domingo, 2 de fevereiro de 2025

“Ao Diviníssimo, doce e amado Sacramento”

                                                                    

“Ao Diviníssimo, doce e amado Sacramento”

Numa noite, sonhei que dava graças e louvores ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento, e uma Ministra Extraordinária da Eucaristia, que tinha de todos grande estima pela fidelidade, longevidade, piedade, como a profetisa Ana mencionada no Evangelho de Lucas, quando Maria e José apresentaram o Menino Jesus no tempo (Lc 2,22-40), assim respondeu:

“Ao Diviníssimo, doce e amado Sacramento”.

Mergulhemos na imensurável profundidade do amor de Deus, assim como experimentemos a ternura que encontramos em Seu coração dilatado para que nele coubéssemos, e nos sentíssemos sempre amados, amparados, protegidos, sobretudo nos momentos mais difíceis de nossa vida.

Diviníssimo é o Senhor, a quem rendemos toda honra, glória, poder e louvor, e absolutamente nada pode nos separar de Sua presença, que sentimos de modo tão sublime na Eucaristia, o Santíssimo Sacramento.

“Doce”, sim, verdadeira doçura que haveremos experimentar a cada instante de nossa vida, para que não fiquemos amargos, ácidos, com a perda do encantamento e enternecimento.

“Amado”, e ainda não o bastante que deveríamos amar, para corresponder ao Seu amor imensurável, que nos dá sempre esperança alargada no horizonte do inédito que Deus tem para nós.

“Amado”, porque encontrados antes que O procurássemos. Encontrados e desejados, porque antes por Ele desejados. Encontrados e amados, e muito antes por Ele, que veio ao nosso encontro e em nossa procura, simplesmente porque nos ama incondicionalmente.

“Ao Diviníssimo, doce e amado Sacramento”, silencio minha alma, refaço meus passos... Silencio e saboreio Sua dulcíssima presença, e do Seu Espírito, que torna cândida a minha alma, para maior fidelidade a Deus em sagrados compromissos com a vida plena e feliz.

Família, uma pequena Igreja (Sagrada Família - Ano B)

                                                        


Família, uma pequena Igreja

Celebrar Festa da Sagrada Família (ano B), é ocasião favorável para refletirmos sobre o papel fundamental que tem a família no Plano de Salvação que Deus nos propõe.

A família é uma pequena Igreja, e nela devem estar presentes alguns sinais da bênção do Senhor como vemos no Antigo Testamento: paz, abundância de bens materiais, concórdia e a descendência numerosa.

É o que vemos na passagem da primeira Leitura (Eclo 3,3-7.14-17a). A obediência e o amor eram imprescindíveis no cumprimento da Lei, de modo que esta obediência era sinal e garantia de bênção e prosperidade para os filhos, mas também um modo de honrar a Deus nos pais, como encontramos no Livro do Êxodo (20,12) – “honra teu pai e tua mãe”.

Os pais são instrumentos de Deus e fonte de vida, e como recompensa do “honrar pai e mãe”, os filhos obtêm o perdão dos pecados, a alegria, a vida longa e a atenção de Deus.

"Com razão se diz hoje que a família é o primeiro lugar da evangelização, provavelmente o mais decisivo. Com efeito, é na família que a criança, mesmo muito pequenina, respira ao vivo a fé ou a indiferença. Por aquilo que vê e vive, ela adverte se em sua casa - e na vida - há lugar para Deus ou não. Nota se a vida se projeta pensando só em si mesmos, ou também nos outros. Tudo isto para dizer que normalmente o modo de viver encontra as suas raízes na família.”  (1)

Na passagem da segunda Leitura (Cl 3,12-21), o Apóstolo Paulo exorta sobre o novo modo de relacionamento na família, onde os esposos e os filhos cristãos vivem a vida familiar como se já vivessem na família do Pai Celeste.

Revestidos do “Homem novo”, as relações são marcadas pela misericórdia, bondade, humildade, doação, serviço, compreensão, respeito pelo outro, partilha, mansidão, paciência e perdão.

