sábado, 30 de novembro de 2024

“Segui-me”(30/11)

                                                    

“Segui-me”

Celebramos dia 30 de novembro, a Festa de Santo André, e, na Liturgia, ouvimos a proclamação a passagem do Evangelho em que André estava com seu irmão Simão, quando foi visto por Jesus, que caminhava à beira do mar da Galileia, quando os chamou para O seguirem: “Segui-me, e Eu farei de vós pescadores de homens”.  Imediatamente deixaram suas redes e O seguiram (Mt 4, 18-22).

André, como o próprio Pedro, nos ensina a estarmos sempre atentos à presença de Jesus, que Se aproxima de nós e nos chama para o serviço do Reino.

Ontem, a André Jesus falou - “Segui-me...”; hoje também o Senhor nos chama para segui-Lo, como alegres e convictos discípulos missionários Seus.

Seu chamado se dá em meio aos apelos que alcançam nossos ouvidos, ou são captados pelo nosso olhar, pela nossa sensibilidade aos sofrimentos e dores que constituem a tecida rede da vida, que, com ousadia e coragem, reluta contra os sinais de morte (corrupção, violência, degradação da vida, destruição incomum do meio ambiente...).

O mesmo chamado, ouvimos ao compartilhar na superação das necessidades básicas do existir não satisfeitas, na realidade da miséria, fome, abandono, refugiados em busca de vida e liberdade.

Jesus nos chama em meio à realidade da frieza e relativização do pecado e banalização da morte, na falta de fé, no desconhecimento de Deus ou mesmo na negação ou indiferença a Ele.

Chama-nos para segui-Lo e sermos sinal de Sua presença, comunicando a Sua Palavra, irradiando Sua Divina Luz aos que mergulharam no vale da falta de sentido de vida, na violência, enfim, em tudo o que exige de nós uma resposta de amor.

Para que tudo isto se torne possível, é preciso que deixemos tudo o que estamos fazendo, para sermos uma resposta viva de Deus a todos esses apelos, sinal também de Sua infinita misericórdia, em favor de todos, sem exceção.

Aprendamos com André, Pedro e todos aqueles que não tiveram medo de dizer sim ao chamado do Divino Mestre da Misericórdia.

A graça de anunciar a Palavra do Senhor

                                      

A graça de anunciar a Palavra do Senhor

 “Irmãos, se, pois com tua boca confessares Jesus como Senhor e,
no teu coração, creres que Deus O ressuscitou dos mortos,
serás salvo” (Rm 10,9)

Na Festa do Apóstolo Santo André, ouvimos a passagem da Carta de Paulo aos Romanos (Rm 10,9-18), na qual o Apóstolo nos fala da fé que vem da pregação, e esta, por sua vez, é feita pela Palavra de Cristo:

“A fé tem a sua sede no coração e manifesta-se na profissão proferida com a boca (Rm 10,9-10)... A fé é uma resposta à manifestação da fidelidade de Deus: é dar crédito a Deus e abandonar-se completamente a Ele.

A profissão de fé com os lábios é um testemunho público, cheio de gratidão, tributado ao Senhor, para que Ee seja conhecido por todos. Mas a fé acontece, sobretudo, no coração, que é o centro profundo pelo qual toda a nossa existência é orientada: esse centro é composto pelas nossas convicções, pelos nossos desejos e exprime-se nas nossas decisões.

Confiar a Deus a própria vida significa viver segundo a Sua Palavra: professar que ‘Jesus é o Senhor’, significa viver sob o Seu influxo. Nisto consiste a justificação, a ‘salvação’ que é oferecida a todos’”.  (1)

Oremos:

Senhor Jesus, fortalecei nossa fé, que tem a sua sede em nosso coração, para ser manifestada na profissão proferida com a nossa boca, acompanhado de obras, revelando sua autenticidade e fecundidade.

Senhor Jesus, seja a nossa fé uma resposta à manifestação da fidelidade ao Vosso Pai de amor, dando a Ele toda a nossa vida e n’Ele depositando toda a nossa confiança, abandonando-nos em Suas mãos, completamente.

Senhor Jesus, ajudai-nos para que a profissão de fé, que fazemos com nossos lábios, seja um testemunho público, cheio de gratidão, tributado a Vós, no amor ao Pai e em comunhão com Vosso Espírito, a fim de que seja por todos conhecido.

Senhor Jesus, que nossa fé seja expressão de nossa vida toda por Vós voltada e configurada, iluminando e solidificando nossas convicções, pelos nossos desejos expressos em nossas decisões, pautadas sempre por Vossa Divina Palavra.

Senhor Jesus, aprendamos como Vós a confiar em Deus, vivendo a vida segundo Vossos Ensinamentos e Mandamentos, professando que sois o Senhor de nossa vida, de Vós mesmos sentimentos e pensamentos tenhamos, a caminho da salvação. Amém.

(1) Lecionário Comentado – Editora Paulus – 2011 – Vol. Quaresma/Páscoa – pp.63-64 - passagem da Leitura - Rm 10,9-18

sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Aprendendo com André e Pedro... (I) (30/11)

                                

Aprendendo com André e Pedro...

A Igreja celebra, no dia 30 de novembro, a Festa do Apóstolo Santo André, nascido em Betsaida, sendo primeiramente discípulo de João Batista, depois seguiu a Cristo, e O conhecendo O levou à presença de Pedro.

Sejamos enriquecidos com esta Homilia do Bispo São João Crisóstomo (séc. IV):

“André, tendo permanecido com Jesus e aprendido com ele muitas coisas, não escondeu o tesouro só para si, mas correu depressa à procura de seu irmão, para fazê-lo participar da sua descoberta.

Repara o que lhe disse: Encontramos o Messias (que quer dizer Cristo) (Jo 1,41). Vede como logo revela o que aprendera em pouco tempo! Demonstra assim o valor do Mestre que o persuadira, bem como a aplicação e o zelo daqueles que, desde o princípio, já estavam atentos. 

Esta expressão, com efeito, é de quem deseja intensamente a Sua vinda, espera Aquele que deveria vir do céu, exulta de alegria quando Ele Se manifestou, e se apressa em comunicar aos outros a grande notícia.

Repara também a docilidade e a prontidão de espírito de Pedro. Acorre imediatamente. E conduziu-o a Jesus (Jo 1,42), afirma o Evangelho. Mas ninguém condene a facilidade com que, não sem muita reflexão, aceitou a notícia. É provável que o irmão lhe tenha falado pormenorizadamente mais coisas.

Na verdade, os evangelistas sempre narram muitas coisas resumidamente, por razões de brevidade. Aliás, não afirma que acreditou logo, mas: E conduziu-o a Jesus (Jo 1,42), e a Ele o confiou para que aprendesse com Jesus todas as coisas. Estava ali, também, outro discípulo que viera com os mesmos sentimentos.

Se João Batista, quando afirma: Eis o Cordeiro e batiza no Espírito Santo (cf. Jo 1,29-33), deixou mais clara, sobre esta questão, a doutrina que seria dada pelo Cristo, muito mais fez André.

Pois, não se julgando capaz de explicar tudo, conduziu o irmão à própria fonte da luz, tão contente e pressuroso, que não duvidou sequer um momento.”

André também apresentou Cristo aos pagãos, e na multiplicação dos pães apresentou o rapaz que tinha consigo alguns pães e peixes.

Logo após Pentecostes, pregou o Evangelho em muitas regiões tendo sido crucificado na Acaia.

Celebrando a Festa de Santo André, o Apóstolo, como Igreja Sinodal que somos, sejamos revigorados na missão que o Senhor nos confiou, para que como peregrinos da esperança, correspondamos ao mandato do Senhor: ir pelo mundo e anunciar o Seu Evangelho com renovado zelo, amor e ardor.

Aprendendo com André e Pedro... (II) (30/11)

                                                                                               

Aprendendo com André e Pedro... 

Aprendamos com André que, tendo encontrado o Senhor, conduzir muitos até Ele, não apenas pelo falar sobre Ele, mas revelando ao outro, pela vida, o quanto o nosso encontro com Ele nos transformou.

Encontrando-se verdadeiramente com o Senhor é impossível retê-Lo, ocultá-Lo, esquecê-Lo. Nunca mais a vida de quem O encontrou será a mesma. 

Feliz quem O encontrou e sabe levar o outro à mesma experiência e encontro transformador.

Haveremos de aprender com André a ouvir o que o Senhor tem a nos dizer, para poder falar “pormenorizadamente” tudo que Ele comunicou ao mais profundo de nosso íntimo, de nossas entranhas, de nosso coração, e não apenas aos nossos ouvidos. 

Aprender com André a fazer o encontro da intimidade, amizade e configuração com Jesus, como aconteceu naquele dia.

Com ele, aprendemos a anunciar, a testemunhar, a doar a vida com coragem e fidelidade até o fim.

Aprendemos amar a Igreja (Corpo) por amor a Cristo (cabeça), completando na carne o que falta à Paixão de Cristo por amor à Sua Igreja, como afirmou o Apóstolo Paulo (Cl 1,24).

Também nos ensina a docilidade e a prontidão, para anunciar a Palavra do Senhor, sem superficialidade, mas na abertura e entrega, ainda que lenta, mas para sempre, porque profunda, porque lhe permitiu a entrada e morada em si para sempre.

Haveremos de aprender com André o consumir-se de amor por Jesus, pois somente assim nossa vida se tornará refulgente da mais bela luz, que tem sua origem na Divina Fonte de luz. Haveremos de aprender, haveremos de viver como viveu. 

Também nós, a exemplo de André, Pedro e os Apóstolos, o mesmo testemunho ao mundo podemos dar.

Que nossa fé seja a mais perfeita configuração a Cristo Rei e Senhor do Universo, para que Seu Reino, de fato, seja Eterno e Universal, o Reino da verdade, da santidade, da graça, do amor, da paz... E, quanto mais digamos acerca do Reino do Senhor, ainda nada o dissemos.

Haveremos de aprender com eles a não economizarmos esforços, numa vigilância de caridade ativa até que Ele venha. Esta é a nossa esperança, acompanhada da mais frutuosa e germinadora fé. Amém.

sábado, 23 de novembro de 2024

Esperamos o Senhor na vigilância e na oração (29/11)

                                                           


 Esperamos o Senhor na vigilância e na oração

 
Tempo de vigiar e orar, tempo de a fé viver,
para solidificar a esperança na vivência de uma
autêntica caridade para com o próximo.
 
No 34º sábado do Tempo Comum, ouvimos a passagem do Evangelho de São Lucas (Lc 21,34-36), que nos convida a preparação da vinda gloriosa do Senhor.
 
Trata-se de uma mensagem de alegria, confiança, esperança e compromisso na acolhida do Filho do Homem, Jesus, que faz acontecer o Projeto de um mundo novo.
 
Retrata os últimos dias da vida terrena de Jesus e a iminente destruição de Jerusalém (anos 70 D.C.), como de fato aconteceu.
 
Jesus anuncia uma Palavra de ânimo, “é preciso levantar a cabeça porque a libertação está próxima” (Lc 21,28). 

A comunidade não pode se amedrontar, mas deve abrir o coração à esperança, em atitude de vigilância e confiança.
 
A salvação não pode ser esperada de braços cruzados, pois nos é  oferecida a nós como dom divino, conversão e compromisso nosso: Jesus vem, mas é preciso reconhecê-Lo nos sinais da história, no rosto dos irmãos, nos apelos dos que sofrem e buscam a libertação.
 
É preciso deixar que Ele nos transforme a mente e o coração para que Ele apareça em nossos gestos e palavras, em toda a nossa vida.
 
O Reino vem e acontece como realidade escatológica, ou seja, não será uma realidade plena neste tempo em que vivemos, será plenitude somente depois que Cristo destruir definitivamente o mal que nos rouba a liberdade e ainda nos faz escravos.
 
Trabalhamos e nos empenhamos pelo Reino que é já e ainda não, pois ainda que muitas coisas tenhamos feito e o mundo tornado melhor, ainda não será o “tudo melhor” que Deus tem reservado para nós. O Reino de Deus é uma realidade inesgotável, imensurável e indescritível, e o vemos em sinais.
 
Por ora, é preciso vigiar e orar, numa esperança que nos leve a viver uma caridade ativa tornando fecunda a nossa fé. 
 
Encerramos mais um ano litúrgico, e que Deus nos conceda a graça de iniciar um novo, sempre na oração e na vigilância, na espera do Senhor, Aquele que veio, vem e virá gloriosamente.
 

sexta-feira, 1 de novembro de 2024

“Misericordia et misera” (síntese n. 1)




“Misericordia et misera”

Sete anos passados, por ocasião do encerramento do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, o Papa Francisco nos agraciou com a Carta Apostólica “Misericordia et misera”, com vistas a continuar os propósitos e iniciativas surgidas ao longo de sua realização, e ora destaco alguns trechos.

“Misericordia et misera”, as duas palavras que Santo Agostinho utilizou para descrever o encontro de Jesus com a adúltera (cf. Jo 8, 1-11), em alusão ao amor de Deus que vem ao encontro do pecador: “Ficaram apenas eles dois: «a mísera e a misericórdia» Johannis 33,5), um ícone de tudo que celebramos no Ano Santo.

Ressalta que a misericórdia não pode ser reduzida a um parêntese na vida da Igreja, mas deve se constituir na sua própria existência, tornando visível e palpável a verdade profunda do Evangelho, pois tudo se revela na misericórdia; tudo se compendia no amor misericordioso do Pai.

No encontro de Jesus com a pecadora, não se encontram o pecado e o juízo em abstrato, mas uma pecadora e o Salvador. Jesus ao fixar nos olhos daquela mulher, leu o seu coração, com desejo de ser compreendida, perdoada e libertada:

– “A miséria do pecado foi revestida pela misericórdia do amor... ajuda-a a olhar para o futuro com esperança, pronta a recomeçar a sua vida; a partir de agora, se quiser, poderá «proceder no amor» (Ef 5, 2)”. (n.1)

O Papa também menciona a passagem do Evangelho em que uma pecadora, num banquete na casa de um fariseu (cf. Lc 7, 36-50), ungiu com perfume os pés de Jesus, banhando-os com as suas lágrimas e os enxugando com os seus cabelos, e muito foi perdoada, porque muito amou.

Fala-nos do perdão dado por Jesus no alto da Cruz: «Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem» (Lc 23, 34), de modo que, nada que um pecador arrependido coloque diante da misericórdia de Deus pode ficar sem o abraço do Seu perdão.

Sendo assim, a misericórdia é a ação concreta do amor, que transforma e muda a vida de cada um de nós através do perdão.

O perdão experimentado pelas duas mulheres (a adúltera e a pecadora) faz brotar alegria no coração: “As lágrimas da vergonha e do sofrimento transformaram-se no sorriso de quem sabe que é amado. A misericórdia suscita alegria, porque o coração se abre à esperança duma vida nova. A alegria do perdão é indescritível, mas transparece em nós sempre que a experimentamos. Na sua origem, está o amor com que Deus vem ao nosso encontro, rompendo o círculo de egoísmo que nos envolve, para fazer também de nós instrumentos de misericórdia (n.3)

Não podemos permitir que a misericórdia experimentada, a alegria que ela nos dá, seja roubada devido às várias aflições e preocupações, por isto precisa estar bem enraizada no coração, para olharmos o dia-a-dia com serenidade.

Numa cultura marcada pela tecnologia, acompanhada da tristeza e solidão, urge que sejamos testemunhas da esperança e da alegria verdadeira, não nos enganando com felicidade fácil com “paraísos artificiais”, uma vez que a alegria verdadeira é sempre no Senhor (Fl 4, 4; cf. 1 Ts 5, 16) (cf n.3).

O vento impetuoso e salutar do Ano Santo nos desafia a não ficarmos na indiferença e, uma vez acolhido o sopro vital do Espírito, continuarmos o que foi iniciado.

Ele acena para as novas sendas a serem percorridas, levando a todos o Evangelho da Salvação, com a necessária “conversão pastoral”, a fim de não entristecermos o Espírito, com a força renovadora da Misericórdia. (n.5)

Continuaremos celebrando a misericórdia, porque ela está presente na oração da Igreja: no Ato Penitencial; no tempo quaresmal; na Oração Eucarística; depois do Pai Nosso; na oração antes do abraço da paz. De fato, cada momento da Celebração Eucarística faz referência à misericórdia de Deus (n.5).

Destaca de modo especial os Sacramentos de Cura: Penitência e Unção dos Enfermos, que favorecem a experiência da misericórdia de Deus, pois o amor de Deus nos precede, acompanha e permanece conosco, não obstante nossos pecados (n.5, n.8).

O Sacramento da Reconciliação precisa de voltar a ter o seu lugar central na vida cristã; para isso requerem-se sacerdotes que ponham a sua vida ao serviço do «ministério da reconciliação» (2 Cor 5, 18), de tal modo que a ninguém sinceramente arrependido seja impedido de aceder ao amor do Pai que espera o seu regresso e, ao mesmo tempo, a todos seja oferecida a possibilidade de experimentar a força libertadora do perdão (n.11).

Renovou a iniciativa das 24 horas para o Senhor, nas proximidades do IV Domingo da Quaresma, que goza já de amplo consenso nas dioceses e continua a ser um forte apelo pastoral para vivermos intensamente o Sacramento da Confissão (n.11).

Expressou gratidão aos Missionários da Misericórdia pelo valioso serviço oferecido para tornar eficaz a graça do perdão (n.9), de modo que todos os Sacerdotes devem se empenhar para oferecer oportunidade de confissão a quantos precisarem, vivendo a misericórdia de Deus de modo especialíssimo no Sacramento da Confissão.

É preciso que o sacerdote seja magnânimo de coração, ciente de que cada penitente lhe recorda a sua própria condição pessoal: pecador, mas ministro da Misericórdia (n.10).

Acena para a importância da Catequese, da Palavra de Deus proclamada, da homilia, que deve ser a expressão da verdade que anda de mãos dadas com a beleza e o bem, fazendo vibrar o coração dos crentes. Daqui decorre a necessária preparação pelo Sacerdote, como nos falou na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium n.142.

Cada vez mais deve ser acentuada a importância da Bíblia, que narra as maravilhas da misericórdia de Deus: «Toda a Escritura é inspirada por Deus e adequada para ensinar, refutar, corrigir e educar na justiça» (2 Tm 3, 16)

Enfatiza a importância da Leitura Orante como fonte de espiritualidade, assim como a valorização do Dia da Bíblia, num domingo do Ano Litúrgico.

Favorecer a “Lectio divina” sobre as Obras de Misericórdia à luz da Palavra de Deus e da Tradição espiritual da Igreja, levando a gestos e obras concretas de caridade (n.7).

Uma questão que merece toda a atenção está no parágrafo número 12, sobre o pedido de perdão para o pecado do aborto:

“Em virtude desta exigência, para que nenhum obstáculo exista entre o pedido de reconciliação e o perdão de Deus, concedo a partir de agora a todos os sacerdotes, em virtude do seu ministério, a faculdade de absolver a todas as pessoas que incorreram no pecado do aborto. Aquilo que eu concedera de forma limitada ao período jubilar fica agora alargado no tempo, não obstante qualquer disposição em contrário.

Quero reiterar com todas as minhas forças que o aborto é um grave pecado, porque põe fim a uma vida inocente; mas, com igual força, posso e devo afirmar que não existe algum pecado que a misericórdia de Deus não possa alcançar e destruir, quando encontra um coração arrependido que pede para se reconciliar com o Pai. Portanto, cada sacerdote faça-se guia, apoio e conforto no acompanhamento dos penitentes neste caminho de especial reconciliação”

Também concede a recepção válida e lícita da absolvição sacramental dos pecados dos que frequentam as Igrejas oficiadas pelos sacerdotes da Fraternidade de São Pio X (n.12).

No parágrafo seguinte, acena para o rosto da consolação que a misericórdia também possui «Consolai, consolai o meu povo» (Is 40, 1: “Enxugar as lágrimas é uma ação concreta que rompe o círculo de solidão onde muitas vezes se fica encerrado.

Todos precisamos de consolação, porque ninguém está imune do sofrimento, da tribulação e da incompreensão. Quanta dor pode causar uma palavra maldosa, fruto da inveja, do ciúme e da ira! Quanto sofrimento provoca a experiência da traição, da violência e do abandono! Quanta amargura perante a morte das pessoas queridas! E, todavia, Deus nunca está longe quando se vivem estes dramas. Uma palavra que anima, um abraço que te faz sentir compreendido, uma carícia que deixa perceber o amor, uma oração que permite ser mais forte... são todas expressões da proximidade de Deus através da consolação oferecida pelos irmãos” (n.13).

Grande ajuda também pode ser o silêncio; porque em certas ocasiões não há palavras para responder às perguntas de quem sofre: “O próprio silêncio pertence à nossa linguagem de consolação, porque se transforma num gesto concreto de partilha e participação no sofrimento do irmão” (n.13).

Também nos fala da família, da alegria do amor que se vive nas famílias, que é também o júbilo da Igreja, como mencionada em sua Exortação (Amoris Laetitiae n.17), em meio às dificuldades, provações, pelas quais passa, mas a família constitui num lugar privilegiado para se viver a misericórdia (Amoris Laetitiae n.291-300). A necessidade de acompanhá-las, solidifica-las na experiência viva da misericórdia.

Acena para a importância da presença do sacerdote no momento difícil que passa a família, a hora da morte de um de seus membros, sobretudo numa cultura em que se banaliza a morte, até mesmo a reduzindo a ficção ou a ocultando:

“Nós vivemos a experiência das exéquias como uma oração cheia de esperança para a alma da pessoa falecida e para dar consolação àqueles que sofrem a separação da pessoa amada”(n. 15).

O término do Jubileu e o fechar da Porta Santa exigem que a porta da misericórdia do nosso coração permaneça sempre aberta.

A misericórdia renova e redime, porque é o encontro de dois corações: o de Deus que vem ao encontro do coração do homem. Experimentada a misericórdia, não há como recuar.

Daqui decorre a necessidade de dar espaço à imaginação a propósito da misericórdia para dar vida a muitas obras novas, fruto da graça (n.17).

Volta à prática das obras de misericórdia (corporais e espirituais), que continuam a tornar visível a bondade de Deus, num mundo marcado por sinais de pecado, morte, sofrimento, pobreza e muito mais (n.18):

“...as obras de misericórdia corporal e espiritual constituem até aos nossos dias a verificação da grande e positiva incidência da misericórdia como valor social. Com efeito, esta impele a arregaçar as mangas para restituir dignidade a milhões de pessoas que são nossos irmãos e irmãs, chamados conosco a construir uma «cidade fiável»” (n.18).

...O mundo continua a gerar novas formas de pobreza espiritual e material, que comprometem a dignidade das pessoas. É por isso que a Igreja deve permanecer vigilante e pronta para individuar novas obras de misericórdia e implementá-las com generosidade e entusiasmo” (n.19).

“... ponhamos todo o esforço em dar formas concretas à caridade e, ao mesmo tempo, entender melhor as obras de misericórdia. Com efeito, esta possui um efeito inclusivo pelo que tende a difundir-se como uma nódoa de azeite e não conhece limites. E, neste sentido, somos chamados a dar um novo rosto às obras de misericórdia que conhecemos desde sempre. De fato a misericórdia extravasa; vai sempre mais além, é fecunda. É como o fermento que faz levedar a massa (cf. Mt 13, 33), e como o grão de mostarda que se transforma numa árvore (cf. Lc 13, 19) (n.19).

“...O caráter social da misericórdia exige que não permaneçamos inertes mas afugentemos a indiferença e a hipocrisia para que os planos e os projetos não fiquem letra morta. Que o Espírito Santo nos ajude a estar sempre prontos a prestar de forma efetiva e desinteressada a nossa contribuição, para que a justiça e uma vida digna não permaneçam meras palavras de circunstância, mas sejam o compromisso concreto de quem pretende testemunhar a presença do Reino de Deus” (n.19).

O Papa nos interpela na construção da cultura de misericórdia, com base na redescoberta do encontro com os outros: uma cultura na qual ninguém olhe para o outro com indiferença, nem vire a cara quando vê o sofrimento dos irmãos. (n.20):

Esta cultura da misericórdia forma-se na oração assídua, na abertura dócil à ação do Espírito, na familiaridade com a vida dos Santos e na solidariedade concreta para com os pobres (n.20).

Concluindo, o Papa exorta que a continuidade da experiência do Jubileu faça chegar a todos a carícia de Deus através do testemunho dos crentes (n.21).

Vivemos o tempo da misericórdia, sentindo a presença de Deus, experimentando a sua ternura, de modo especial na solidariedade para com os pobres e buscando o perdão de Deus, como pecadores que somos, a fim de sentirmos a mão de Deus Pai que nos acolhe e nos abraça (n.21).

Como sinal concreto, o Papa exorta para que seja celebrado no 33º Domingo do Tempo Comum, o Dia Mundial dos Pobres, fazendo deste momento um modo mais digno para a preparação e vivência da Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, que Se identificou com os mais pequenos e os pobres e nos há de julgar sobre as obras de misericórdia (cf. Mt 25, 31-46):

“Será um Dia que vai ajudar as comunidades e cada batizado a refletir como a pobreza está no âmago do Evangelho e tomar consciência de que não poderá haver justiça nem paz social enquanto Lázaro jazer à porta da nossa casa (cf. Lc 16, 19-21).

Além disso este Dia constituirá uma forma genuína de nova evangelização (cf. Mt 11, 5), procurando renovar o rosto da Igreja na sua perene ação de conversão pastoral para ser testemunha da misericórdia” (n.21).

Finaliza nos confiando à ajuda materna de Maria, a Mãe da Misericórdia que nos acompanha no testemunho do amor, pois ela nos indica o perene olhar para Jesus, “o rosto radiante da misericórdia de Deus” (n. 22).




Leia a Carta na íntegra acessando: 

“Misericordia et misera” (síntese n.2)

 
“Misericordia et misera” (síntese n.2)

Em novembro de 2016, ao encerrar o Jubileu Extraordinário da Misericórdia, o Papa Francisco nos agraciou com a Carta Apostólica “Misericordia et misera”, com vistas a continuar os propósitos e iniciativas surgidas ao longo de sua realização: “Termina o Jubileu e fecha-se a Porta Santa. Mas a porta da misericórdia do nosso coração permanece sempre aberta de par em par” (n.16)

Inicia a referida Carta “Misericordia et misera”, referindo-se às duas palavras que Santo Agostinho utilizou para descrever o encontro de Jesus com a adúltera (cf. Jo 8, 1-11), em alusão ao amor de Deus que vem ao encontro do pecador.

Ressalta que a misericórdia não pode ser reduzida a um parêntese na vida da Igreja, mas deve se constituir na sua própria existência, por se tratar da verdade profunda e visível do próprio Evangelho.

Fundamenta-se na passagem do Evangelho, em que uma pecadora, num banquete na casa de um fariseu (cf. Lc 7, 36-50), ungiu com perfume os pés de Jesus, banhando-os com as suas lágrimas e os enxugando com os seus cabelos, e muito foi perdoada, porque muito amou.

Outra referência do Evangelho é o perdão dado por Jesus no alto da Cruz: «Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem» (Lc 23, 34), de modo que, nada que um pecador arrependido coloque diante da misericórdia de Deus pode ficar sem o abraço do Seu perdão.

Sendo assim, a misericórdia é a ação concreta do amor, que transforma e muda a vida de cada um de nós através do perdão, e não é um parêntese na vida da Igreja.

O perdão experimentado pelas duas mulheres (a adúltera e a pecadora) faz brotar alegria no coração.

O vento impetuoso e salutar do Ano Santo nos desafia a não ficarmos na indiferença e, uma vez acolhido o sopro vital do Espírito, continuarmos o que foi iniciado, e apresento de forma esquemática algumas ações concretas na Carta mencionadas.

1 - Viver a necessária “conversão pastoral”, a fim de não entristecermos o Espírito, com a força renovadora da Misericórdia levando a todos a Boa- Nova da Salvação. (n.5)

2 - Celebrar a misericórdia, que se encontra presente na oração da Igreja: no Ato Penitencial; no tempo quaresmal; na Oração Eucarística; depois do Pai Nosso; na oração antes do abraço da paz. De fato, cada momento da Celebração Eucarística faz referência à misericórdia de Deus (n.5).

3 - Valorizar, de modo especial, os Sacramentos de Cura: Penitência e Unção dos Enfermos, favorecendo a experiência da misericórdia de Deus.

4 - Continuar a iniciativa das 24 horas para o Senhor, nas proximidades do IV Domingo da Quaresma, como forte apelo pastoral para vivermos intensamente o Sacramento da Confissão (n.11).

5 - Todos os Sacerdotes se empenhem para oferecer oportunidade de confissão a quantos precisarem, acolhendo assim os pecadores na misericórdia de Deus.

6 - Valorizar a Palavra de Deus na Catequese e Homilias, sendo esta última a expressão da verdade que anda de mãos dadas com a beleza e o bem, fazendo vibrar o coração dos crentes. Por isto a necessária preparação pelo Sacerdote (Evangelii Gaudium n.142).

7 - Acentuar cada vez mais a importância da Bíblia, que narra as maravilhas da misericórdia de Deus: «Toda a Escritura é inspirada por Deus e adequada para ensinar, refutar, corrigir e educar na justiça» (2 Tm 3, 16)

8 - Valorizar o Dia da Bíblia, num domingo do Ano Litúrgico, ressaltando a importância da Palavra de Deus, pois ela é a revelação da misericórdia de Deus.

9 - Incentivar a Leitura Orante como fonte de espiritualidade, e de modo especial sobre as Obras de Misericórdia à luz da Palavra de Deus e da Tradição espiritual da Igreja, levando a gestos e obras concretas de caridade (n.7).

10 - Todos os sacerdotes podem dar o perdão de Deus para quem pedir perdão para o pecado do aborto (um grave pecado, reitera o Papa), até que se diga algo em contrário:“Em virtude desta exigência, para que nenhum obstáculo exista entre o pedido de reconciliação e o perdão de Deus, concedo a partir de agora a todos os sacerdotes, em virtude do seu ministério, a faculdade de absolver a todas as pessoas que incorreram no pecado do aborto. Aquilo que eu concedera de forma limitada ao período jubilar fica agora alargado no tempo, não obstante qualquer disposição em contrário...” pois todo pecado, pressupondo o arrependimento pode ser destruído pela misericórdia divina.

11 - Conceder a recepção válida e lícita da absolvição sacramental dos pecados dos que frequentam as Igrejas oficiadas pelos sacerdotes da Fraternidade de São Pio X (n.12).

12 - Favorecer para que a alegria do amor que se vive nas famílias se intensifique, pois esta alegria é também o júbilo da Igreja, como mencionada em sua Exortação (Amoris Laetitiae n.17), em meio às dificuldades, provações, pelas quais passa, mas a família constitui num lugar privilegiado para se viver a misericórdia (Amoris Laetitiae n.291-300). A necessidade de acompanhá-las, solidificá-las na experiência viva da misericórdia.

13 - A importância da presença do sacerdote no momento difícil que passa a família, a hora da morte de um de seus membros, sobretudo numa cultura em que se banaliza a morte, até mesmo a reduzindo a ficção ou a ocultando, de modo que a oração das exéquias seja um momento forte de esperança para a alma da pessoa falecida e para dar consolação à família que sofre a separação da pessoa amada.

14 - Construir da cultura de misericórdia, com base na redescoberta do encontro com os outros: uma cultura na qual ninguém olhe para o outro com indiferença, nem vire a cara quando vê o sofrimento dos irmãos (n.20). Deste modo é preciso intensificar a oração assídua, na abertura dócil à ação do Espírito, na familiaridade com a vida dos Santos e na solidariedade concreta para com os pobres (n.20) na construção da cultura da misericórdia

15 - Exorta para que seja celebrado no 33º Domingo do Tempo Comum, o Dia Mundial dos Pobres, fazendo deste momento um modo mais digno para a preparação e vivência da Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, que Se identificou com os pequeninos e os pobres e nos há de julgar sobre as obras de misericórdia (cf. Mt 25, 31-46):

Concluindo, o Papa exorta que, a continuidade da experiência do Jubileu, faça chegar a todos a carícia de Deus, através do testemunho dos crentes (n.21), confiando-nos à ajuda materna de Maria, a Mãe da Misericórdia, que nos acompanha no testemunho do amor, pois ela nos indica o perene olhar para Jesus, “o rosto radiante da misericórdia de Deus” (n. 22).




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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG