O olhar apaixonado de Deus
A Celebração da Festa da Epifania do Senhor é a Festa da manifestação do Menino Jesus, como Salvador e Luz de todos os povos, com a visita dos magos ao Menino Jesus.
Retomemos um dos Sermões Bispo Santo Agostinho (séc. V) sobre este acontecimento.
“Hoje se realizou a profecia que diz: Céus, deixai cair orvalho das alturas, e que as nuvens façam chover o justo; abra-se a terra e germine o Salvador (cf. Is 45,8). O Criador tornou-Se criatura para encontrar o que estava perdido. Por isso, o homem confessa nos Salmos: Antes de ser humilhado, eu pequei (cf. Sl 118,67). O homem pecou e tornou-se culpado; Deus nasceu como homem para libertar o culpado. O homem caiu, mas Deus desceu. O homem caiu miseravelmente, Deus desceu misericordiosamente; o homem caiu por orgulho, Deus desceu com a Sua graça.”
Somos remetidos à passagem do Livro do Êxodo (Ex 3,7-8), quando o Senhor diz a Moisés: “Eu vi, eu vi a aflição de meu povo que está no Egito, e ouvi os seus clamores por causa de seus opressores. Sim, Eu conheço seus sofrimentos. E desci para livrá-lo da mão dos egípcios e para fazê-lo subir do Egito para uma terra fértil e espaçosa, uma terra que emana leite e mel, lá onde habitam os cananeus, os hiteus, os amorreus, os ferezeus, os heveus e os jebuseus.”
Deus não tem outro olhar por Sua criatura, feita a Sua imagem e semelhança, o homem e a mulher, senão um olhar apaixonado. Entenda-se este olhar com seus complementos: verdadeiramente apaixonado, eternamente apaixonado, imensuravelmente apaixonado.
Um olhar que não O coloca em atitude de passividade contemplando o objeto amado, pois é próprio do Amor divino criar o bem na criatura que ama, como bem disse Santo Tomás de Aquino. Um olhar ativo e envolvente; olhar que leva a uma ação comprometida e libertadora.
Assim foi o olhar de Deus para o povo no Egito. Olhar apaixonado que se traduziu em intervenção e ação para resgate da liberdade e da dignidade tão vilipendiada, ultrajada em tempo de escravidão.
Assim foi o olhar de Deus na plenitude dos tempos quando enviou Seu Filho ao mundo. Olhar que O levou à proximidade, à Encarnação, a tornar-Se um de nós, igual a nós, exceto no pecado. Assumindo nossa condição, vivendo-a em sua concretude, assumindo-a na sua totalidade para redimi-la da mesma forma.
Como redimiria a humanidade do pecado se não assumisse a forma de uma criança, se não possuísse nossa materialidade e todas as limitações a ela inerentes?
Assim foi o olhar de Deus na ação de Seu Filho, na ação do Espírito. Olhar apaixonado de Deus que não conhece a ação solitária. Antes, Deus é comunhão e Seu olhar leva à ação na mais perfeita sintonia e comunhão de Três Pessoas e um só Deus.
Assim foi o olhar de Deus no Mistério Maior de Amor: O Mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Seu Filho. Deus continuou olhando para Seu Filho, não O abandonando e em extremo ato de amor olhava Seu Filho e ao mesmo tempo para a humanidade toda, pela qual suporta o crudelíssimo sacrifício e redentora morte.
- Como falar de um olhar apaixonado de Deus a partir do Mistério da iniquidade da morte?
- Como poderá Deus estar olhando apaixonadamente Seu Filho e a humanidade, simultaneamente?
Este é o grande Mistério de Seu amor. Ama o Filho, assegura-Lhe a inseparável presença do Espírito. Realiza a inseparabilidade dos Três Amores para introduzir a humanidade no mais belo Projeto e sonho de Deus: a comunhão plena em Seu amor.
Mistério que não é para ser colocado em nossa limitada mente. Antes, é preciso mergulhar nossa mente, coração e todo nosso ser neste imensurável Amor. Corresponder mais e melhor ao olhar apaixonado de Deus por nós que quer tão apenas uma resposta de amor.
Somente respondendo ao Seu Amor é que criaremos laços mais humanos, fraternos e solidários e vislumbraremos o horizonte de um novo dia pleno de vida e alegria.
Imprimamos em nosso coração as palavras do Bispo Santo Agostinho: “O homem caiu, mas Deus desceu. O homem caiu miseravelmente, Deus desceu misericordiosamente; o homem caiu por orgulho, Deus desceu com a Sua graça".
Vivamos cada dia sob este olhar que deseja a nossa resposta de amor, que será diretamente proporcional à felicidade que possamos alcançar. Que desça de Deus, em nós, Sua graça, luz, bondade, ternura e amor.
Tão somente correspondendo ao olhar de amor de Deus, teremos um Ano Novo verdadeiramente feliz!


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