quinta-feira, 3 de julho de 2025

Peregrinos da esperança: graça e missão pelo Senhor confiada (XIVDTCC)

 


Peregrinos da esperança: graça e missão pelo Senhor confiada

Sejamos enriquecidos pelo Comentário sobre o Evangelho de São Lucas escrito por São Cirilo de Alexandria, Doutor da Igreja (séc. V):

“Sendo que Cristo tinha dito: A messe é grande, mas os operários são poucos, novamente designou com os primeiros a outros setenta e dois e os enviou a sua frente a todos os povos e cidades da Judeia para que fossem precursores e falassem d’Ele. Os enviou deslumbrantes com a graça do Espírito santo e coroados com o poder de realizar milagres...

Na verdade, receberam o poder de repreender aos espíritos maus e de esmagar satanás, não para atrair a atenção sobre eles mesmos, mas para que Cristo fosse exaltado por aqueles catecúmenos que cressem que Cristo era Deus e Filho de Deus por natureza. E fosse tal o louvor, a preeminência e o poder, que tivessem também a potestade de esmagar satanás sob seus pés.

Os enviou muito bem-adornados com as dignidades apostólicas e os revelou capacitados com a ajuda da graça do Espírito Santo. Conferiu-lhes autoridade sobre os espíritos imundos para que pudessem esconjurá-los.

Como já manifestei, tendo realizado muitos prodígios, estes regressaram dizendo: Senhor, até os demônios se submetem a nós por causa de teu nome.

Como já disse anteriormente, (o Senhor) estava cheio de alegria, ou seja, exultava, porque sabia bem que aqueles que tinha enviado haviam favorecido a muitos, e eles mesmos tinham aprendido sua glória por experiência. Portanto, aquele que é bom e ama aos homens, querendo salvar a todos os homens se torna em causa de alegria, conversão dos equivocados, luz dos que estão nas trevas e conversão dos ignorantes e indóceis mediante o reconhecimento da glória divina.

Deu aos santos apóstolos a autoridade e poder até mesmo para ressuscitar os mortos, limpar os leprosos, curar os enfermos e invocar o Espírito Santo sobre aqueles aos quais impunham as mãos.

Conferiu-lhes o poder de atar e desatar os pecados dos homens. Asseguro-vos, disse Ele, que tudo o que atares na terra será atado nos céus, e tudo o que desatares na terra será desatado no céu.

Na condição na qual nos encontramos, isto é o que podemos ver, e bem-aventurados sejam os nossos olhos e os de todos os que amam a Cristo.

Escutamos o Seu sagrado ministério. Ele nos ensinou as coisas que se referem a Deus Pai, e os mostrou a nós em Sua própria natureza. Aquelas coisas que graças a Moisés eram tipos e figuras, Cristo as manifestou diante de nós em verdade.

Aprendemos a adorar ao que é incorpóreo, imaterial e incompreensível a todo raciocínio, não com sangue e fumaça, mas com sacrifícios espirituais.” (1)

Somos peregrinos de esperança, e o Senhor nos confia e nos envia em missão, com a graça do Espírito Santo e coroados com o poder de realizar milagres.

Ontem, hoje e sempre, anunciamos e testemunhamos o Senhor, a quem rendemos toda honra, glória e poder.

Não podemos desistir diante de eventuais dificuldades, mas seguir sempre em frente, colocando-nos como frágeis instrumentos na vinha do Senhor. Amém.

 

(1) Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes – 2013 – pág. 671-672

Em poucas palavras... (XIVDTCC)

 


“O Reino de Deus [...] é justiça, paz e alegria no Espírito Santo”

“«O Reino de Deus [...] é justiça, paz e alegria no Espírito Santo» (Rm 14, 17). Os últimos tempos em que nos encontramos são os da efusão do Espírito Santo. Trava-se desde então um combate decisivo entre «a carne» e o Espírito (Gl 5,16-25):

«Só um coração puro pode dizer com confiança: "Venha a nós o vosso Reino". É preciso ter passado pela escola de Paulo para dizer: "Que o pecado deixe de reinar no vosso corpo mortal" (Rm 6, 12). Quem se conserva puro nos seus atos, pensamentos e palavras é que pode dizer a Deus: "Venha a nós o vosso Reino!"» (São Cirilo de Jerusalém).” (1)

 

(1)Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n.2819

“Cria em mim, ó Deus, um coração puro” (XIVDTCC)

                                                                     

“Cria em mim, ó Deus, um coração puro

Reflitamos sobre qual o sacrifício querido por Deus, ou seja, um espírito contrito, conforme veremos no Sermão do Bispo e Doutor Santo  Agostinho (Séc. V).

Reconheço o meu pecado, diz Davi. Se eu o reconheço, perdoa-me, Senhor! Mesmo procurando viver bem, de modo algum tenhamos a presunção de ser sem pecado. Que demos valor à vida em que se pede perdão. Os homens sem esperança, quanto menos atentam para os próprios pecados, com tanto maior curiosidade espreitam os alheios. Procuram não o que corrigir, mas o que morder. Não podendo escusar-se, estão prontos a acusar.

Não foi este o exemplo de rogar e de satisfazer a Deus que Davi nos deu, dizendo: Porque reconheço meu crime e meu pecado está sempre diante de mim. Davi não estava atento aos pecados alheios. Caía em si, não se desculpava, mas em si mesmo penetrava e descia cada vez mais profundamente. Não se poupava, e por isso podia confiadamente pedir para si o perdão.

Queres reconciliar-te com Deus? Repara como procedes contigo, para que Deus te seja propício. Presta atenção ao salmo, onde lemos: Porque se quisesses um sacrifício, eu o faria certamente; não te causam prazer os holocaustos. Então ficarás sem sacrifício para oferecer? Nada oferecerás? Com nenhuma oblação tornarás Deus propício? Que disseste? Se quisesses um sacrifício, eu o faria certamente; não te causam prazer os holocaustos. Continua, escuta e dize: Sacrifício para Deus é o espírito contrito; o coração contrito e humilhado Deus não o despreza. Rejeitado aquilo que oferecias, encontraste o que oferecer. Como os antepassados, oferecias vítimas de animais, ditos sacrifícios: Se quisesses um sacrifício, eu o faria certamente. Não queres mais este gênero de sacrifícios, no entanto, procuras um sacrifício.

Não te causam prazer os holocaustos. Se não tens prazer com os holocaustos, ficarás sem sacrifício? De modo algum. Sacrifício para Deus é o espírito contrito; o coração contrito e humilhado Deus não o despreza. Tens o que oferecer. Não examines o rebanho, não aprestes navios e não atravesses as mais longínquas regiões em busca de perfumes. Procura em teu coração aquilo de que Deus gosta. O coração deve ser esmagado. Por que temes que o esmagado pereça? Lê-se aqui: Cria em mim, ó Deus, um coração puro. Para que seja criado o coração puro, esmague-se o impuro.

Sintamos aborrecimento por nós mesmos quando pecamos, porque os pecados aborrecem a Deus. Já que não estamos sem pecado, ao menos nisto sejamos semelhantes a Deus: o que lhe desagrada, desagrade também a nós. Em parte tu te unes à vontade de Deus, por te desagradar em ti aquilo mesmo que odeia aquele que te fez”.
Retomo parte do Sermão:

“Procura em teu coração aquilo de que Deus gosta. O coração deve ser esmagado. Por que temes que o esmagado pereça? Lê-se aqui: Cria em mim, ó Deus, um coração puro. Para que seja criado o coração puro, esmague-se o impuro.

Sintamos aborrecimento por nós mesmos quando pecamos, porque os pecados aborrecem a Deus.”

No seguimento do Senhor, como discípulos missionários Seus, precisamos sempre rever nossos pensamentos, palavras, ações ou mesmo omissões.

Vigilantes para perceber o que possa criar raízes em nosso coração. e que não é do agrado de Deus.

Coragem de esmagar o que for preciso dentro dele, para que nosso coração seja criado por Deus, como um coração puro, em que todas as impurezas que não correspondam ao Evangelho sejam purificadas, e assim, vivamos segundo o espírito e não segundo a carne, como nos falou o Apóstolo aos Romanos (Rm 8,1-21).

Urge que sintamos aborrecimento por nós mesmos quando pecamos, e de coração contrito e humilhado, voltarmos para Deus, que é rico em misericórdia, com novas posturas, novo e sagrados compromissos.

Da mesma forma, aceitarmos o amoroso convite do Senhor, que revela a inefável bondade divina:

“Vinde a mim todos os que estais cansados sob o peso do vosso fardo e vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para as vossas almas, pois meu jugo é suave e meu fardo é leve” (Mt 11,28-30).

quarta-feira, 2 de julho de 2025

“Nunc Dimittis”

                                                          


“Nunc Dimittis”

A Igreja reza à noite, todos os dias, a Oração das Completas, e nela está contido o “Nunc Dimittis” - "agora deixe partir",  rezado por Simeão, homem justo e piedoso, quando da apresentação do Senhor no Templo (Lc 2,29-32).

Cristo, Luz das nações e glória de Seu povo, é um cântico evangélico que pode também ser rezado por quantos puderem nas orações da noite, ao terminar um dia de intensas atividades, preocupações e eventual cansaço, para um bom descanso e um novo dia bem iniciado:

“Antífona: Salvai-nos, Senhor, quando velamos, guardai-nos também quando dormimos! Nossa mente vigie com o Cristo, nosso corpo repouse em Sua paz!

“–29 Deixai, agora, Vosso servo ir em paz,
conforme prometestes, ó Senhor.

30 Pois meus olhos viram Vossa salvação
31 que preparastes ante a face das nações:

32 uma Luz que brilhará para os gentios
e para a glória de Israel, o Vosso povo.”

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. 
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Antífona: Salvai-nos, Senhor, quando velamos, guardai-nos também quando dormimos! Nossa mente vigie com o Cristo, nosso corpo repouse em Sua paz!

Em poucas palavras...

                                                              


“Não se dialoga com o demônio...” 

“Não se dialoga com o demônio […] A vida cristã é uma luta permanente. Requer-se força e coragem para resistir às tentações do demônio e anunciar o Evangelho. […] 

Não pensemos que é um mito, uma representação, um símbolo, uma figura ou uma ideia. Este engano leva-nos a diminuir a vigilância, a descuidar-nos e a ficar mais expostos. 

O demônio não precisa de nos possuir. Envenena-nos com o ódio, a tristeza, a inveja, os vícios. E assim, enquanto abrandamos a vigilância, ele aproveita para destruir a nossa vida, as nossas famílias e as nossas comunidades, porque, ‘como um leão a rugir, anda a rondar-vos, procurando a quem devorar’” (1Pd 5,8)”  (1)

 

(1)Gaudete et Exsultate  n.158.161


Em poucas palavras...

                                                           


“Negócio de poucos”

“Desprezar a comida, a bebida e a cama macia, pode não custar um grande trabalho a muitos... Mas suportar uma injúria, sofrer um prejuízo ou não ripostar a uma palavra implicante... não é negócio de muitos, mas de poucos”(1)

 

(1) São João Crisóstomo, Sobre o sacerdócio, 3, 13

Rezando com os Salmos - Sl 60 (61)

 


A oração e o clamor do justo sobem aos céus

 
“–1 Ao maestro do coro.
Com instrumentos de corda. De Davi.
 
–2 Escutai, ó Senhor Deus, minha oração,
atendei à minha prece, ao meu clamor!
–3 Dos confins do universo a Vós eu clamo,
e em mim o coração já desfalece.
– Conduzi-me às alturas do rochedo,
e deixai-me descansar nesse lugar!
–4 Porque sois o meu refúgio e fortaleza,
torre forte na presença do inimigo.
–5 Quem me dera morar sempre em Vossa casa
e abrigar-me à proteção de Vossas asas!
–6 Pois ouvistes, ó Senhor, minhas promessas,
e me fizestes tomar parte em Vossa herança.
–7 Acrescentai ao nosso rei dias aos dias,
e seus anos durem muitas gerações!
–8 Reine sempre na presença do Senhor,
Vossa verdade e Vossa graça o conservem!
–9 Então sempre cantarei o Vosso nome
e cumprirei minhas promessas dia a dia.”
 
O Salmo 60(61) é a oração do exilado; uma oração do justo que espera a vida eterna (Santo Hilário):
 
“No meio de sua angústia, um israelita exilado eleva seu clamor, pensando na sombra protetora de Deus (v.5), que habita no templo de Jerusalém. Pede confiante uma longa vida, com o favor de Deus.” (1)
 
Subam a Deus também nossos clamores cotidianos, confiando na bondade, onipotência e força divinas que vêm em socorro de nossas fraquezas.
 
Como Igreja, peregrinando na esperança de um novo céu e nova terra, coloquemo-nos abertos e sensíveis no caminho da conversão e do renovado compromisso com Jesus, para que sejamos uma Igreja testemunha e, para tanto, que antes se faça discípula.
 
Urge que sejamos uma Igreja verdadeiramente Eucarística, nutrida pela  Palavra de Deus, renovando e empenhando toda sua força e vida, à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres, para assim evangelizar e deixar se evangelizar, na mais perfeita expressão e concretização das virtudes divinas (fé, esperança e  caridade)
 
(1) Comentário da Bíblia Edições CNBB – pág. 776

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG