segunda-feira, 1 de abril de 2024

A Ressurreição de Jesus: O Mistério central da fé (parte I)


A Ressurreição de Jesus: O Mistério central da fé

Após a Consagração do Pão e do Vinho na Missa, quando o Padre diz –“Eis o Mistério da fé”, a Assembleia aclama com uma destas fórmulas:

- “Anunciamos, Senhor, a Vossa morte e proclamamos a Vossa Ressurreição. Vinde Senhor Jesus!”;

- “Todas as vezes que comemos deste Pão e bebemos deste Cálice, anunciamos, Senhor, a Vossa Morte, enquanto esperamos a Vossa vinda!”;

-  “Salvador do mundo, Salvai-nos, Vós que nos libertastes pela Cruz e Ressurreição”.

- Mas o que é a Ressurreição de Jesus para a fé cristã?
- Qual o conteúdo do que proclamamos piedosamente, em cada Celebração Eucarística?

Apresento algumas passagens do “Verbete Ressurreição”, que muito nos ajudará a aprofundar sobre esta verdade fundante de nossa fé, pois, se Cristo não Ressuscitou, vazia e ilusória é a nossa fé e pregação, como disse o Apóstolo Paulo (1 Cor 15, 1-34), e ainda: “Com efeito, nós cremos que Jesus morreu e Ressuscitou” (1 Ts 4,14).

Para o Apóstolo, a Ressurreição é a pedra angular do Mistério de Cristo, o critério absoluto da verdade do Evangelho que anunciou; é de fato, o Mistério central do anúncio cristão: desde o início é o fundamento da fé e o conteúdo essencial da pregação.

Em várias passagens, ele nos fala da aparição do Ressuscitado: Atos 16,9; 18, 9; 22. 17s): Cefas (Pedro – chefe dos Apóstolos), os Doze, mais de quinhentos irmãos; Tiago, chamado “O Menor” todos os Apóstolos e a ele próprio no caminho de Damasco.

A fé na Ressurreição é “o fio dourado da esperança que reuniu na fé os vinte séculos de cristianismo...

A Ressurreição foi a batalha decisiva de uma guerra já vencida, mas que ainda não terminou. Mesmo se na história as hostilidades ainda continuam e nem todos reconheceram a importância definitiva dessa batalha, ela já significa a vitória” (1)

De fato, a Ressurreição consiste no “coroamento da história e a confirmação de que a salvação do homem não é uma utopia, mas uma realidade.

Como vitória decisiva sobre o mal e sobre todos os limites humanos e como premissa e primícias da nossa Ressurreição, ela dá um impulso decisivo ao compromisso do cristianismo no mundo e à sua esperança no futuro” (2)

A Ressurreição de Jesus é o Mistério central de nossa fé. Desde os primeiros dias da Morte de Jesus, foi a Verdade que fez os discípulos recobrarem as forças, porque sentiram a Sua presença vitoriosa.

Também nós a sentimos, de modo especialíssimo, em cada Ceia Eucarística que celebramos, quando muito mais do que repetir, proclamamos e cremos:

“Anunciamos Senhor a Vossa Morte e proclamamos a Vossa Ressurreição. Vinde Senhor Jesus!”

(1) (2) Dicionário de Homilética – Verbete Ressurreição – p. 1489. 

A Ressurreição de Jesus: O Mistério central da fé (Parte II)

A Ressurreição de Jesus: O Mistério central da fé

Ressurreição, evento inesperado e fonte de compreensão do Mistério de Jesus.

Os quatro Evangelhos nos apresentam o acontecimento da Ressurreição, num contexto em que os discípulos se encontravam profundamente desanimados, desiludidos e inquietos (e não por acaso, haja vista o fim inglório de seu Mestre).

- Como manter o entusiasmo despertado na experiência da Transfiguração (Mc 9,2-10; Mt 17,1-9; Lc 9,28-36), e pelos milagres testemunhados com os próprios olhos, as ressurreições realizadas: a filha de Jairo (Mc 5,21-24.35-43), o filho da viúva de Naim (Lc 7,11-17), Lázaro de Betânia (Jo 11,1-45)?

