sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Em poucas palavras...

                                                    


“Por que o Senhor narrou esta parábola?”

“Por que o Senhor narrou esta parábola? – pergunta Santo Agostinho – Não porque aquele servo fosse um exemplo a ser imitado, mas porque foi previdente em relação ao futuro, a fim de que se envergonhe o cristão que não tenha essa determinação” (1)

 

(1) Santo Agostinho – (séc. V) – Sermão 39  sobre a passagem do Evangelho de Lucas (Lc 16,1-13)

Amor a Deus acima de todas as coisas

                                                    

Amor a Deus acima de todas as coisas

Reflexão à luz da passagem do Evangelho de Lucas (Lc 16,1-13), sobre o tema fundamental a riqueza: como utilizar os bens que passam para alcançarmos os bens que não passam.

Com habilidade, os discípulos podem gerar uma nova sociedade, pondo os bens a serviço de todos, numa clara postura profética contra a ambição e a acumulação.

São Basílio Magno já nos acenava que toda concentração ou desperdício gera situações de miséria e indigência:

“Não és acaso um ladrão, tu que te apossas das riquezas cuja gestão recebeste? ... Ao faminto pertence o pão que conservas; ao homem nu o manto que manténs guardado; ao descalço, os sapatos que estão estragando em tua casa; ao necessitado, o dinheiro  que escondeste. Cometes assim tantas injustiças quantos são aqueles a quem poderias dar.”

A prática da Oração, feita por um coração puro e sintonizado com os desígnios divinos, abre os horizontes da fraternidade, amizade, comunhão e solidariedade, gerando a vida e a paz.

O discípulo deve ser livre de todos os bens porque possui um Bem Maior: Jesus Cristo e a eternidade.

Concluímos refletindo os três primeiros Mandamentos da Lei Divina, que jamais podem ser esquecidos, se a felicidade, já no tempo presente, quisermos alcançar, e plenamente na eternidade viver:

1. Amar a Deus sobre todas as coisas.
2. Não tomar o Seu santo nome em vão.
3. Guardar domingos e festas de guarda.

Evidentemente que isto nos levará também a continuar a reflexão sobre os sete Mandamentos que completa o Decálogo, um Projeto de Amor e vida, felicidade, alegria, partilha e paz, para todos os que a Deus temem e amam de todo o coração, alma e entendimento, e ao próximo como a si mesmo.

4. Honrar pai e mãe.
5. Não matar.
6. Não pecar contra a castidade.
7. Não furtar.
8. Não levantar falso testemunho.
9. Não desejar a mulher do próximo.
10. Não cobiçar as coisas alheias.

Amar a Deus sobre todas as coisas é saber se relacionar com Ele e com todos, fazendo uso das coisas, 
sem se deixar escravizar por elas. 
Os Mandamentos Divinos garantem nossa adoração a Deus, 
pois adoramos a Deus, amando o próximo. Amém.

Sejamos bons administradores das coisas divinas

                                         

Sejamos bons administradores das coisas divinas

A Liturgia da Sexta-feira da 31ª Semana do Tempo Comum nos apresenta a passagem do Evangelho de São Lucas (Lc 16, 1-8), e nos convida a refletir sobre a correta utilização dos bens que passam, a fim de que abracemos os que não passam.

Os bens são necessários, mas não são deuses, por isto o coração do discípulo deve ser indiviso e seduzido pelo Bem Maior – Deus! 

Com habilidade os discípulos podem gerar uma nova sociedade pondo os bens a serviço de todos, numa clara postura profética contra a ambição e a acumulação

Evidentemente que não se trata de uma apologia à corrupção, de modo que considerando o contexto da Parábola de Jesus, trata-se da capacidade de renúncia de algo em favor de um bem maior. 

O administrador abriu mão do lucro assegurando seu futuro na espera da gratidão de seus devedores. O que o fez injusto não foi isto, mas o que anteriormente fez e que o levou a ser despedido.

Jesus nos ensina que os discípulos devem usar os bens deste mundo, não como um fim em si mesmo, mas para conseguir algo mais importante e mais duradouro, como sinais do Reino.

As riquezas jamais devem se tornar obstáculo à Salvação e a honestidade é virtude que deve perpassar em todas as nossas relações.

Muito antes, o Profeta Amós (Am 8,4-7) bradou profeticamente contra a exploração dos pobres na defesa da justiça de Deus, que se concretiza na construção de relações justas e fraternas. Denunciou com coragem e ousadia as práticas para o aumento do lucro à custa dos empobrecidos.

Embora nosso contexto de exploração, enriquecimento e empobrecimento seja muito diferente do citado no tempo de Amós, constatamos que esta relação, lamentavelmente, persiste com novas expressões, às vezes mais sutis, mas não menos insanas (preços exorbitantes de medicamentos indispensáveis, a publicidade que gera falsas necessidades, produtos adulterados e impróprios para o consumo, produtos que deveriam ser evitados, pois absolutamente antiecológicos etc.).

Também com o Apóstolo Paulo escrevendo a Timóteo (Tm 2,1-8) aprendemos que a Oração feita por um coração límpido, os horizontes da fraternidade, amizade, comunhão e solidariedade geram vida e a paz.

São Basílio Magno (séc. IV) já nos acenava que toda concentração ou desperdício gera situações de miséria e indigência. São duras e inesquecíveis suas palavras, mas muito mais do que isto são extremamente questionadoras para todos nós:

“Não és acaso um ladrão, tu que te apossas das riquezas cuja gestão recebeste? ... Ao faminto pertence o pão que conservas; ao homem nu o manto que manténs guardado; ao descalço, os sapatos que estão estragando em tua casa; ao necessitado, o dinheiro  que escondeste. Cometes assim tantas injustiças quantos
são aqueles a quem poderias dar.”

Reflitamos:

- Como lido com os bens que tenho?
- Possuo os bens ou são eles que me possuem e me escravizam?

- Os bens que tenho me impedem de partilhar com alegria e desprendimento? 
- Alguns têm pouco e são escravos deste pouco, outros têm muito e nunca estão felizes, outros ainda se alegram e são felizes com o que possuem. E eu, com qual deles me identifico?

- Como sermos hábeis e não desonestos na busca do essencial, visto que não podemos servir a dois senhores?

Novamente é preciso dizer que o discípulo deve ser livre de todos os bens, porque tem um Bem Maior: Deus.

Na “Primavera Divina” seremos julgados pela administração dos bens que o Senhor nos confiou. Ele espera colher muitas flores e frutos do amor e da justiça, da verdade e da paz!


PS: Oportuno para refletirmos a passagem da Carta de Paulo a Timóteo (1Tm 1,2,1-8).

Confiança, serenidade e paciência

 


Confiança, serenidade e paciência

Assim, rezamos nas Vésperas da Liturgia das Horas:

“A Deus, que tudo pode realizar superabundantemente, e muito mais do que nós pedimos ou concebemos, e cujo poder atua em nós, a Ele a glória, na Igreja e em Jesus Cristo, por todas as gerações, para sempre. Amém.” (Ef 3,20-21)

Pode acontecer que Deus não nos atenda de imediato, mas sempre nos dará algo por antecipação, manifestando Sua presença e bondade.

Importa que a nossa oração seja confiante e persistente, colocando-nos nas mãos de Deus, confiando em Sua divina providência.

Quem somos para questionar o tempo e a resposta de Deus aos nossos clamores e situações, ainda que difíceis, por que possamos passar?

Acompanhem nossas orações, portanto, a necessária confiança, a serenidade e a paciência, fazendo o que nos for próprio, sem transferências de responsabilidades a Deus, que tanto nos ama.

Quem nos amou tanto assim, dando-nos o Seu Filho único a morrer na cruz para que a vida eterna tenhamos (cf. Jo 3,16)?

Seu amor se manifesta na presença e ação do Santo Espírito, que nos anima, conduz e renova nossa esperança, pois o amor de Deus foi derramado em nossos corações por meio do Espírito Santo (cf. Rm 5,5).

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Em poucas palavras...

 


Vigilância e comunhão com o Senhor

Em Jesus, «o Reino de Deus está perto». Ele apela à conversão e à fé, mas também à vigilância. Na oração (Mc 1, 15), o discípulo vela, atento Àquele que é e que vem, na memória da sua primeira vinda na humildade da carne e na esperança da sua segunda vinda na glória (Cf. Mc 13; Lc 21, 34-36).

Em comunhão com o Mestre, a oração dos discípulos é um combate; é vigiando na oração que não se cai na tentação (Cf. Lc 22, 40.46.).

 

(1) Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n. 2612

A Parábola da dracma perdida

                                                             

A Parábola da dracma perdida

"Alegrai-vos comigo;
encontrei de novo a dracma que eu tinha perdido” (Lc 15, 9)

Retomemos a Parábola da dracma perdida (Lc 15, 8-10), tão breve, mas densa em conteúdo e mensagem. O Evangelista Lucas acentua, entre outras questões, o papel feminino na História da Salvação.

Nesta Parábola a mulher ocupa a centralidade. Condição muito significativa, num contexto em que a mulher era pouco valorizada.

Na referida passagem, a mulher possuía dez dracmas. “Dez”, o número da totalidade, quem possui dez dracmas é completo, está salvo.

A perda da moeda representa a perda de sua completude, de sua unidade consigo mesma e com Deus. Com esta perda, a perda do seu centro, de modo que as outras nove dracmas também não lhe adiantariam nada, perderam sua unidade, já não estão juntas entre si. 

O Bispo São Gregório de Nissa (séc IV) tem uma bela interpretação desta Parábola que muito nos enriquece. Ele interpreta essa dracma como sendo o Cristo, e o acender a lâmpada significa a necessária  in­teligência: a mulher precisa da luz da inteligência para esclarecer a es­curidão do inconsciente, procurando aí a completude perdida. 

Para Lucas trata-se da luz da fé, pois somente pela fé a inteligência fica realmente iluminada. É a luz de Deus, da qual precisamos para procurar a dracma na nossa casa inter­na, no mais profundo de nós mesmos. 

Varrendo a casa toda e removendo a sujeira que se depo­sitou no chão da sua casa, segundo São Gregório, a sujeira representa a negligência em que vivemos. 

Quando nos ocupamos, negligentemente, com muitas atividades, a nossa casa fica suja, não somos mais senhores da nossa casa,  uma camada de poeira deposita-se no chão da nossa alma. 

Faz-se necessário varrer corajosamente, com precisão e dedicação a  nossa alma para redescobrir o seu lustro original. 

A mulher olha com atenção, procura com cuidado, ela está preocupada: quer mesmo encontrar sua dracma. O ser humano não está apenas em busca de Deus, mas também de si mesmo, de sua verdadeira essência. 

Perde-se. Essa a desgraça do ser humano: alienar-se de si mesmo, perder-se a si mesmo.
A mulher encontrando a sua dracma, encontra a si mesma. Agora ela convoca as suas amigas e as suas vizinhas: “Alegrai-vos comigo; encontrei de novo a dracma que eu tinha perdido” (Lc 15, 9). 

Quem se encontra a si mesmo encontra também um novo relacionamento com o próximo. A mulher convida apenas mulheres, e junto com elas que ela quer celebrar a festa da sua própria maturação. 

Ela achou a dracma perdida. Ela encontrou-se com Deus como o fundamento da sua humanidade. Segundo C. G. Jung, não podemos nos encontrar a nós mesmos sem descobrir a imagem de Deus na nossa alma. 

O “eu mesmo” não é o resultado da história da nossa vida; é o que Deus, no início, imaginou que deveríamos ser. 

Na dracma reencontrada, Lucas vê a conversão do pecador. O pecador tinha perdido a si mesmo. Ele não é mais ele mesmo. Converter-se significa começar a pensar de outra forma, ver por trás das coisas. 

A conversão é o caminho no qual descobrimos a nós mesmos, de verdade. Devemos abandonar o que é superficial e partir em busca da dracma no fundo da nossa alma.

Então – diz Jesus – “os Anjos de Deus hão de alegrar-se de nós.” Jesus veio para nos lembrar do núcleo divino. Convocou-nos para a conversão, a fim de que encontremos Deus em nós, e em Deus encontremos, de verdade, nós mesmos. 

Jesus é aquele que nos chama para o caminho da autorrealização. A meta desse cami­nho é a alegria de sermos humanos. Mas só seremos plenamente humanos quando tivermos encontrado a Deus, quando tivermos redescoberto em nós o núcleo divino. 

O pecado consiste em nos desencontrarmos conosco, perdendo-nos, vivendo fora de nós mesmos, entregando a nossa vida, em vez de vivê-la pessoalmente. 

Jesus, segundo Lucas, é Aquele que convida o ser humano a ser verdadeiramente humano, a encontrar o seu próprio centro e, nele, Deus, como o verdadeiro fundamento da sua existência.

Uma Parábola sempre tem vários planos, deixa ao leitor a liberdade de projetar nela as suas próprias experiências, os seus próprios anseios. 

A mulher com as suas dracmas pode ser uma imagem da alma humana que perdeu o seu centro, e agora vive em busca do seu verdadeiro “eu”. Mas pode ser também uma imagem de Deus que procura o homem perdido, e para isso revira a casa inteira.

Se interpretarmos assim a Parábola, então Deus é descrito na figura de uma mulher.

No Antigo Testamento não há texto nenhum em que Deus seja comparado a uma mulher que revira a casa. O exegeta suíço Hermann-Josef Venetz comenta: 

“Quem faz coisa semelhante mostra-se altamente competente e livre, e também muito próximo de Deus e do mundo” (Venetz, p. 124). 

Tauler interpreta essa Parábola no sentido de que Deus, logo quando estamos bem instalados na casa da nossa vida, começa a agir como uma mulher que remexe tudo para procurar a dracma. 

Ele acredita que é exatamente no centro da vida que estamos “bem instalados”. E de tanto agir externamente perdemos a dracma. Então Deus nos joga numa crise, em “apuros”, a fim de achar dentro de nós a dracma, o nosso verdadeiro “eu mesmo”.

Essa Parábola, no entanto, pode ser aplicada também a Jesus. Jesus, então, entende Seu próprio modo de agir como um agir feminino e maternal. 

Deus, de fato, mandou Seu Filho para que acendesse neste mundo a luz da fé, e para que varresse tudo, procurando incansavelmente o ser humano. 

Os fariseus não compreendiam porque Jesus andava exata­mente atrás dos publicanos e dos pecadores, aqueles que em sua opinião estavam “perdidos”. 

Na prática de acolhida e misericórdia, Jesus acende a luz na casa das pessoas, para que cada um se reconheça a si mesmo, para que o olhar de cada um pene­tre nas profundezas de sua própria alma. Ele varre o interior da alma, expulsando dela, por Sua Palavra, todos os demônios, todos os padrões de vida que impedem o ser humano de viver.  

A mensagem da Parábola da dracma perdida nos conecta com tudo aquilo que perdemos, e nos lembra de que nunca é tarde demais para procurar aquilo que foi perdido. Nunca é tarde para se reencontrar consigo mesmo, com Deus e com o próximo.

Em vez de lamentar a perda, devemos ir à procura, como a mulher na Parábola, e tão somente assim, reencontraremos o que perdemos, de modo que então poderemos fazer uma festa de alegria.

É tempo de fazermos nossa faxina, nossa procura; de irmos ao encontro de Deus, e uma vez O encontrando dentro de nós, reencontrarmos a nos mesmos e o banquete da alegria celebrarmos,  do Banquete da Eucaristia participarmos, e o Seu Amor, que nos refaz e nos renova, ao mundo testemunharmos.



PS: Fonte inspiradora – “Jesus, modelo do ser humanoo Evangelho de Lucas” (Anselmo Grün)

O amor e o perdão divinos

                                                           

O amor e o perdão divinos

“Por isso, eu vos digo, haverá alegria entre
os Anjos de Deus por um só pecador que se converte”.

Um pouco mais sobre o Amor de Deus contemplo, envolvo-me:
Um amor solícito, um amor invencível.

Deus está sempre procurando obstinadamente cada um de nós,
Quão abrangente e indescritível é a Sua alegria quando nos encontra.

Sempre pronto para acolher, perdoar, reconciliar, renovar a criatura,
Obra de Sua mão, como a fina expressão de Seu sonho e Projeto.

Alegra-se com nosso retorno, com nossa fragilidade assumida,
Sem máscaras, desculpas, culpabilizações, disfarces, mentiras.

É próprio do Amor de Deus ser incondicionalmente acolhedor,
Para que sejamos melhores, aperfeiçoados, lapidados...

Expressa para conosco uma relação de amor e gratuidade,
Que não há nada e ninguém que se possa comparar.

Que a alegria transborde em nosso coração, estampada
Na expressão de nosso simples olhar, no menor gesto que façamos,

Alegria de sermos por Deus amados e perdoados, sem méritos,
Para o mesmo fazermos em relação ao próximo, sem créditos.

O misericordioso, compassivo e amigo dos homens,
Senhor nosso Deus que tirais o pecado do mundo,

Aceitai a penitência dos Vossos servos e das Vossas servas,
E fazei resplandecer sobre eles a luz da vida eterna.

Perdoai-lhes, Senhor, todos os seus pecados,
Porque Vós sois bom e amigo dos homens.

Senhor nosso Deus, compassivo, lento para a ira,
Rico de misericórdia e justo, perdoai-me os meus pecados” . (1)



(1) “Da Liturgia Etíope” – cf. Leccionário Comentado – p. 725-726
Evangelho de Lucas  (Lc 15,1-10)

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