Na passagem do Evangelho (Lc 2,22-40) sobre a apresentação de Jesus no templo, temos a experiência de Cristo, que entra  no  contexto  de  uma  família  humana  concreta,  e Lucas nos apresenta, de modo catequético, um quadro realista dos reveses e vicissitudes a que está sujeita a vida de uma família em todo tempo.

De acordo com o Livro do Levítico (Lv 12,2-8), quarenta dias após o nascimento de uma criança, esta deveria ser apresentada no Templo, e a mãe oferecia um ritual de purificação com a oferenda de um cordeiro de um ano (se a família fosse mais abastada) ou duas pombas ou duas rolas (famílias com menos recursos).

Na cena narrada por Lucas, temos no templo a presença de Simeão e Ana, que representam Israel, o Povo de Deus que esperava ansiosamente a sua libertação e restauração, bem como a universalidade da Salvação.

Simeão e Ana, anciãos que acolhem Jesus no Templo, não são pessoas desiludidas da vida, voltadas para o passado, como um tempo ideal que não tem volta; ao contrário, são pessoas voltadas para o futuro, atentas e abertas para o Deus libertador que vem ao encontro do Povo, e sabem ler os sinais de Deus naquela Criança.

Ambos possuem maturidade, sabedoria e equilíbrio, com espírito aberto e livre, colocando-se a serviço da comunidade.

Também hoje precisamos de novos “Simeãos e Anas” que ensinem os mais jovens a distinguir entre o que é eterno e importante e aquilo que é apenas passageiro e acessório.

As palavras de Simeão, sobre a espada que transpassaria a alma de Maria, nos permitem afirmar que a apresentação de Jesus no templo e a purificação de Maria, embora seja o quarto Mistério gozoso, também é um Mistério doloroso, glorioso e luminoso, quando Ele viesse a crescer em tamanho, sabedoria e graça diante de Deus.

Na Sagrada Família, como em todas as outras, há alegrias e sofrimentos, desde o nascimento até a infância e a idade adulta; ela amadurece através de acontecimentos alegres e tristes para cada um de seus membros, como vemos nos Evangelhos.

Nos dias atuais, a célula familiar está particularmente em perigo, e vemos postos em discussão seu direito tradicional, sua moral, sua economia, sua função social como papel formador de seus membros.

Na realidade em que vive a família, nem tudo é idílico, paz e serenidade. Toda família passa por sofrimentos e dificuldades: exílio, perseguição, crises no trabalho ou sua falta, separação, emigração, afastamento dos pais e outros inúmeros problemas e desafios.

- Sem trair ou negar o Evangelho, como ajudar a família a situar-se no mundo de hoje, e a construir-se a si mesma em meio às dificuldades que encontra?

Do ponto de vista moral, temos o divórcio, o espinhoso problema da limitação da natalidade e o aumento do número dos matrimônios fracassados que obrigam os cristãos a retomarem a consciência do caráter sagrado da família cristã.

No plano econômico, temos a crise econômica e suas graves consequências abalando as estruturas das famílias.

No plano político, a família é, felizmente, ajudada pelo Estado em muitos países, mas corre o perigo de ficar a serviço do Estado, sobretudo no que concerne à primeira educação dos filhos, em que semeiam os valores fundamentais: amor, verdade, respeito, justiça e liberdade.

São gravíssimos os problemas enfrentados pela família, e que não podem ser resolvidos facilmente, mas somente com abertura ao Espírito, acompanhada de profunda e frutuosa reflexão e Oração.

É preciso investir o máximo na formação daqueles que pretendem constituir nova família, a fim de que esta seja edificada com a sua irrenunciável e inadiável tarefa educativa, e para uma vida de intimidade e comunhão.

Somente assim ela não se degenerará, não fracassará, não se desvirtuará na multiplicação de divórcios, fomentando a desestruturação da família.

A solidez e a luminosidade de uma família somente se darão quando Jesus Cristo for, verdadeiramente, a base sólida sobre a qual se edifica esta pequena Igreja (Mt 7,21.24-27), se deixando iluminar por Sua Divina Luz (Jo 8,12).

Famílias devidamente edificadas também se abrem a relacionamentos comunitários solidários e fraternos, jamais se isolando, pois é impensável famílias como “pequenas ilhas” fechadas em si mesmas.

Na vivência da caridade, a família encontra a verdadeira fonte da unidade familiar, abrindo-se à realidade da Boa-Nova do Reino, em que se estabelecem relações fraternas e universais; abrindo-se a novos horizontes, como fez a Sagrada Família.

Se alguma família fracassou no mundo foi porque faltou, sobretudo, o verdadeiro amor, porque onde o amor se extingue, a família se esfacela, num processo irreversível de autodestruição.

Celebrando a Festa da Sagrada Família, que nossas famílias como pequenas Igrejas domésticas, sejam iluminadas pelos raios do Espírito, que nos são comunicados em cada Banquete Eucarístico para iluminar os caminhos obscuros e incertos por que passamos.

Somente deste modo as famílias serão espaços privilegiados do aprendizado dos valores, acima de tudo o aprendizado do Mandamento do Amor que o Senhor nos deixou, tornando a vida mais bela, o mundo mais fraterno e feliz.

Eternos aprendizes da Sagrada Família, sejamos; e, nesta escola, permaneçamos sempre para santificar e iluminar nossas famílias, pequeninas Igrejas domésticas em que o Senhor reina, pois onde Ele reina, reina o amor.

Urge que nossas famílias se abasteçam na Divina Fonte do Amor, tal como a família de Jesus, Maria e José, em total e incondicional obediência e fidelidade ao Amor do Pai e abertura ao Santo Espírito.



PS: Fontes de pesquisa: Missal Dominical, pp.100-101; www.dehonianos.org/portal
(1) Lecionário Comentado - Volume Advento/Natal - Editora Paulus - Lisboa  - p.255

PS: Oportuno para a celebração da Apresentação do Senhor no templo - dia 02 de fevereiro, quando se proclama a passagem do Evangelho de Lucas (Lc 2,22-40).

Proximidade e separação

                                                          

Proximidade e separação

Maria viveu “uma mistura de
proximidade e de dolorosas separações”

Retomo parte da reflexão feita pelo Bispo Dom Bruno Forte, na 52ª Assembleia dos Bispos do Brasil (2014), em que retrata os diversos testemunhos da fé, dentre os quais Maria:

“Maria é capaz de um amor atento, concreto, alegre e terno... Maria se aproxima sob o signo da ternura, isto é, do amor que gera alegria, que não cria distâncias, que antes aproxima os distantes, fazendo com que se sintam acolhidos e os enche com o espanto e a beleza de descobrir-se objeto de puro dom...

Mãe atenta e terna, vive as expectativas, os silêncios, as alegrias e as provas que toda mãe é chamada a atravessar: é significativo que nem sempre compreenda tudo sobre Ele.

Mas vai adiante, confiando em Deus, amando e protegendo a seu modo aquele Filho, tão pequeno e tão grande, numa mistura de proximidade e de dolorosas separações, que a tornam modelo de maternidade: os filhos são gerados na dor e no amor por toda a vida”.

- Do que se trata esta mistura de “proximidade e dolorosas separações” com seu Filho, a partir do que nos dizem os Evangelhos?

- Quando aconteceu, nos diversos momentos, desde o anúncio do Anjo que Ela seria Mãe do Salvador por obra do Espírito, até a Morte do seu Filho?

Proximidade e separação, já subentendida no medo sentido e no diálogo, quando do anúncio do Anjo. Maria não deu ouvidos ao medo, mas confiou na promessa de Deus. Ele ficou tão próximo no ventre de Maria, mais do que em qualquer outra criatura, e ela teve que suportar a dolorosa separação, no momento ápice da Morte de Seu Filho.

Proximidade e separação, já experimentada na fuga para o Egito, ao lado do esposo José, na defesa do Menino, tão cedo, tão pequeno, tão frágil, mas já causando medo aos poderosos de Seu tempo.

Proximidade e separação, indiscutivelmente sentida, acolhida e meditada no silêncio do coração, quando da apresentação do Menino Jesus no templo, e as palavras do justo Simeão: “Quanto a você, uma espada há de atravessar-lhe a alma.” (Lc 2, 35).

Proximidade e separação, quando depois de três dias de procura O encontra discutindo com os doutores e sábios no Templo, e guarda, contemplativa, as Palavras do Filho no coração: “Por que me procuravam? Não sabiam que Eu devo estar na casa do meu Pai?” (Lc 2, 49).