A morte de Jesus provocou um sofrimento tão profundo que anulou toda esperança, de modo que foi necessária uma longa pedagogia de encontros e de provas sobre a realidade do Ressuscitado:

- Deixar-Se tocar por Tomé (Jo 20,27);
- Caminhar com os discípulos de Emaús (Lc 24, 15);
- Comer com eles (Lc 24,42-43; Jo 21,10-12).

Voltemo-nos, de modo especial, para a passagem da caminhada de Jesus com os discípulos de Emaús (Lc 24, 13-35):

Caminhavam desiludidos, entristecidos, afinal viram ocorrer o naufrágio do sonho de liberdade:

– “Nós esperávamos que Ele seria o que devia libertar Israel. Mas, com tudo isso, já é o terceiro dia que esses fatos se deram” (Lc 24,19-21).
     
De fato, o “evento da Paixão e Morte havia provocado neles desânimo e até a negação. Pedro que confessara Jesus como ‘o Cristo, o Filho do Deus vivo’ (Mt 16,16), diante de Jesus aprisionado e humilhado (Mt 26,67) admite não O reconhecer mais.” (1)

Mas a Ressurreição foi o acontecimento inesperado “... que ofereceu aos discípulos a verdadeira compreensão de Jesus. A luz da Páscoa ilumina em sua autêntica realidade a história terrena de Jesus, pela qual os discípulos passam de um reconhecimento superficial e incompleto à confissão convicta, ao anúncio inabalável, até a entrega da própria vida no martírio.

É a Ressurreição que de fato restitui a Pedro e aos discípulos a fé e o entusiasmo em Jesus, tornando-os difusores tenazes e perseverantes do seu Evangelho de Salvação” (2)

A Ressurreição é, portanto, o não naufrágio dos sonhos, da esperança, da liberdade, da vida.

Com Ela renovam-se as forças, pois está Vivo, com os discípulos, com a Igreja, Aquele que sempre estivera, mas agora Ressuscitado e  Glorioso, como dissera.

A ausência de inteligência de alguns e a lentidão para crer de outros, ou ambas presentes no coração e na mente dos discípulos, foram dissipadas aos poucos, quando o próprio Ressuscitado Se deu a conhecer, e a eles comunicou a Sua presença e Palavra.



(1) (2) Dicionário de Homilética – Verbete Ressurreição – p. 1492.

A Ressurreição de Jesus: O Mistério central da fé (Parte III)


A Ressurreição de Jesus: O Mistério central da fé

Ressurreição de Jesus, um evento transcendente e, ao mesmo tempo, real e histórico.

Qual foi o cenário real, após a Morte de Jesus, na vida dos discípulos?

Eles ficaram tristes, temerosos, céticos, incrédulos, duros de coração e cheios de dúvida, sem inteligência e lentos para crer (Lc 24,18; Mc 16, 4: Mt 28,17: Lc 24,37).

Evidentemente, somente um grande acontecimento conseguiria mudá-los, leva-los a retomar a missão confiada por Jesus, quando ainda Se encontrava no meio deles.

Somente a Ressurreição de Jesus reestabeleceria o primeiro entusiasmo e lhes devolveria a coragem, o ardor, a ousadia para anunciarem, a partir de Jerusalém, para todo o mundo, como alegres e convictas testemunhas da Ressurreição de Jesus e da Vida Nova que Ele tem a oferecer à humanidade.

Enquanto acontecimento transcendente, Jesus foi restituído com a Sua humanidade à vida gloriosa, plena e imortal de Deus, de modo que Seu corpo Ressuscitado “...mesmo mantendo Sua identidade e realidade humana, foi habilitado a viver eternamente na comunhão divina trinitária.

Ocorre a transfiguração gloriosa do corpo, que se torna, como diz São Paulo, um corpo ‘pneumático’ (espiritual: 1 Cor 15,44) no sentido forte de corpo inteiramente penetrado pelo sopro vital do Espírito criador de Deus, que o transformou de corruptível em incorruptível, de desprezível em glorioso, de fraco em forte (1Cor 15,42-43).” (1)

Enquanto acontecimento histórico e real, podemos afirmar fundamentados nos testamentos simultâneos e abundantes pelos diversos escritos do Novo Testamento: “Ela de fato constitui o ponto alto dos quatro Evangelhos e a linha vermelha que une a pregação eclesial desde Pedro até nossos dias” (p 1494).

Segundo o Catecismo da Igreja Católica (n.647), a passagem instantânea da humanidade de Jesus da morte à vida divina trinitária, é um evento essencialmente transcendente e meta-histórico, mas continua mantendo “...sólido e fundamentado vínculo com a história mediante a constatação do sepulcro vazio e a realidade das aparições, que constituem um misterioso encontro entre transcendência de Deus e imanência do homem, entre eternidade e tempo.

Por essa sua intrínseca natureza ‘do alto’, deixar-se reconhecer é um dom de graça do Ressuscitado” (2)

Em todas as manifestações do Ressuscitado, culminando em seu reconhecimento, foi sempre uma iniciativa e prerrogativa divina, não uma iniciativa humana:

É Ele quem Se dá a conhecer, que Se manifesta, que chama pelo nome, que partilha o Pão com os discípulos de Emaús, assim como o reconhecimento por Maria Madalena na madrugada da Ressurreição, quando fez uma refeição com gosto Eucarístico com os discípulos à beira do Lago de Tiberíades ( Jo 21, 1-14).

As aparições de Jesus Ressuscitado é o tocar a história, e com este contato pôde ser documentado pelos autores da Sagrada Escritura.

Evidentemente que não se trata de “uma historicidade imediata, mas mediata.

Os Evangelhos não testemunham a Ressurreição no momento preciso em que ela ocorre no tempo: só o Evangelho apócrifo de Pedro ousa apresentar de modo grosseiro o momento da Ressurreição de Jesus, descrevendo um fantasma enorme que se eleva até o céu. Imediatamente a histórica capta a fé dos discípulos no Cristo Ressuscitado com base nos dois fatos concretos do sepulcro vazio e do ciclo das aparições” (3).

Com isto, podemos afirmar, a partir da fé, que a Ressurreição não se trata de revivescência (CIC 646), nem imortalidade da alma, nem reencarnação e tão pouco uma simples lembrança de Jesus e dos Seus Ensinamentos que teria provocado na mente dos discípulos a convicção de uma presença d’Ele depois de Sua morte.

Afasta-se qualquer possibilidade de afirmar que a Ressurreição é uma criação psicológica dos discípulos, mas trata-se de um evento concreto, referiu-se essencialmente a Jesus e à volta à vida eterna do Seu corpo mortal:  

“...foi o encontro com Jesus Ressuscitado que provocou nos discípulos a fé na Ressurreição e não o contrário. A Ressurreição não foi a consequência, mas a causa da fé dos discípulos.

Não se tratou de uma realidade criada pelos discípulos por fraude (como queriam os sumos sacerdotes e os fariseus (Mt 27, 62-65), por alucinação (segundo interpretações racionalistas ultrapassadas) ou por conversão pós-pascal aos ensinamentos de Jesus, independentemente das aparições e do sepulcro vazio (segundo uma linha de interpretação contemporânea)” (4).

A Ressurreição e quaisquer outros termos indicam a volta à vida d’Aquele que havia morrido, e mais precisamente o retorno do corpo morto de Jesus à vida Trinitária.

Deste modo, a Sagrada Escritura também chama a Ressurreição de exaltação, glorificação, senhorio cósmico, entrada no santuário celeste (Hb 9, 11-12), presença viva (1 Cor 13,4; Rm 14,9).



(1) (4) Dicionário de Homilética – Verbete Ressurreição – p. 1493.
(2) (3) Idem – p. 1494.

