração e afeto.

História de ontem e de hoje. História que se repete desde que Cristo foi entregue por inveja. Uma paixão que é obra do maligno: discórdia entre aqueles que trabalham pelo Reino de Deus” (1)

Voltemo-nos para a passagem do Livro da Sabedoria, que nos fala sobre a inveja:

 

“A inveja pode levar às piores ações. ‘É pela inveja do demônio que a morte entrou no mundo’ (Sb 2, 24).

 

Também o Apóstolo Tiago em sua Epístola (Tg 3,16-4,3) nos apresenta alguns problemas que maculam a comunidade: inveja, rivalidade, desordem de toda espécie de más ações, a desordem das paixões dentro de cada pessoa, e por fim a cobiça.

 

Aprofundemos sobre a inveja, à luz do que nos diz o Catecismo da Igreja Católica:

 

“A inveja pode levar às piores ações (Gn 4,3-8). É pela inveja do demônio que a morte entrou no mundo:

 

‘Nós nos combatemos mutuamente, e é a inveja que nos arma uns contra os outros... Se todos procuram por todos os meios abalar o Corpo de Cristo, onde acabaremos? Nós estamos enfraquecendo o Corpo de Cristo... Declaramo-nos membros de um mesmo organismo e nos devoramos como feras’ (São João Crisóstomo).

 

A inveja é um vício capital. Designa a tristeza sentida diante do bem do outro e do desejo imoderado de sua apropriação, mesmo indevida. Quando deseja um grave mal ao próximo, é um pecado mortal:

 

Santo Agostinho via na inveja ‘o pecado diabólico por excelência’.

 

‘Da inveja nascem o ódio, a maledicência, a calúnia, a alegria causada pela desgraça do próximo e o desprazer causado por sua prosperidade’ (São Gregório Magno).

 

A inveja representa uma das formas da tristeza e, portanto, uma recusa da caridade; o batizado lutará contra ela, mediante a benevolência. A inveja provém muitas vezes do orgulho; o batizado se exercitará no caminho da humildade:

 

‘Quereríeis ver Deus glorificado por vós? Pois bem, alegrai-vos com os progressos do vosso irmão e imediatamente Deus será glorificado por vós. Deus será louvado, dirão, porque seu servo soube vencer a inveja, colocando a sua alegria nos méritos dos outros’(São João Crisóstomo”. (2)

 

Sim, verdadeiramente, a inveja é um dos sete pecados capitais que muito destrói a comunidade, a família ou qualquer outro espaço de convivência e relacionamento.

 

Urge nos colocarmos em atitude de conversão, banindo quaisquer sentimentos de inveja que possam tomar conta de nossa mente e coração, criando suas perigosas raízes.

 

Para vencermos este pecado, peçamos a Deus o dom da fortaleza, a fim de gastarmos nossas forças no desenvolvimento das capacidades que nos foram dadas pela graça divina.

 

Não devemos invejar ninguém, pois cada pessoa tem seus dons, qualidades, capacidades.

 

Importa que cada um desenvolva as aptidões que possui, e as coloque generosamente a serviço do outro, em todos os âmbitos, mas sobretudo nos espaços de nossas famílias e comunidades.

 

Sentimento de inveja nutrido, traz enfraquecimento e empobrecimento.  De outro lado, sentimento da inveja vencido, continuamente, nos faz mais fortes e agradecidos a Deus pelos bens e graças que Ele nos oferece, e desenvolvemos nossos dons e capacidades, colocando-nos com alegria a serviço do bem do outro.

 

 

 (1)  Missal Cotidiano – Editora Paulus – pág. 663

(2) Catecismo da Igreja Católica – parágrafos - 2538-2540

Apropriado para o 25º Domingo do Tempo Comum - ano B

 

O Plano de Deus para nós: Vida plena e feliz (XDTCB)

                                                      

O Plano de Deus para nós: Vida plena e feliz

A Liturgia do 10º Domingo do Tempo Comum (ano B) nos convida a refletir sobre o Projeto de vida e Salvação que Deus tem para nós, e sobre a liberdade de resposta que temos.

