“Somos pó e cinza diante da Rocha”
Reflexão à luz da
passagem do Livro de Gênesis (Gn 18,20-32), em que Abraão faz uma oração
em favor de Sodoma e Gomorra, porque o clamor contra estas cresceu e chegou até
o Senhor, e houve o agravamento de seu pecado.
Reflitamos sobre o
diálogo de Abraão com o Senhor, conforme comentário do Missal Dominical:
“Em Israel, que vive num regime de fé, não está em perigo a veracidade
da relação do homem com Deus, a verdadeira oração.
Um homem vivo, um homem verdadeiro, encontra o Deus vivo e verdadeiro.
Uma liberdade está diante da Liberdade, o pó diante da Rocha. ‘Eis que ouso
falar ao meu Senhor, eu que sou pó e cinza”.
Em Israel, a oração está essencialmente ligada a fé. Uma resposta livre
ao Deus que se revela e fala, uma ação de graças pelos grandes acontecimento
que Deus realiza para o Seu povo. A oração é, pois, antes resposta do que
pedido”. (1)
Aprendemos com Abraão a fazer da oração um
verdadeiro diálogo com Deus: ele se coloca diante diante d’Ele, com ousadia e
confiança, apresentando suas inquietações, dúvidas, anseios, e procurando
captar Sua vontade para a humanidade.
A passagem é uma catequese sobre o peso que o
justo e o pecador têm diante de Deus; revela-nos a misericórdia divina que é
maior do que a vontade de castigar.
A vontade que Deus tem de salvar é infinitamente
maior do que a vontade de perder: Deus está sempre pronto a nos salvar. É
preciso que nos abramos à Sua vontade.
Abraão nos ensina que é possível dialogar com Deus
numa forma familiar, confiante, insistente e ousada. Revela-nos um Deus que
veio ao encontro da humanidade, entrou em sua tenda, sentou-se à sua mesa,
criando vínculos de comunhão, e ainda mais, realizando os sonhos daquele que O
acolhe.
Com o pai da fé, aprendemos que Deus é alguém com
quem se pode dialogar, com amor e sem temor; com uma Oração que brota de um
coração humilde, reverente, respeitoso, confiante, ousado e cheio de esperança.
Abraão não repete palavras vazias e gravadas, sem
ressonância na própria vida, mas estabelece com Deus um diálogo espontâneo e
sincero.
Assim, devemos nos
colocar diante de Deus sempre, de modo especial, quando em oração, em diálogo
com Ele, para que experimentemos o sabor da autêntica oração, sem arrogância,
sem sinais de petulância, na mais bela expressão de humildade e confiança: somos
pó e cinza diante da Rocha que é Deus (como tão bem expressam diversas
passagens da Sagrada Escritura).
Somos plasmados pelo
Deus, desde os primeiros dias do Paraíso, por Ele criados à Sua imagem e
semelhança, agraciados com o Seu divino sopro de vida, como narram as primeiras
páginas do Livro de Gênesis.
Somos permanentemente
modelados por Deus, como barro na mão do oleiro, para que melhor sejamos, e
mais perfeitamente sintonizemos Seus desígnios ao nossos respeito e mais
felizes sejamos.
Somos criaturas do
Divino Criador, sim, criaturas com todas as limitações inerentes à condição
humana, passíveis de todas as imperfeições em todos os sentidos, convivendo com
a graça que em nós é derramada abundantemente, mas sem jamais esquecermos, que somos
santos e pecadores, com sede e desejo de sermos santos como Deus é Santo, pois
este é o Seu desejo mais pleno e belo para a humanidade.
Somos pó, somos barros
carregando o tesouro do Espírito em vasos de argilas que somos, como tão bem
expressou o Apóstolo Paulo (2 Cor 4,7).
E um dia desfeito nosso
corpo mortal, voltaremos a ser pó, porque do pó viemos e ao pó retornaremos.
Seremos se cremados, um punhado de cinzas apenas, mas certos de que a alma que
em nós habita, para Deus haverá de voltar.
Confiamos e esperamos,
porque de Deus vivemos, nos movemos e somos e para Deus haveremos de retornar,
no dia de nossa Ressurreição, pois como Ele mesmo o disse: “Eu Sou a Ressurreição e a vida, todo aquele
que em mim viver e crer, ainda que esteja morto viverá” (Jo 11,
25-26).
Quando oramos assim
devemos nos sentir: pó e cinza, limitados, suplicantes diante de Deus, a
onipotência da misericórdia que vem sempre em socorro de nossa finitude e
miséria.
É o Amor Uno e Trino
que vem ao nosso encontro, e nós somos sedentos de força, amor, luz e graça.
Somos os eternos suplicantes da presença da Santíssima Trindade que vem em
socorro de nossa fraqueza; vem ao nosso encontro o Amante(Deus Pai), com o
Amante (Deus Filho) e o Amor (o Espírito Santo).
Pó e
cinza, somos diante da Rocha! Oremos assim, exatamente como Abraão o fez, e
nossa oração chegará até Deus, que não desiste de nós porque nos amou e nos
criou e quer nos redimir, mas não sem nossa participação.
(1)
Missal Dominical - Ed. Paulus - p.1189
PS:
Apropriado para a passagem do Livro do Gênesis (Gn 18,16-33) proclamada na
segunda-feira da 13ª semana do Tempo Comum
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