quinta-feira, 5 de junho de 2025

Oração: Diálogo no aparente silêncio de Deus

                                                           

Oração: Diálogo no aparente silêncio de Deus
 
No que consiste a Oração? 
 
Uma reflexão sobre a vitalidade da Oração em nossa vida.
 
Discípulos missionários do Senhor precisam intensificar momentos mais prolongados e fecundos de oração, pois é preciso orar sem cessar, como nos falou o Apóstolo Paulo (1 Ts 5,17). 
 
Percebamos as maravilhas que Deus realiza em nós através da oração, o quanto Ele nos fala em Seu aparente silêncio e as diversas formas que temos para orar. 
 
Entre a ação humana e a Ação Divina, a Oração se interpõe como diálogo amoroso em que a criatura perscruta os desígnios de Deus e Ele manifesta no mais profundo do coração humano os Seus sonhos e Projetos.
 
A Oração é uma forma que Deus encontrou para manter um diálogo constante, com aqueles a quem formou desde o princípio. Feliz quem na vida descobriu tão belo meio de avançar no caminho da felicidade pessoal, familiar, comunitária, social e em todos os níveis...
 
Pela Oração mantém-se a estreita e íntima relação dialogal de Deus com Sua criatura, e que há de ser contínua e perseverante em todos os momentos: alegria e tristezas, angústias e esperanças, fracassos e vitórias.
 
Oramos louvando, agradecendo, suplicando, disponibilizando-nos em abertura à vontade de Deus para toda humanidade.
 
Diante das comunidades, bispos e padres são por excelência pessoas de oração, e mesmo desafiados pelas inúmeras atividades e solicitações do dia a dia, devem cultivar a oração, pessoal e comunitária, vivenciada no ápice da Celebração Eucarística, que é, ao mesmo tempo, fonte e manancial inesgotável de forças sabedoria, graça e luz; vencendo o perigo do ativismo que resultaria no estresse, esvaziamento e inquietação diante dos resultados.
 
 
A Oração não é uma fuga da realidade, tão pouco delegar a Deus responsabilidades que são próprias de cada criatura. É antes de tudo compromisso.
 
Oração no trabalho como se tudo dependesse de nós e nada de Deus, mas, ao mesmo tempo, esperar tudo de Deus como se nada fosse fruto de nossas atividades, como dizia Maurice Blondeu, grande filósofo cristão e de sólida fé. A Palavra de Deus, por sua vez, é a grande fonte para nossa Oração.
 
No aparente silêncio Deus na verdade nos fala ao íntimo. Alguns Santos e místicos fizeram esta grande descoberta.

Santo Ambrósio, no século IV, assim definiu a Oração:

“A Deus falamos quando rezamos; a Ele ouvimos quando lemos os Divinos Oráculos”.

Os Santos Padres nos ensinavam que procurando pela Leitura Sagrada nos encontraríamos meditando, batendo a porta em Oração nos seria aberta pela contemplação.
 
O grande Bispo Santo Agostinho disse:

“Jesus Cristo ora por nós como nosso Sacerdote; ora em nós como nossa cabeça e recebe a nossa oração como nosso Deus. Reconheçamos n'Ele a nossa voz, e em nós a Sua voz”.
 
No século VIII, São João Damasceno via na Oração uma elevação da alma até Deus, em que fazemos o pedido dos bens convenientes.
 
A jovem Teresinha do Menino Jesus assim falou sobre a Oração:
 
“Ela é para mim um impulso do coração, é um simples olhar lançado ao céu, um grito de reconhecimento e amor no meio da provação ou no meio da alegria”.
 
Há alguns anos, o Papa Bento XVI nos falou da Oração como a força motriz para o amor ao próximo; amor que por sua vez é a fonte de Oração.
 
Diante de um mundo globalizado, marcado por inúmeros e crescentes desafios, urge que Padre e todos (as) da comunidade redescubram a força, a beleza e a vitalidade da Oração, como sopro revitalizador do Espírito de Deus, que incansavelmente nos renova e reorienta nossos passos, conduz a Sua Igreja na participação da construção do Reino.
 
Como Deus nos fala em Seu aparente silêncio! Aprendamos a fazer silêncio para  podermos escutá-Lo e com Ele dialogarmos numa conversa que nunca termina...
 
É sempre Tempo de Oração! 


PS: Oportuno para refletirmos a passagem do Evangelho de João (Jo 17,20-26)

Ele ora por nós, em nós e recebe a nossa oração

                                                

Ele ora por nós, em nós e recebe a nossa oração

“Ele ora por nós como nosso Sacerdote; ora em nós
como nossa cabeça e recebe a nossa Oração como nosso Deus”

Sejamos enriquecidos pelo Comentário sobre os Salmos, do Bispo Santo Agostinho (séc. V).
“Deus não poderia conceder dom maior aos homens do que dar-lhes como Cabeça a Sua Palavra, pela qual criou todas as coisas, e a ela uni-los como membros, para que o Filho de Deus fosse também filho do homem, um só Deus com o Pai, um só homem com os homens. 

Por conseguinte, quando dirigimos a Deus nossas súplicas, não separemos d'Ele o Filho; e, quando o Corpo do Filho orar, não separe de si Sua Cabeça. Deste modo, o único salvador de Seu corpo, nosso Senhor Jesus Cristo, é o mesmo que ora por nós, ora em nós e recebe a nossa Oração.

Ele ora por nós como nosso Sacerdote; ora em nós como nossa cabeça e recebe a nossa Oração como nosso Deus. Reconheçamos n’Ele a nossa voz, e em nós a Sua voz. (...).

Ele ora na Sua condição de servo, e recebe a nossa Oração na Sua condição de Deus; ali é criatura, aqui o Criador; sem sofrer mudança, assumiu a condição mutável da criatura, fazendo de nós, juntamente com Ele, um só homem, cabeça e corpo. Nossa Oração, pois, se dirige a Ele, por Ele e n'Ele; oramos juntamente com Ele e Ele ora juntamente conosco.”

Como é bom sabermos que Jesus ora em todo momento por nós, como nosso Sumo e Eterno Sacerdote, como nosso Divino Intercessor junto do Pai, para que nos seja enviada a força, a luz e a sabedoria do Espírito. Não estamos sós, não ficamos órfãos. 

Não nos sentimos sozinhos em nossas “noites escuras”, no derramar das lágrimas no silêncio de nossa alma, no crepúsculo de uma esperança que cede lugar a uma nova. Pois é próprio do Amor de Deus ressuscitar em nosso coração a esperança, quando movidos pela fé autêntica que se visibiliza na prática da caridade bíblica, cantada pelo Apóstolo Paulo na Carta aos Coríntios.

Não estamos desligados um dos outros. Somos Igreja, somos comunidade, somos membros uns dos outros. A alegria de um seja alegria do outro, da mesma forma, a vitória, os fracassos e os pecados chorados e reconciliados, para que todo o corpo vida nova tenha. Promover o bem da Igreja é missão de todos nós, assim como toda atividade evangelizadora.

Como é bom sabermos que Jesus ora em nós como nossa cabeça, para que não sejamos pedra de tropeço, mas pedras vivas, amadas e escolhidas no Novo Templo do Seu Corpo Místico.

Da mesma forma, como é bom sabermos que Jesus acolhe nossa Oração porque é Deus, porque Se fez homem e conhece as nossas debilidades, fragilidades, limitações, mas também o nosso desejo profundo de santidade, sinceridade; desejo corajoso de ser como grão de trigo que morre para não ficar só, mas frutos abundantes produzir. 

Não oramos aos ventos, mas a um Deus que, como homem em nosso meio, ao Pai súplicas e preces dirigiu com fortes gritos e lágrimas (Hb 5,7). A Oração do justo, do inocente, atravessa os céus e chega até Deus.

A Oração dos que padecem tribulações inocentemente não fica sem a resposta divina. Ele, Jesus, é Deus, e por Ele tudo foi criado e reconciliado. Deste modo jamais poderia se tornar indiferente e surdo ao clamor de quem a Ele recorrer, suplicar e as mãos elevar, se de coração puro e sincero.

Não ficaria indiferente à Oração Aquele que por nós Amor sem limites viveu e a glória da eternidade alcançou, vida plena e feliz nos possibilitou, porque não só apontou o caminho da eternidade, mas Se fez Caminho.

Não somente ensinou a Verdade, mas morreu por ela. Não só amou a Vida, mas entregou a Sua própria, em doação total, incondicional, em fidelidade abismal para que todos vida plena tenhamos, para que a vida fosse mais bela; fosse como deveria ser.