Na passagem da primeira Leitura (Gn 3,9-15), o autor sagrado nos apresenta a mensagem catequética: aceitar o Projeto de Deus, ou enveredar por caminhos de egoísmo, orgulho e autossuficiência.

A passagem pode ser dividida em três partes:

- Na primeira, temos a narração da criação, em que tudo era muito bom, na mais perfeita harmonia e comunhão com Deus, e também entre as criaturas;

- A segunda,  descreve o pecado do homem e da mulher e a quebra desta harmonia/amizade, introduzindo o desequilíbrio e a morte;

- Na terceira, temos as consequências do pecado para o homem e mulher e toda a criação.

Para o autor sagrado (que não faz uma descrição jornalística, mas catequética), Deus criou o homem e a mulher para a felicidade, mas o egoísmo, a injustiça e a violência foram introduzidos pelo próprio homem e mulher, devido às escolhas erradas, que provocam dinamismos de sofrimento e morte na obra da criação.

A serenidade e a paz dão lugar à vergonha e ao medo, quando nos rebelamos contra Deus e nos afastamos de Sua presença e Projeto.

Na passagem, “serpente” é um símbolo literário, para nos advertir que também podemos ser seduzidos pela mesma, e trilhar o mesmo caminho de orgulho, autossuficiência, com o prescindir de Deus e de Sua autêntica e única Proposta de felicidade. Evidentemente que não se trata de pecado cometido nos primórdios da humanidade, mas pode acontecer a cada instante e por todos nós.

A nós é dada a liberdade de escolha entre o bem e o mal: aceitar ou não o Projeto de amor e vida plena que Deus tem para nós.

Evidentemente, sem Deus incorremos em hostilidade para com o outro e com toda a criação. Viver à margem de Deus e de Sua presença, conduz a humanidade a trilhar caminhos de sofrimento, de destruição, de infelicidade e morte, como nos retrata a primeira experiência de pecado e desobediência de nossos pais no Paraíso:

“Rompendo a relação com Deus, o pecado subverte todas as relações do homem e altera também a própria percepção que a criatura tem de si mesma. Mas Deus é maior que o pecado: conserva o Seu amor fiel pelo homem e abre-lhe um futuro de esperança e de salvação.

Tem assim início, a partir desta página bíblica, a histórica do pecado da Humanidade, mas também tem início aqui, e, sobretudo, a espera messiânica, a História da Salvação. A liberdade e o coração do homem serão o campo de batalha entre os dois grandes contendores: o Maligno e Deus. Desde agora, porém, já é dito quem será o vencedor” (1)

Na passagem da segunda Leitura (2 Cor 4, 13-5,1), o Apóstolo nos fala da centralidade e fundamento de nossa fé: a Ressurreição, que confere o verdadeiro sentido à vida cristã, para que não se perca diante do que for efêmero, e tão pouco desanimar diante das incompreensões e dificuldades, aprofundando a coerência exigida daqueles que se propõem a ser discípulos de Jesus Cristo (2).

O Evangelista Marcos nos apresenta, na passagem do Evangelho (Mc 3, 20-35),  a condição para pertencermos à família de Deus: fazer a Sua vontade e reconhecer Jesus como enviado do Pai, que realizou plenamente a Sua vontade.

Com a chegada de Jesus, inicia-se um novo tempo, porque “Ele é o Santo de Deus”. Ele veio “impor silêncio aos espíritos malignos, derrotá-los e acabar com o seu domínio. Ele revela com autoridade a vontade de Deus. Os que a cumprem são Seus irmãos e membros, com Ele, da família de Deus” (3).

A mensagem evangélica apresenta três diálogos de Jesus, sendo dois deles com Seus familiares e um com os escribas.

De modo especial, em relação aos diálogos com os familiares, Jesus nos apresenta a exigência para pertencer à Sua família: fazer a vontade de Deus, como Ele mesmo o disse:

E olhando para os que estavam sentados ao Seu redor, disse: ‘Aqui estão minha mãe e meus irmãos. Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe’” (Mc 3, 34).

No diálogo com os mestres da Lei, que tinham vindo de Jerusalém, é acusado de ser possuído por Belzebu, o príncipe dos demônios, e que por meio deste expulsava os demônios.

O fechamento à ação de Jesus revelava-se como blasfêmia contra o Espírito, que nunca poderá ser perdoada. A ação de Jesus é a plena manifestação do Espírito Santo, que sobre Ele pousava e continuará pousando sobre a Sua Igreja.

Cabe-nos reconhecer a força e ação do Espírito a agir em nós, para nos libertarmos das amarras do pecado. Somente Jesus tem Palavra de Vida Eterna, e somente Sua Palavra, acolhida com fé e vivida, nos faz verdadeiramente livres, pois Ele é a Verdade que nos liberta.

“A mensagem da Liturgia da Palavra está cheia de esperança: não há pecado pessoal ou universal que não possa encontrar o perdão de Deus, melhor, a alegria do Seu perdão: não há história de pecado pessoal ou original que não possa tornar-se história de salvação, graças ao Médico Divino que veio curar todos os doentes do corpo ou do espírito. Jesus é o redentor e o salvador de todos e de cada um, de cada pecado e de todos os pecados”. (4)

Dando mais um passo em nossa caminhada de fé, renovemos nossa fidelidade ao Senhor, suplicando o perdão de nossos pecados, para que, uma vez amados e perdoados, com alegria e ardor, coloquemo-nos diante de Deus, em relação de temor e piedade, para participar da construção do Seu Reino de amor e vida plena, e deste modo, Paraíso não será sinônimo de algo perdido, uma página virada do passado, mas sempre uma nova página a ser escrita, na obediência, amizade, intimidade com Ele.

Oremos:

“Pai Santo, que nos enviastes Vosso Filho para nos libertar da escravidão de Satanás, amparai-nos com as armas da fé, para
que no combate cotidiano contra o Maligno,
tomemos parte na vitória Pascal. Amém.” (5).


(1) Lecionário Comentado - Tempo Comum – Ed Paulus - p.463
(2) (4) (5) Idem p.466
(3) Missal Quotidiano e Dominical – Paulus – p.1397

É tempo de semear (XIDTCB)

                                                           

É tempo de semear

 “O Reino de Deus é como quando alguém espalha
a semente na terra. Ele vai dormir e acorda,
noite e dia, e a semente vai germinando e
crescendo, mas ele não sabe
como isso acontece.
(Mc 4, 26-27)

Com a Liturgia do 11º Domingo do Tempo Comum (ano B), contemplamos a Proposta que Deus tem para a humanidade: vida plena e felicidade sem fim.

Na passagem da primeira Leitura, com o Profeta Ezequiel (Ez 17,22-24), vemos o Povo de Deus exilado na Babilônia, que jamais ficou esquecido por Deus, porque Ele fiel à Sua Aliança.

O Ministério profético de Ezequiel se dá neste contexto dificílimo vivido pelo Povo de Deus, marcado pela deportação e infidelidade. Cabe ao Profeta provocar a conversão e a esperança de voltar à sua terra e reconstruir sua história.

Apesar das dramáticas circunstâncias vividas pelo povo, o Profeta tem uma palavra de confiança: Deus não abandonou o Seu Povo, e irá construir com ele uma nova história de salvação e de graça.

O Profeta expressa a vontade amorosa de Deus e exorta a todos para uma atitude de humildade, na abertura e acolhida dos apelos e desafios de Deus.

As palavras de Ezequiel revelam a ação infalível de Deus, que não esquece os Seus compromissos, jamais abandona o Povo com quem Se comprometeu, de modo que o medo e o pessimismo devem ceder lugar à confiança e à esperança. Deus não desiste de nós, porque nos ama e quer nos salvar.

“Mesmo afogado na angústia e no sofrimento, mesmo mergulhado num horizonte de desespero, Israel tem de aprender a confiar nesse Deus que é sempre fiel às Suas promessas e aos compromissos que assumiu com o Seu Povo no âmbito da Aliança. Tudo pode cair, tudo pode falhar; só Deus não falha.” (1)

Na passagem da segunda Leitura (2 Cor 5,6-10), refletimos sobre a vida, que é marcada pela finitude e transitoriedade, mas que deve ser vivida na espera do encontro com Deus, para uma vida definitiva e eterna. O Apóstolo Paulo acentua que os cristãos são peregrinos sem morada permanente nesta terra.

Também, hoje, vivemos a cultura do provisório, do efêmero, e sua mensagem ultrapassa os tempos, convidando-nos a buscar o que for duradouro e nos garanta a vida plena e definitiva.

Com a passagem do Evangelho (Mc 4,26-34), temos uma catequese sobre o Reino Deus, através das duas Parábolas que Jesus nos apresenta.

“Para fazer chegar a todos a Sua proposta, Jesus precisará de utilizar uma linguagem acessível, viva, questionadora, concreta, desafiadora, evocadora, pedagógica, que pudesse semear no coração dos ouvintes a consciência dessa nova e revolucionária realidade que Ele queria propor. É neste contexto que nos aparecem as ‘Parábolas’” (2)

As Parábolas, portanto, são excelente arma de controvérsia, diálogo e questionamento. Elas provocam, mexem com os ouvintes, fazem pensar, e levam a tomada de atitudes, com consequências para a vida.

O Reino de Deus acontece apesar do aparente fracasso, e é necessária a paciência e consciência de nossa pequenez crendo na ação divina, que aos poucos vai fazer passar as coisas antigas e fará novas todas as coisas, e teremos o novo céu e a nova terra que Deus oferece a todos nós.

O Reino de Deus é uma iniciativa divina e acontece na serenidade, confiança, paciência, esperança a partir de pequenos gestos, como a menor de todas as sementes.

Através do aparentemente insignificante, Jesus inaugura a realidade do Reino de Deus:

“Nos fatos aparentemente irrelevantes, na simplicidade e normalidade de cada dia, na insignificância dos meios, esconde-se o dinamismo de Deus que atua na história e que oferece aos homens caminhos de salvação e de vida plena”. (3)

As Parábolas nos revelam a ação de Deus através dos pequenos, humildes, pobres e em todos que renunciaram aos esquemas de triunfalismo e ostentação, e é destes que Deus se serve para a transformação do mundo:

“Atitudes de arrogância, de ambição desmedida, de poder a qualquer custo, não são sinais do Reino. Sempre que nos deixamos levar por tentações de grandeza, de orgulho, de prepotência, de vaidade, frustramos o Projeto de Deus, e impedimos que o Reino de Deus Se torne realidade no mundo e nas nossas vidas.” (4)

Celebremos a alegria de trabalhar pelo Reino de Deus, apesar de nosso trabalho parecer insignificante e desprezível, mas não o é aos olhos de Deus, que tem um Projeto de vida plena e feliz para toda humanidade.

A nós cabe lançar a semente com toda humildade, confiança, esperança, e aguardar com paciência os frutos que virão para que outros possam saborear:

“Não duvidemos de que a força do Evangelho se desencadeará em nós, muito mais do que poderíamos esperar ou imaginar. Vivemos no tempo da paciência e não no da colheita nem da paga.” (5)

Deus não falha, e Seu tempo não é o nosso tempo, definitivamente.
Como peregrinos no tempo, somos vocacionados para a eternidade, para a vida definitiva, como nos falou o Apóstolo Paulo em Sua Carta aos Coríntios.

Supliquemos a vinda do Reino de Deus, como o fazemos ao rezar a Oração do Senhor, o Pai Nosso: Venha, Senhor, o Vosso Reino, que anunciamos e testemunhamos.

Como é bom trabalhar na construção do Reino, como Igreja serva e servidora, misericordiosa e missionária, como nos lembra o Objetivo das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (2019-2023):

Objetivo Geral:

EVANGELIZAR no Brasil cada vez mais urbano, pelo anúncio da Palavra de Deus, formando discípulos e discípulas de Jesus Cristo, em comunidades eclesiais missionárias, à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres, cuidando da Casa Comum e testemunhando o Reino de Deus rumo à plenitude”



Fonte inspiradora e citações (1) (2) (3) (4):
(5) Missal quotidiano dominical e ferial  p.1432 

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