domingo, 1 de setembro de 2024

Amor e Cruz na fidelidade ao Senhor (XXIIDTCA)

                                                                  

Amor e Cruz na fidelidade ao Senhor

“Se alguém quiser me seguir, renuncie a si mesmo,
tome a sua cruz e me siga” (Mt 16,24)

Como discípulos missionários do Senhor, no Seu seguimento, precisamos das renúncias necessárias, e o tomar da cruz quotidiana para segui-Lo, como lemos nas passagens dos Evangelhos (Mt 16,21-27; Lc 9,18-24).

Sejamos enriquecidos por estas afirmações de Santa Teresa de Jesus (séc. XVI), neste bom propósito de todos nós:

“Estou convencida de que a medida da capacidade de levar cruz grande ou pequena é a do amor...

Cumpra-se em mim, Senhor, Vossa vontade de todos os modos e maneiras que vós, Senhor meu, quiserdes.

Se me quiserdes enviar sofrimentos, dai-me forças para suportá-los, e venham!

Se perseguições e enfermidades, desonras e mínguas, aqui estou!

Não afastarei o rosto, ó meu Pai, nem há motivo para virar as costas. Não quero que haja falha da minha parte depois que vosso Filho, em meu nome, deu esta minha vontade, oferecendo a vontade de todos os homens.” (1)

Jesus jamais prometeu facilidades para segui-Lo, e o Mistério da Cruz estava sempre presente no horizonte de Sua pregação e ação.

O discípulo de Jesus sabe que “Quem busca um Cristo sem Cruz, acabará encontrando uma Cruz sem Cristo”; assim também, sabe que precisa fazer da sua vida uma doação ao outro.

Deste modo, tudo se torna menos difícil quando nos colocamos no caminho do amor, da fidelidade, doação e serviço ao outro.

Nossa cruz torna-se suportável, seu peso mais leve, porque Ele mesmo já dissera – “Vós que estais cansados, vinde a mim porque meu fardo é leve e meu jugo é suave” (Mt 11,28-30).

Da mesma forma, também nos assegura, em todos os momentos, a Sua presença enquanto estava com eles, e depois a presença do Paráclito que haveria de ser enviado, e assim se fez, para que não sucumbissem diante das dificuldades, provações e perseguições, como mencionara na conclusão das Bem-Aventuranças (Mt 5,1-12).

Portanto, aprendamos com esta Santa e Doutora da Igreja, a pedir sempre a Deus “coragem” para enfrentar os sofrimentos, e muito “amor” para carregar a cruz, seja ela pequena ou grande, pois como Santa Teresa afirmou, este é a medida da capacidade para suportarmos o seu peso e levá-la no anúncio e testemunho de nossa fé e esperança, como discípulos missionários do Senhor.


(1) Santa Teresa de Jesus – O Caminho da perfeição – Editora Paulus -  pp.189.191

“Todos vós sois um só em Cristo Jesus”

 


                   “Todos vós sois um só em Cristo Jesus”

Com o lema “Todos vós sois um só em Cristo Jesus” (Gl 3,28), celebramos o mês da bíblia, aprofundando a Carta de Paulo aos Gálatas, na qual o Apóstolo Paulo nos apresenta o Evangelho de Jesus Cristo crucificado.

Trata-se de uma carta direta e personalizada, para que os membros da comunidade se esforcem por clarificar as ideias perturbadas pela intervenção do grupo judaizante, voltando a viver na liberdade, na igualdade e na unidade, à luz da vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo.

A carta aos Gálatas é mais profundamente marcada pelo tom duro e polêmico do que qualquer outra (é a única carta sem a costumeira ação de graças nas saudações inicial e final).

Um possível esquema da Carta:

a) Introdução – 1,1-10: apresentação do tema “o Evangelho de Cristo”, baseado na graça de Deus.

b) Primeira parte – 1,11-2,21: relato autobiográfico e histórico.

c) Segunda parte – 3,1-5,12: argumento contra os adversários.

d) Terceira parte – 5,13-6,10: exortação ética – liberdade e caridade.

e) Conclusão – 6,11-18: advertência contra o grupo judaizante radical.

O Apóstolo convencido do perigo que representavam para o Evangelho de Jesus Cristo crucificado, não poupou críticas fortes contra os grupos formados pelos judaizantes e helenizados radicais, que estavam desvirtuando o valor salvífico do amor gratuito de Jesus Cristo crucificado, a manifestação da graça de Deus.

Quanto ao conteúdo da Carta:

1) Pregar e praticar o Evangelho de Jesus Cristo crucificado (Gl 1,7): o verdadeiro Evangelho (Gl 2,5.14) é a própria pessoa de Jesus de Nazaré, que pregou e praticou a justiça e deu Sua vida na Cruz, por puro amor ao próximo (Gl 1,3-5).

2) Ser herdeiro da promessa de Abraão pela fé em Jesus Cristo crucificado (Gl 3,6-18): o fato de Jesus Cristo – que conviveu com os pecadores e morreu na Cruz por amor ao próximo – ser reconhecido como o Messias sofredor e o Filho de Deus (Gl 4,4) é a mensagem essencial de que o Deus da promessa a Abraão (Gn 15,4-8; 18,17-18) reconhece a pessoa não em virtude das obras da Lei, mas sim de sua prática do amor ao próximo. A fé no Messias sofredor abre a salvação a todos os povos, sem o pré-requisito do cumprimento da Lei, como a circuncisão e as leis alimentares (Gl 2,11-14).

3) Ter liberdade em Jesus Cristo crucificado (Gl 5,1): no Espírito (o poder do amor gratuito) de Jesus Cristo crucificado, a pessoa torna-se “nova criatura” (Gl 6,15), fica liberta de qualquer lei e de qualquer diferença que possa privilegiar uns e marginalizar outros (Gl 3,28).

4) Viver segundo o Espírito (Gl 5,5): quem caminha na fé e no amor do Crucificado é acompanhado pela força criadora, profética, sapiencial e libertadora do Espírito para viver do modo como Jesus viveu: na liberdade, na justiça e no amor, criando irmandade, paz e esperança.

5) Carregar o peso uns dos outros (Gl 6,2): a verdadeira liberdade cristã é fruto do Espírito de Deus, que leva à vida de caridade, justiça e fraternidade, sobretudo de amor-serviço aos outros (Gl 5,13-6,10).

6) Evangelizar com base na realidade (Gl 4,12): ao contrário do grupo judaizante, Paulo considerou e respeitou os anseios por liberdade e igualdade do povo sofrido e escravizado, formando comunidades de fraternidade sem a imposição das leis e costumes judaicos.

7) Evangelizar junto com os pobres (Gl 2,10): Paulo evangelizou as nações, pondo-se ao lado dos pobres, mergulhando no mundo deles, carregando os fardos do trabalho (Gl 6,2), organizando comunidades de partilha e de fraternidade junto com os pobres (1Cor 4,9-13).

8) Carregar as marcas de Jesus, que significam as cicatrizes dos maus-tratos sofridos e suportados pelo Nazareno (Gl 6,14.17; cf. 2Cor 4,10): quem assume o Evangelho de Jesus Cristo crucificado, Seu amor gratuito e o espírito da liberdade, será perseguido e maltratado no mundo do legalismo judaico e da escravização do império. As pessoas que seguem Jesus, porém, mesmo perseguidas, devem gloriar-se na Cruz de Jesus Cristo, porque é dela que nasce “o poder de Deus e a sabedoria de Deus” (1Cor 1,24), para construir o mundo da partilha e da fraternidade: o Reino antecipado de Deus.

Paulo pregou Jesus crucificado e ressuscitado e ousou caminhar na contracorrente, com a proposta do amor gratuito e da justiça do “servo sofredor”, escrevendo a Carta para uma comunidade que vivia no contexto do imperialismo romano e da religião legalista e ritualista do judaísmo oficial.

A Carta nos ilumina e nos leva a enfrentar tudo aquilo que devora pessoas inocentes mediante guerras, ditaduras brutais, trabalhos em condição de escravidão ou semiescravidão, economia selvagem, fomes, violências, de modo que é impensável Igrejas com um Cristo triunfalista, legalista e ritualista.

 

PS: ano de 2021


Uma síntese do Artigo “O Evangelho de Jesus Cristo Crucificado – entendendo a Carta aos Gálatas, publicado na Revista Vida Pastoral n.341 – ano 62 – pp.14-21- de Shigeyuki Nakanose, svd e Maria Antônia Marques.

https://www.vidapastoral.com.br/edicao/o-evangelho-de-jesus-cristo-crucificado-entendendo-a-carta-aos-galatas/




Seduzidos pelo Senhor (XXIIDTCA)

Seduzidos pelo Senhor

 “Tu me seduziste, Senhor,
e eu deixei-me seduzir” (Jr 20,7)

No 22º Domingo do Tempo Comum (ano A), ouvimos a passagem do Livro do Profeta Jeremias (Jr 20,7-9).

Trata-se de um trecho das “confissões” amarguradas e dolorosas do Profeta Jeremias, decorrente do exercício do seu ministério, paradigma do Profeta perseguido.

A narração é a continuação dos acontecimentos da saída do cárcere do Profeta, preso devido a um oráculo que dirigiu contra o reino de Judá (Jr 19,14 - 20,6).

Jeremias, chocado com a experiência da prisão, queria fugir da missão por Deus confiada, mas não teve forças e sentiu-se incapaz para esta fuga.

O Profeta se sente enganado por Deus que, através de sua missão, o colocou à margem da sociedade (v. 7); quanto à Palavra de Deus, se tornou para ele motivo de opróbrio, vergonha e desonra.

O Profeta desejaria rebelar-se contra Deus, mas tem consciência da inutilidade de sua impotência diante do Mistério de Deus: a Sua voz é como fogo e não há como abafá-la, extingui-la, apagá-la (v.9).

No texto, com matizes de Oração, sobressai a sequência facilmente perceptível: sedução, dominação, violência (v. 7-8).

O profeta Jeremias só vê um caminho: responder a este chamado de Deus. O Senhor é mais forte do que ele e sua rebelião (Jr 20,14-18).

Assim diz o Comentário do Missal Dominical:

O ministério profético, sobretudo, não é uma vocação à tranquilidade: é incômodo para quem fala e para quem ouve.

Jeremias desejaria subtrair-se à ingrata tarefa, mas a Palavra de Deus queima-o por dentro com tal veemência, que não pode contê-la.

Sua alma é terreno de batalha, onde batem forças dificilmente conciliáveis entre si: Deus, o mundo, a busca de si mesmo. Só resta ao Profeta uma possibilidade: deixar-se seduzir por seu Senhor.” (1)

Jeremias é definitivamente vencido por Deus, e assim é um exemplo para todo cristão que é chamado a reconhecer em si mesmo o sinal da vocação ao amor e ao testemunho:

Quem se deixa seduzir pelo Senhor, porque descobre que é objeto do Seu amor, encontra em si mesmo a força e não se furta à oferta contínua de todas as provas que lhe vêm do seu testemunho.

Olhemos para Jeremias, mas, sobretudo para Cristo que cumpre a figura d’Ele.

Ele é o verdadeiro Servo, que sofre e oferece a vida em sacrifício. A Sua obediência nos conforte e coloque entusiasmo no nosso testemunho...

Entreguemos a nossa vida ao Senhor, para que iluminada por Ele, saiba crescer e cumprir constantemente a Sua vontade.” (2)

Jeremias, um Profeta provado até o extremo, mas definitivamente vencido por Deus. Ele oferece a sua vida como sacrifício espiritual agradável a Deus. E isto é o que Deus espera de cada um de nós, paradoxalmente, no carregar da cruz quotidiana, sem esmorecimentos, com a certeza de que a vida perdendo, por Ele consumindo, na fidelidade a Jesus, com a força do Espírito Santo, alcançaremos a plena felicidade e eternidade.

Concluindo:

Seduz somente quem ama, e somente o amado se deixa seduzir. De igual modo é apenas na experiência vital do Amor de Deus que amadurece a coragem de poder partilhar perspectivas tão duras, como as da livre aceitação da prova ou de suportar com fé o sofrimento e a dor.

Isto significa estarmos apaixonados por Cristo, no verdadeiro sentido da palavra: isto é, no significado etimológico de poder ‘sofrer’, de poder passar através do Gólgota, oferecendo a nossa vida ao Pai, juntamente com Cristo e na força de Oração mais verdadeira que se possa pensar...

Toda a nossa vida, em todas as suas manifestações, inclusive a amargura e a tristeza, está orientada para Cristo e deve ser envolvida na caminhada em direção ao grande dia do Senhor que esperamos.” (3)

Que nossa vida cristã seja uma resposta ao Amor de Deus que nos seduz, como seduziu a Jeremias, a tantos Profetas, homens e mulheres de todos os tempos.

O autêntico relacionamento com Deus somente ocorre numa intensa e contínua relação de amor e sedução. Não procuremos um Cristo sem Cruz, porque certamente encontraremos uma Cruz sem Cristo.

E renovando a graça da vocação profética, recebida no dia de nosso Batismo, elevemos a Deus esta Oração:

“Espírito Santo, iluminai o nosso coração, para que possamos colocar todos os sofrimentos, nossos e alheios, à luz esplêndida da Cruz do Senhor Jesus.

Fazei que não desprezemos as cruzes da vida, tornando-nos próprios obstáculos para a propagação do Reino de Deus e ‘escândalo’ para nossos irmãos.

Reavivai em nós a consciência de sermos filhos, filhos amados e socorridos sempre pela ternura e pelo amor do Pai. Amém.” (4)



(1) Missal Dominical - p. 787.
(2) Lecionário Comentado – pp. 229-231
(3) (4) Idem p. 233

Quando o céu se torna escuridão… (XXIIDTCA)


Quando o céu se torna escuridão…

A Liturgia do 22º Domingo do Tempo Comum (ano A),  retrata as dores e alegrias, angústias e esperanças do Povo de Deus, à luz da Palavra de Deus proclamada.

Como a realidade da cruz, do sofrimento, marca a vida do Povo de Deus! 

Acorre-se a Deus em busca de uma Palavra, uma alento, um reacender da chama da esperança, uma luz, um impulso… Não uma fuga, não uma evasão da realidade, mas abastecimento para poder enfrentá-la, transformá-la, renová-la, a partir do mistério da Fé, celebrado na Mesa da Eucaristia.

Na passagem da primeira Leitura (Jr 20,7-9), o Profeta Jeremias, seduzido pelo Amor de Deus levou-nos ao mesmo desejo: deixar nosso coração pelo Amor de Deus ser seduzido, como fogo que o queima por dentro. Vocação profética que não é vontade nossa, mas iniciativa de Deus, dom de Deus, resposta nossa…

Na passagem da segunda Leitura (Rm 12,1-2), o Apóstolo Paulo nos exorta, pela misericórdia de Deus, a nos oferecermos como sacrifício vivo, santo e agradável a Ele, no autêntico culto, na transformação e conversão de nossa maneira de pensar e julgar, não nos deixando moldar pela lógica do mundo, mas pela lógica do Evangelho, procurando sempre o que é agradável a Deus…

Na passagem do Evangelho (Mt 16,21-27), Jesus fez Seu primeiro anúncio da Paixão e Morte: o caminho da glória passa inevitavelmente pela Cruz, para além da compreensão de Pedro que recebeu de Jesus seríssima advertência, por não pensar como Deus: Afasta-te de mim Satanás…”. Quem quiser seguir Jesus deverá renunciar a si mesmo, tomar sua cruz e segui-Lo com coragem, fidelidade, ousadia, confiança, perseverança…

Deste modo, a verdadeira Oração não deve ser nunca para que Deus nos tire a cruz, que a reduza, tão pouco lamento estéril, angustiante. 

A verdadeira Oração é glorificar a Deus por Sua bondade, força, graça e ternura que nos acompanha dando possibilidade de poder carregá-la, transformando a cruz (aparente sinal de fracasso) em sinal de vitória. Cruz: loucura para os gregos, escândalo para os judeus (1 cf. 1 Cor 1,18-25).

De fato, Deus faz renascer a vida das cinzas (o maravilhoso ipê amarelo que neste tempo teimosamente desafia o cenário das cinzas e enfeita os campos com o esplendor de suas flores); faz nascer a imortal obra de arte de Beethoven para Elisa, nascida da experiência fracassada da mesma ao não conseguir tocar sua peça na frente de Beethoven.

Enfim, “quando o céu se torna escuridão pela privação da luz do sol, Deus acende as estrelas”, e o provérbio “no auge da noite se anuncia o nascer de um novo dia”

Sigamos em frente, tomemos livremente nossa cruz, saciados pelo Pão Nosso de cada dia. A cada dia suas preocupações, inquietações, desafios…

Oremos: “Pai nosso...

Sejamos fortalecidos no carregar da Cruz! (XXIIDTCA)

Sejamos fortalecidos no carregar da Cruz!

A Liturgia do 22º Domingo do Tempo Comum (ano A) traz um convite que a muitos assusta e desaponta: “A loucura da Cruz”. No entanto, se quisermos ser discípulos do Senhor não há outro caminho, senão o caminho da Cruz.

Somos, portanto, convidados a rever o grande sinal que nos identifica, o Sinal da Cruz, que tantas vezes fazemos, e por vezes sem pensar no que o gesto implica: carregar a Cruz com fé, coragem e fidelidade como ponte necessária para a eternidade. Sem Cruz não há como conceber e alcançar a eternidade.

Mais uma vez nos deparamos com a necessária decisão: a lógica do mundo - dominação, poder, sucesso - ou a lógica de Deus - o caminho do amor, doação, fidelidade e Cruz, que é o amor até as últimas consequências.

Na passagem da primeira Leitura (Jr 20,7-9), temos as “confissões de Jeremias”. A sua vocação vivida enfrentando sofrimentos, solidão, maledicência, perseguição, cárcere, e também acusado de traição. Sofrimentos suportados por que coração seduzido e inflamado pelo Amor divino.  Ao realizar a vocação profética é chamado de “profeta da desgraça”.

Jeremias sentiu os apelos irresistíveis da Palavra, impulsionando à ousadia e confiança, num contexto social e político extremamente difícil. Ele, por tudo que viveu e pelo compromisso com Deus assumido, foi o “grito de um coração humano dolorido”, apenas curado pela Caridade Divina.

O profeta não é profeta por livre escolha, mas por desígnios divinos. Cada tempo precisa de profetas, de Jeremias que se apaixonem pela Palavra de Deus e Seu Projeto de vida, justiça e paz para todos; e  encontrem na Palavra Divina um fogo devorador. Somente assim viveremos intensamente nosso Batismo.

O testemunho de Jeremias questiona nossa coragem, fidelidade, ousadia, no trilhar do caminho profético:

- Teremos nós mesma sedução e coragem?
- Nossa “boca” é a boca que proclama sem medo o Projeto Divino?

O Apóstolo Paulo, na segunda Leitura (Rm 12,1-2), séculos mais tarde, outra grande história de um coração extremamente apaixonado e seduzido por Deus, exorta-nos a assumir atitudes coerentes com a fé que professamos, tornando nossa vida um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, não nos conformando ao mundo que vivemos, mas configurando-nos com o Senhor e Seu Evangelho, oferecendo a vida inteiramente a Deus.

O Apóstolo insiste que o culto que Deus espera de nós é uma vida vivida no amor, no serviço, na doação em entrega total a Deus e aos irmãos.

Com a passagem do Evangelho de Mateus (Mt 16,21-27) somos desafiados a trilhar o caminho da Cruz, o caminho da entrega incondicional a Deus e do dom da vida colocada, por amor, a serviço, à luz das intervenções e inquietações do Apóstolo Pedro dirigidas ao Divino Mestre, Jesus.

O discípulo de Jesus não deve buscar o sofrimento pelo sofrimento, porém se eles vierem, desde que não sejam sofrimentos sem causa, o seguidor de Jesus sabe que este não pode prescindir da Cruz, sabe que está sujeito a perseguições, sofrimentos, incompreensões. Mas jamais será um sofredor sem causa. Sua causa é a paixão pelo Reino, que o faz irremovível.

O discípulo de Jesus sabe que “Quem busca um Cristo sem Cruz, acabará encontrando uma Cruz sem Cristo”; assim também, sabe que se quiser descomplicar seu existir terá que fazer da sua vida uma doação ao outro. Tudo se torna menos difícil quando nos colocamos no caminho do amor, da fidelidade, doação e serviço ao outro.

Nossa cruz torna-se suportável, seu peso mais leve, porque Ele mesmo já dissera – “Vós que estais cansados, vinde a mim porque meu fardo é leve e meu jugo é suave” (Mt 11,28-30).

Finalizando, Jeremias, Paulo, Pedro e outros tantos, muito nos ensinaram no caminhar da fé.

Reflitamos:

- O que nos ensinam no caminhar da fé?
- O que precisamos rever em nossa vida, pensamentos, palavras e ações para que melhor correspondamos aos desígnios de Deus?

- O que fazer para que nossa vida seja um culto agradável ao Senhor?
- Como estamos carregando nossa Cruz de cada dia?
- Quais as renúncias necessárias?

O discípulo de Jesus tem que renunciar a si mesmo, oferecer sua vida por amor,  colocando-se à serviço do Reino; discernindo, entre as coisas, os bens que passam que devem ser utilizados, e os bens eternos que devem para sempre ser abraçados.

O discípulo sabe que, como disse o Presbítero Santo Tomás de Aquino, “O menor bem da graça é superior a todo bem do Universo”.

Exigências para a participação do Banquete do Reino (XXIIDTCC)



Exigências para a participação do Banquete do Reino

“Porque quem se eleva será humilhado e
quem se humilha será elevado” (Lc 14, 11)

A Liturgia do 22º Domingo do Tempo Comum (ano C) nos convida a refletir sobre o Banquete do Reino e a necessária revisão: se estamos, verdadeiramente, credenciados para dele participar, com as exigências que o Senhor nos ensina e vive.

Na primeira Leitura, ouvimos uma passagem do Livro do Eclesiástico (Eclo 3,19-21.30-31), que nos convida a refletir sobre a humildade, como caminho para sermos agradáveis a Deus e, ao mesmo tempo, para termos êxito e sermos felizes, colocando-nos, por amor e alegremente, a serviço do outro, sobretudo quando este outro é o que mais precisa.

O aprofundamento sobre a Sabedoria Divina e a sua vivência é certeza do viver bem e feliz. A Sabedoria Divina somente pode ser saboreada por quem viver a humildade, ou seja, quem assumir com simplicidade o próprio lugar, pondo a render os talentos, sem jamais humilhar o outro com uma eventual superioridade, mas colocando os próprios dons a serviço de todos, com simplicidade e amor.

Bem diferente é o soberbo, que permite crescer nas entranhas de seu coração a árvore da maldade, com suas raízes tão profundas.

A vida cristã será sempre o desafio de não sermos soberbos, mas humildes servidores, não pelo nosso mérito, mas pela graça de Deus, porque tudo é dom de Deus.

Na passagem da segunda Leitura, o autor da Carta aos Hebreus (Hb 12,18-19.22-24) nos exorta a viver maior proximidade e intimidade com o Senhor, fortalecendo a humildade, a gratuidade e o amor desinteressado, como Ele por excelência viveu.

Trata-se de um convite à superação de uma fé cômoda e sem grandes resistências, redescobrindo a novidade e a exigência do cristianismo: comunhão, proximidade e intimidade maior com Deus. Um amor autêntico que se faz dom, doação, entrega, serviço.

É preciso que a comunidade volte à fidelidade de sua vocação, desinstalando-se, rompendo a preguiça e enfrentando com coragem a perseguição, com uma conduta consequente daquele que abraçou a fé: amor e serviço.

Com isto, supera-se a morna conduta cristã, sem jamais recuar, revelando ao mundo um rosto do Deus vivo e verdadeiro que nos consome e inflama nosso coração de amor.

O Senhor nos precedeu, agora é a hora da comunidade. É preciso revisitar a História do Povo de Deus e reencontrar o entusiasmo.

Ontem, como hoje, quantas coisas nos acontecem e, se não mantivermos a fé, poderemos perder o entusiasmo, a chama acesa do primeiro amor!

É preciso que trilhemos, como discípulos missionários do Senhor, o caminho da humildade, que é diferente do caminho da humilhação.

Na passagem do Evangelho (Lc  14,1.7-14), vemos que bem diferentes são os critérios para participar do Banquete do Reino em relação ao banquete farisaico.

A lógica divina contrapõe a humildade à superioridade, a simplicidade ao orgulho, o serviço à ambição, o ocupar o último lugar ao invés dos primeiros, a solidariedade para com os últimos e não se servir do próximo.

São dois banquetes totalmente diferentes: o primeiro é o Banquete do Amor, serviço e inclusão; o segundo, do egoísmo, indiferença, mera exclusão.

O banquete farisaico é marcado pelo complexo de superioridade, orgulho, ambição. Há a procura dos primeiros lugares.

De outro lado, as credenciais para participação do Banquete do Reino são: humildade, simplicidade, serviço por amor desinteressado, colocando-se no lugar dos últimos para serviço dos últimos.

De fato, a competição é necessária, desde que não leve à destruição do outro, mas à busca de maior qualificação para melhor servir. Esta deve ser a marca daqueles que se põem a caminho com o Divino Mestre Jesus: amor vivido com autenticidade edifica e fortalece a comunidade.

Iluminadora a citação do Missal Dominical (p.1223): “Para todos, em qualquer plano da hierarquia social que se encontrem, escolher o último lugar significa usar o próprio lugar para o serviço dos últimos e não para o domínio sobre eles”.

Deste modo, a conversão é um apelo constante em nossa caminhada cristã. Cremos e professamos a fé em Jesus Cristo que, com Sua morte, assumida livremente na Cruz, nos apresentou um Deus cuja Sabedoria é imprevisível e impensável; tão distante da sabedoria humana que ninguém poderia encontrá-la.

Assim afirma o Missal Dominical (pp.1222-1223): “Jesus seria um entre os muitos mestres de virtude, se não tivesse vivido até o fim Sua Palavra, e se Sua Pessoa, Sua Palavra, Sua vida não fossem a revelação definitiva de Deus.

A Cruz é Sua Sabedoria, Seu Livro, Sua Palavra reveladora. A morte de Jesus não é o fim de uma tentativa de instaurar um novo Reino; é o Seu ato de nascimento;... Converter-se à Sabedoria de Deus é ver na Cruz que a verdade do Amor tem na morte o seu teste. Quem entra no Reino começa uma nova sabedoria.”

Reflitamos:

- Quais são os convidados de nossos banquetes?
- Participamos com todo o zelo do Banquete do Reino que o Senhor nos convida ou nos sentimos familiarizados no banquete farisaico?

- Quanto há de humildade, gratuidade e amor autêntico em nossa prática pastoral?

- Qual é o entusiasmo que temos na fidelidade ao Senhor, como Seus discípulos missionários?

Oremos:

Senhor, livrai-nos do banquete farisaico, e ensinai-nos a viver a lógica do Banquete do Reino de Deus, vivendo com humildade, gratuidade, amor e solicitude com os últimos, os Vossos preferidos.

Senhor, dai-nos a sabedoria para nos colocarmos como últimos, a serviço de todos. Amém.



PS: Fonte de pesquisa: www.Dehonianos.org/portal

sábado, 31 de agosto de 2024

Amor de compaixão

                                                


Amor de compaixão

Senhor Jesus, Vós que jamais propusestes uma religião que adormeça a consciência dos pobres, dos aflitos, assegurando-lhes um futuro feliz; concedei-nos a graça de viver uma religião que se expresse em sagrados compromissos de amor e solidariedade para com nosso próximo, sobretudo os que mais necessitam.

Senhor Jesus, Vós não nos ensinastes a pensar apenas no depois, tanto que destes pães a quem tinha fome, consolastes os aflitos, acolhestes os marginalizados, curastes os doentes e jamais Vos vingastes das rejeições ou ofensas recebidas; ensinai-nos o mesmo fazer no tempo presente.

Senhor Jesus, Vós aos proclamardes que os pobres são bem-aventurados, revelastes que Vosso Pai é sensível à dor e à pobreza da humanidade, e que vem sempre ao encontro dos pobres; fazei-nos sensíveis à pobreza destes e tenhamos a compaixão, como expressão de participação na dor do outro.

Senhor Jesus, Vós nos ensinastes que, viver as bem-aventuranças, é crer no Deus que nos acompanha sempre, cheio de compaixão, não porque méritos tenhamos, mas porque nos ama, dai-nos olhos abertos e capazes de ver o rosto daquele que mais sofre, vivendo assim a religião da compaixão. Amém.


Fonte de inspiração – Lecionário Comentado – Editora Paulus – Lisboa 2011 – p.314

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