quarta-feira, 5 de março de 2025

Jesus, o Sol Nascente que veio nos visitar

                                                  

Jesus, o Sol Nascente que veio nos visitar

No Tempo da Quaresma, somos enriquecidos com uma das Homilias sobre o Levítico, escrita pelo Presbítero Orígenes (séc III), na qual nos apresenta Jesus Cristo, o Sumo-Sacerdote, e nossa propiciação.

Retomo o último parágrafo para nossa meditação:

“Também a aspersão para o lado do oriente tem o seu significado. Do oriente nos vem a propiciação. É de lá que vem aquele homem cujo nome é Oriente e que foi constituído mediador entre Deus e os homens.

Por esse motivo és convidado a olhar sempre para o oriente, de onde nasce para ti o Sol da justiça, de onde a luz se levanta sobre ti, para que nunca andes nas trevas, nem te surpreenda nas trevas o último dia; a fim de que a noite e a escuridão da ignorância não caiam sorrateiramente sobre ti, mas vivas sempre na luz da sabedoria, no pleno dia da fé e no fulgor da caridade e da paz”.

Oremos:

Jesus, o Sol Nascente que veio nos visitar,
Conduzi-nos pelo caminho da verdade e da justiça,
Da misericórdia, da ternura, do amor e da bondade.

Jesus, o Sol Nascente que veio nos visitar,
Iluminai nossos caminhos para que não tropecemos
Nem nos curvemos diante dos obstáculos que possam surgir.

Jesus, o Sol Nascente que veio nos visitar,
Fortalecei-nos na vigilância necessária,
Para não sermos surpreendidos nas trevas do último dia.

Jesus, o Sol Nascente que veio nos visitar,
Não permitais que caia sobre nós a escuridão da ignorância
Para não nos fecharmos à Sabedoria do Vosso Espírito.

Jesus, o Sol Nascente que veio nos visitar,
Conduzi-nos pela luz da Vossa sabedoria,
Para testemunharmos nossa fé sem jamais vacilar.

Jesus, o Sol Nascente que veio nos visitar,
Vivendo este Tempo de Conversão e reconciliação,
Renovai em nós o fulgor da caridade e da paz. Amém.

Campanha da Fraternidade Ecumênica (CF 2005)

 


Oração da Campanha da Fraternidade Ecumênica (2005)

 

Ó Senhor, Deus da vida,

Que cuidas de toda a criação, dá-nos paz!

 

Que a nossa segurança não venha das armas, mas do respeito.

Que a nossa força não seja a violência, mas o amor.

Que a nossa riqueza não seja o dinheiro, mas a partilha.

Que o nosso caminho não seja a ambição, mas a justiça.

Que a nossa vitória não seja a vingança, mas o perdão.

 

Desarmados e confiantes, queremos defender

a dignidade de toda a criação, partilhando,

hoje e sempre, o pão da solidariedade e da paz.

Por Jesus Cristo, Teu Filho divino, nosso irmão,

que feito vítima da nossa violência, ainda do alto da Cruz,

deu a todos o Teu perdão.

Amém!

 

terça-feira, 4 de março de 2025

Christus vivit – Introdução

                                                            

Christus vivit – Introdução

Uma síntese sobre a Exortação Apostólica Pós-Sinodal “Christus Vivit” do Santo Padre Papa Francisco aos jovens e a todo o Povo de Deus, inspirada no Documento Final do Sínodo.

Na Introdução, o Papa nos apresenta Jesus Cristo, que está vivo e é a nossa esperança, e a mais bela esperança da juventude deste mundo.

Não somente está vivo, mas quer que o jovem também esteja vivo:

“Quando te sentires envelhecido pela tristeza, os rancores, os medos, as dúvidas ou os fracassos, Jesus estará a teu lado para te devolver a força e a esperança” (n.1).

Capítulo I: QUE DIZ A PALAVRA DE DEUS SOBRE OS JOVENS?

Capítulo I
 QUE DIZ A PALAVRA DE DEUS SOBRE OS JOVENS?