A Ressurreição de Jesus: O Mistério central da fé (Parte IV)

A Ressurreição de Jesus: O Mistério central da fé

Sendo a Ressurreição um evento transcendente, mas também histórico e real, é importante dizer que:

a) a Ressurreição confirma a divindade de Jesus que, como Filho de Deus encarnado, retorna à comunhão de Amor do Pai com Sua humanidade ressuscitada, como dissera para Marta, na ressurreição de Lázaro: “Eu sou a Ressurreição e a vida, quem crer em mim, não morrerá para sempre” (Jo 11,25). 

Oportuna a afirmação do Catecismo da Igreja Católica: “A Ressurreição do Crucificado demonstrará que Ele era verdadeiramente ‘Eu sou’, o filho de Deus e Deus mesmo’ (CIC 653).

b) Completa a revelação do Deus Trinitário: “do Pai, que glorifica o Filho Ressuscitando-O e elevando-O à Sua direita; do Filho, que com Seu Sacrifício redentor merece a exaltação à direita do Pai; do Espírito Santo, que Se confirma Espírito de vida e de Ressurreição (cf. 1 Pd 3,18; Rm 1,4)” (1)

c) A humanidade do Filho chega gloriosa à comunhão de Deus Trindade – na comunhão Trinitária de Deus está presente também a humanidade gloriosa do Filho.

d) Início dos eventos salvíficos últimos e definitivos, ou seja, em Jesus Ressuscitado o “eschaton” já se faz presente percebido por uma nova qualidade de vida divina, apontando para o destino e fim da História.

e) A Ressurreição tem um significado soteriológico fundamental – ela nos alcança a salvação – “Se, com a tua boca, confessas que Jesus é Senhor e se, em teu coração, crês que Deus o Ressuscitou dos mortos, serás salvo” (Rm 10,9).

f) A Ressurreição se torna o evento da retomada da amizade entre Deus e a humanidade – Como Ressuscitado Jesus tem o poder espiritual de transformar homens e mulheres à Sua imagem para torna-los filhos do Pai.

g) A Ressurreição é a realização da nova humanidade liberta de toda escravidão do pecado e suas consequências (morte, sofrimento físico, moral e psicológico).

Jesus Ressuscitado é o homem novo que arrasta toda a humanidade nesse destino de novidades que os apóstolos, contando com sua presença e o sopro do Espírito, e na força de sua Palavra, os muitos sinais continuarão realizando: curas, libertação, expulsão de demônios, o bom combate da fé.

h) A Ressurreição é o cumprimento da esperança humana de imortalidade e de transcendência – todos carregamos a esperança do “transcendente”, o que o Teólogo K. Rahner chamou de “Esperança transcendental” – a procura de um sim à própria existência eterna e ao caráter definitivo da pessoa realizada (2).

i) A experiência da presença do Ressuscitado se dá de maneira especial na Ceia Eucarística, na escuta da Palavra proclamada e na Fração do Pão, que é o Corpo do Senhor, na grande Comunhão Eucarística.

Na Mesa Eucaristia não apenas celebramos o Memoria da Morte e Ressurreição de Jesus, mas participamos de Sua vida divina, da vida do Cristo Ressuscitado na História, com a realização de nosso encontro salvífico com Ele próprio.

Reconhecemos a presença de Jesus no corpo místico (Igreja) e no corpo eucarístico, confirmando assim Sua promessa e Palavra: “Eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos tempos” (Mt 28,20).

j) A Ressurreição de Jesus: vocação e missão – com ela se dá a revitalização da vocação e confirmação da missão.   

Há a “reconvocação por parte de Jesus após a dispersão no momento da Paixão e da Morte. Durante quarenta dias, da Páscoa à Ascensão, Jesus, mediante as aparições, chamou os discípulos para O seguirem, dando a Pedro e a outros Apóstolos a Sua missão definitiva  (Jo 21,15-19), e, ainda, a missão confiada (Mt 28,18-20)".

k) A Ressurreição é uma experiência de perdão – os Apóstolos são enviados para estabelecer, através do perdão conferido, vínculos de amizade.

Aos Apóstolos é confiado o poder de perdoar os pecados da humanidade (Jo 20,22-23). Esta experiência da Ressurreição é “para os cristãos, experiência de misericórdia, de perdão, de renovação espiritual, de participação na vitória de Jesus sobre o pecado e sobre a morte” (3).

l) A Ressurreição é uma experiência de conversão total a Jesus – confiar totalmente no poder da presença nova do Ressuscitado. Os Apóstolos, após a experiência da presença do Ressuscitado, se entregam convertidos à causa primeira, à causa de Jesus e do Seu Evangelho:

“A conversão, portanto, não pertence apenas ao período pré-pascal, mas é parte integrante da Páscoa, como contínua passagem da incredulidade à fé, da tristeza à alegria, da imobilidade do medo ao entusiasmo da missão” (4).

m) A Ressurreição é um evento de libertação porque leva à transformação radical em todos os níveis:

“...da humanidade e da natureza dos círculos negativos do pecado, da morte, do sofrimento físico, moral e psicológico. Com a Ressurreição de Jesus, o homem é restituído à sua liberdade integral e se inaugura uma nova prática de vida, que se explicita no anúncio do Ressuscitado e do Seu Reino de justiça, de paz, de solidariedade humana” (5).

Isto nos faz lembrar a afirmação de Paulo:“É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1).

n) A Ressurreição é um evento de real promoção da mulher, como discípula, ouvinte e mensageira da Palavra de Deus – as mulheres foram as primeiras a testemunhar a Ressurreição de Jesus anunciando aos discípulos a experiência vivida (Mt 28,1-10; Lc 24. 8-11): 

Trata-se de uma revalorização radical das mulheres, que não são as últimas, mas as primeiras no testemunho de fé de Cristo Ressuscitado. É emblemática a esse respeito a figura de Maria Madalena, que encontra Jesus ainda antes dos Apóstolos, tornando-se assim a primeira mensageira de Sua Ressurreição e Ascensão e merecendo assim o título de ‘Apóstola dos Apóstolos’ (Mulieris dignitatem 16)”.

Esta última experiência é tão importante que na Liturgia da Páscoa temos esta imortalização de extraordinário testemunho com a Sequência Pascal que vale a pena ser conferida e rezada mais uma vez.

E não poderia finalizar sem esta última citação: “O comportamento de Jesus de confiar também às mulheres as verdades divinas, como fizera, por exemplo, com a Samaritana (Jo 4,1-42), encontra nesse episódio seu nobre coroamento.

Contra todo legalismo da cultura da época, altamente discriminatória, as mulheres tornam-se de fato as primeiras testemunhas de Cristo Ressuscitado. Isso sublinha ainda uma vez a radical dignidade da mulher, sua inegável paridade com o homem e sua vocação de ser discípula, testemunha, profeta e mensageira, como os Apóstolos de Cristo Ressuscitado” (6).

De fato a Ressurreição é um evento transcendente, mas histórico e real, algo novo se inaugura em nossa inteligência.

Mais que conhecimento, discursos sobre a Ressurreição. Mais que palavras sobre ela, é preciso fazer a viva e real experiência em nosso meio, lembrando que não é fruto de busca humana, mas é antes de tudo uma graça que Deus concede àqueles que creem.

A Ressurreição é a experiência que fazemos d’Aquele que por Amor à humanidade Se fez Carne e, pelo mesmo Amor, na Cruz morreu. E um Amor assim vivido, não poderia para sempre ficar morto, vencido. O Pai O Ressuscitou, e por meio d’Ele nos enviou o Seu Espírito.


(1) Dicionário de Homilética – Verbete Ressurreição – pp. 1494/1495.
(2) Idem p. 1495
(3) (4) (5) Idem p. 1496

(6) Idem p. 1497

A Ressurreição de Jesus: O Mistério central da fé (Parte V)

A Ressurreição de Jesus: O Mistério central da fé

Quanto à celebração do Mistério, a Igreja coloca a Ressurreição de Jesus no centro e no coração do Ano Litúrgico.

A Páscoa do Senhor é preparada pelo Tempo Quaresmal (quarenta dias), e o seu acontecimento dá origem ao Tempo Pascal (cinquenta dias) que se estende desde o Domingo de Páscoa, passando pela Solenidade da Ascensão no domingo antecedente ao Domingo de Pentecostes:

“Os quarenta dias do Sofrimento Quaresmal são resgatados pelos cinquenta dias da Alegria Pascal. A Sexta-feira Santa e o sábado de Aleluia, com sua providencial realidade de morte salvífica, não foram a última palavra do evento Cristo.

À morte de Jesus não se seguiu o silêncio absoluto de Deus. O Filho eterno feito homem, Crucificado e deposto no sepulcro escavado na rocha, não foi presa da morte...  a morte é derrotada e anulada pela plenitude e potência da vida divina.

Ao entrar na humanidade do Filho de Deus, ao imergir no oceano e vida que é Deus, a morte morre e se faz vida” (1)

Um período muito rico por diversos motivos, um deles é a Liturgia da Palavra, em que o Antigo Testamento dá lugar totalmente ao Novo Testamento:

“O tempo do anúncio passou. Celebra-se o tempo da realização da salvação com a leitura dos Atos dos Apóstolos e dos relatos evangélicos das aparições de Jesus aos discípulos, da Sua Ascensão ao céu e do dom do Espírito Santo à Igreja e a toda a humanidade.

A Liturgia respeita a sucessão cronológica dos eventos que constituem essencialmente um só Mistério, o da glorificação de Jesus, exposto, porém, em várias passagens como em um drama sagrado.

A celebração desse Mistério em diversas etapas tem um objetivo pedagógico (guiar gradualmente os fiéis à compreensão do Mistério) e espiritual (formar os fiéis para uma experiência de vida com Cristo)” (2)

Evidentemente, pela importância central da Ressurreição, ela oferece uma espiritualidade Pascal para toda a Igreja, em que “...a pregação cristã deve propor não apenas a experiência quaresmal de conversão e de purificação, mas também a pascal, de comunhão e de glorificação com o Cristo Ressuscitado.

Nesse sentido, pode-se legitimamente falar de uma espiritualidade da ‘via lucis’. Como sequência e ápice da renomada e tradicional espiritualidade da ‘via crucis’” (3)

A Espiritualidade “Via lucis” é fruto da “experiência de quem pretende retomar o caminho dos Apóstolos e dos primeiros discípulos que passaram da desilusão e do desconforto da Paixão e da Morte ao espanto e à alegria do encontro com o Ressuscitado.

O Mistério Pascal não se esgota no sofrimento do Crucificado, mas se cumpre plenamente na glória do Ressuscitado.” (4).

Dito de forma contundente, inequívoca e irrefutável: “O fruto maduro da Cruz é o esplendor da Ressurreição” (5)

O Bispo Santo Agostinho assim afirmou – “Nosso Senhor Jesus Cristo, ressuscitando, tornou glorioso o dia em que, morrendo, havia tornado pleno de luto” (Sermo 5,1).

O Teólogo Yves Congar (cf Credo nello Spirito santo, I, Brescia, 1981, 69-72) afirma com precisão:

“O Pentecostes nada mais é que a Páscoa de modo completo, com seu fruto, que é o Espírito. Jesus só morre, só Ressuscita e só sobe ao céu – é esta Sua Páscoa – para nos transmitir o Espírito”.

Deste modo, a Espiritualidade Pascal tem matizes de forte transbordamento de alegria pela Ressurreição de Jesus, sendo inaugurada uma espiritualidade não de tristeza e de desespero, mas de grande esperança e de otimismo realista:

“Ela representa a cura definitiva da fragilidade humana e cósmica. É o nível máximo da libertação cristã. Uma antropologia da carne ressuscitada é efetivamente uma antropologia de libertação absoluta.

A vida do homem não é uma noite invencível, mas um dia sem ocaso. Sua existência não se resolve em um não ser, mas em um ser para sempre.

A morte não é, portanto, imortal, mas mortal; e desemboca no rio de vida que é Cristo Ressuscitado.

De ser para a morte, a pessoa humana se faz ser para a vida. No mundo, reino da morte, a Ressurreição depositou as sementes da vida sem fim” (6)

Um pouco mais sobre a “Via Lucis” é bem-vindo para que fortaleçamos nossa espiritualidade genuinamente Pascal, uma novidade de vida, testemunho, alegria, libertação, espaço de esperança e de humanidade renovada:

“A Espiritualidade Pascal é momento interior de experiência de vida nova no Espírito de Cristo Ressuscitado, e momento exterior de encarnação e irradiação da alegria e da esperança da Ressurreição.

No dia a dia, realizar a Páscoa é fazer com que toda a humanidade participe do convite da vida, de suas riquezas, de sua dignidade, de seus dons.

A Páscoa não é a idade do ouro, miticamente atrás de nós, mas o irresistível polo de atração que está diante de nós e nos arrasta irresistivelmente para a vida.

A história do cosmos e da humanidade está permeada de Páscoa e respira a esperança da Ressurreição: ‘O Ressuscitado é o motor da história, inserido por Deus no centro do devir humano.

O ponto de apoio é a vitória de Cristo sobre a morte, xeque de todas as conquistas, enigma insuperável para o homem em busca do seu significado’ (cf. S. Palumbieri, Cristo risorto leva dela storia, Turim, 1988, 292)” (7)

Renovando cada dia nossa fé no Ressuscitado, tendo a graça de acolher a sua manifestação, saibamos reconhecê-Lo, e tenhamos a graça de sermos aqueles a quem se referiu, quando permitiu que Tomé tocasse Suas Santas Chagas e disse –“Porque viste creste. Felizes os que não viram e creram” (Jo 20,29).

Felizes seremos se crermos e ao mundo anunciarmos e testemunharmos a Vida Nova de Jesus Cristo, por nós alcançada com Sua crudelíssima Morte e gloriosa Ressurreição.


(1) (2) (3) (4) (5) Dicionário de Homilética – Verbete Ressurreição – p. 1498.
(6) (7) Idem pp. 1498/1499

A Ressurreição de Jesus: O Mistério central da fé (Parte Final)


A Ressurreição de Jesus: O Mistério central da fé 

A Ressurreição do Senhor tem suas expressões iconográficas diferenciadas.  A iconografia bizantina é uma delas. 

Impressiona  pela  beleza  de  conteúdo  e  por   todo o simbolismo  nela presente.

No ícone temos a participação do fiel com o Mistério que se celebra – “representa no centro Cristo Ressuscitado, resplandecente de glória e rodeado de personagens do Antigo Testamento e Novo Testamento. 

O Cristo glorioso, com a mão direita, segura à maneira de estandarte a Cruz de Sua Paixão e Morte, fonte da redenção universal e da humanidade.

Enquanto a mão direita tende para o alto a esquerda está voltada para baixo e segura a mão de um ancião para retirá-Lo do sepulcro.

O novo Adão, Jesus Cristo, tem o poder de libertar o velho Adão e toda a humanidade da escravidão da morte e da insignificância do reino dos mortos.

Com os pés, Jesus pisa e destrói esse reino, simbolizado por um velho que jaz ao chão entre as ruínas das portas do Hades derrubadas e com os instrumentos de tortura – pregos, tenazes, martelos – espalhados por toda a parte” (1)

No ícone, temos a glorificação de Jesus como também a glorificação do homem e a sua participação na vitória sobre a morte:

“Atrás de Adão, há uma longa fila de homens e de mulheres, como Eva, Moisés, David e Salomão, que também participam desse evento de redenção. Pode-se vislumbrar, entre outros, João Batista, que segurando o rolo do Evangelho, anuncia com a mão a vinda de Jesus: assim como entre os vivos, também entre os mortos João Batista é o precursor do Messias. (2)

A representação ocidental do Cristo Ressuscitado tem grande diferença de expressão e comunicação do Mistério da Ressurreição.

Um dos ícones é de Piero della Francesca que “apresenta Jesus que sai vitorioso do sepulcro segurando na mão o estandarte da Cruz como sinal de vitória.

A atenção do artista está inteiramente centrada em Jesus, sem nenhuma alusão à participação da humanidade nesse evento salvífico.

Aliás, com uma certa superficialidade teológica, os soldados que guardam o túmulo, únicos representantes da humanidade, ou dormem (como no caso de Piero della Francesca) ou estão apavorados”. (3)




Acentuando as diferenças: no segundo ícone há uma comunicação incompleta ou talvez equivocada do Mistério, no primeiro (o ícone bizantino) faz transparecer melhor a expectativa e a participação da humanidade na Salvação que Jesus veio trazer a toda a Humanidade, antes e depois d’Ele.


(1) (2) (3) Dicionário de Homilética – Verbete Ressurreição – p. 1497.

“Iluminai, Senhor, as profundezas de nosso coração!”


“Iluminai, Senhor, as profundezas de nosso coração!”

Uma Oração que se encontra na Liturgia das Horas, e retomo para reflexão.

“Acolhei, Senhor, as preces desta manhã, e por Vossa bondade iluminai as profundezas de nosso coração, para que não se prendam por desejos tenebrosos os que foram renovados pela luz de Vossa Graça. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém!”
                                     
Em primeiro lugar, colocamos nas mãos divinas as preces da manhã em alegre confiança: “acolhei”. Ele que é nosso auxílio e proteção, nosso refúgio, fortaleza e abrigo!

“Desta manhã”:
Implica na constância da Oração: há de ser quotidiana; ininterrupta.

A cada dia o pão, as preocupações, o bom combate da fé, as súplicas... 

A cada dia o Pão da Palavra e o Pão da Eucaristia (tanto quanto possível para os leigos e sempre para nós Presbíteros).

“Por Vossa bondade”:
Indubitavelmente, Deus nos atende não porque sejamos bons, mas porque Ele é sumamente bom e nos atende para que sejamos bons, como Ele o é.


“Iluminai as profundezas de nosso coração”: O verbo é denso: “iluminai”:

- Somente Deus tem a plenitude da luz que pode iluminar nossos caminhos, projetos, obscuridade, dúvidas, temores...

- Somente Ele pode penetrar no mais profundo de nós mesmos, nas profundezas de nosso coração, sentimentos, pensamentos...

- Somente Ele é capaz de penetrar no mais profundo de nós mesmos, e muito mais do que nós mesmos, como disse Santo Agostinho...

- Somente Ele pode manter viva a chama que ainda fumega em nosso coração; mantê-la inflamável, inapagável...

“Para que não se prendam por desejos tenebrosos”:

“Desejos tenebrosos” podem ser a cobiça, a volúpia, a inveja, a rivalidade, o indiferentismo, os preconceitos velados, a ânsia e busca frenética do poder, a tentação da fama, privilégios.

"Desejos tenebrosos" que afloram no deserto nosso de cada dia, que o Senhor venceu para que também pudéssemos vencer: as tentações fundamentais do ter, ser e poder...

- Quem destes desejos está verdadeiramente liberto?
- Qual coração se encontra plenamente livre e imune de seduções sem fim?

“Por N. S. J. C., Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo”
Como toda Oração, é confiança absoluta na Trindade Santa. Nela estamos e conosco Ela sempre está em imprescindível relacionamento.

Refaçamos a Oração acima com fé, trazendo ao coração:
Luz radiante,
Alegria inebriante,
 Serenidade contagiante...

Quem sou eu

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG