Vivendo o Tempo do Advento, a Igreja nos convida a refletir o Tratado “A subida do Monte Carmelo”, escrito pelo Presbítero São João da Cruz (Séc. XVI).
“O motivo principal por que na antiga Lei eram lícitas as perguntas feitas a Deus, e convinha aos profetas e sacerdotes desejarem visões e revelações divinas, era não estar ainda bem fundada a fé nem estabelecida a Lei evangélica.
Era assim necessário que se interrogasse a Deus e Ele respondesse, ora por palavras, ora por visões e revelações, ora por meio de figuras e símbolos ou finalmente por muitas outras maneiras de expressão. Porque tudo o que respondia, falava e revelava, eram mistérios da nossa fé ou verdades que a ela se referiam ou a ela conduziam.
Agora, já estando firmada a fé em Cristo e promulgada a Lei evangélica nesta era de graça, não há mais razão para perguntar a Deus, daquele modo, nem para que Ele responda como antigamente. Ao dar-nos, como nos deu, o Seu Filho, que é a Sua única Palavra (e não há outra), disse-nos tudo de uma vez nessa Palavra e nada mais tem a dizer.
É este o sentido do texto em que São Paulo busca persuadir os hebreus a se afastarem daqueles primitivos modos de tratar com Deus, previstos na lei de Moisés, e a fixarem os olhos unicamente em Cristo, dizendo: ‘Muitas vezes e de muitos modos falou Deus outrora aos nossos pais, pelos profetas; nestes dias, que são os últimos, Ele nos falou por meio de Seu Filho’ (Hb 1,1-2). Por estas palavras o Apóstolo dá a entender que Deus emudeceu, por assim dizer, e nada mais tem a falar, pois o que antes dizia em parte aos profetas, agora nos revelou no todo, dando-nos o Tudo, que é o Seu Filho.
Se agora, portanto, alguém quisesse interrogar a Deus, ou pedir-lhe alguma visão ou revelação, faria injúria a Deus não pondo os olhos totalmente em Cristo, sem querer outra coisa ou novidade alguma. Deus poderia responder-lhe deste modo: ‘Este é o meu Filho amado, no qual Eu pus todo o meu agrado. Escutai-O!’ (Mt 17,5). Já te disse todas as coisas em minha Palavra. Põe os olhos unicamente n’Ele, pois n’Ele tudo disse e revelei, e encontrarás ainda mais do que pedes e desejas.
Desde o dia em que, no Tabor, desci com meu Espírito sobre Ele, dizendo: ‘Este é o meu Filho amado, no qual Eu pus todo o meu agrado. Escutai-O!’, aboli todas as antigas maneiras de ensinamento e resposta. Se falava antes, era para prometer o Cristo; se me interrogavam, eram perguntas relacionadas com o pedido e a esperança da vinda do Cristo, no qual haviam de encontrar todo o bem – como agora o demonstra toda a doutrina dos Evangelhos e dos apóstolos”.
De fato, Deus nos falou pelo Cristo na plenitude dos tempos, e agora cabe-nos ouvir o Filho amado, “...pois quem diz em parte aos profetas, agora nos revelou no todo, dando-nos o Tudo, que é o Seu Filho”.
Façamos do Tempo do Advento, momento favorável para maior e melhor escuta do que Deus tem a nos dizer por meio do Seu Filho, abertos ao sopro do Espírito, que nos revela o amor e os Mistérios insondáveis de Deus.
Seja para nós, portanto, o tempo da escuta e prática da Palavra de Deus, que ricamente é proclamada nas Celebrações Litúrgicas, e em tantos outros momentos que a Igreja nos oferece, dentre eles, as Celebrações Penitenciais, Novenas em preparação ao Natal, grupos de reflexão, ou momentos pessoal de espiritualidade e oração.
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