No primeiro capítulo, o Papa nos apresenta algumas passagens da Sagrada Escritura, em que se fala de jovens chamados por Deus:

- José – (Gn 37-47
- Gedeão – Jz 6,13-14
- Samuel - 1 Sm 9,2
- David – 1 Sm 16,6-13
- Salomão – 1Rs 3,7
- Jeremias – Jr 1,6-7
- Rute – 2 Rs 5,2-6

No Evangelho, o Papa nos lembra da parábola do “filho pródigo” – Lc 15,11-33, que retrata o retorno do filho ao amor do Pai.

Sobre a verdadeira juventude, o Papa afirma: “...é ter um coração capaz de amar. Pelo contrário, aquilo que envelhece a alma é tudo o que nos separa dos outros” (n.13).

Um jovem não pode ficar desanimado e perder a esperança:

“Um jovem não pode estar desanimado; é próprio dele sonhar coisas grandes, buscar horizontes amplos, ousar mais, ter vontade de conquistar o mundo, ser capaz de aceitar propostas desafiadoras e desejar contribuir com o melhor de si mesmo para construir algo superior. Por isso, insisto com os jovens para não deixar que lhes roubem a esperança, repetindo a cada um: ‘Ninguém escarneça da tua juventude’ (1 Tm 4, 12)”. (n.15).

Um jovem sábio sabe se relacionar com o idoso; sabe valorizar algo da experiência dos outros (n.16).

“Mas aquele homem rico, que fora fiel a Deus na sua juventude, deixou que os anos lhe roubassem os sonhos, preferindo ficar agarrado aos seus bens” (n. 17).

A confissão de Santo Agostinho após ter-se encontrado com Deus:

“Tarde Vos amei, ó beleza tão antiga e tão nova! Tarde Vos amei” (n.17).

A passagem do Evangelho de Mateus (cf. Mt 19, 20.22,) que nos apresenta um jovem e as exigências para o seguimento de Jesus: apegado à riqueza retirou-se entristecido.

O jovem não pode perder o vigor interior, os sonhos, o entusiasmo, a esperança e a generosidade: “Jovem, Eu te ordeno: Levanta-te!” (Lc 7, 14) – passagem sobre a ressurreição do jovem, filho único daquela viúva. (n.20).


Capítulo II: JESUS CRISTO SEMPRE JOVEM


Capítulo II
JESUS CRISTO SEMPRE JOVEM

Neste capítulo, o Papa nos fala do período original e estimulante da juventude de Jesus Cristo, à luz dos Evangelhos.

“...Jesus foi um jovem. Deu a Sua vida numa fase que hoje se define como a dum jovem adulto. Em plena juventude, começou a Sua missão pública e, assim, brilhou ‘uma grande luz’ (Mt 4, 16), sobretudo quando levou até ao extremo o dom da Sua vida”.   (n.23)

Cada jovem também tem uma missão; “...quando se sente chamado a cumprir uma missão nesta terra, é convidado a reconhecer dentro de si as mesmas palavras que Deus Pai dissera a Jesus: ‘Tu és o meu Filho muito amado”. (n.25)

O crescimento de Jesus não foi apenas fisicamente, mas também espiritual, para realizar o projeto do Pai. Sua adolescência e juventude orientaram-No para esta missão suprema. (n.26.27).

Jesus se relacionava com toda a normalidade, e ninguém O considerava um jovem estranho ou separado dos outros, sendo reconhecido como o filho do carpinteiro, e mesmo o carpinteiro (Mt 13,55; Mc 6,3). (n.28)

“Por isso mesmo, quando Jesus começou a pregar, as pessoas não sabiam explicar donde Lhe vinha aquela sabedoria: ‘Não é este o filho de José?’ (Lc 4, 22”). (n.28)

Jesus se movia livremente entre as pessoas e caminhava com elas, como vemos na passagem da perda e encontro, quando discutia com os doutores no templo (Lc 2). (n.29)

A Sua juventude nos ilumina os projetos de trabalhos com as juventudes

“Precisamos, sim, de projetos que os fortaleçam, acompanhem e lancem para o encontro com os outros, o serviço generoso, a missão”. (n.30).


Em Jesus, todos os jovens podem se rever, por isto Ele ilumina a juventude de hoje como jovem que foi:

- Jesus teve uma confiança incondicional no Pai;
- cuidou da amizade com os Seus discípulos e, até nos momentos de crise, permaneceu fiel a eles;
- manifestou uma profunda compaixão pelos mais fracos, especialmente os pobres, os doentes, os pecadores e os excluídos;
- teve a coragem de enfrentar as autoridades religiosas e políticas do Seu tempo;
- viveu a experiência de Se sentir incompreendido e descartado;
- experimentou o medo do sofrimento e conheceu a fragilidade da Paixão;
- dirigiu o Seu olhar para o futuro, colocando-Se nas mãos seguras do Pai e confiando na força do Espírito.  (n.31).

Jesus é a verdadeira juventude dum mundo envelhecido, e é também a juventude dum universo que espera, por entre “dores de parto” (Rm 8, 22), ser revestido com a Sua luz e com a Sua vida. (n.32)

A missão que Jesus confia à juventude e a todos nós, “acender estrelas na noite doutros jovens”:

“... convida-nos a olhar os verdadeiros astros, ou seja, aqueles sinais tão variados que Ele nos dá para não ficarmos parados, mas imitarmos o semeador que observava as estrelas para poder lavrar o campo. Deus acende estrelas para nós, a fim de podermos continuar a caminhar: ‘Às estrelas que brilham alegremente nos seus postos, Ele chama-as e elas respondem’ (Br 3, 34-35). Mas o próprio Cristo é, para nós, a grande luz de esperança e guia na nossa noite, pois Ele é ‘a brilhante estrela da manhã’ (Ap 22, 16)”. (n.33)

Ser jovem, mais do que uma idade, é um estado do coração. Assim, a Igreja, uma instituição antiga como é, pode se renovar e voltar a ser jovem em cada uma das várias fases da sua longa história, voltando ao essencial do primeiro amor. Nela, é sempre possível encontrar Cristo, o companheiro e o amigo dos jovens. (n.34)

Uma Igreja que se deixa renovar sem ceder ao que o mundo oferece, mas é jovem quando recebe a força sempre nova da Palavra de Deus, da Eucaristia, da presença de Cristo e da força do seu Espírito em cada dia, voltando continuamente à sua fonte, com a coragem de ser diferente:

- mostrando outros sonhos que este mundo não oferece;
- testemunhando a beleza da generosidade, do serviço, da pureza, da fortaleza, do perdão, da fidelidade à própria vocação, da oração, da luta pela justiça e o bem comum, do amor aos pobres, da amizade social. (nn.35.36)

Como Igreja de Cristo:

- não pode cair na tentação da perda do entusiasmo, e os jovens podem ajudar a Igreja a permanecer jovem;
- não cair na corrupção;
- não parar;
- não se orgulhar;
- não se transformar numa seita;
- ser mais pobre e testemunhal, e mais perto dos últimos e descartados;
- lutar pela justiça;
- deixar-se interpelar com humildade. (n.37)

“Precisamos de criar mais espaços onde ressoe a voz dos jovens: A escuta torna possível um intercâmbio de dons, num contexto de empatia. (…) Ao mesmo tempo, estabelece as condições para um anúncio do Evangelho que alcance verdadeiramente, de modo incisivo e fecundo, o coração” (n. 38)

Uma Igreja atenta aos sinais dos tempos e não debruçada sobre si mesmo, procurando refletir Jesus Cristo, reconhecendo humildemente que precisa mudar algumas coisas concretas, assim como precisa de recolher também a visão e mesmo a crítica dos jovens. (n.39).

Para um número consistente de jovens, pelos motivos mais variados, nada pede à Igreja, porque não a consideram significativa para a sua existência. Aliás, alguns pedem-lhe expressamente para ser deixados em paz, uma vez que sentem a sua presença como importuna e até mesmo irritante. (n.40)

Os motivos desta atitude:

- os escândalos sexuais e econômicos;
- a falta de preparação dos ministros ordenados, que não sabem reconhecer de maneira adequada a sensibilidade dos jovens;
- pouco cuidado na preparação da homilia e na apresentação da Palavra de Deus;
- o papel passivo atribuído aos jovens no seio da comunidade cristã;
- a dificuldade da Igreja dar razão das suas posições doutrinais e éticas perante a sociedade atual. (n.40)

Há jovens que reclamam atitudes diferentes da Igreja:

- alguns querem uma Igreja que se manifesta humildemente segura dos seus dons e também capaz de exercer uma crítica leal e fraterna;
- outros querem uma Igreja que escute mais, que não passe o tempo a condenar o mundo. Não querem ver uma Igreja calada e tímida, mas, menos ainda, desejam que esteja sempre em guerra por dois ou três assuntos que a obcecam.

“Para ser credível aos olhos dos jovens, precisa às vezes de recuperar a humildade e simplesmente ouvir, reconhecer, no que os outros dizem, alguma luz que a pode ajudar a descobrir melhor o Evangelho. Uma Igreja na defensiva, que perde a humildade, que deixa de escutar, que não permite ser questionada, perde a juventude e transforma-se num museu” (n.41)

Traz como exemplo a questão dos direitos das mulheres e a superação de discriminações: “...o Sínodo quis renovar o empenho da Igreja ‘contra toda a discriminação e violência com base no sexo’”. (n.42)


O Papa dedica alguns parágrafos para nos apresentar Maria, a jovem de Nazaré (n.43-48), modelo para uma Igreja jovem, que deseja seguir Cristo com frescor e docilidade.

Sempre impressiona a força do “sim” de Maria, jovem. A força daquele “faça-se em Mim”, que disse ao anjo. Foi uma coisa distinta duma aceitação passiva ou resignada.

Maria não comprou um seguro de vida! Maria embarcou no jogo e, por isso, é forte, é uma “influenciadora”, é a “influenciadora” de Deus! O “sim” e o desejo de servir foram mais fortes do que as dúvidas e dificuldades.

Maria não cedeu a evasões nem miragens, e soube acompanhar o sofrimento do seu Filho; apoiá-Lo com o olhar e protegê-Lo com o coração.

“Que dor sofreu! Mas não a abateu. Foi a mulher forte do “sim”, que apoia e acompanha, protege e abraça. É a grande guardiã da esperança (...). Dela, aprendemos a dizer “sim” à paciência obstinada e à criatividade daqueles que não desanimam e recomeçam” (n.45)

Maria não ficava quieta, punha-se continuamente a caminho: quando soube que sua prima precisava d’Ela, não pensou nos próprios projetos, mas ‘dirigiu-Se à pressa para a montanha’” (Lc 1, 39). (n.46)

Quando foi necessário proteger o seu menino, partiu com José para um país distante (cf. Mt 2, 13-14).

Também permaneceu no meio dos discípulos reunidos em oração à espera do Espírito Santo (cf. At 1, 14).

Com a presença de Maria, nasceu uma Igreja jovem, com os seus Apóstolos em saída para fazer nascer um mundo novo (cf. At 2, 4-11).

“Aquela jovenzinha é, hoje, a Mãe que vela pelos filhos: por nós, seus filhos, que muitas vezes caminhamos na vida cansados, carentes, mas desejosos que a luz da esperança não se apague. Isto é o que queremos: que a luz da esperança não se apague. A nossa Mãe vê este povo peregrino, povo jovem amado por Ela, que A procura fazendo silêncio no próprio coração, ainda que haja muito barulho, conversas e distrações ao longo do caminho. Mas, diante dos olhos da Mãe, só há lugar para o silêncio cheio de esperança. E, assim, Maria ilumina de novo a nossa juventude”. (n.48)

Apresenta-nos exemplos de Jovens Santos (nºs.51-63), que deram a sua vida por Cristo, muitos deles até ao martírio.

Constituem magníficos reflexos de Cristo jovem, que resplandecem para nos estimular e tirar fora da sonolência.

“O bálsamo da santidade gerada pela vida boa de muitos jovens pode curar as feridas da Igreja e do mundo, levando-nos àquela plenitude do amor para a qual, desde sempre, estamos chamados: os jovens santos impelem-nos a voltar ao nosso primeiro amor (cf. Ap 2, 4)’’. n.50). E nos apresenta alguns exemplos de jovens santos.

São exemplos para estimular na Igreja outros jovens alegres, corajosos e devotados que ofereçam ao mundo novos testemunhos de santidade. (n.63)

- São Sebastião – no século III;
- São Francisco de Assis, - Morreu em 1226;
- Santa Joana d'Arc nasceu em 1412.
- O Beato André Phû Yên, um jovem vietnamita do século XVII;
- Santa Catarina Tekakwitha, jovem leiga nascida na América do Norte;
- São Domingos Sávio oferecia a Maria todos os seus sofrimentos;
- Santa Teresa do Menino Jesus nasceu em 1873.
- Beato Zeferino Namuncurá era um jovem argentino;
- Beato Isidoro Bakanja - um leigo do Congo;
- Beato Pier Jorge Frassati, que morreu em 1925;
- Beato Marcelo Callo era um jovem francês, que morreu em 1945.
- Beata Clara Badano, que morreu em 1990.


Capítulo III: VÓS SOIS O AGORA DE DEUS

Capítulo III
VÓS SOIS O AGORA DE DEUS

Os jovens são o futuro e o presente do mundo, por isto devemos nos perguntar (n.64):

- Como são os jovens hoje e o que sucede agora com eles?

Como Igreja, é preciso abandonar esquemas rígidos, abrindo-se à escuta pronta e atenta dos jovens, de modo que esta empatia a enriquece, porque permite que os jovens deem a sua colaboração à comunidade, ajudando-a a abrir-se para novas sensibilidades, e perguntas inéditas. (n.65)

O comportamento de apenas apontar os defeitos da juventude atual, uma lista de desastre, é preciso encontrar caminho que favoreça maior proximidade e ajuda mútua. (n. 66)

“... o coração de cada jovem deve ser considerado ‘terra santa’, diante da qual nos devemos ‘descalçar’ para poder aproximar-nos e penetrar no Mistério”. (n.67)

O Sínodo fala de juventude no plural: “muitas juventudes”, pois “Existe uma pluralidade de mundos juvenis, a ponto de se tender, nalguns países, a usar o termo ‘juventude’ no plural. Além disso, a faixa etária considerada pelo presente Sínodo (16-29 anos) não representa um todo homogêneo, mas compõe-se de grupos que vivem situações peculiares”. (n.68)

Diferentes realidades dos jovens: países com mais jovens, outro com menos; alguns países são objeto de perseguição; em alguns em alguns países maior inclusão e noutros são excluídos e descartados. (n.69.70)

O Papa aponta algumas coisas que sucedem aos jovens com suas vidas concretas, e muitos sujeitos ao sofrimento e manipulação. (n.71), vivendo num mundo em crise (n.72):

- Muitos em contextos de guerra e padecem a violência numa variedade incontável de formas: raptos, extorsões, criminalidade organizada, tráfico de seres humanos, escravidão e exploração sexual, estupros de guerra, etc.

- Outros, por causa da sua fé, têm dificuldade em encontrar um lugar nas suas sociedades e sofrem vários tipos de perseguição, que vai até à morte.

- Numerosos que, por constrangimento ou falta de alternativas, vivem perpetrando crimes e violências: crianças-soldado, gangues armados e criminosos, tráfico de droga, terrorismo, etc.

“Esta violência destroça muitas vidas jovens. Abusos e dependências, bem como violência e extravio contam-se entre as razões que levam os jovens à prisão, com incidência particular nalguns grupos étnicos e sociais” (n.72)

Muitos jovens são mentalizados, instrumentalizados e utilizados como carne de canhão ou como força de choque para destruir, intimidar ou ridicularizar outros. (n.73)

Numerosos no mundo são os jovens que padecem formas de marginalização e exclusão social, por razões religiosas, étnicas ou económicas. Lembramos a difícil situação de adolescentes e jovens que ficam grávidas e a praga do aborto, bem como a propagação do SIDA/HIV, as várias formas de dependência (drogas, jogos de azar, pornografia, etc.) e a situação dos meninos e adolescentes de rua, que carecem de casa, família e recursos econômicos. (n.74)

Quando se trata de mulheres, estas situações de marginalização tornam-se duplamente dolorosas e difíceis. (n.74)

Como Igreja que é Mãe, não podemos nos habituar com isto, mas “chorar”, chorar para que a própria sociedade seja mais mãe, a fim de que, em vez de matar, aprenda a dar à luz, a ser promessa de vida.

“Choramos ao recordar os jovens que morreram por causa da miséria e da violência e pedimos à sociedade que aprenda a ser uma mãe solidária. Esta dor não passa, acompanha-nos, porque não se pode esconder a realidade. A pior coisa que podemos fazer é aplicar a receita do espírito mundano, que consiste em anestesiar os jovens com outras notícias, com outras distrações, com banalidades”. (n.75)

É preciso limpar nossos olhos pelas lágrimas; aprender a chorar:

“A misericórdia e a compaixão também se manifestam chorando. Se o pranto não te vem, pede ao Senhor que te conceda derramar lágrimas pelo sofrimento dos outros. Quando souberes chorar, então serás capaz de fazer algo, do fundo do coração, pelos outros”. (n.76)

Há contextos de colonização ideológica que prejudicam de forma especial os jovens; favorecendo a cultura do descarte, onde os próprios jovens acabam transformados em material descartável. (n.78)

Manipulação consumista – corpo juvenil como modelo. (n.79)

Conflitos geracionais: tradições familiares, valores, transmissão da fé... (n. 80)

Jovens vivem num mundo em que se destaca excessivamente a sexualidade, tornando difícil manter uma boa relação com o próprio corpo e viver serenamente as relações afetivas. (n.81)

Em tempos de progressos da ciência e das tecnologias biomédicas que incidem fortemente na percepção do corpo, induzindo a pensar que se pode modificar sem limites, não se pode perder de vida que a vida é um dom, que somos seres criados e limitados, podendo facilmente ser instrumentalizados por quem detém o poder tecnológico. (n.82)


A Igreja como instrumento neste percurso rumo à cura interior e à paz do coração de tantos jovens, marcados por tantas feridas ao longo de suas histórias. (n.83)

O que encontramos nos jovens:

- em alguns, reconhecemos um desejo de Deus, embora não possua todos os delineamentos do Deus revelado;
- em outros, o sonho de fraternidade;
- em muitos, existe um desejo real de desenvolver as capacidades de que são dotados para oferecerem algo ao mundo;
- em alguns, vemos uma sensibilidade artística especial, ou uma busca de harmonia com a natureza;
- em outros, uma grande necessidade de comunicação;
- em muitos deles, desejo profundo duma vida diferente.

O Sínodo tratou de maneira especial três temas de grande importância:

a) O ambiente digital (nn 86-90);
b) Os migrantes como paradigma do nosso tempo (nn 91-94);
c) Acabar com todas as formas de abuso (nn 95-102).

Há uma via de saída, pois há sinais de esperança e os jovens podem colaborar neste sentido.

É o caso do jovem Venerável Carlos Acutis, que deu grande testemunho no mundo das comunicações. Conhecidos dos mecanismos da comunicação, da publicidade e das redes sociais que podem ser utilizados para nos tornar sujeitos adormecidos, dependentes do consumo e das novidades que podemos comprar, obcecados pelo tempo livre e fechados na negatividade. (n.105).

Dizia Carlos – “Todos nascem como originais, mas muitos morrem como fotocópias». E o Papa exorta aos jovens e à nós: “Não deixes que isto te aconteça!” (n.106)

“Não deixes que te roubem a esperança e a alegria, que te narcotizem para te usar como escravo dos seus interesses” (n.107)

Ser jovem, nos diz o Papa, não significa apenas procurar prazeres transitórios e sucessos superficiais.

Para a juventude desempenhar a finalidade que lhe cabe no curso da vida, deve ser um tempo de doação generosa, de oferta sincera, de sacrifícios que custam, mas tornam-nos fecundos.

Cita o grande poeta Francisco Luís Bernárdes, e seu Sonetto: “Cielo de tierra – Buenos Aires, 1937). (n.108)

«Se, para recuperar o que recuperei,
tive de perder primeiro o que perdi,

se, para obter o que obtive,
tive de suportar o que suportei,

se, para estar agora enamorado,
tive que ser ferido,

considero justo ter sofrido o que sofri,
considero justo ter chorado o que chorei.

Porque no fim constatei
que não se goza bem do gozado
senão depois de o ter padecido.

Porque no fim compreendi 
que quanto a árvore tem de florido
vive do que ela tem de enterrado”.

Jesus está sempre pronto a ajudar, para que valha a pena ser jovem, de modo que todo o jovem dará uma contribuição indispensável porque cada jovem é único e irrepetível. (n. 109)

No entanto, é preciso caminhar juntos, pois, se estivermos demasiado sozinhos, facilmente perderemos o sentido da realidade, a clareza interior e sucumbimos.

Jovens unidos têm uma força admirável:

“Quando vos entusiasmais por uma vida comunitária, sois capazes de grandes sacrifícios pelos outros e pela comunidade; ao passo que o isolamento vos enfraquece e expõe aos piores males do nosso tempo”. (n.110)

Capítulo IV: O GRANDE ANÚNCIO PARA TODOS OS JOVENS

Capítulo IV
O GRANDE ANÚNCIO PARA TODOS OS JOVENS

O Papa nos apresenta o querigma, as coisas primeiras que nunca devem ser silenciadas, e que podemos retomar como objetivo de reflexão, em diversos momentos de formação, retiro etc.

São três grandes verdades que precisamos escutar sempre de novo:

1º - Deus é Amor (nn.112-117);
2º - Cristo te Salva – Ele vive!  (nn.118-129)
3º - O Espírito dá vida (nn.130-133).

Destaco os últimos parágrafos:

“Nestas três verdades (Deus ama-te, Cristo é o teu salvador, Ele vive), aparece Deus Pai e aparece Jesus. Mas, onde estão o Pai e Jesus Cristo, também está o Espírito Santo. É Ele que prepara e abre os corações para receberem este anúncio, é Ele que mantém viva esta experiência de salvação, é Ele que te ajudará a crescer nesta alegria se O deixares agir. O Espírito Santo enche o coração de Cristo ressuscitado e de lá, como duma fonte, derrama-Se na tua vida. E quando O recebes, o Espírito Santo faz-te entrar cada vez mais no coração de Cristo, para que te enchas sempre mais com o seu amor, a sua luz e a sua força” (n.130)

“Todos os dias invoca o Espírito Santo, para que renove em ti constantemente a experiência do grande anúncio. Porque não? Tu não perdes nada e Ele pode mudar a tua vida, pode iluminá-la e dar-lhe um rumo melhor. Não te mutila, não te tira nada, antes ajuda-te a encontrar da melhor maneira aquilo que precisas. Precisas de amor? Não o encontrarás na devassidão, usando os outros, possuindo ou dominando os outros; n’Ele, o encontrarás duma forma que te fará verdadeiramente feliz. Buscas intensidade? Não a viverás acumulando objetos, gastando dinheiro, correndo desesperadamente atrás das coisas deste mundo; chegará duma maneira muito mais bela e satisfatória, se te deixares guiar pelo Espírito Santo”. (n.131)

“Buscas paixão? Deixa-te enamorar por Ele, porque – como se lê no estupendo poema Enamora-te! (Pedro Arrupe) 
– ‘nada pode ser mais importante do que encontrar Deus, ou seja, enamorar-se d’Ele de maneira definitiva e absoluta. Aquilo de que te enamoras, prende a tua imaginação e acaba por ir deixando a sua marca em tudo. Será isso a decidir o que te arranca da cama pela manhã, o que fazes no final da tarde, como transcorres os teus fins de semana, aquilo que lês, o que conheces, aquilo que te destroça o coração e o que te faz transbordar de alegria e gratidão. Enamora-te! Permanece no amor! Tudo será diferente’.

Este amor de Deus, que se apodera apaixonadamente de toda a vida, é possível pelo Espírito Santo, porque «o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado» (Rm 5, 5)”.(n.132)

“Ele é a fonte da juventude melhor. Com efeito, quem confia no Senhor ‘é como a árvore plantada perto da água, a qual estende as raízes para a corrente; não teme quando vem o calor, e a sua folhagem fica sempre verdejante’ (Jr 17, 8). Enquanto ‘os adolescentes se cansam e se fatigam’ (Is 40, 30), aqueles que esperam, confiados no Senhor, ‘renovam as suas forças. Têm asas como a águia, correm sem se cansar, marcham sem desfalecer’ (Is 40, 31)”.  (n.133)


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