domingo, 2 de março de 2025

Em poucas palavras... (VIIIDTCC)

 


O que é a hipocrisia?

“O que é a hipocrisia? É uma tentativa para ludibriar a Deus; é a falsidade do coração, a ilusão do contentar a Deus com as aparências, quase se iludindo de que Ele possa se enganar e tomar por coisa boa o que não é...

O hipócrita é, no fundo, um falsário, alguém que tenta pagar a Deus com moeda falsa, alguém que o honra com os lábios enquanto seu coração está longe de Deus (cf. Mt 15,8).”

 

 

(1) Comentário sobre a passagem do Evangelho de Lucas (Lc 6,39-45) - O Verbo se faz carne – Raniero Cantalamessa – Editora Ave Maria -2012 – pág. 642

Sedentos do Amor Divino, purifiquemos nossa alma (VIIIDTCC)

                                                      

Sedentos do Amor Divino, purifiquemos nossa alma

“Já falamos algumas vezes do vazio que deve ser cheio.
Vais ficar repleto de bem, esvazia-te do mal.”

Esta reflexão dos escritos do Bispo Santo Agostinho (séc. V), leva-nos ao necessário reconhecimento de nossas limitações, imperfeições, fazendo renascer um desejo imensurável do encontro com o Amor Deus.

O que nos foi prometido? Seremos semelhantes a Ele porque nós o veremos como é. A língua o disse como pôde. O coração imagine o restante. O que pôde dizer, até mesmo João, em comparação d’Aquele que é? O que poderíamos nós dizer, homens tão longe do valor do próprio João?

Recorramos por isso, para Sua Unção, para aquela Unção que ensina no íntimo o que não conseguimos falar. Já que não podeis ver agora, prenda-vos o desejo. A vida inteira do bom cristão é desejo santo. Aquilo que desejas, ainda não o vês. Mas, desejando, adquires a capacidade de ser saciado ao chegar à visão.

Se queres, por exemplo, encher um recipiente e sabes ser muito o que tens a derramar, alargas o bojo seja da bolsa, do odre, ou de outra coisa qualquer. Sabes a quantidade que ali porás e vês ser apertado o bojo. Se o alargares ele ficará com maior capacidade.

Deste mesmo modo, Deus, com o adiar, amplia o desejo. Por desejar, alarga-se o espírito. Alargando-se, torna-se capaz.

Desejemos, pois, irmãos, porque havemos de ser saciados. Vede Paulo como alarga o coração, para poder conter o que vem depois: Não que já tenha recebido ou já seja perfeito; irmãos, não julgo ter conseguido o prêmio.

Que fazes então nesta vida, se ainda não conseguiste? Uma coisa só, esquecido do que ficou para trás, lanço-me para a frente, para a meta, corro para a palma da vocação suprema. Diz lançar-se e correr para a meta. Sentia-se incapaz de captar o que os olhos não viram, os ouvidos não ouviram, nem subiu ao coração do homem.

É esta a nossa vida: exercitamo-nos pelo desejo. O santo desejo nos exercita, na medida em que cortamos nosso desejo do amor do mundo. Já falamos algumas vezes do vazio que deve ser cheio. Vais ficar repleto de bem, esvazia-te do mal.

Imagina que Deus te quer encher de mel. Se estás cheio de vinagre, onde pôr o mel?  É preciso jogar fora o conteúdo do jarro e limpá-lo, ainda que com esforço, esfregando-o, para servir a outro fim.
Digamos mel, digamos ouro, digamos vinho, digamos tudo quanto dissermos e quanto quisermos dizer, há uma realidade indizível: chama-se Deus.

Dizendo Deus, o que dissemos? Esta única sílaba é toda a nossa expectativa. Tudo o que conseguimos dizer, fica sempre aquém da realidade. Seremos semelhantes a Ele; porque O veremos como é.”

Refletindo o “Tratado sobre a Primeira Carta de São João”,  nossa alma é iluminada e nossos passos redirecionados e fortalecidos, para que continuemos perseverantes trilhando o caminho da santidade que Deus nos oferece, conduzidos pela luz Divina acesa em nosso caminhar marcado por luzes e sombras, erros e acertos, perdas e ganhos, pecado e graça.

Saciemos nossa sede de água cristalina que Deus tem sempre a nos oferecer, para fazermos a travessia do deserto que todos temos que passar.

No entanto, é preciso que façamos a purificação de nosso coração de tudo quanto seja desnecessário, e até mesmo incompatível com aqueles que professam a fé no Senhor, voltando-nos mais intensamente para Deus e à Sua Palavra, com o firme propósito de viver as Bem-Aventuranças do Senhor na planície, dia a dia, carregando com fé, esperança e amor a cruz que, com renúncias e coragem, temos que carregar no seguimento do Senhor, até que possamos alcançar a glória da eternidade. 

Dai-me, Senhor, a perfeita coerência (VIIIDTCC)


Dai-me, Senhor, a perfeita coerência

A coerência cristã é visibilizada pela ação;
Ação que reflete o que se fala;
Fala-se o que se pensa;
Pensa-se o que se reza...

A sintonia e a coerência são perceptíveis quando:
Passa-se da oração à vida;
Quando a vida é precedida pela palavra;
A palavra pelo pensamento;
O pensamento pela oração.

Urge nos interrogarmos:
Fazemos o que rezamos e rezamos o que fazemos?

Oremos:

Dai-me, Senhor, a perfeita coerência,
Vós que sois a Perfeitíssima Coerência!
Amém!

PS: Apropriado para reflexão da passagem do Evangelho de Lucas (Lc 6,39-45).

Livrai-nos, Senhor, da cegueira e da hipocrisia (VIIIDTCC)

                                                              

Livrai-nos, Senhor, da cegueira e da hipocrisia

Com a Liturgia do 8º Domingo do Tempo Comum, continuamos o aprofundamento do Sermão da Planície, que Jesus nos apresentou na passagem do Evangelho.

Na primeira Leitura, ouvimos a passagem do Livro do Eclesiástico (Eclo 27,4-7), que nos adverte que não julguemos as pessoas pela primeira impressão.

O autor convida a maior fidelidade à Lei de Deus, para que vivamos a autêntica Sabedoria.

É preciso rever sempre os critérios de nossas escolhas, para que não nos deixemos enganar pelas falsas impressões.

O autor nos ensina que a palavra revela, claramente, o íntimo do coração do homem.

Sendo possível ao homem fingir, enganar, disfarçar e encenar determinados tipos de comportamento, é preciso considerar que a Palavra o revela e põe a nu os seus sentimentos mais profundos.

Na passagem da segunda leitura (1 Cor 15,54-59), o Apóstolo Paulo conclui sua Catequese sobre a Ressurreição de Jesus.

Nela acreditando, o discípulo missionário deverá testemunhar, com verdade, sinceridade e coerência, a Sua proposta, que consiste no único caminho necessário para a vida plena que Deus reserva.

Deste modo, aqueles que professam a fé no Ressuscitado devem permanecer firmes e inabaláveis, cada vez mais diligentes na obra do Senhor (1 Cor 15,58), não cruzando os braços numa passividade que aliena, mas empenhando-se, verdadeiramente, numa efetiva transformação que traga vida nova para todos e para todo o mundo:

“A Igreja ensina que a importância das tarefas terrenas não é diminuída pela esperança escatológica, mas que esta antes reforça com novos motivos a sua execução” (Gaudium et spes, n.21).

Portanto, acreditar na Ressurreição, é compromisso de empenho na construção de um mundo mais humano e fraterno, eliminando as forças do egoísmo, do pecado e da morte que impeçam a viver a vida em plenitude.

Na passagem do Evangelho (Lc 6, 39-45), Jesus adverte Seus discípulos sobre o perigo de um cego guiar outro cego, com risco de ambos caírem num buraco e o perigo de enxergar com nitidez os defeitos do próximo sem dar conta dos próprios:

“Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e então poderás enxergar bem para tirar o cisco do olho do teu irmão” (Lc 6, 42).

Somos exortados a crescer sempre mais na prática da Misericórdia, procurando suas múltiplas faces, expressões e concretizações.

Esta prática, além de levar ao amor e oração pelos inimigos, também exige coerência de vida, evitando uma vida pautada por “dois pesos e duas medidas”, procurando a cura do mínimo sinal de miopia espiritual, para que enxergando bem, sem traves nos olhos, para que se possa ajudar mutuamente, sem desviar do caminho da prática da misericórdia, não mergulhando nos buracos que uma cegueira nos levaria (cegueira como ausência da Misericórdia).

Se por um lado a Misericórdia se expressa na coerência de vida, há algo que a ofusca: hipocrisia, ambiguidade, julgamento rigoroso de nossos irmãos e impaciência de vê-los trilhar o caminho do crescimento, aperfeiçoamento...

Somente a Misericórdia vislumbrada na prática da caridade resgata, recria e possibilita o novo, muitas vezes materializada no gesto da acolhida e do perdão reintegrador. Somente a Misericórdia na prática da caridade constrói, edifica, promove...

A ausência da Misericórdia destrói a paciência, a caridade, e, consequentemente, o outro.

Jesus nos adverte para um mal que rouba a luminosidade de nossa fé, porque rouba a coerência, a transparência, e leva à perda da força do testemunho da Palavra que o Senhor nos comunica, levando-nos à hipocrisia.

Urge suplicar ao Senhor para que nos liberte do fermento da hipocrisia, e que Ele nos dê o ázimo da sinceridade e da verdade, e tão somente assim nos tornaremos mais transparentes nas intenções e na pureza do coração, condição indispensável para que um dia a Deus vejamos, pois somente os puros de coração verão a Deus (Mt 5,8).

Esta hipocrisia consiste em toda tentativa inútil de ludibriar a Deus, porque a Deus ninguém engana. Podemos enganar os outros e a nós mesmos, o que seria o ápice da hipocrisia.

Manifesta-se quando há falsidade do coração, quando professamos com os lábios verdades que não cremos; sentimentos que procuramos expressar, mas não brotam com naturalidade, pureza e autenticidade, porque não vêm das entranhas do coração.

Também quando supomos agradar a Deus com as aparências, com longas Orações, sacrifícios com segundas intenções, beirando à simulação, como que se Deus não conhecesse o mais profundo de nós, como tão bem expressou o Salmista (Sl 138), e acreditamos que Ele veria bondade, onde tão apenas existe uma superficialidade de relacionamento, sem verdadeira entrega a Ele de todo nosso ser, de toda a nossa vida.

Hipocrisia que pode ser entendida como sinônimo de astúcia, esperteza, duplicidade, mas nos faz tão apenas falsários, com a estéril tentativa de pagar a Deus com moeda falsa, reduzindo nossa honra ao Senhor com os lábios, mas o coração longe d’Ele se encontrando (Mt 5,  8).

Deste modo, as palavras e obras de fé, esperança e caridade devem nos acompanhar cada dia para que sejamos libertos de toda hipocrisia e de qualquer outro sentimento que não seja conforme os  pensamentos, palavras e sentimentos de Jesus, e assim possamos gerar e formar Cristo em nós e nos outros.

Jesus também disse que a boca fala daquilo que o coração está cheio, e também podemos concluir que nossos olhos revelarão aquilo que se encontra em nosso íntimo, em nosso coração.

Se nele houver rancor, ódio, tristeza, indiferença, preconceitos, egoísmo, materialismo, hedonismo cultuado (busca do prazer sem medida), ídolos cultivados, o nosso olhar será a mais perfeita e triste expressão de tudo isto.

É tempo de olharmos para dentro de nós mesmos, para que possamos dizer como São Paulo:

“Pregar o Evangelho não é, para mim, motivo de glória. É antes uma necessidade para mim, uma imposição. Ai de mim se eu não pregar o Evangelho” (1Cor 9,16).

E pregando, vivamos, pois diz ele mesmo:

“Trato duramente o meu corpo e o subjugo, para não acontecer que, depois de ter proclamado a boa nova aos outros, eu mesmo seja reprovado” (1Cor 9, 27).

Quando a Misericórdia, o Amor de Deus em ação, na ação dos que creem, for vivida, com ousadia, vigor, ardor inextinguível, e paixão por Cristo, à luz da espiritualidade paulina, resplandecerão os sinais do Reino: amor, verdade, justiça e paz, reencantamento da vida.

Somente guiados pela Luz Divina, seremos para o irmão e irmã, com humildade, guias luminosos!

Oremos:

Oh múltipla face da Misericórdia Divina,
semente plantada que, abundantemente, germina!

Oh múltipla face da Misericórdia Divina,
Que toda cegueira elimina!

Oh múltipla face da Misericórdia Divina,
Que toda hipocrisia abomina!

Oh múltipla face da Misericórdia Divina,
Que nossos olhos ilumina!

Oh múltipla face da Misericórdia Divina,
Que a humanidade incansavelmente ensina!
Amém! 

“Quem me dera ver” (VIIIDTCC)

 


“Quem me dera ver”

Para aprofundamento da passagem do Evangelho de Lucas (Lc 6,39-45), reflitamos a poesia de Benjamin González Buelta – SJ – Salmos para sentir e saborear as coisas internamente:

“Quem me dera ver

Quem me dera ver
quanto tem de mendigo,
o ouro no pulso,
a maquiagem no espelho,
a assinatura no cheque,
o título emoldurado na parede.

Quem me dera ver
quanto tem de infinito,
uma mão esgotada,
um rosto atrás das grades,
um sorriso sem retribuição,
o aroma partilhado do café.

Quem me dera olhar
com olho simples
as pessoas
e as coisas como são!

Quem me dera ver.”

Confiantes, supliquemos ao Senhor (VIIIDTCC)

                                                                           


Confiantes, supliquemos ao Senhor

Senhor, Vós nos interrogastes:
“Pode um cego guiar outro cego?
Não cairão os dois num buraco?”  (Lc 6,39).

Senhor, nós vos pedimos confiantes, a luminosidade de olhar, para enxergarmos novos caminhos, como peregrinos da esperança. 

Vós que sois a luz do mundo, dai-nos o colírio da fé, para que tenhamos olhar de esperança e a concretizemos em gestos multiplicados de amor para com os amigos, bem como os inimigos, misericórdia para com os pecadores e caridade para com os pobres.

Senhor, a Vós que nos interrogastes dizendo: “Por que vês o cisco que está no olho do teu irmão, e não percebes a trave que há no teu próprio olho? (Lc 6,41), nós Vos suplicamos: 

Dai-nos reconhecer com humildade nossos pecados e fragilidades, para que tenhamos compreensão e misericórdia para com nosso próximo, sem que isto seja conivência com o pecado, mas, antes, é preciso reconhecer os próprios e confessá-los diante de Vós.

Dissestes com sabedoria e propriedade, porque conheceis nosso coração: “Não existe árvore boa que dê frutos ruins, nem árvore ruim que dê frutos bons. O homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu coração. Mas o homem mau tira coisas más do seu mau tesouro, pois sua boca fala do que o coração está cheio”. (Lc 6,43.45).

Rogamos, Senhor, a graça da fecundidade, a fim de que nosso coração seja manso e humilde como o Vosso, para que mais e melhor correspondamos ao amor do Vosso Pai, com a iluminação e a fecundação dos dons do Espírito, que nos são copiosamente concedidos para a graça do discipulado e testemunho cristão: sabedoria, inteligência, conselho, fortaleza, ciência, temor e piedade. Amém.

PS: Inspirado na passagem do Evangelho de Lucas (Lc 6,39-45), proclamado no 8º Domingo do Tempo Comum (Ano C) e Lucas (Lc 6,39-42) na sexta-feira da 23ª Semana do Tempo Comum.

Discípulos missionários da misericórdia divina (VIIIDTCC)

                                                                


Discípulos missionários da misericórdia divina

Reflexão à luz da passagem do Evangelho de Lucas (Lc 6,39-45), em que Jesus nos convida à coerência, prudência e compreensão dos outros.

Assim lemos no Lecionário Comentado:

“Ele (Jesus) diz que guia bem os outros, e é bom mestre, aquele que por sua vez é ajuizado, prudente e não cego! Nas relações fraternas é preciso estarmos atentos aos juízos, para não condenarmos hipocritamente o próximo pelos pequenos defeitos, esquecendo os grandes defeitos que podem existir em nós.

O homem bom é-o no coração e demonstra no exterior frutos de bondade, tal como o homem mau deixa transparecer o mal que existe nele. É importante para Jesus harmonizar o bem interior com o exterior, contra a falsidade de quem pensa diversamente de como fala ou de como se manifesta.” (1)

Como discípulos missionários do Senhor, misericordiosos como o Pai haveremos de ser como Ele mesmo nos falou (cf. Lc 6,36).

A vivência da misericórdia divina pode ser expressa de diversos modos, e dentre eles, na coerência, prudência e compreensão do próximo, que não significa conivência com o pecado, antes, atitude de amor e desejo do melhor no coração do pecador, pois pecadores todos o somos, e necessitados do perdão divino, como rezamos na Oração que o Senhor nos ensinou: – “...Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido” (cf. Mt 6,9-15; Lc 11,1-4).

Oremos:

“Pai Santo, a Palavra que ressoa hoje na Vossa Igreja, como fonte de sabedoria e norma de vida, nos ajude a compreender e a amar os nossos irmãos, para que não nos tornemos juízes presunçosos e maldosos, mas antes agentes incansáveis da bondade e da paz.” (2)

  

1. Lecionário Comentado – Volume Quaresma/Páscoa – Editora Paulus – Lisboa – 2011 – p.367

2.  Idem p.368

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