O mistério da Iniquidade
“Pois o mistério da iniquidade já opera;
somente até que seja removido aquele que agora o detém.”
No que consiste o mistério da iniquidade? Como enfrentar e superar?
A iniquidade é comumente identificada como maldade, pecado, crime, injustiça...
Iniquidade é quando se chega ao ponto do não conhecimento dos limites, porque já não se tem mais consciência de si e tão pouco dos outros. O “eu” sucumbiu aos próprios interesses e mesquinhez aviltante.
Nada sobra quando a iniquidade se instaura no coração e determina desejos, sentimentos e ações decorrentes.
Ela é o desenfreamento dos desejos a ponto da insanidade da mente, dos pensamentos, levando a atitudes abomináveis de destruição da beleza da vida do outro e mesmo da própria vida, pois rompe os limites, com dilaceramentos e fendas que não se fecham mais, por que devoradoras do próprio ser.
A iniquidade é a ação humana por vezes solidificada e até estruturada, ocultando os seus reais autores/sujeitos.
Não se pode imputar a este ou àquele tal ato, tal consequência. É satanicamente transvestida e diluída, e é preciso muita sensibilidade e criticidade para detectá-la, para também encontrar os meios para sua superação e sanação.
A iniquidade não possui, no entanto, vitalidade eterna, ainda que o germe de pretensão nela possa estar presente, ela pode ser superada.
O mistério da iniquidade tem rosto e manifestações muito concretas, entre elas a maleficência, a vilania, a impiedade, a maldade, a improbidade, a virulência, a crueldade, a torpeza, a tirania, o nepotismo, a desumanidade...
Ele corrói os sonhos de igualdade, partilha e justiça multiplicando pesadelos, sobretudo para os pobres e os pequenos, impondo sobre estes pesos sociais quase insuportáveis.
Curvar-se diante do mistério da iniquidade, com sentimentos de impotência, não é próprio de quem crê, de quem professa a fé no Deus bíblico, no Deus da vida, dos pequenos e dos pobres.
É preciso, sobretudo quem crê no Cristo Ressuscitado, pôr-se de pé, alvejar as vestes no Sangue do Cordeiro Imolado e Vencedor (Ap 7,13), no corajoso testemunho e compromisso com um mundo novo possível, com o Reino de Deus.
Percebemos algumas brechas no mistério da iniquidade e constatamos que ele não possui bases sólidas e indestrutíveis, de modo que é impossível que compactuemos com as suas manifestações, com seus diversos nomes e rostos.
Haveremos de pautar a vida pelos princípios e valores da dignidade e sacralidade da vida e, de modo mais explícito, conjugar e orientar a vida à luz da Palavra de Deus, do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo;
Tomar consciência se não estamos fomentando com pensamentos, palavras, omissões e ações. É necessária a conversão e permanente vigilância;
Revisitar os Profetas bíblicos e com eles reaprender a conduta agradável ao Senhor, com a coragem necessária para não ceder a este mistério para sobreviver ou obter aparentes e ilusórias vantagens.
Finalmente, o Apóstolo Paulo nos ajuda, na sua compreensão para superação, com breves palavras acende uma luz para o nosso caminhar, afastando-nos das trevas do erro, iluminando-nos com a luz da verdade, para que transformemos a iniquidade em novas relações de justiça e fraternidade:
“Ninguém de modo algum vos engane; porque o dia não chegará sem que venha primeiro a apostasia e seja revelado o homem da iniquidade, o filho da perdição..., Pois o mistério da iniquidade já opera; somente até que seja removido aquele que agora o detém” (2Ts 2,3.7).
Enfim, há um pensamento muito apropriado – “o abismo chama abismo”. O cair no abismo da iniquidade chama novos abismos da iniquidade, no qual se cairá irremediável e tristemente a humanidade.
Como batizados, mortos para o pecado e vivos para Deus, somos novas criaturas. Evitemos e fujamos dos abismos da iniquidade.
Não podemos ceder ao mistério da iniquidade, que como um fio misterioso entrelaça todas as camadas da existência, como uma teia.
Busquemos as coisas do alto, onde habita Deus, sem jamais nos cansarmos no multiplicar de esforços para tornar o mundo mais fraterno, a vida mais bela e consonante com os desígnios de Deus.
Urge que o Paraíso nunca seja saudade, mas eterna esperança e compromisso, até que alcancemos a eternidade. Amém!


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