sexta-feira, 1 de novembro de 2024

A misericórdia do Senhor ultrapassa as nossas “curtas medidas”

                                                            

A misericórdia do Senhor ultrapassa as nossas “curtas medidas”

Na passagem do Evangelho a ser proclamada, na sexta-feira da 30ª Semana do Tempo Comum, Jesus dirige palavras duríssimas a um dos chefes dos fariseus, que O questionou por ter curado um homem que sofria de hidropisia em dia de sábado (Lc 14,1-6).

Vejamos o que nos diz o Lecionário Comentado:

“Uma religiosidade fria, encerrada na atenção às disposições legais, não está em sintonia com a atuação salvífica revelada em Cristo. Jesus ensina-nos a fazer nossas as necessidades dos indivíduos, sem casuísticas, nem impedimentos” (1)

E completa: “Como é pobre a espiritualidade que pensa que Deus deve ‘curar somente no interior dos próprios sábados, das suas casuísticas, dos seus percursos espirituais’, e como é explosivo, pelo contrário, a atuação de Jesus que, como no Evangelho de hoje, abre o banquete do Reino a um doente que não fez ou disse nada, mas está simplesmente ali, com sua necessidade e depois curado, a testemunhar um Deus cuja salvação (felizmente!) ultrapassa as nossas curtas medidas!” (2)

Oremos:

Cristo Jesus, acolhidos e envolvidos pela Vossa misericórdia, e aprendizes de Vossos ensinamentos, como discípulos missionários, ajudai-nos, para que tenhamos maior compaixão para com as autênticas necessidades de nosso próximo.

Cristo Jesus, somos por Vós amados, acolhidos, perdoados e libertos, cumulai nosso coração de amor e sensibilidade para com os dramas de nosso próximo, para que sejamos instrumentos de amor, acolhida, perdão e libertação.

Cristo Jesus, não permitais que tenhamos atitudes farisaicas, colocando limites de tempo para o bem, pois a lei está acima acima da vida, e livrai-nos da miopia que nos impeça de enxergar Vossa ação misericordiosa e libertadora em favor dos que mais precisam.

Cristo Jesus, tendo encontrado Vossa Pessoa e Palavra, ajudai-nos a cultivar uma espiritualidade em que são alargados os horizontes da compaixão, proximidade e solidariedade, e assim darmos à nossa própria existência, um novo impulso e um novo sentido. Amém.

(1) Lecionário Comentado – Editora Paulus – Lisboa – 2011 - Vol. II - Tempo Comum - pág.680.
(2) idem

Quem melhor que Nossa Senhora do Caminho?

 


Quem melhor que Nossa Senhora do Caminho?

Ó Deus, rico em misericórdia, a Vós recorremos confiantes e suplicamos, pela gloriosa Virgem Maria, Vossa Mãe e nossa, a quem invocamos como Nossa Senhora do Caminho.

Verdadeiramente Nossa Senhora do Caminho, porque seu coração é imaculado, e jamais conheceu o pecado e a desobediência à Vossa vontade e projetos.

Quem melhor que Nossa Senhora do Caminho para:

- nos apontar Jesus, o Caminho, a Verdade e a Vida, e nos fazer mergulhar no Mistério profundo e imenso do Coração trespassado e ferido de amor do Seu Amado Filho?

 - caminhar conosco, e nós, como os discípulos de Emaús, sentirmos arder nosso coração como Seu Amado Filho fez ao revelar as Sagradas Escrituras no caminho e reconhecido no partir do Pão (Lc 24,13-35)?

- nos ensinar a falar com o coração para que no discipulado vivamos a necessária proximidade, compaixão e ternura, sobretudo com os pobres, Vossos amados e preferidos?

- nos ensinar o caminho de conversão, para que passemos de um mundo sem coração, para uma civilização do amor, fraternidade e comunhão?

- nos ajudar a discernir e nos comprometermos com novas posturas e mentalidades para curar a “Terra ferida” pelo nossa arrogância, consumismo e autossuficiência, comprometidos com uma necessária Ecologia integral, onde tudo está interligado?

- nos ajudar a contemplar os Vossos Mistérios, meditando e guardando tudo no Coração, como assim Ela o fazia, pois olhava com o coração, com olhar da contemplação?

- nos lembrar e nos ajudar a redescobrir, na era da inteligência artificial, que não podemos nos esquecer que a poesia e o amor são necessários para salvar o humano (Papa Francisco)?

- nos ensinar a confiar em Seu Filho, que viveu um amor apaixonado, que sofreu por nós, um coração ferido de amor e por nós Se entregou para nossa redenção, e espera tão apenas que sejamos uma resposta ao Seu divino amor, como um mendicante de nosso amor?

