Deus quer tão apenas nossa resposta de amor
Voltemo-nos para a passagem do Livro de Gênesis (Gn 22,1-19), em que retrata o sacrifício de Abraão oferecendo seu filho único, Isaac, e sejamos enriquecidos pela Homilia do Presbítero Orígenes (séc. III).
“Abraão tomou a lenha do sacrifício e colocou-a sobre os ombros de seu filho Isaac. Tomou na mão o fogo e o cutelo, e foram ambos juntos.
Ora, Isaac, carregando a lenha para o próprio holocausto, é uma figura de Cristo carregando Sua Cruz. No entanto levar a lenha para o holocausto é ofício de sacerdote.
Torna-se então ele mesmo a vítima e o sacerdote. O que se segue: e foram ambos juntos refere-se a essa realidade, porque Abraão, como sacrificador, leva o fogo e o cutelo; mas Isaac não vai atrás e sim a seu lado, para que se veja que, juntamente com ele, exerce igual sacerdócio.
E depois? Disse Isaac a seu pai Abraão: Pai! Neste momento, uma palavra assim parece uma tentação. Como terá abalado o coração paterno esta palavra do filho que ia ser imolado!
Mesmo endurecido pela fé, Abraão responde com voz branda: Que queres, filho? E ele: Vejo o fogo e a lenha, mas onde está a ovelha para o holocausto? Abraão respondeu: Deus providenciará uma ovelha para o holocausto, meu filho.
Impressiona-me a resposta cuidadosa e prudente de Abraão. Não sei o que via em espírito, pois responde olhando para o futuro e não para o presente: Deus mesmo providenciará uma ovelha. Assim fala do futuro ao filho que indaga pelo presente. O Senhor providenciava para Si um cordeiro em Cristo.
Abraão estendeu a mão para pegar a faca e imolar o filho. O Anjo do Senhor chamou-o do céu, dizendo: Abraão, Abraão. Respondeu ele: Eis-me aqui. Tornou o Anjo: Não toques no menino nem lhe faças nenhum mal. Agora sei que temes a Deus.
Comparemos estas palavras com as do Apóstolo a respeito de Deus: Ele não poupou Seu Filho, mas entregou-O por todos nós. Vede Deus rivalizando com os homens em magnífica generosidade. Abraão, mortal, ofereceu a Deus o filho mortal, que não morreria então. Deus entregou à morte por todos o Filho imortal.
Olhando Abraão para trás, viu um carneiro preso pelos chifres entre os espinhos. Dissemos acima, creio, que Isaac figurava Cristo e, no entanto, também o carneiro parece figurar Cristo.
É muito importante ver como ambos se relacionam a Cristo: Isaac que não foi morto e o carneiro que o foi. Cristo é o Verbo de Deus, mas o Verbo Se fez carne.
Padece, portanto, Cristo, mas, na carne; morre enquanto homem do qual o carneiro é figura; já dizia João: Eis o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo.
O Verbo, porém, permanece incorrupto, isto é, Cristo segundo o espírito; a imagem deste é Isaac. Por isto Ele é vítima e também pontífice segundo o Espírito. Pois aquele que oferece a vítima ao Pai, segundo a carne, este mesmo é oferecido no altar da Cruz.”
Roguemos a Deus que tenhamos a mesma coragem de Abraão, e também ofereçamos a Deus o melhor de nós para que o Seu Reino aconteça.
Somente assim daremos sentido à nossa vida, nosso sal não perderá o seu sabor, e a nossa luz resplandecerá nas sombras; nos momentos obscuros que tenhamos que enfrentar, e a luz de Deus comunicar.
Cremos que Deus está sempre pronto a dar o Seu Filho em Alimento na Eucaristia, para nos fortalecer no carregar de nossa cruz.
Ontem como hoje, Deus não cessa de nos amar, pois é próprio de Seu amor a eternidade: Deus nos amou ontem, hoje e sempre. Que o mesmo o façamos, com toda nossa força, alma, coração e entendimento.
O Amor de Deus pede de nós tão apenas amor e não sacrifícios: “Quero a misericórdia e não o sacrifício” (Mt 9, 13), confirmou-nos o Seu Filho Amado.
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