domingo, 8 de setembro de 2024

A misericórdia e a correção fraterna (XXIIIDTCA)

A misericórdia e a correção fraterna

Com a  Liturgia do 23º Domingo do Tempo Comum (ano A), refletimos sobre a Comunidade do Ressuscitado, onde deve se viver a misericórdia expressa no amor para com outro, fazendo de tudo para redimi-lo de seu pecado, para fortalecimento dos vínculos fraternos.

A Igreja há de ser por excelência uma comunidade de amor, marcada pela comunhão fraterna, no entanto,  por causa da condição humana, das fraquezas, os pecados também nela se fazem presentes.

Não há Igreja onde reine a suprema perfeição, por isto a necessidade da prática da misericórdia para renovar as pessoas, fortalecer os laços de fraterna amizade; afinal, somos um só Corpo, um só Espírito.

Já no Antigo Testamento, o Profeta Ezequiel nos convidava a sermos como que sentinelas para com o nosso próximo, caso este tenha errado; vigilantes para os sinais que possam destruir a vida do Povo de Deus.

É preciso ser vigilantes na misericórdia que edifica, sem a indiferença e a apatia diante do erro; e deste modo, sentinelas do Senhor seremos quando nos tornamos Seus preciosos instrumentos de bondade e reconciliação (Ez 33,7-9).

Na passagem do Evangelho (Mt 18,15-20) nos fala do caminho da correção fraterna, como degraus ou passos que devem ser dados para reintegrar o irmão que pecou contra a comunidade.

Poderíamos chamar de “escada da correção fraterna”. Sempre motivados pelo amor e pela verdade, tudo fazermos para resgatar o irmão que se extraviou, pois afinal, somos a Igreja que nasceu do Coração da Divina Misericórdia, Jesus.

O primeiro passo ou degrau:
Falar pessoalmente e diretamente com o irmão que tenha pecado contra nós ou a comunidade, em atitudes ou palavras inconvenientes. Talvez o passo mais difícil, pois implica coragem, sinceridade, desejo de ver o bem do outro acontecer. Jamais devemos falar de alguém se não pudermos antes falar ao primeiro interessado. Em caso de impossibilidade, melhor aumentar a oração, o silêncio, o recolhimento para que se diga no tempo oportuno, se necessário for.

O segundo degrau:
Falar com o irmão que pecou com mais uma, duas ou três pessoas que tenham sensibilidade e sabedoria. Sempre movidos pela reta intenção, verdade e caridade, sem o quê não terá sentido. Tanto neste como em outros passos, nunca dizer porque se ouviu dizer, sem fatos, provas. Não falar tão apenas a partir de boatos, “nuvens” sem consistência...

O terceiro degrau:
Dizer à Igreja. Afinal, a Igreja na pessoa de Pedro recebeu de Jesus a autoridade de ligar e desligar; atar e desatar; reconciliar, reintegrar.(Mt 16,19). Sempre movidos pela misericórdia, todo empenho multiplicado para que se restaure a comunhão, o pecador, abominando seu pecado. Assim é Deus conosco, ama-nos embora pecadores, nos salva por sermos pecadores, não ama nossos pecados.

O quarto degrau:
Sem o êxito da correção alcançado, considerá-lo como gentio, como pagão. A Igreja, de fato, não exclui o infrator, pois na verdade, a própria pessoa que se fechou à proposta do Reino e se autoexcluiu da comunidade. Mesmo assim ficará este nas orações da comunidade reunida em nome do Senhor.

Acrescentemos à reflexão a  Carta de Paulo aos Romanos (Rm 13,8-10), que afirma: “A caridade é o pleno cumprimento da Lei” e que “não devemos ficar devendo nada um ao outro a não ser o amor mútuo”.

O amor se vivido não nos permitirá violação e ignorância da Lei Divina, dos preceitos divinos, que são a garantia de convivência e de vínculos fraternos eucaristizados no Altar do Senhor, iluminados pela Palavra proclamada em cada Missa que participamos.

O Apóstolo nos recorda que temos uma dívida eterna que deve ser quitada quotidianamente: o amor mútuo. Paradoxalmente uma dívida que quanto mais se paga mais se tem. Quanto mais se ama, mais amor se tem. Amar é multiplicar o amor que no coração foi semeado. Não amar é desertificar o coração onde Deus quis morar. Não tornemos desertos áridos nosso coração!

Saldar alegremente esta dívida com pequenos gestos: um abraço, um sorriso, uma palavra, um reconhecimento, uma atividade pastoral, um trabalho social, um texto postado, uma mensagem enviada, um telefonema, um olhar carinhoso, um minuto de atenção, um pouco da presença, o partilhar e um brinde pela graça da amizade.

Andar pelas ruas e praças, enviar uma mensagem, uma sadia conversa, uma partilha sobre um bom livro ou uma poesia, sobre uma música ou um filme, assistir a uma partida de futebol...

Saldemos alegremente esta dívida com grandes gestos de compromissos sociais, políticos, ecológicos, eclesiais...

Desejar a perfeição, é empenhar-se no fortalecimento da comunhão, procurando caminhos de correção e superação dos conflitos, sem jamais ferir ou esquecer a prática da caridade, como expressão da misericórdia.

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