- nos encorajar, como peregrinos da esperança rumo à casa do Pai, mergulhados no Coração de Cristo, a obra prima do Espírito Santo (Papa São João Paulo II)?

- fazer nosso coração bater em uníssono com seu coração e o com o Sagrado Coração do Seu Filho, o compêndio do Evangelho, para vivermos a ternura da fé e a alegria do serviço, em sagrados compromissos comunitário, social e missionário?

- firmar nossos passos, para que sejamos discípulos missionários e irradiar as chamas do amor de Cristo, não nos perdendo com discussões secundárias, mas fazendo da vida uma agradável oferenda e sacrifício de louvor a Deus?

- nos ajudar, para que sejamos enamorados pelo Verbo que Se fez Carne, e a missão nossa de cada dia não seja por obrigação ou dever, mas simplesmente por um amor que nos envolve e nos enche de ternura, que se torna impossível conter?

- apontar o Caminho, ainda que marcado por renúncias e cruz carregada cotidianamente, com horizonte de eternidade, ela, que jamais nos apontaria caminhos e atalhos do abismo do sofrimento sem esperança Amém.

Coisas de Deus...

                                                       


Coisas de Deus...

Santidade
Caminhando com o Senhor, subimos a Escada da Santidade, progredindo no amor e no entendimento; aprendemos com Ele a cada instante a caridade inteligente

Graça
Trabalhar na obra do Senhor é graça que recebemos desde o dia de nosso Batismo.

Recompensa
A recompensa, o prêmio é garantido sem nenhuma dúvida, sem nenhuma subtração…

Amor e lei
O Senhor nos ensina que o Amor ao próximo deve estar acima da lei. 
A lei só tem sentido se estiver a serviço da vida.

Cura
Ontem e hoje o Senhor vem nos curar.

Esvaziar-se
Com o Senhor descobrimos que é preciso nos esvaziar do que não serve e preencher o nosso coração com o que agrada a Deus.

Sentido da vida
O Senhor nos revela que viver é passar pelo mundo fazendo o bem, como Ele o fez!

Coisas de Deus...

“Revesti-vos da armadura de Deus”

                                                          

“Revesti-vos da armadura de Deus”

Como Igreja, iniciamos um  tempo fecundo e necessário de avaliação da caminhada feita, propício para a necessária elaboração de planos, projetos, sempre vislumbrando novos caminhos.

Os dias passam, consomem-se e nós nos consumimos. A cada dia uma batalha, uma conquista, decepções e surpresas agradáveis; encontros e desencontros; ganhos e perdas; derrotas, vitórias. Assim é a vida: comporta o movimento dos contrários.

A vida não é feita de apenas uma nota, um tom, um som, uma palavra, uma rima, de um parágrafo apenas. A vida é percurso, desafio, superação, eterno recomeço, morte e Ressurreição.

Neste sentido, a passagem da Carta de Paulo aos Efésios (Ef 6,10-20) é riquíssima para nos fortalecer no bom combate da fé.

Ele fala do cristão à luz de uma metáfora: o guerreiro, um gladiador que se coloca intrepidamente no combate consagrando e confiando a sua vida ao Senhor.

“Fortalecei-vos no Senhor, pelo Seu soberano poder” (Ef 6,10). A nossa força vem de Deus.

“Revesti-vos da armadura de Deus” – revestidos de Cristo pelo Batismo não há nada a temer. O Senhor é escudo, proteção, refúgio e muito mais, como rezou o Salmista (Sl 143).

Lutamos a todo instante contra as forças espirituais do mal, espalhadas nos ares, afirma o Apóstolo. É preciso vigiar e orar a todo instante, para que sejamos conduzidos, animados, iluminados pelo Santo Espírito no combate e para que vencedores sejamos.

Com a armadura de Deus mantemo-nos inabaláveis, assegura o Apóstolo, no cumprimento de nosso dever (Ef 6,13).

Ele ainda nos exorta: sejamos cingidos com a verdade, o corpo vestido com a couraça da justiça, e os pés calçados de prontidão para incansavelmente anunciar o Evangelho (Ef 6,15).

Nosso escudo é a fé, e com ele apagamos todas as flechas da maldade, da mentira, da hipocrisia, da injustiça.

Nosso capacete é o divino capacete da salvação, tendo nas mãos a espada do Espírito que é a própria Palavra de Deus (Ef 6,18).

Finaliza exortando à indispensável Oração em todas as circunstâncias, numa vigília permanente, Oração feita incessantemente uns pelos outros.

Que tenhamos sempre coragem em cada amanhecer de nos revestirmos de Cristo, de sermos  Sua presença no mundo, comunicando a Sua imprescindível luz em meio às trevas, dando gosto de Deus a quantos possamos, como sal da terra.

Revestidos da armadura de Deus, fermentaremos o mundo novo, não recuaremos na vida de fé, avançaremos corajosamente, enfim, nossa fé será verdadeiramente fecunda.

Rezando com os Salmos ( Sl 7)

 


Serenidade e confiança em Deus (Salmo 7)
 
“-1Lamentação. De Davi. Ele a cantou para O Senhor, a propósito de Cuch, o benjamita.

-2 Senhor meu Deus, em Vós procuro o meu refúgio:
vinde salvar-me do inimigo, libertai-me!
-3 Não aconteça que agarrem minha vida
como um leão que despedaça a sua presa,
sem que ninguém venha salvar-me e libertar-me!
 
-4 Senhor Deus, se algum mal eu pratiquei,
se manchei as minhas mãos na iniquidade,
-5 se acaso fiz o mal a meu amigo,
eu que poupei quem me oprimia sem razão;
 
-6 que o inimigo me persiga e me alcance,
que esmague minha vida contra o pó,
e arraste minha honra pelo chão!
-7 Erguei-vos, ó Senhor, em vossa ira;
levantai-vos contra a fúria do inimigo!
 
– Levantai-vos, defendei-me no juízo,
porque vós já decretastes a sentença!
-8 Que vos circunde a assembleia das nações;
tomai vosso lugar acima dela!
-9 O Senhor é o juiz dos povos todos.
 
– Julgai-me, Senhor Deus, como eu mereço
e segundo a inocência que há em mim!
-10 Ponde um fim à iniquidade dos perversos,
e confirmai o vosso justo, ó Deus-justiça,
vós que sondais os nossos rins e corações.
 
-11 O Deus vivo é um escudo protetor,
e salva aqueles que têm reto coração.
-12 Deus é juiz, e ele julga com justiça,
mas é um Deus que ameaça cada dia.
 
-13 Se para ele o coração não converterem,
preparará a sua espada e o seu arco,
e contra eles voltará as suas armas.
-14 Setas mortais ele prepara e os alveja,
e dispara suas flechas como raios.
 
-15 Eis que o ímpio concebeu a iniquidade,
engravidou e deu à luz a falsidade.
-16 Um buraco ele cavou e aprofundou,
mas ele mesmo nessa cova foi cair.
 
-17 O mal que fez lhe cairá sobre a cabeça,
recairá sobre seu crânio a violência!
-18 Mas eu darei graças a Deus que fez justiça,
e cantarei salmodiando ao Deus Altíssimo.”
 
O Salmo 7 nos apresenta a oração do justo caluniado, que nos convida a confiar em Deus, mantendo a serenidade necessária, certos de que Deus fará justiça no tempo oportuno, como fala a Carta de São Tiago – “Eis que o Juiz está às portas” (Tg 5,9).
 
Retomemos o Sermão das Bem-Aventuranças, para continuar nossa oração (Mt 5,1-12), sobretudo os versículos finais:
 
“Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque grande é a vossa recompensa nos céus; pois deste modo perseguiram os profetas que vos precederam.”  (cf. Mt 5,11-12).
 

Igreja triunfante, militante e padecente

                                                

Igreja triunfante, militante e padecente

A fé na Ressurreição do Senhor, que nos abriu as portas da eternidade, convida-nos a refletir sobre a Igreja como Corpo místico de Cristo.

Conforme o Catecismo da Igreja Católica, a Igreja tem três estados: triunfante, militante e padecente: “Até que o Senhor venha em Sua majestade e, com Ele, todos os anjos em tendo sido destruída a morte, todas as coisas lhe forem sujeitas, alguns dentre Seus discípulos peregrinam na terra; outros, terminada esta vida, são purificados; enquanto outros são glorificados, vendo claramente o próprio Deus trino e uno, assim como é” (CIC n. 954).

A Igreja Triunfante (céu) é composta por aqueles nossos irmãos falecidos, que pela graça divina, e pelo modo que viveram e testemunharam a fé, já gozam das delícias celestiais, pois estão na presença de Deus, vendo-O como Ele é, contemplam e glorificam Sua majestade e intercedem por nós, incessantemente, tornando-se exemplos de vida para nós que ainda peregrinamos. Esta é a Igreja eterna, que irá “absorver” a Igreja militante e a padecente, no dia do Juízo Final. 
     
A Igreja padecente (purgatório), por sua vez, é constituída por aquelas almas que, assim como nós, peregrinaram nesta vida, mas por sua conduta e pecados cometidos não puderam entrar na glória celestial. No entanto, Deus em Sua infinita misericórdia, para não perdê-las, concede um tempo para que obtenham uma nova chance de purificação, e assim participarem também da glória celestial, e a nós cabe elevar orações pela expiação de suas culpas, como a Igreja em sagrada Tradição nos ensina.

A Igreja militante (terra), somos nós, que ainda estamos na caminhada em busca da “Jerusalém Celeste”, em peregrinação, vivendo o bom combate da fé, porque ainda não completamos a corrida, nem estamos prontos para receber a coroa da glória, como nos falou o Apóstolo Paulo (2 Tm 4, 6-8).

Finalizando, como Igreja militante que somos, temos um longo caminho a percorrer, trilhando o caminho da santidade, que consiste na acolhida e vivência das Bem-Aventuranças que o Senhor nos apresentou no alto da Montanha Sagrada (Mt 5,1-12), até que um dia possamos nos unir aos nossos irmãos que já se encontram na Igreja triunfante.

“A Palavra de Deus é viva e eficaz”

                                                             

“A Palavra de Deus é viva e eficaz”

Sejamos enriquecidos pela reflexão do Bispo Balduíno de Cantuária (Séc. XII) sobre este versículo que encontramos na Epístola aos Hebreus (Hb 4,12).

“'A Palavra de Deus é viva e eficaz, mais penetrante que uma espada de dois gumes (Hb 4,12).' Quão grande seja o poder e quanta sabedoria na Palavra de Deus, estas Palavras o demonstram aos que buscam a Cristo, que é o Verbo, poder e sabedoria de Deus.

Coeterno com o Pai no princípio, este Verbo no tempo determinado revelou-Se aos Apóstolos e, por eles anunciado, foi humildemente recebido na fé pelos povos que creem. Está, portanto, o Verbo no Pai, o Verbo nos lábios, o Verbo no coração. 

Esta Palavra de Deus é viva; o Pai deu-lhe ter a vida em Si mesmo, do mesmo modo como tem Ele a vida em Si mesmo. Por isto é não apenas viva, mas a vida, conforme Ele disse a Seu respeito:

'Eu sou o caminho, a verdade e a vida '(Jo 14,6). Sendo a vida, é vivo de forma a ser vivificante. Pois, como o Pai ressuscita os mortos e vivifica-os, também o Filho vivifica a quem quer (Jo 5,21). É vivificante ao chamar o morto do sepulcro: 'Lázaro, vem para fora '(Jo 11,42). 

Quando esta Palavra é pregada pela voz do pregador que se escuta no exterior, Ele dá a esta voz a Palavra de poder, percebida interiormente. Por ela, os mortos revivem e com seus louvores são suscitados filhos de Abraão. É, portanto, viva esta Palavra no coração do Pai, viva na boca do pregador, viva no coração daquele que crê e ama. Sendo assim viva, não há dúvida de ser também eficaz. 

É eficaz na criação das coisas, eficaz no governo do mundo, eficaz na redenção do universo. Que de mais eficaz, de mais poderoso? Quem dirá Seus portentos, fará ouvir todo o Seu louvor? (Sl 105,2). É eficaz ao agir, eficaz ao ser anunciada. Pois não volta vazia, mas tem êxito em tudo a quanto é enviada.

Eficaz e mais penetrante do que a espada de dois gumes (Hb 4,12), quando é crida e amada. O que será impossível a quem crê, ou difícil a quem ama?

Quando este Verbo fala, Suas Palavras transpassam o coração quais setas agudas do poderoso. Como pregos profundamente cravados, entram e penetram até o mais íntimo.

Porque é mais aguda do que a espada de dois gumes esta Palavra, já que é mais poderosa do que toda a força e poder para abrir, e mais sutil do que a maior argúcia do engenho humano.

Mais que toda sabedoria humana e a sutileza das palavras doutas, é ela penetrante”.

Viva e eficaz é a Palavra do Senhor, quando acolhida, crida e amada, e com todo empenho vivida, experimentamos sua força libertadora nas mais diversas situações.

A vitalidade e eficácia da Palavra do Senhor, como Ele mesmo o disse, não quando é fruto de apenas repetição pelos lábios, mas quando é a mais perfeita ressonância do que está dentro de nosso coração, e não apenas verbalizada, mas na vida encarnada, plena de conteúdo e testemunho (Mt 7, 21-29).

Seja a Palavra de Deus, esta espada penetrante em nós, e tenhamos fome desta Palavra que nos comunica a luz de Deus em situações sombrias; alegrias em momentos de tristezas; alargamento do horizonte da esperança, quando este parece se apequenar; revigoramento da fé, quando ela parece se esvair diante de tantos desafios; que inflama a chama da caridade a ser vivida em permanente esforço, para que correspondamos cada vez mais ao imensurável Amor de Deus por nós.

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG