quarta-feira, 1 de outubro de 2025

Santa Teresinha: A Padroeira das Missões

                                                          


Santa Teresinha: A Padroeira das Missões

“No coração da Igreja minha vocação é o amor...” 

A Igreja dedica, de modo especial, o mês de outubro para aprofundar sobre as Missões, mas é evidente que todos os dias são favoráveis para que vivamos a graça da missão. 

Santa Teresinha do Menino Jesus (séc. XIX) pouco viveu, mas teve tamanha intensidade e amor, e ficará para sempre viva, presente em nossa memória. 

Grande testemunha do Senhor, cuja Memória celebramos no dia 1º de outubro, e foi declarada a “Padroeira das Missões”, por PIO XI, em 1927.

Retomo suas palavras, quando procurava encontrar o lugar da sua vocação na Igreja: “Então, delirante de alegria, exclamei: Ó Jesus, meu amor, encontrei afinal minha vocação: minha vocação é o amor. Sim, encontrei o meu lugar na Igreja, Tu me deste este lugar, meu Deus. No coração da Igreja, minha mãe, eu serei o amor e desse modo serei tudo, e meu desejo se realizará”. 

Em oração atenta, deleitando-se com a Palavra Divina, descobriu seu lugar na Igreja, e sua exclamação ressoa por todo o tempo: "No coração da Igreja minha vocação é o amor!”  

Vivendo a graça do tempo que antecede o Sínodo 2021-2023, também podemos nos perguntar - “Qual é a minha vocação na Igreja, sobretudo uma Igreja Sinodal, Povo de Deus que caminha juntos, na comunhão, participação e missão?” 

Com toda certeza, diremos o que somos, o que fazemos, os títulos que possuímos, o trabalho que já fizemos ou faremos etc.  Mas, que a exemplo desta jovem, tenhamos intenso amor no coração a fim de que pelo Amado Jesus seduzidos, com o fogo do Amor do Espírito, vivamos maior fidelidade ao Plano de Amor que Deus tem para todos nós.

Sejamos ou façamos o que for, mas façamos vocacionados para o Amor e pelo Amor, somente assim seremos fiéis e amados Discípulos Missionários do Senhor, edificando comunidades eclesiais missionárias.

Alegria e ardor na permanente missão evangelizadora

                                                            

Alegria e ardor na permanente missão evangelizadora

Neste mês, a Igreja nos convida a refletir sobre a temática das Missões; embora todo dia e todo lugar sejam oportunos para realizarmos a missão que recebemos no dia de nosso Batismo, como profetas, sacerdotes, reis e pastores.

Vivemos num mundo marcado por inúmeros desafios, perplexidade, incertezas, por uma pobreza espiritual fomentada pelo processo de secularização e secularismo; culto do prazer (hedonismo); materialismo, às vezes até negando Deus, pregando e afirmando a Sua morte; acentuado relativismo, onde o que conta é a verdade de cada pessoa e de cada tempo (verdades passageiras e transitórias).

Sendo assim, os frutos amargos são consequências inevitáveis: incertezas, vazios, cansaços inúteis, ausência de sentido, depressão e violação da sacralidade da vida, perda do valor e da beleza da dignidade de cada pessoa.

E, é neste vasto e complicado mundo que somos desafiados a proclamar a Boa Nova do Evangelho, com alegria, coragem, ardor, criatividade, disponibilidade, confiança.

Urge um novo modo de ser cristão e viver o Evangelho, sem jamais negá-lo, sem nos acomodarmos diante da realidade - como nos disse o Apóstolo Paulo, não podemos nos conformar a este século.

O Evangelho é que deve fermentar o mundo, iluminá-lo, transformá-lo, jamais o contrário e, assim, se cumpra a ordem do Senhor: “Ide pelo mundo pregai o Evangelho a toda criatura...” (Mc 16,15).

É tempo favorável para nos revigorarmos na missão evangelizadora, comunicando a Boa Nova do Evangelho em todos os meios, em novos areópagos, santificando e estruturando nossas famílias, assumindo atitudes de conversão pessoal e estrutural da Igreja, na comunhão e participação de todos, construindo uma paróquia, como comunidade de comunidades e a inadiável e evangélica opção preferencial pelos pobres, no serviço à vida plena.

Como bem diz as Diretrizes da Ação Evangelizadora do Brasil (Doc. 94): “Jesus Cristo, o grande missionário do Pai, envia, pela força do Espírito, Seus discípulos em constante atitude de missão (Mc 16,15). Quem se apaixona por Jesus Cristo deve igualmente transbordar Jesus Cristo, no testemunho e no anúncio explícito de Sua Pessoa e Mensagem. A Igreja é indispensavelmente missionária. Existe para anunciar, por gestos e palavras, a pessoa e a mensagem de Jesus Cristo. Fechar-se à dimensão missionária implica fechar-se ao Espírito Santo, sempre presente, atuante, impulsionador e defensor (João 14,16; Mt 10,19-20)...”.

Cremos que se a missão evangelizadora por todos, com alegria e ardor, for assumidas, transformaremos inúmeras realidades. Poderemos transfigurar o “cinza” triste da cidade, com seus sinais de morte, num Jardim do Éden, não perdido, mas como horizonte e compromisso, sobretudo daqueles que têm fé.   

É preciso, portanto, impregnar a todas as atividades um sentido missionário. Não se trata de uma atividade a mais, mas  de empenharmos todas as forças, criatividade no  testemunho corajoso do Senhor e de Sua Boa Nova.

Seduzidos pelo Senhor, enraizados e solidificados em Sua Palavra, como bem falou o Apóstolo Paulo: “Proclama a Palavra, insiste, no tempo oportuno e no inoportuno, refuta, ameaça, exorta com toda paciência e doutrina” (2Tm 4,2).

É tempo da Primavera de Deus em nossas vidas, em nossas comunidades. No canteiro de nosso coração e do mundo semeemos as Sementes do Verbo, até que um dia possamos contemplar a Primavera Divina da Eternidade!

Missão e espiritualidade

                                                          

Missão e espiritualidade

“A missão precisa do ‘pulmão da oração’, da mística,
da espiritualidade, da vida interior”

Neste mês em que a Igreja dedica especial reflexão sobre a sua dimensão missionária, é oportuno reavivarmos a chama da fé acesa no dia do batismo, para sermos sinais de esperança e testemunhas do mandamento do amor, que nos foi confiado, assim como desejou Jesus Cristo ao enviar os discípulos pelo mundo a fora, para proclamar a Sua Boa-Nova a todos os povos (Mt 28,19-20; Mc 16, 15-20).

Disse-nos o Papa Francisco que “não servem as propostas místicas desprovidas de um vigoroso compromisso social e missionário, nem os discursos e ações sociais e pastorais sem uma espiritualidade que transforme o coração. Essas propostas parciais e desagregadoras alcançam só pequenos grupos e não têm força de ampla penetração, porque mutilam o Evangelho. É preciso cultivar sempre um espaço interior que dê sentido cristão ao compromisso e à atividade” (Evangelii Gaudium n.70).

E ressoando as palavras do Papa, no recente Documento 105, sobre a missão dos cristãos leigos e leigas, na Igreja e na sociedade, para que sejam sal da terra e luz do mundo (Mt 5,13-14), os Bispos da Igreja do Brasil afirmam: “A missão precisa do ‘pulmão da oração’, da mística, da espiritualidade, da vida interior”.

Portanto, somente uma Igreja que ofereça momentos intensos de oração, aprofundamento da mística para os que dela participam, iluminando com a luz da Palavra de Deus abundantemente proclamada e refletida, através da prática da Leitura Orante, que tanto se tem insistido, nutridos pelo Pão Eucarístico no Banquete indispensável, a Santa Missa, é que poderemos, de fato, dar um sentido novo ao nosso viver, à nossa missão e nossas ações, fora e dentro da própria Igreja, comprometidos em construir uma nova sociedade com vida plena e feliz para todos.

Não podemos ficar indiferentes à realidade a qual estamos inseridos, mas, com coragem, sermos como o sal, que se dissolve para conservar e dar sabor ao alimento. É nossa missão conservar a vida, cuidando, sobretudo do planeta, nossa casa comum; ser luz que não se esconde, mas a todos ilumina; ter um olhar luminoso e o coração sábio para gerar luz; sabedoria para alargar novos horizontes de comunhão, partilha, fraternidade, solidariedade, misericórdia e paz.

Sendo a Igreja “perita em humanidade” não pode se omitir em sua missão de oferecer princípios e fundamentos para os que dela fazem parte, e assim não se omitam em sagrados compromissos no vasto e complicado mundo da família, da economia, da política, dos meios de comunicação, da cultura e muito mais que possa ser mencionado.

E como nos diz o Papa, em uma de suas Mensagens para o dia Mundial das Missões é preciso que sejamos uma “Igreja missionária, testemunha de misericórdia”, que não se fecha em si mesma, e se põe em atitude de permanente missão, aberta a ouvir e se solidarizar misericordiosamente com todos os que clamam por vida e dignidade, fazendo a Palavra de Deus chegar a todos os lugares, sobretudo os que tanto nos desafiam (escolas, universidades, penitenciárias, prédios, condomínios, shoppings, meios de comunicação social, migrantes etc.)

A missão de cuidar e cultivar a vinha do Senhor

                                                 

A missão de cuidar e cultivar a vinha do Senhor

A Evangelização é a vocação própria da Igreja

Igreja missionária que somos, sejamos convictos e corajosos discípulos missionários, renovando a alegria da missão que o Senhor nos confiou, uma missão para libertar as pessoas de tudo que fere sua dignidade.

A nossa missão é a continuidade da missão do Senhor, como vemos na passagem do Evangelho de Lucas -  “Enviou-me para anunciar a libertação” (Lc 4,18).

A Igreja nos propõe buscar caminhos para concretizar sua missão essencial que é evangelizar: "Anunciar o Evangelho não é título de glória para mim; é, antes uma necessidade que se me impõe. Ai de mim, se eu não anunciar o Evangelho" (1Cor 9,16).

Deste modo, a Igreja existe para pregar e ensinar; ser o canal do dom da graça; reconciliar os pecadores com Deus e perpetuar o sacrifício de Cristo na Santa Missa, que é o memorial da Sua morte e gloriosa Ressurreição; e esta tarefa e missão devem acontecer em meio às amplas e profundas mudanças da sociedade atual, o que as tornam ainda mais urgentes.

Para responder a este e outros desafios, a Igreja deve começar por evangelizar a si mesma, para conservar o frescor, o alento e a força para anunciar o Evangelho, como exortou o Concílio Vaticano II: a Igreja se evangeliza por uma conversão e renovação constantes, a fim de evangelizar o mundo com credibilidade, como sinal e instrumento do Reino.

Na “Evangelii Gaudium”, o Papa Francisco diz de modo muito apropriado: “Uma Igreja em saída”, ou seja, “uma comunidade de discípulos missionários que ‘primeireiam’, que se envolvem, que acompanham, que frutificam e festejam... ela sabe ir à frente, sabe tomar a iniciativa sem medo, ir ao encontro, procurar os afastados e chegar às encruzilhadas dos caminhos para convidar os excluídos. Vive um desejo inexaurível de oferecer misericórdia, fruto de ter experimentado a misericórdia infinita do Pai e a sua força difusiva” (n. 24).

Nisto consiste o cuidado e cultivo da vinha do Senhor que Ele mesmo nos confiou (Mt 21,33-43) para produzirmos os frutos do Reino de Deus, em maior sintonia e fidelidade à Sua vontade, que nos é anunciada em cada encontro, e de modo especial em cada Ceia Eucarística, em comunidade, alimentados pelo Pão da Palavra, da Eucaristia e da Caridade, com a seiva do amor do Espírito Santo.

Neste processo de conversão, para que sejamos uma “Igreja em saída”, são inesgotáveis os caminhos que podemos trilhar: fortalecer nossos grupos de reflexão; revigorar o trabalho social da Igreja, sempre numa atividade integrada e integradora, sem perdas de energias com criatividade e empenho, buscando a perfeita sintonia e interação entre fé e vida; através das diversas atividades pastorais que, se somadas, mantêm acesa a chama missionária que jamais pode ser apagada, para que a vinha do Senhor não produza frutos amargos e indesejáveis.

Entretanto, para que a vinha produza frutos saborosos e agradáveis ao Senhor, e o Reino de Deus aconteça em nosso meio, é também indispensável que invoquemos a sabedoria do Santo Espírito para que nos ilumine na escolha daquele (a) que vai dirigir a nossa nação nos próximos quatro anos.

Sabemos que desafios, dentro da própria Igreja e fora dela, não nos faltam, e permanentemente somos chamados a dar razão de nossa esperança, numa fé mais sólida, e caridade ativa, que torne o mundo mais justo e fraterno, sem fincar âncoras no já conhecido, lançando as redes em águas mais profundas (Lc 5,1-11).

Finalizando, que abençoados pela Mãe da Igreja, a perfeita discípula missionária do Senhor, através da qual Deus nos enviou e nos concedeu o mais Belo e Bendito Fruto da Vinha, Jesus Cristo, nosso Salvador, continuemos em oração para que não percamos jamais o ardor missionário de sermos anunciadores da Boa-Nova do Evangelho.

Mensagem do Santo Padre Francisco para o Vll Dia Mundial dos Pobres (Síntese) (2023)


 

Mensagem do Santo Padre Francisco para o Vll Dia Mundial dos Pobres (Síntese)

 

Nunca afastes de algum pobre o teu olhar» 

(Tb 4, 7)

 

Celebraremos no dia 19 de novembro de 2023, no XXXIII Domingo do Tempo Comum (Ano A), o VII Dia Mundial dos Pobres, e fomos agraciados com a tradicional mensagem do Papa Francisco, que tem como inspiração bíblica a passagem do Livro de Tobias: «Nunca afastes de algum pobre o teu olhar» (Tb 4, 7).

 

Esta recomendação, afirma o Papa, ajuda-nos na compreensão da essência de nosso testemunho, como Igreja que somos.

 

Ao longo da mensagem, o Papa nos enriquece com a reflexão desta grande testemunha de fé das Sagradas Escrituras, que é para nós, um luminar a questionar nosso amor a Deus, expresso em plena confiança n’Ele, na prática da caridade concreta em relação aos que mais precisam.

 

O Dia Mundial dos Pobres é um sinal fecundo da misericórdia do Pai, e é celebrado no domingo que antecede a festa de Jesus Cristo, Rei do Universo, reunidos ao redor da Sua Mesa para voltar a receber d’Ele o dom e o compromisso de viver a pobreza e servir os pobres - “Aliás, se ao redor do altar do Senhor temos consciência de sermos todos irmãos e irmãs, quanto mais visível se tornaria esta fraternidade, compartilhando a refeição festiva com quem carece do necessário!”

 

O Papa nos interpela: “Enfim, quando nos deparamos com um pobre, não podemos virar o olhar para o lado oposto, porque impediríamos a nós próprios de encontrar o rosto do Senhor Jesus. E notemos bem aquela expressão «de algum pobre», de todo o pobre. Cada um deles é nosso próximo. Não importa a cor da pele, a condição social, a proveniência... Se sou pobre, posso reconhecer de verdade quem é o irmão que precisa de mim. Somos chamados a ir ao encontro de todo o pobre e de todo o tipo de pobreza, sacudindo de nós mesmos a indiferença e a naturalidade com que defendemos um bem-estar ilusório.”

 

Convida-nos a retomar no 60º aniversário da Encíclica “Pacem in terris”, as palavras do Santo Papa João XXIII: “O ser humano tem direito à existência, à integridade física, aos recursos correspondentes a um digno padrão de vida: tais são especialmente a nutrição, o vestuário, a moradia, o repouso, a assistência sanitária, os serviços sociais indispensáveis. Segue-se daí, que a pessoa tem também o direito de ser amparada em caso de doença, de invalidez, de viuvez, de velhice, de desemprego forçado, e em qualquer outro caso de privação dos meios de sustento por circunstâncias independentes da sua vontade” (n. 11).”

 

Renovemos nosso compromisso e solidariedade com os pobres, mas que também eles próprios sejam envolvidos e apoiados num processo de mudança e responsabilização.

 

Não passa indiferente o triste cenário que vivem as populações em cenários de guerra, especialmente as crianças privadas de um presente sereno e de um futuro digno; as especulações de preço aumentando a indigência em todo o mundo; a desordem ética que marca o mundo do trabalho; a desafiadora realidade da juventude marcada por suicídios, iludidos por uma cultura que os leva a se sentirem “inacabados e falidos”.

 

Alerta-nos o Papa: - “É fácil cair na retórica, quando se fala dos pobres. Tentação insidiosa é também parar nas estatísticas e nos números. Os pobres são pessoas, têm rosto, uma história, coração e alma. São irmãos e irmãs com os seus valores e defeitos, como todos, e é importante estabelecer uma relação pessoal com cada um deles.”

 

Urge aprender com Tobias a sermos concretos no nosso agir com e pelos pobres, vivendo a partilha real e não do supérfluo: - “Assim «não afastar o olhar do pobre» leva a obter os benefícios da misericórdia, da caridade que dá sentido e valor a toda a vida cristã”.

 

Lembra a Exortação “Evangelii Gaudium”, por ele escrita (n.198): - “Não esqueçamos: «Somos chamados a descobrir Cristo neles: não só a emprestar-lhes a nossa voz nas suas causas, mas também a ser seus amigos, a escutá-los, a compreendê-los e a acolher a misteriosa sabedoria que Deus nos quer comunicar através deles”, e os 150 anos do nascimento de Santa Teresa do Menino Jesus,  e à luz dos seus escritos exorta a prática da caridade, que deve iluminar e alegrar, não só os que são mais queridos, mas todos aqueles que estão na casa, sem excetuar ninguém (Manuscrito C, 12rº: História de uma alma, Avessadas 2005, 255-256).

 

Finaliza a mensagem com estas palavras: - “Nesta casa que é o mundo, todos têm direito de ser iluminados pela caridade, ninguém pode ser privado dela. Possa a tenacidade do amor de Santa Teresinha inspirar os nossos corações neste Dia Mundial, ajudar-nos a «nunca afastar de algum pobre o olhar» e a mantê-lo sempre fixo no rosto humano e divino do Senhor Jesus Cristo.”

 

Desejando, leia a mensagem na integra:

https://www.vatican.va/content/francesco/pt/messages/poveri/documents/20230613-messaggio-vii-giornatamondiale-poveri-2023.html


Memórias Missionárias...

                                                     


Um dia inesquecível!

Todos os dias são importantes em nossa vida, pois são presentes que Deus nos concede. Há, porém, dias que são inesquecíveis, seja pela dor, alegria, ou algum outro fato marcante.

Um destes dias inesquecíveis foi, para mim, o dia 22 de março de 2001 – uma Quinta-feira. Naquela semana, estava na Paróquia São João Batista, em Presidente Médici - RO, ajudando na rodada de primeira visita às Comunidades.

Naquele dia, acordei, tomei o café da manhã junto com Pe. Afonso, Pároco daquela Paróquia, e o João, Agente de Pastoral, liberado da Paróquia. Bagagens prontas, fomos para as Comunidades da Quarta Linha (nome das estradas).

O carro era um Gurgel 85, não muito comum para nós, mas naquela realidade e tempo um tipo de carro mais barato, que consegue romper atoleiros, buracos, morros etc... Por falar nisto, a Quarta linha estava com vários pontos desafiadores por causa dos atoleiros e pontos escorregadios. Ainda bem que o João tinha experiência neste assunto.

Finalmente, chegamos à primeira Comunidade, para a celebração da primeira Missa do dia (normalmente duas por dia, quando na realização das visitas).

Antes disto, tivemos que atravessar um carreador (trilho) com muita água empoçada. Com muito custo, por sinal, conseguimos atravessar os duzentos metros que nos separava da casa onde foi celebrada a Missa (ainda não tem o Centro Comunitário da Comunidade, mas tem uma bonita Igreja-Povo).

Um rapaz, empurrando sua bicicleta, atravessava tranquilamente... Talvez eu não estivesse tão bem acostumado com a realidade, mas chegaria lá!

A Missa foi muito simples e bonita. A motivação do Ato Penitencial, à luz do tema da Campanha da Fraternidade, foi maravilhosa.

Após a Missa, subi numa charrete (tinha sempre a impressão que iria virar) com um casal, e fui a uma casa próxima almoçar. Almoço: galinha caipira, arroz, feijão, sempre muito bem temperado.

Logo após, fui visitar um jovem de 21 anos, a pedido de sua mãe, em quase tom de súplica. Um rapaz muito bom e com algum problema que os médicos não conseguiam descobrir (já tinham vindo até para São Paulo).

Enquanto almoçava, conversei com ele, após alguma resistência à minha visita. No desespero de sua família, como acontece em outras tantas, foi levado a uma Igreja, e lá disseram coisas do tipo: “é possessão do diabo” e coisas assim...

Palavras como estas destroem as pessoas ao invés de ajudá-las. Conversei, orei e o abençoei. Ao final, ele me desejou boa viagem e que tudo daria certo, que eu seria feliz e me chamou de amigo. Prometi rezar muito por ele.

Subi na moto de seu irmão que me levou de volta a casa onde estava a minha mala. Andar de moto no meio de buracos e tocos é muito emocionante. Tive alguns minutos para um descanso, enquanto aguardava a vinda do Gurgel para a segunda Missa.


  1. Após um café moído e feito na hora, com o tradicional coador de pano sustentado no mancebo, voltei ao local de encontro, e aí, no caminho (aquele que falei acima), vi uma cobra enorme; levei um tremendo susto, não sabia se voltava ou se corria para frente. Graças a Deus ela também se assustou comigo e voltou para dentro do mato (mais tarde me falaram que não era uma cobra perigosa, era a conhecida cobra “limpa mato”, mas até saber disto tinha a impressão de que era a mais perigosa da Amazônia...Não chegava a uma anaconda...risos).

Indo para as Comunidades onde celebraríamos à tarde, depois de ter passado por vários atoleiros, nosso Gurgel ficou encavalado num aguaceiro; nem para frente e nem para trás. O jeito foi descermos. Tirei o tênis branco e confortável que, a propósito, não combinava com aquela água barrenta e cheia de pedras, arregaçamos as calças até o joelho. Empurrar? Não adiantou nada! Alavanca com uma tora para remover a roda traseira esquerda, e nada!

Apareceu, providencialmente, um motoqueiro experiente no assunto, solidário, tirou a bota e nos atolamos juntos. Enfim, conseguimos empurrar para trás e sair. O João conseguiu passar por um atoleiro ao lado, que hesitamos passar no primeiro momento, mas foi o melhor caminho. É errando que se aprende. O prejuízo maior foi para ele, que perdeu os óculos nesta confusão toda! (Na volta, procuramos, e nem sinal do mesmo).

Antes de chegar à primeira Comunidade, tivemos que passar numa ponte. Mas para isto tivemos que descer, eu e o Pe. Afonso, para orientar o João, e aliviar o peso, e que peso! Que loucura, passar as rodas equilibradamente em dois troncos! Estávamos indo à Missa ou a um rali?

Chegamos à primeira Comunidade onde Celebrei a Missa: Comunidade Pe. Josimo. Lavei as mãos com a pouca água que tinha, aliás, tirada do filtro, por não ter outra.

A Comunidade se reunia numa sala de aula, que chamavam de Escola. Precária, como outras tantas. Estavam construindo sua Igreja ao lado, num assentamento recente.

Perguntei aos membros da Comunidade se podia celebrar só com a estola, pois estava com a calça toda encharcada de lama, bem como as pernas. O pessoal respondeu: “ Padre, prá nóis o que importa é a Missa!” .

Terminei a Missa, como sempre, povo simples mas cheio de Deus no coração. Aguardei a volta do Pe. Afonso e o João. Pelo eterno problema de avisos, o João não celebrou naquele dia, pela segunda vez. A questão de comunicação era problema lá e em qualquer lugar, e continua ainda hoje.

Voltando, um pouco antes daquele famoso atoleiro, um ônibus que vai e volta da Cidade todos os dias estava atolado. Sabe lá como sairia dali. Mas para eles isto é um fato normal, não se assustavam mais...

Enfim chegamos em casa. Tudo o que queria era um bom banho e descansar para o dia seguinte. Mas o segundo Gurgel que o João tinha levado até um certo trecho de manhã, não havia retornado. Pelo simples motivo de que as chaves se encontravam no seu bolso. Já era 17:40 horas.

Já tinham tentado ligação direta do carro, o que causou pane na parte elétrica. Não havia outra coisa à fazer. Peguei a Toyota da Paróquia em que era Pároco (Sagrado Coração - Ministro Andreazza), e com o João rebocamos  o Gurgel.

Finalmente, chegando em casa, pude tomar meu banho e comer alguma coisa e fim de dia. Antes das 21 horas já estava dormindo, para um novo dia, uma nova visita...

Como disse, há dias memoráveis em nossas vidas. Este dia foi um daqueles que marcaram meus três anos em Missão naquela Diocese que faz parte de minha história e que lembro com carinho e saudade, acompanhado de contínuas orações.

Fé autêntica: voos mais altos, travessias mais serenas (XXVIIDTCC)

                                                      


Fé autêntica: voos mais altos, travessias mais serenas

Com a Liturgia deste 27º Domingo do Tempo Comum (ano C), sobretudo à luz do Evangelho de São Lucas (Lc 17,5-10), veremos que não há autêntico cristianismo sem a fé.

Os patriarcas (AT) são protagonistas das primeiras páginas bíblicas da fé como confiança absoluta em Deus e em Suas promessas, na superação de aparentes contradições, em entrega incondicional a Ele e à Sua Palavra.

Os Profetas, por sua vez, arautos da fé ao convidar a superar as seguranças e confianças em alianças humanas, no apego e confiança à Palavra dada por Deus: Antiga Aliança.

Crer é dar-se a Deus, ainda que Ele pareça ausente, como nos diz o 
Profeta Habacuc (Hab 1,2-3; 2-2-4). 

A fé torna-se, portanto, o único caminho para compreensão do mistério da história. Vivê-la é permanecer firmemente ancorado somente em Deus, ainda que aos nossos olhos pareça ausente.

Assim afirma o Missal Dominical: 

No Novo Testamento, o objeto da fé atinge a plenitude: O Filho de Deus Se manifesta e Seu Reino é constituído. 

Mas a atitude pessoal continua a mesma; uma decisão da vontade que ama, move a inteligência a superar os cálculos humanos, para entregar-se a Deus com toda fidelidade. 

A fé não consiste, pois, tanto numa adesão intelectual a uma série de verdades abstratas, mas é a adesão incondicional a uma pessoa, a Deus que nos propõe Seu amor em Cristo morto e Ressuscitado. 

A fé é, portanto, obediência a Deus, comunhão com Ele, vitória sobre a solidão. É dom de Deus, mas dom que espera nossa livre resposta, que quer tornar-se a alma da nossa vida cotidiana e da comunidade cristã”.(1)

Diante de Deus, absolutamente soberano, nossa postura deve ser de permanente humildade, abertura e fé. Adesão de fé implica necessariamente em lealdade e fidelidade.

Jamais podemos nos envergonhar ou nos intimidar no testemunho de nosso Senhor, como tão bem nos admoesta Paulo na Carta a Timóteo (2Tm 1,6-8.13-14). 

A concretização da fé jamais se dará sem a Oração, a escuta da Palavra Divina, a comunhão com Deus e a celebração ativa, piedosa e consciente dos Sacramentos.

A fé verdadeira é vista quando percebem em nós o entusiasmo para viver o que somos, fazer o que nos propomos, amar para que façamos e vivamos melhor do que vivemos e somos, e assim na fidelidade ao Pai, em voos mais altos nas Asas do Espírito ou atravessando serenamente o mar da vida com nosso pequeno barco, tendo ao nosso lado a imprescindível presença do Senhor.

Não podemos fazer pelo outro o que lhe é próprio, mas não podemos nos tornar indiferentes diante da fé de nosso irmão. O cultivo da própria fé nos faz responsáveis pela fé de nosso próximo.

Trabalhar pelo Reino na concretização de nossa fé é a maior graça que de Deus recebemos, de modo que Ele nada nos deve. Nós é que precisamos viver maior gratuidade no trabalho. 

Deus nada nos deve, pelo contrário. De que modo poderíamos quitar nossa dívida para com Ele? 

A realização de Seu amor supera qualquer recompensa que ousássemos pensar ou cobrar! 

Na Oração do Dia, rezamos que Deus nos dá mais do que ousamos pedir! Dá-nos gratuitamente e incomparavelmente muito mais do mereçamos ou possamos conceber!

Diante de Deus, devemos nos colocar como simples servos: com alegria, gratuidade, serviço, prontidão, confiança, testemunhando a fé, que é dom, d’Ele recebida.

Nossa fé é necessária para nós mesmos, para ficarmos firmes na adesão a Deus, em Jesus Cristo, na força do Espírito. 

Quem vive a fé no espírito de comunhão jamais achará que está fazendo demais para os outros, ao contrário, quanto mais serve por amor, mais desejará fazê-lo, com alegria e sem cansaço que extenue, esvazie. 

A fé é o novo conhecimento, o modo pelo qual lemos a realidade com o olhar de Cristo.

A fé é virtude, atitude habitual da alma, inclinação permanente a julgar e agir segundo o pensamento de Cristo, com espontaneidade e vigor, diz a Igreja sempre.

Voltando ao Missal Dominical:

“Com sua fé, tem o cristão neste mundo a tarefa de destruir as falsas seguranças propondo-lhe as questões fundamentais e oferecendo a todos sua grande esperança. 

A fé cristã é posta diante de um desafio: tornar-se propugnadora de problemas que nenhum laboratório, experiência ou computador eletrônico podem resolver, e que, no entanto, decidem o destino do homem e do mundo".

O Bispo e mártir São Policarpo (séc. II) já nos dizia com intensa profundidade em sua Carta aos Filipenses: 

“... se a lerdes com atenção, sereis edificados na fé que vos foi dada. Ela é a mãe de todos nós (Gl 4,26), seguida pela esperança, precedida pela caridade em Deus, em Cristo e no próximo...”

Vivendo a fé na comunhão com Deus e com o outro, a vida tem outra cor, as páginas outro teor, e em tudo invejável vigor!


“Creio, Senhor, mas aumentai minha fé.”


(1) (2) Missal Dominical - Editora Paulus - página 1258

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