domingo, 18 de fevereiro de 2024

Fidelidade incondicional ao Senhor (IDTQB)

                                                         

Fidelidade incondicional ao Senhor

No primeiro Domingo da Quaresma (ano B), é proclamada a passagem do Evangelho (Mc 1,12-15), e oportuno é o Comentário escrito por Orígenes (séc. III).

“A vida dos mortais está cheia de laços insidiosos, cheia de uma rede de enganos estendidos ao gênero humano por aquele audacioso caçador, que, segundo o Senhor, é chamado Nemrod.

E quem é o verdadeiro caçador atrevido senão o diabo, que ousou rebelar-se até mesmo contra Deus?

De fato, aos laços das tentações e as armadilhas das emboscadas são chamadas redes do diabo. E como o inimigo tinha estendido estas redes por toda a parte, e tinha caçado nelas a quase todos nós, foi necessário, que se apresentasse alguém forte e poderoso o suficiente para rompê-las, deixando assim o caminho aos Seus seguidores.

Portanto, o próprio Salvador, antes de chegar à união nupcial com a Igreja, é tentado pelo diabo, para, vencidas as redes das tentações, vê-la através delas e através delas chamá-la a si, ensinando-a claramente e manifestando que a Cristo se chega não pelo ócio e os deleites, mas através de muitas tribulações e tentações.

Na realidade, não houve nenhum outro capaz de superar estas redes, pois, como está escrito, ‘todos pecaram’; e novamente a Escritura diz: Não há no mundo alguém tão honrado que faça bem sem nunca pecar’. E de novo: ‘Ninguém está limpo de pecado, nem sequer um só dia’.

Em consequência, nosso Senhor e Salvador, Jesus, é o único que não cometeu pecado, porém o Pai O ‘fez espiar nossos pecados’, para que, ‘numa condição pecadora como a nossa, e fazendo-Se vítima pelo pecado, condenasse o pecado’.

Aproximou-Se, pois, a estas redes, mas Ele foi o único que não caiu enredado nelas; ao contrário, derrotadas e destruídas, deu à Sua Igreja a coragem de pisotear os laços, caminhar sobre as redes e proclamar com entusiasmo: ‘Nossa vida foi salva como um pássaro do laço do caçador; a cilada se rompeu e nós escapamos’.

E quem foi que rompeu a armadilha? O único que não pôde ser retido nela, pois mesmo que morreu, morreu porque quis e não como nós, forçados pelas exigências do pecado.

Ele é o único que esteve livre dentre os mortos. E porque esteve livre entre os mortos, por isso mesmo, vencido o que tinha domínio sobre a morte, libertou aos que eram escravos da morte. E não só ressuscitou a Si mesmo dentre os mortos, mas suscitou a vida aos escravos da morte, e os sentou no céu juntamente com Ele. Pois, ao subir Cristo ao alto levando cativos consigo, levou não somente as almas, mas ressuscitou também os corpos, como testemunha o Evangelho:

‘Muitos corpos de santos que tinham morrido ressuscitaram, e apareceram a muitos e entraram na cidade santa do Deus vivo em Jerusalém’”.

Cremos, de fato, que “... a Cristo se chega não pelo ócio e os deleites, mas através de muitas tribulações e tentações”, e com a certeza de que confiando no Senhor, Aquele que venceu o diabo no deserto, está conosco neste combate, para nos ajudar também a vencê-lo.

Que o Senhor dê à Sua Igreja a coragem de pisotear os laços da rede, como o Senhor o fez, vencendo satanás e suas tentações (ser, ter e poder), que se manifesta de múltiplos modos no dia a dia: ostentação, acúmulo, privilégios, fama, sucesso a qualquer preço, domínio, autossuficiência.

Seja a Quaresma o tempo favorável de conversão e salvação em que nos empenhemos mais numa vida marcada pela doação, entrega, humildade, serviço, amor e partilha, e quanto mais o Senhor tenha vivido e nos ensinado.


(1) Lecionário Patrístico Dominical - Ed. Vozes - 2013- pp. 561-562.

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