Proximidade e separação, quando vê os parentes mais próximos e conterrâneos ficarem estupefatos e escandalizados pelos sinais que o Filho realizava: Esse homem não é o carpinteiro, o filho de Maria e irmão de Joset, de Judas e de Simão? E Suas irmãs não moram aqui conosco? E ficaram escandalizados por causa de Jesus.” (Mc 6, 3).

Proximidade e separação, quando começa a chamar discípulos para O seguirem; multidões arrebanhando, mas na hora decisiva, abandonado, negado, traído, solitário. Ela, porém, como Mãe inseparável, irredutível, acompanhando passo a passo o ápice da alma e do corpo vivido pelo Filho.

Proximidade e separação, acompanhada de lágrimas, dor tão intensa, profunda e indescritível. Como podem crucificar e matar o Amor que um dia se Fez Carne em Seu Ventre? Matam Aquele que se fez Carne em seu Ventre pela ação do Espírito Santo.

Proximidade, separação, pranto, lágrimas...
Quem suportaria tamanha dor?

Lá, ao pé da Cruz...
Proximidade do Filho para ouvir Suas últimas Palavras:
“Mulher, eis aí o seu Filho”; “Filho, eis aí a sua Mãe” (Jo 19, 26).

Desde então, Maria se tornou Mãe da Igreja e Mãe de toda a humanidade.

E lá, nas primeiras páginas dos Atos dos Apóstolos, encontramos Maria, tão próxima, novamente unida ao seu Filho, em Oração, junto com Seus Apóstolos: “Todos eles tinham os mesmos sentimentos e eram assíduos na Oração, junto com algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos de Jesus.” (At 1, 14).

Como a Igreja nos ensina, cremos que, se na proximidade suportou a separação, isto a fez merecedora de com Ele para sempre estar, na glória da eternidade, Assunta ao céu e Coroada Mãe e Rainha por toda a eternidade.

Com Maria aprendamos a viver imensurável proximidade, com a maturidade de também suportar a dor da separação, das renúncias, do peso e exigências da cruz cotidiana.

Tão somente assim, desejosos de um dia vê-la no céu, e o encontro definitivo com o Pai, o Filho e o Espírito Santo, comunhão profunda e eterna de amor viver, na plenitude de luz mergulhar, com os Anjos e Santos que nos precederam. 

Maria, sempre Maria!
Proximidade, separação, pranto, lágrimas...
Proximidade, comunhão, eterna e plena alegria.
Amém.

Os sentimentos de Maria

                                                    

Os sentimentos de Maria

"Impossível imaginar os sentimentos
de Maria, ao ouvir dos lábios de Pedro, João,
Tiago e restantes Apóstolos as palavras da Última Ceia:
 'Isto é o meu corpo que vai ser entregue por vós'" (Lc 22, 19).

Assim lemos na Carta Encíclica “Ecclesia de Eucharistia”  (Papa São João Paulo II - 2003). 

“Ao longo de toda a sua existência ao lado de Cristo, e não apenas no Calvário, Maria viveu a dimensão sacrificial da Eucaristia. Quando levou o menino Jesus ao templo de Jerusalém, « para O apresentar ao Senhor » (Lc 2, 22), ouviu o velho Simeão anunciar que aquele Menino seria « sinal de contradição » e que uma « espada » havia de trespassar também a alma d'Ela (cf. Lc 2, 34-35).

Assim foi vaticinado o drama do Filho crucificado e de algum modo prefigurado o « stabat Mater » aos pés da Cruz. Preparando-Se dia a dia para o Calvário, Maria vive uma espécie de « Eucaristia antecipada », dir-se-ia uma « comunhão espiritual » de desejo e oferta, que terá o seu cumprimento na união com o Filho durante a Paixão, e manifestar-se-á depois, no período pós-pascal, na sua participação na celebração eucarística, presidida pelos Apóstolos, como « memorial » da Paixão.

Impossível imaginar os sentimentos de Maria, ao ouvir dos lábios de Pedro, João, Tiago e restantes apóstolos as palavras da Última Ceia: « Isto é o meu corpo que vai ser entregue por vós » (Lc 22, 19). Aquele corpo, entregue em sacrifício e presente agora nas espécies sacramentais, era o mesmo corpo concebido no seu ventre!

Receber a Eucaristia devia significar para Maria quase acolher de novo no seu ventre aquele coração que batera em uníssono com o d'Ela e reviver o que tinha pessoalmente experimentado junto da Cruz”. (n.56).

Contemplar as virtudes de Maria: suavidade, ternura, confiança, coragem, doçura...

Em cada Eucaristia celebrada, sintamos a presença maternal de Maria, sempre ressoando suas palavras, desde o primeiro sinal em Caná da Galileia: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,5).

Sintamos, também, a presença doce e suave de Maria, na mais perfeita comunhão dos Santos que professamos na fé.

Contemos com a sua proteção, gestos de amor e partilha, como ela tão bem fez, sejam multiplicados.

Salve Rainha, Mãe de Misericórdia...

Bem-Aventuranças vividas, sal da terra e luz do mundo seremos (IVDTCA)


 Bem-Aventuranças vividas, sal da terra e luz do mundo seremos

 
                  “Bem-Aventurados os pobres em espírito...”
 
No quarto Domingo do Tempo Comum (Ano A), refletimos sobre o caminho dos discípulos missionários do Senhor, de modo especial contemplado nas Bem-Aventuranças que Jesus Cristo nos apresenta, no alto da Montanha.
 
Na passagem da primeira Leitura (Sf 2,3;3,12-13), o profeta Sofonias (séc. VII) denuncia o orgulho e a autossuficiência dos ricos e dos poderosos, acompanhado do convite ao Povo de Deus, para que se converta à pobreza, entregando-se nas mãos de Deus, com total confiança, abertura e fidelidade ao Seu Plano Divino.
 
Na passagem da segunda Leitura (1 Cor 1,26-31), o apóstolo exorta a comunidade a encontrar em Cristo Crucificado a verdadeira sabedoria, que conduz à Salvação e à vida plena:
 
“O cristão não tem outra missão senão dar a própria vida, deixá-la tomar gota a gota, dia a dia, reconhecendo que Cristo é o centro da vida e, fora do Seu amor, não se pode viver e nada tem valor... Paulo reconhece na disponibilidade interior de confiança e esperança para o amor de Cristo, a presença ativa do Cristo Ressuscitado. Ainda hoje, para cada comunidade nossa, como ontem para a comunidade de Corinto, nada é deveras grave senão perder o amor (cf.v.30)” (1).
 
Com a passagem do Evangelho de Mateus (Mt 5,1-12a), refletimos sobre as Bem-Aventuranças a serem vividas como caminho para a felicidade, que é em sua exata medida, o caminho para a santidade, e tão somente assim, sal da terra e luz do mundo seremos.
 
Evidentemente, viver as Bem-Aventuranças, como projeto e desafio permanente, exige que carreguemos a cruz cotidianamente, com suas necessárias renúncias, o que somente será possível se crermos piamente que Jesus viveu, morreu e desceu à mansão dos mortos, mas Ressuscitou triunfalmente ao terceiro dia.
 
Contemplemos as quatro primeiras Bem-Aventuranças, que definem a atitude fundamental do discípulo missionário de Jesus Cristo: pobre, aflito, manso e sedento de justiça.
 
As quatro seguintes referem-se à vida de relação com o outro: ser misericordioso, puro de coração, promotor da paz e testemunha corajosa.
 
Vejamos o que nos diz cada Bem-Aventurança do Sermão da Montanha:
 
1ª - pobres em espírito: trata-se de uma condição espiritual e não a pobreza material em si. Na linguagem hebraica pode ser entendido como devoto, fiel, aquele que coloca a sua confiança em Deus;
 
2ª - o discípulo é enviado não apenas para levar a Boa Notícia aos pobres, mas também consolar os aflitos, em situações difíceis, para que reencontrem a esperança, certos de que Deus intervirá e acabará com os motivos da aflição;
 
3ª - o discípulo viverá a mansidão na imitação de Jesus, com domínio dos instintos, e sabe que, mesmo em situações de oposição, respeita ao outro e não reage recorrendo a violência. A este é prometida a posse da terra que consiste na vida eterna no Reino dos céus, a Salvação;
 
4ª - o discípulo é faminto e sedento de justiça, empenha-se no cumprimento da Lei de Deus e se compromete em viver conforme a Sua vontade acima de tudo; e encontrará pleno cumprimento no Banquete Messiânico, que nos será oferecido na eternidade e que já experimentamos em cada Celebração da Eucaristia;
 
5ª - o discípulo se reconhece pecador e tem continuamente a necessidade da misericórdia divina, e esta acolhida o leva a viver as obras de misericórdia (corporais e espirituais);
 
6ª - o discípulo é puro de coração, e entende-se coração como a sede dos sentimentos e dos desejos, dos pensamentos e das ações. Ser puro de coração é ser sincero no proceder, que não pensa de um modo e age de outro. Não cultiva más intenções para com o próximo, e sua pureza diante de Deus não se obtém pela prática de alguns ritos, mas numa conduta de vida boa, sincera que se concretiza na prática do bem;
 
7ª - é promotor da paz em todos os âmbitos (família, comunidade e no mundo). Empenha-se concretamente no cultivo dos sentimentos de paz em atitudes de conciliação, compreensão e paciência. Sabe que a paz é dom de Deus, que nos criou à Sua imagem e semelhança, seremos chamados filhos de Deus, por isto o compromisso inadiável e irrenunciável na promoção da paz;
 
8ª - o discípulo pobre em espírito, aflito, com fome e sede justiça será perseguido. Sabe que encontrará hostilidades, mas tem plena convicção da presença de Deus, sabe que o Reino e suas Bem-Aventuranças lhe pertencerão. A perseguição enfrentada é um sinal de que se está ao lado de Cristo, na vivência de seu batismo e a dimensão profética.
 
Na realização das atividades pastorais é sempre oportuno rever objetivos e estratégias para melhor anunciarmos e testemunharmos a Boa-Nova de Jesus Cristo.
 
Conduzidos e iluminados pelas Bem-Aventuranças, seremos pobres em espírito, com absoluta e incondicional confiança em Deus; possuiremos a mansidão necessária para enfrentarmos as situações adversas; viveremos as aflições quotidianas, certos de que Deus jamais nos desampara, e nos dá Seu consolo, força e proteção.
 
Nossa fome e sede de justiça serão saciadas, e não nos omitiremos nos sagrados compromissos por um novo céu e uma nova terra, com relações que expressem maior fraternidade e comunhão.
 
Viveremos a misericórdia, expressa na acolhida, no perdão, na solidariedade, capacitando-nos e nos colocando com alegria como instrumentos da paz, para sinalizar a presença do Reino em nosso meio.
 
Iluminados por elas, teremos a pureza de coração e de alma necessária, gerando e formando Cristo em nós e nos outros, com maturidade e coragem para suportar eventuais insultos, calúnias, tormentos, perseguições e, até mesmo a morte, se ela se fizer presente, ainda que indesejável, como assim testemunharam os profetas, apóstolos, mártires e tantos cristãos, nesta longa história de amor e fidelidade ao Senhor.
 
Pelas Bem-Aventuranças iluminados, evangelizaremos com amor, zelo e alegria, com a presença do Espírito do Senhor que repousa sobre nós (Lc 4,18), firmando nossos passos com coragem, firmeza, fidelidade, sem vacilar na fé e no testemunho da esperança, acompanhado da prática do mandamento do Amor a Deus e ao próximo.
 
Sejamos sempre conduzidos e iluminados pelas Bem-Aventuranças, com a convicção de que seremos julgados por Deus: “No entardecer de nossa vida seremos julgados pelo amor” (São João da Cruz).
 
Oremos:

“Ó Deus, que prometestes aos pobres e aos humildes as alegrias do Vosso Reino, fazei que a Igreja não se deixe seduzir pelos poderes do mundo, mas, à semelhança dos pequenos do Evangelho, siga confiante o Seu Esposo e Senhor, para que possa experimentar a força do Vosso Espírito. Amém.”
 
 
Fonte – dehonianos.org
(1)Missal Cotidiano – Editora Paulus – pág. 1214
 

Não há profecia sem a chama do Amor Divino (IVDTCC)


Não há profecia sem a chama do Amor Divino

No 4º Domingo do Tempo Comum (Ano C), continuamos a reflexão sobre a Missão de Jesus que é a missão da Igreja, sob a ação do mesmo Espírito que pousou sobre Ele e O acompanhou em todos os momentos na fidelidade ao Pai.

Nesta missão, como discípulos missionários, vivendo a vocação profética pelo Batismo, podemos viver experiências difíceis como perseguições, incompreensões, obstáculos a serem transpostos, mas o amor "ágape" fala sempre mais alto.

Na passagem da primeira Leitura (Jr 1,4-5.17-19), contemplamos a figura do Profeta Jeremias que foi escolhido, consagrado e constituído Profeta por Deus.

Como os demais Profetas, trilhou um árduo caminho de sofrimento, solidão, risco por possuir uma consciência crítica, ser defensor da verdadeira paz, nutrir a verdadeira esperança e confiança na defesa dos pobres, tudo fazendo por amor.

O Profeta é por excelência alguém que se encontrou com Deus e Sua Palavra e aceitou viver o desígnio divino. Ninguém é Profeta por iniciativa própria.

Enviado por Deus, vive o caminho profético, conjugando e vivendo os verbos denunciar, criticar, demolir, destruir, edificar e plantar, consumindo-se e vivendo intensamente a missão por Deus confiada.

Reflitamos:

- Ontem Jeremias, e hoje quem são os Profetas, aqueles que têm olhos voltados para Deus sem desviar o seu olhar para a realidade na qual estão inseridos?

- Onde e como vivemos a vocação profética recebida no dia de nosso Batismo?

- Como estamos conjugando e vivendo os verbos denunciar, criticar, demolir, destruir, edificar e plantar?

A passagem da segunda Leitura (1Cor 12,31-13,13) aparentemente desconectada da primeira e do Evangelho, mas apenas aparentemente, pois se a virtude do Amor divino não nos mover, não nos impulsionar, jamais viveremos a vocação profética, não suportaremos o peso da cruz a ser carregada, cotidianamente, com as renúncias necessárias.

Trata-se do “hino ao amor” que já inspirou poetas e Profetas. Há quem chame esta passagem de “o Cântico dos Cânticos da Nova Aliança”.

Paulo retrata o amor como o dom maior e eterno a ser vivido por todo aquele que segue Jesus, e que 
possui uma superioridade incontestável sobre qualquer outro carisma.

O caminho do amor é o caminho mais seguro, mais acessível a todos, e consiste no caminho insubstituível que conduz à Salvação.

Não se trata de um amor qualquer, trata-se do amor-'ágape', onde não há resquícios de egoísmo, mas é o amor gratuito, desinteressado, sincero, fraterno, que se preocupa com o outro, sofre pelo outro, que procura o bem do outro sem nada esperar em troca.

O Apóstolo enumera 15 características ou qualidades do verdadeiro amor, sendo sete apresentadas de forma positiva, e as outras de forma negativa.

Resumindo, a passagem pode ser dividida em três partes:

1 - O confronto entre a caridade e os carismas – (13,1-3);
2 - As características principais e operativas da caridade – (13,4-7);
3 - A perfeição da caridade e sua perenidade – (13,8-13).

Reflitamos:

- Qual é a qualidade do amor que vivemos na comunidade cristã?

- Vivemos o amor cristão, o amor "ágape", o amor generoso, por pura gratuidade?

Na passagem do Evangelho (Lc 4,21-30) descreve a rejeição enfrentada por Jesus, quando desprezado pelos habitantes de Nazaré e pelos próprios parentes, por não compreenderem e não aceitarem a Sua missão.

A missão de Jesus frustra na medida em que não propicia espetáculos. O Deus a quem Jesus vive fidelidade até o fim tem uma séria proposta de salvação a ser concretizada na vida daquele que crê.

Assim como os Profetas, o próprio Senhor enfrentou a incompreensão, a incredulidade, a solidão, o risco, a doação e autoentrega de Sua vida.

Reflitamos:

- Quem é Jesus para mim? Qual Sua missão e como a vivo?
- Como vivo a minha fidelidade a Jesus, como discípulo missionário?

- Quais as incompreensões e rejeições que passo por causa do anúncio e testemunho da Boa-Nova?
- Sinto alegria em continuar, sob a ação do Espírito, como Igreja, a missão de Jesus?

Concluindo: O amor é o “motor” de nossa missão, o amor-"ágape": Cristo que ama em nós. Somos vocacionados para o amor, para a profecia, sob a ação do Espírito Santo.

Se inflamados por este amor, continuaremos nosso caminho vivendo a vocação profética, sendo no mundo luz, da terra o sal, sem jamais perder o sabor.

As Bem-Aventuranças e o discipulado (IVDTCA)

                                                     

As Bem-Aventuranças e o discipulado

Como discípulos missionários do Senhor, somos chamados a viver na planície do cotidiano as Bem-Aventuranças (Mt 5,1-12a), e assim sermos, de fato, sal da terra e luz do mundo.

As quatro primeiras Bem-Aventuranças definem a atitude fundamental do discípulo missionário de Jesus Cristo: pobre, aflito, manso e sedento de justiça.

As quatro seguintes referem-se à vida de relação com o outro: ser misericordioso, puro de coração, promotor da paz e testemunha corajosa.

Vejamos o que nos diz cada Bem-Aventurança do Sermão da Montanha:

1ª - pobres em espírito: trata-se de uma condição espiritual e não a pobreza material em si. Na linguagem hebraica pode ser entendido como devoto, fiel, aquele que coloca a sua confiança em Deus;

2ª - o discípulo é enviado não apenas para levar a Boa Notícia aos pobres, mas também consolar os aflitos, em situações difíceis, para que reencontrem a esperança, certos de que Deus intervirá e acabará com os motivos da aflição;

3ª - o discípulo viverá a mansidão na imitação de Jesus, com domínio dos instintos, e sabe que, mesmo em situações de oposição, respeita ao outro e não reage recorrendo a violência. A este é prometida a posse da terra que consiste na vida eterna no Reino dos céus, a Salvação;

4ª - o discípulo é faminto e sedento de justiça, empenha-se no cumprimento da Lei de Deus e se compromete em viver conforme a Sua vontade acima de tudo; e encontrará pleno cumprimento no Banquete Messiânico, que nos será oferecido na eternidade e que já experimentamos em cada Celebração da Eucaristia;

5ª - o discípulo se reconhece pecador e tem continuamente a necessidade da misericórdia divina, e esta acolhida o leva a viver as obras de misericórdia (corporais e espirituais);

6ª - o discípulo é puro de coração, e entende-se coração como a sede dos sentimentos e dos desejos, dos pensamentos e das ações. Ser puro de coração é ser sincero no proceder, que não pensa de um modo e age de outro. Não cultiva más intenções para com o próximo, e sua pureza diante de Deus não se obtém pela prática de alguns ritos, mas numa conduta de vida boa, sincera que se concretiza na prática do bem;

7ª - é promotor da paz em todos os âmbitos (família, comunidade e no mundo). Empenha-se concretamente no cultivo dos sentimentos de paz em atitudes de conciliação, compreensão e paciência. Sabe que a paz é dom de Deus, que nos criou à Sua imagem e semelhança, seremos chamados filhos de Deus, por isto o compromisso inadiável e irrenunciável na promoção da paz;

8ª - o discípulo pobre em espírito, aflito, com fome e sede justiça será perseguido. Sabe que encontrará hostilidades, mas tem plena convicção da presença de Deus, sabe que o Reino e suas Bem-Aventuranças lhe pertencerão. A perseguição enfrentada é um sinal de que se está ao lado de Cristo, na vivência de seu batismo e a dimensão profética.

Oremos:

“Ó Deus, que prometestes aos pobres e aos humildes as alegrias do Vosso Reino, fazei que a Igreja não se deixe seduzir pelos poderes do mundo, mas, à semelhança dos pequenos do Evangelho, siga confiante o Seu Esposo e Senhor, para que possa experimentar a força do Vosso Espírito. Amém.”



PS: Fonte de pesquisa: Lecionário Comentado – Ed. Paulus – 2011
pp.159-160.

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG