São Gregório de Agrigento (séc. VI) nos oferece um “Comentário sobre o Livro de Coélet” que muito pode nos ajudar em nosso discipulado, na fidelidade ao Senhor, que jamais nos desampara, pois é próprio do Amor de Deus jamais se afastar de nós, porque nos fez por amor e para o amor viver, até que um dia com Ele alcancemos a graça de viver na plenitude do Amor, o céu.
“Doce é a luz, como diz o Eclesiastes, e é coisa muito boa contemplar com nossos olhos este sol visível. De fato, sem a luz o mundo se encontraria privado de sua beleza, a vida deixaria de ser tal. Por isso Moisés, o vidente de Deus, já tinha dito anteriormente: E Deus viu que a luz era boa. Mas nós devemos pensar naquela magna, verdadeira e eterna luz que vindo a este mundo ilumina a todo homem, isto é, Cristo, Salvador e Redentor do mundo, o qual feito homem, compartiu até o fim a condição humana; a respeito do qual diz o salmista: Cantai a Deus, tocai em Sua honra, atapetai o caminho d’Aquele que avança pelo deserto; Seu nome é Senhor: alegrai-vos em Sua presença.
Aplica a luz o apelativo de ‘doce’, e afirma ser coisa boa o contemplar com os próprios olhos o sol de glória, a saber: Aquele que no tempo de Sua vida mortal disse: Eu sou a luz do mundo; aquele que me segue não caminha nas trevas, mas terá a luz da vida. E também: O juízo consiste nisto: que a luz veio ao mundo.
Assim ao falar desta luz solar que vemos com nossos olhos corporais, anunciamos antecipadamente o Sol de justiça, o qual foi, na verdade, sobretudo doce para aqueles que tiveram a felicidade de serem instruídos por Ele e de contemplá-Lo com seus próprios olhos enquanto convivia com os homens, como outro homem qualquer, ainda que, na realidade, não fosse igual aos outros.
Na realidade, era também Deus verdadeiro, e, por isto, fez com que os cegos enxergassem, os coxos andassem, que os surdos ouvissem, limpou aos leprosos, ressuscitou aos mortos somente com o império de Sua voz.
Mas, também agora, é coisa dulcíssima fixar n’Ele os olhos do espírito, e contemplar e meditar interiormente Sua pura e divina beleza, e assim, mediantes esta comunhão e este consórcio, sermos iluminados e adornados, sermos cumulados de deleite espiritual, sermos revestidos de santidade, adquirir a sabedoria e, finalmente, transbordar de uma alegria divina que se estende a todos os dias de nossa vida presente.
Isto é o que insinuava o sábio Eclesiastes, quando dizia: Se alguém vive muitos anos, que desfrute de todos eles. Porque realmente aquele Sol de justiça é fonte de toda alegria para aqueles que lhe contemplam; referindo-se a Ele diz o salmista: Rejubilam-se na presença de Deus, transbordando de alegria; e também: Alegrai-vos, justos, no Senhor, porque Ele merece o louvor dos bons.” (1)
A história de cada pessoa é marcada por luzes e sombras, alegrias e tristezas, angústias e esperanças, faltas e sobras, momentos amargos e outros mais doces, mais áridos e outros menos...
Para que vivamos intensamente e bem cada dia, vencendo os obstáculos, suportando as intempéries próprias do quotidiano, precisamos ter os olhos voltados para o Senhor, o Sol Nascente que nos veio visitar.
Radiantes ao contemplá-Lo:
- não esmorecemos diante das dificuldades, não vacilamos na fé e não permitimos o murchar da esperança.
- não esmorecemos diante das dificuldades, não vacilamos na fé e não permitimos o murchar da esperança.
- teremos o coração consumido pelo Fogo Devorador do Amor Divino.
- rezaremos como o Salmista: “Javé é minha luz e minha Salvação: de quem terei medo?” (Sl 26).
Radiantes sempre ficamos ao contemplar o Senhor, e nada pode roubar a luminosidade divina que nos acompanha a cada dia para sermos sinal da Sua imprescindível Luz, que vem iluminar os caminhos sombrios da história em todos os âmbitos.
(1) Lecionário Patrístico Dominical – pp.384-385
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