Vigiar e orar em todo o tempo
"Eis que venho em breve, trazendo comigo a minha recompensa, para retribuir a cada um segundo as suas obras." (Ap 22,12)
Vigiar e orar em todo o tempo
"Eis que venho em breve, trazendo comigo a minha recompensa, para retribuir a cada um segundo as suas obras." (Ap 22,12)
O Tempo do Advento e as duas vindas do Senhor
Ele veio, vem e virá
Iniciando o tempo do Advento, à luz das Catequeses do Bispo São Cirilo de Jerusalém (séc. IV), reflitamos sobre as duas vindas de Cristo.
“Anunciamos a vinda de Cristo: não apenas a primeira, mas também a segunda, muito mais gloriosa. Pois a primeira revestiu um aspecto de sofrimento, mas a segunda manifestará a coroa da realeza divina.
Aliás, tudo o que concerne a nosso Senhor Jesus Cristo tem quase sempre uma dupla dimensão. Houve um duplo nascimento: primeiro, ele nasceu de Deus, antes dos séculos; depois, nasceu da Virgem, na plenitude dos tempos. Dupla descida: uma, discreta como a chuva sobre a relva; outra, no esplendor, que se realizará no futuro.
Na primeira vinda, ele foi envolto em faixas e reclinado num presépio; na segunda, será revestido num manto de luz. Na primeira, ele suportou a cruz, sem recusar a sua ignomínia; na segunda, virá cheio de glória, cercado de uma multidão de anjos.
Não nos detemos, portanto, somente na primeira vinda, mas esperamos ainda, ansiosamente, a segunda. E assim como dissemos na primeira: Bendito o que vem em nome do Senhor (Mt 21,9), aclamaremos de novo, no momento de sua segunda vinda, quando formos com os anjos ao seu encontro para adorá-lo: Bendito o que vem em nome do Senhor.
Virá o Salvador, não para ser novamente julgado, mas para chamar a juízo aqueles que se constituíram seus juízes. Ele, que ao ser julgado, guardara silêncio, lembrará as atrocidades dos malfeitores que o levaram ao suplício da cruz, e lhes dirá: Eis o que fizestes e calei-me (Sl 49,21).
Naquele tempo ele veio para realizar um desígnio de amor, ensinando aos homens com persuasão e doçura; mas, no fim dos tempos, queiram ou não, todos se verão obrigados a submeter-se à sua realeza.
O profeta Malaquias fala dessas duas vindas: Logo chegará ao seu templo o Senhor que tentais encontrar (Ml 3,1). Eis uma vinda.
E prossegue, a respeito da outra: E o anjo da aliança, que desejais. Ei-lo que vem, diz o Senhor dos exércitos; e quem poderá fazer-lhe frente, no dia de sua chegada? E quem poderá resistir-lhe, quando ele aparecer? Ele é como o fogo da forja e como a barrela dos lavadeiros; e estará a postos, como para fazer derreter e purificar (Ml 3,1-3).
Paulo também se refere a essas duas vindas quando escreve a Tito: A graça de Deus se manifestou trazendo salvação para todos os homens. Ela nos ensina a abandonar a impiedade e as paixões mundanas e a viver neste mundo com equilíbrio, justiça e piedade, aguardando a feliz esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo (Tt 2,11-13). Vês como ele fala da primeira vinda, pela qual dá graças, e da segunda que esperamos?
Por isso, o símbolo da fé que professamos nos é agora transmitido, convidando-nos a crer naquele que subiu aos céus, onde está sentado à direita do Pai. E de novo há de vir, em sua glória, para julgar os vivos e os mortos; e o seu reino não terá fim. Nosso Senhor Jesus Cristo virá portanto dos céus, virá glorioso no fim do mundo, no último dia. Dar-se-á a consumação do mundo, e este mundo que foi criado será inteiramente renovado.” (1)
Entre a primeira vinda e a segunda vinda, vivemos o tempo intermediário. tempo de vigilância, de oração, em todo o momento, como o Senhor nos falou no Evangelho (Lc 21,25-28.34-36). É preciso que fiquemos de pé, ergamos a cabeça, levantemos nosso ânimo.
O tempo do Advento não é apenas para a preparação de presépios de árvores de Natal, mas preparação do coração, para que Ele venha e encontre nele e em nosso lar, lugar digno para nascer.
Vivamos este tempo de abertura à graça divina, que nos vem por meio de Jesus Cristo, com a comunicação da presença e ação do Seu Espírito, para que vivamos maior fidelidade ao Projeto do Pai.
Preparemo-nos para celebrar autenticamente o Natal do Senhor, que veio, vem e virá, a cada instante, com sagrados compromissos expressos em gestos de acolhida, perdão, amor, solidariedade.
Preparemos nossos corações para celebrar o nascimento do Senhor na manjedoura preferida d’Ele, que é o coração humano, no qual Ele quer fazer Sua morada, habitando em nós como o mais belo Hóspede.
De nada adianta a luz de um pisca-pisca, se não nos voltarmos confiantes e vigilantes à espera do Senhor, que vem para iluminar nossos caminhos.
Somente assim, daremos um passo significativo, para celebrar autenticamente o Natal do Senhor.
PS: Liturgia das Horas – Vol. I - pp.113-114.
Apropriado para a quinta-feira da 27ª semana do Tempo Comum, quando se proclama Malaquias (Ml 3,13-20a)
Tempo do Advento: tempo de gestar o novo!
Tempo do Advento, um tempo intenso de oração, novenas, celebrações penitenciais, gestos de reconciliação, multiplicação de sinais de partilha e solidariedade...
Advento, tempo litúrgico com beleza própria, em que celebramos a vinda de Jesus Cristo, no tempo e na história da humanidade, trazendo-nos a preciosa graça da salvação.
A cor roxa, predominante na liturgia, não é sinal de tristeza, como em tempos fúnebres, mas um singelo convite à reflexão, meditação e oração. Acentua-se em nosso coração a alegre expectativa, ativa e contagiante, para recebermos dignamente o Senhor quando Ele vier.
Num Sermão memorável, São Bernardo (abade do século XII) afirma a tríplice vinda do Senhor, acenando para uma vinda intermediária entre a primeira e a última:
“... Na primeira vinda o Senhor apareceu na terra e conviveu com os homens... Na última, todo homem verá a salvação de Deus e olharão para Aquele que transpassaram.
A vinda intermediária é oculta e nela somente os eleitos o veem em si mesmos e recebem a salvação.
Na primeira, o Senhor veio na fraqueza da carne; na intermediária, vem espiritualmente, manifestando o poder de Sua graça; na última, virá com todo o esplendor de Sua glória.
Esta vinda intermediária é, portanto, como um caminho que conduz da primeira à última; na primeira, Cristo foi nossa redenção; na última, aparecerá como nossa vida; na intermediária, é nosso repouso e consolação”.
Nesta vinda intermediária do Senhor, algumas atitudes são esperadas de todos os presbíteros e comunidades.
A primeira, e sempre necessária, é a vigilância na fé, acolhendo os sinais de Sua presença em nosso meio.
Ao lado desta vigilância, o imperativo da conversão, preparação dos caminhos do Senhor, numa incansável busca de acertar nossos projetos com o Projeto do Criador.
Pode-se assim acolher e testemunhar a alegria que procede do Verbo, que Se encarna e Se faz um de nós, assumindo nossa condição humana, exatamente igual a nós, exceto no pecado.
As celebrações eucarísticas, com a riqueza litúrgica de cada domingo, nos convidam ao mergulho no mistério desta Encarnação, fazendo de nossa existência lugar privilegiado de Sua morada, para que na total fidelidade a Ele, asseguremos morada na eternidade.
Urge adentrar neste caminho celebrativo e inovador de alegrias e esperanças, rompendo todas as amarras de angústias e tristezas.
Mais uma vez, o Criador aposta em nós e em nossa capacidade de iluminar a história, a vida de milhões de pessoas que vivem nas trevas do ódio, da mentira, da opressão.
Que o Mistério d’Aquele que veio, vem e virá traga para todos nós, presbíteros e comunidades, mais ardor e empenho em nossa missão, para que o próximo Natal seja uma festa repleta de amor e luz!
“Vem, Senhor Jesus!”
“Na
última ceia, o próprio Senhor chamou a atenção dos seus discípulos para a
consumação da Páscoa no Reino de Deus: «Eu vos digo que não voltarei a beber
deste fruto da videira, até o dia em que beberei convosco o vinho novo no Reino
do meu Pai» (Mt 26, 29) (Lc 22,18; Mc 14,25).
Sempre
que a Igreja celebra a Eucaristia, lembra-se desta promessa, e o seu olhar
volta-se para «Aquele que vem» (Ap 1, 4). Na sua oração, ela clama pela sua
vinda: «Maranatha» (1Cor 16, 22), «Vem, Senhor Jesus!» (Ap 22, 20), «que a Tua
graça venha e que este mundo passe!» (Didaké 10, 6: SC 248, 180 (Funk, Patres apostolici 1, 24).).” (1)
(1) Catecismo da Igreja Católica - parágrafo n. 1403