“Paraíso saudade” de nada adianta. Sejamos discípulos d'Aquele que ora por nós, em nós e recebe a nossa Oração; que nos faz comprometidos com o Paraíso que um dia haverá de acontecer. E, que as Virtudes Teologais  Fé, Esperança e Caridade  nos movam.

PS: Liturgia das Horas – Vol. II – pp.329-330.
Oportuno para a passagem do Evangelho de João (Jo 17,20-26)

Em poucas palavras...

                                                      

                 

“Não sejamos cães mudos” 

“Não sejamos cães mudos, não sejamos sentinelas caladas, não sejamos mercenários que fogem dos lobos, mas pastores solícitos, vigilantes sobre o rebanho de Cristo. 

Enquanto Deus nos der forças, preguemos toda a doutrina do Senhor ao grande e ao pequeno, ao rico e ao pobre, e a todas as classes e idades, oportuna e inoportunamente, tal como São Gregório escreveu em sua Regra Pastoral.” (1)

 

(1) São Bonifácio, Bispo e Mártir – Nascido em 673 e martirizado em 754


quarta-feira, 4 de junho de 2025

A Oração Sacerdotal de Jesus

                                                         

A Oração Sacerdotal de Jesus
                             
Ouvimos na terça e quarta-feira da sétima semana do Tempo da Páscoa, as passagens do Evangelho de São João (Jo 17,1-11 e Jo 17,11b-19), respectivamente.
 
Trata-se da Oração Sacerdotal de Jesus, antes de Sua partida para junto do Pai, Ele inicia rezando por Si mesmo, pois sabe que a hora da Paixão está chegando, e deve estar preparado para sofrer.
 
Ele sabe que cumpriu a missão que lhe foi confiada pelo Pai, que o nome de Deus foi manifestado aos homens, que Sua mensagem foi acolhida e muitos O reconheceram como o enviado do Pai.
 
Jesus sabe também que é preciso rezar por todos os que creram em Suas Palavras, ou seja, por todos nós.
 
Sejamos impulsionados na Missão, pois Jesus continua orando permanentemente por nós junto do Pai, para que perseveremos na fé, não obstante as dificuldades, sendo Sua presença no mundo, suportando as provações que houver, sem jamais perder a esperança de que um dia o mundo será apenas um rebanho, e haverá um só Pastor.
 
Em plena Semana da Unidade dos Cristãos, multipliquemos orações e gestos concretos para que a Unidade verdadeiramente aconteça.  


Que a nossa Oração seja como a de Jesus: rezar pedindo com toda a confiança em Deus, pois sabemos que, antes mesmo de pedirmos, Deus, em Sua infinita bondade, já nos antecipou, pois conhece as nossas necessidades, fragilidades no trilhar do caminho da fé rumo à eternidade.


Concluímos com as palavras de Santo Agostinho:


“Ele ora por nós como nosso Sacerdote; ora em nós como nossa cabeça e recebe a nossa Oração como nosso Deus. Reconheçamos n’Ele a nossa voz, e em nós a Sua voz. (...) 


Ele ora na Sua condição de servo, e recebe a nossa Oração na Sua condição de Deus; ali é criatura, aqui o Criador; sem sofrer mudança, assumiu a condição mutável da criatura, fazendo de nós, juntamente com Ele, um só homem, cabeça e corpo. Nossa Oração, pois, se dirige a Ele, por Ele e n'Ele; oramos juntamente com Ele e Ele ora juntamente conosco.”  (1)
 
(1) Santo Agostinho, Bispo e Doutor da Igreja – séc. V 


A verdadeira paz

                                                        

A verdadeira paz

Não quero a paz como a mera ausência de guerra;
Nem tão apenas equilíbrio das forças adversárias;
Tampouco que tenha origem em um domínio tirânico.

Quero a paz que nasça da justiça (Is 32,17),
Como saboroso fruto da ordem.

Quero a paz inserida na sociedade humana por Seu divino fundador e a ser realizada de modo sempre mais perfeito pelos homens e mulheres que têm fome e sede de justiça.

Quero a paz que tenha como fundamento o bem comum do gênero humano,
Embora as contingências concretas possam estar em constantes mudanças ao longo dos tempos.

Quero a paz em permanente conquista, que deve ser continuamente construída, porque sendo a vontade humana volúvel e marcada pelo pecado, 
a busca da paz exige de cada um o constante domínio das paixões e a atenta vigilância da autoridade legítima.

Quero a paz em que seja salvaguardado o bem das pessoas, e que todos comuniquemos, com confiança e espontaneidade, as riquezas do coração e da inteligência.

Quero a paz em que se respeite a dignidade dos outros, dos povos, dos diferentes, numa ativa fraternidade.

Quero a paz como mavioso fruto do amor, que vai além do que a justiça é capaz de proporcionar, pois a paz terrena, oriunda do amor ao próximo, é figura e resultado da paz de Cristo, provinda de Deus Pai.

Quero a paz promovida por todos que, num mesmo espírito, renunciam à ação violenta para reivindicar os direitos inalienáveis, recorrendo aos meios de sua defesa, de modo especial dos que sejam mais fracos e vulneráveis, sem lesar os direitos e deveres de outros ou da própria comunidade.

Quero a Paz do Senhor, o Príncipe da Paz, Jesus Cristo, 
Que Ele nos trouxe ao Se encarnar, e na Cruz morrendo, a reconciliação da humanidade com Deus alcançando, recompondo a unidade de todos em um só povo e um só corpo.

Quero a Paz que nasceu naquela Madrugada da Ressurreição, a Paz que Ele comunicou desde então aos Seus, acompanhada do Sopro do Espírito, para a missão no mundo continuar; a caridade, mais que anunciar, viver, testemunhar.

Quero a Paz que brota quando, em Sua Carne, o ódio foi definitivamente destruído, e rompidos os muros da inimizade (cf. Ef 2,16; Cl 1,20.22);

A verdadeira Paz que, como cristãos, somos insistentemente chamados a promover, vivendo a verdade na caridade (cf. Ef 4,15), unindo-nos às pessoas verdadeiramente pacíficas. Amém.


PS: Livre adaptação da Constituição Pastoral Gaudium et spes sobre a Igreja no mundo de hoje, do Concílio Vaticano II-(N. 78) - (Séc. XX)

terça-feira, 3 de junho de 2025

Em poucas palavras...

 


Branda e suave é a aproximação do Espírito 

“Branda e suave é a Sua aproximação; benigna e agradá­vel é a Sua presença; levíssimo é o Seu jugo! A Sua chegada é precedida por esplêndidos raios de luz e ciência. 

Ele vem com o amor entranhado de um irmão mais velho: 

vem para salvar, curar, ensinar, aconselhar, fortalecer, consolar, ilu­minar a alma de quem O recebe, e, depois, por meio desse, a alma dos outros”.   (1)

  

(1) São Cirilo de Jerusalém (séc. IV)

 

“Pai, glorifica o Teu filho”

                                                           

“Pai, glorifica o Teu filho”

Reflexão à luz da passagem do Evangelho de João (Jo 17,1-11a), em que Jesus eleva ao Pai a oração conhecida como a Oração Sacerdotal, porque nela Ele Se apresenta em atitude de Sacerdote, intercedendo pelos Seus discípulos, no momento em que está para deixá-los sós no mundo para continuarem a Sua missão.

No entanto, nos capítulos anteriores, Ele assegura que Sua partida é necessária, para que do Pai seja enviado o Espírito Paráclito, o Espírito da Verdade, o Defensor.

Esta oração, portanto, é como que uma conclusão do sermão de adeus, cheia de confidência, doçura e amor.

Oremos:
Senhor, está chegando a Tua hora:

- a hora de Tua crudelíssima morte na Cruz;
- a hora em que deves subir deste mundo ao Pai;
- a hora de Tua glorificação;
- a hora de Tua glória mais alta;
- a hora de Teu enaltecimento;
- a hora de subires para junto de Teu Pai;
- a hora da Tua entrada na glória celeste.

Chegou a Tua hora, e nós, nesta hora, Te pedimos:

- conduza-nos e assista-nos com Tua súplica incessante;
- fortaleça-nos e ilumina-nos com Teu Espírito a nós enviado;
- firma nossos passos nos sagrados compromissos com o Reino;
- dá novo ânimo e ardor à Tua Igreja que somos;
- caminha conosco para sermos no mundo o sal de ternura e amor;
- ajuda-nos a acendermos luzes para caminhos novos de uma nova humanidade. Amém.

Fonte inspiradora: Missal Cotidiano – Editora Paulus – p.476

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG