sábado, 12 de abril de 2025

“Nunc Dimittis”

 


“Nunc Dimittis”

A Igreja reza à noite, todos os dias, a Oração das Completas, e nela está contido o “Nunc Dimittis” - "agora deixe partir",  rezado por Simeão, homem justo e piedoso, quando da apresentação do Senhor no Templo (Lc 2,29-32).

Cristo, Luz das nações e glória de Seu povo, é um cântico evangélico que pode também ser rezado por quantos puderem nas orações da noite, ao terminar um dia de intensas atividades, preocupações e eventual cansaço, para um bom descanso e um novo dia bem iniciado:

“Antífona: Salvai-nos, Senhor, quando velamos, guardai-nos também quando dormimos! Nossa mente vigie com o Cristo, nosso corpo repouse em Sua paz!

“–29 Deixai, agora, Vosso servo ir em paz,
conforme prometestes, ó Senhor.

30 Pois meus olhos viram Vossa salvação
31 que preparastes ante a face das nações:

32 uma Luz que brilhará para os gentios
e para a glória de Israel, o Vosso povo.”

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. 
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Antífona: Salvai-nos, Senhor, quando velamos, guardai-nos também quando dormimos! Nossa mente vigie com o Cristo, nosso corpo repouse em Sua paz!

 

 

“Fica conosco, Senhor, suplicamos...”

 


“Fica conosco, Senhor, suplicamos...”
 
 
“Ficai conosco, Senhor Jesus, porque a tarde cai e, sendo nosso companheiro na estrada, aquecei-nos os corações e reanimai nossa esperança, para Vos reconhecermos com os irmãos nas Escrituras e no partir do Pão. Vós, que sois Deus com o Pai, na unidade do Espírito Santo. Amém.”.  (1)
 
Oremos:
 
Fica conosco, Senhor, e ao participarmos da Tua Mesa,  e na partilha do Pão da Eucaristia, reconheçamos Tua real presença, como os discípulos que Te reconheceram ao partir o Pão, e os olhos foram abertos.
 
Fica conosco, Senhor, e jamais nosso coração será endurecido e tardio para entender o Mistério de Tua Paixão, Morte e Ressurreição; e que a Tua Palavra nos ilumine e faça arder nosso coração.
 
Fica conosco, Senhor, sobretudo para que solidifiquemos nossa amizade e intimidade contigo, de modo especialíssimo ao participarmos da Ceia da Eucaristia.
 
Fica conosco, Senhor, em todos os momentos, favoráveis ou adversos, obscuros ou luminosos, opacos ou radiantes de luz, alegres ou tristes, angustiados ou cheios de esperança.
 
Fica conosco, Senhor, fortaleça nossa fé, reanima nossa esperança e inflama nossos corações, na mais pura e desejável caridade para com o nosso próximo.
 
Fica conosco, Senhor, pois és nosso “companheiro na estrada”, companheiro de viagem, sobretudo quando passarmos por vales tenebrosos e montanhas de dificuldades.
 
Fica conosco, Senhor, na travessia de desertos áridos da existência, a fim de que vençamos as tentações (ter, poder e ser), porque, contigo, mais que vencedores o somos.
 
Fica conosco, Senhor, a Ti nos dirigimos confiantes, pois Tu vives e Reinas com o Teu Pai, na comunhão com o Espírito Santo, na mais perfeita comunhão de amor.  Amém. 


 
(1)   Oração das Vésperas- Liturgia das Horas (cf Lc 24,13-35)
 

Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor (Domingo de Ramos - Ano C)

Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor (Ano C)
 
                              “Contemplemos e fiquemos abismados diante da mais bela História do Amor de Deus por nós:
Jesus Cristo, 0 Filho Amado do Pai.”
 
Com a Santa Missa do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, iniciamos a Semana Santa, que culminará na Ressurreição do Senhor.
 
A Liturgia (Ano C) nos convida a contemplar a ação de Deus que veio ao encontro da humanidade, por meio de Jesus Cristo, que Se fez Servo, em doação total de Sua vida por amor, não fugindo do horizonte da Cruz sempre presente em Sua missão.
 
A passagem da primeira Leitura (Is 50,4-7) nos apresenta o terceiro Cântico de Javé, e a figura do Servo sofredor, que a fé cristã identifica perfeitamente com a Pessoa de Jesus Cristo no Mistério de Sua Paixão e Morte:
 
“A vida de Jesus realiza plenamente esse destino de dom e entrega da vida em favor de todos; e a Sua glorificação mostra que uma vida vivida deste jeito não termina no fracasso, mas na Ressurreição que gera vida nova” (1)
 
O Servo sofredor escuta, sofre, resiste e confia na intervenção de Deus que jamais abandona aqueles a quem chama. O Profeta tem convicção de que não está só, e que a força de Deus é sempre mais forte do que a dor, o sofrimento e a perseguição, e que jamais ficará decepcionado.
 
Reflitamos:
 
- Temos coragem de fazer da nossa vida uma total entrega ao Projeto de Deus, no compromisso de libertação de tudo que seja sinal de morte e opressão?
 
- De que modo vivemos a vocação profética que Deus nos concedeu pela graça do Batismo?
 
- Temos confiança na força de Deus, como o Servo sofredor que é o próprio Senhor?
 
O Apóstolo Paulo, na passagem da segunda Leitura (Fl 2, 6-11), nos apresenta o exemplo de Jesus Cristo que viveu obediência, fidelidade e amor total ao Pai por amor à humanidade.
 
Embora a comunidade de Filipos, gozando de afeto especial do Apóstolo, seja entusiasta, generosa e comprometida, é exortada a aprofundar sua prática de desprendimento com maior humildade e simplicidade, como pode acontecer com toda comunidade que adere ao Senhor.
 
Paulo nos apresenta, portanto, numa breve e densa passagem, a missão de Jesus:
 
“Em traços precisos, o hino define o ‘despojamento’ (‘Kenosis’)  de Cristo: Ele não afirmou com arrogância e orgulho a Sua condição divina, mas aceitou fazer-Se homem, assumindo com humildade a condição humana, para servir, para dar a vida, para revelar totalmente aos homens o Ser e o amor do Pai.
 
Não deixou de ser Deus, mas aceitou descer até aos homens, fazer-Se servidor dos homens, para garantir vida nova para os homens. Esse ‘abaixamento’ assumiu mesmo foros de escândalo: Jesus aceitou uma morte infamante – a Morte de Cruz – para nos ensinar a suprema lição do serviço, do Amor radical, da entrega total da vida” (2).
 
Em consequência disto, Deus o fez “Kyrios” (Senhor), para reinar sobre toda a terra e sobre toda a humanidade.
 
A comunidade dos seguidores de Jesus haverá de fazer sempre este mesmo caminho de despojamento, amor, doação e fidelidade total a Deus, para alcançar a glória da eternidade.
 
A passagem do Evangelho (Lc 22,14-23,56) nos apresenta a Paixão de Nosso Senhor Jesus. Com Lucas, o terceiro Evangelista, contemplamos a Paixão de Jesus: uma vida feita dom e serviço, culminando na morte de Cruz, em que revela o Amor de Deus que nada guarda para Si, que Se faz um dom total para que sejamos redimidos.
 
A mensagem central: a morte de Jesus é a consequência lógica do anúncio do Reino, que provocou tensões, resistências pelos que detinham o poder religioso, econômico, político e social do Seu tempo.
 
A morte de Jesus é o culminar de Sua vida: “é a afirmação última, porém, mais radical e mais verdadeira (porque marcada com Sangue), daquilo que Jesus pregou com Palavras e com gestos: o amor, o dom total, o serviço” (3).
 
Sua morte deve ser entendida no contexto do que foi a Sua vida. Sendo assim, o Seu projeto libertador entrou em choque com as autoridades de Seu tempo: as autoridades políticas e religiosas se sentiram incomodadas com Sua denúncia, palavra e ação.
 
Em Sua morte na Cruz, aparece o Homem Novo, modelo para todo aquele que ama radicalmente e que faz de sua vida um dom de si para todos.
 
O Evangelista acentua alguns aspectos: a ceia como dom total de Jesus; a atitude de serviço (Lc 22,24-27); Deus não abandona Jesus, com a presença do anjo, quando Ele derrama “suor de sangue” (Lc 22, 42-44); Deus vem ao nosso encontro e manifesta Sua presença em gestos de bondade, revelando a misericórdia divina; somente Lucas menciona Simão de Cirene para levar a cruz de Jesus atrás d'Ele (Lc 23,26), os demais mencionam a solicitação apenas de Simão de Cirene para levar a cruz de Jesus (Mt 27,32; Mc 15,21).
 
Contemplemos a Paixão e Morte de Jesus como a concretização do amor de Deus, que veio ao nosso encontro, assumiu nossos limites, experimentou a fome, o sono, o cansaço, venceu as tentações, tremeu perante a morte, suou sangue antes de aceitar a vontade do Pai:
 
“...estendido no chão, esmagado contra a terra, atraiçoado, abandonado, incompreendido, continuou a amar. Desse amor resultou vida plena, que Ele quis repartir conosco até o fim dos tempos: esta é a mais espantosa história de amor que é possível contar; ela é a boa notícia que enche de alegria o coração dos crentes. Por isto, Dante definiu São Lucas como o 'escriba da misericórdia divina'”. (4)
 
Que a celebração da Semana Santa, rica em espiritualidade, repleta de ritos significativos, renove nosso apaixonamento por Jesus, assim como Ele foi um apaixonado de Deus Pai, com a força e presença do Espírito Santo, em todos os momentos.
 
Contemplemos a misericórdia de Deus, na ação e Pessoa de Jesus, e sejamos misericordiosos como o Pai (Lc 6,36).
 
 
 
(1) (2) (3) (4) www.dehonianos.org.br
 

Celebremos a Semana Santa: a Semana Maior (Domingo de Ramos ) Ano C

                                                  

Celebremos a Semana Santa: a Semana Maior

A Semana Santa ou Semana Maior é por excelência Santa, pois é consagrada à celebração anual da Páscoa do Senhor, quando fazemos a memória solene do Mistério central da fé da vida da Igreja: Cristo morto e ressuscitado para a Salvação do mundo inteiro.

Iniciamos com o “Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor”, com procissão e ramos na mão, aclamando-se Jesus Cristo, Rei do Universo, vencedor do pecado e da morte.

Com a celebração do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, temos o tom da Semana Maior, e assim, a assembleia cristã vai ao encontro do Senhor, aclamando-O como Rei do universo.

Apesar da entrada triunfal em Jerusalém, começa a dura caminhada da Cruz, que se percorre seguindo os passos do Servo de Deus, que, por amor, foi fiel até o fim, na doação e entrega de Sua vida, culminando em Sua crudelíssima morte.

Mas cremos que, após Sua Morte, por Deus, foi elevado acima de todas as coisas, recebeu “o Nome que está acima de todos os nomes; para que todos, ao Nome de Jesus se ajoelhem nos Céus, na terra e nos infernos. E toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai’ (Fl 2,9-11).

É fundamental que vivamos intensamente esta Semana, meditando o Mistério do Amor de Deus testemunhado por Jesus, que carregou nossos pecados sobre a Cruz, e também por nossos pecados, foi levado sobre a Cruz: ‘Ele foi castigado por nossos crimes e esmagado por nossas iniquidades’ (Is 53,5; 1Pd 2,24).

Para continuarmos nossa meditação sobre a Semana Maior e o Mistério da Paixão do Senhor, retomo um trecho da reflexão de Raniero Cantalamessa, que nos convida a fazer nossa identificação para bem celebrar a Semana Santa:

“A Davi, que furioso procurava o responsável pelo crime que lhe fora contado por Natã, o profeta respondeu: ‘Tu és esse homem’ (2 Sm 12,7).

A mesma coisa a Palavra de Deus responde a nós que perguntamos quem fez morrer a Jesus: tu és aquele homem! Judas que trai; Pedro que renega, Pilatos que se lava as mãos, o povo que se aquece ao fogo conversando de ninharias, os soldados que dividem avidamente a túnica do condenado, os ladrões que mataram, mas estão aí sozinhos: atrás deles há multidões e lá estamos nós também...

Cabe a nós escolher com que atitude queremos entrar na história da Paixão de Cristo: com a atitude de Cireneu, que se coloca ao lado de Jesus, ombro a ombro, para carregar com ele o peso da cruz; com a atitude das mulheres que choram, do centurião que bate no peito e de Maria que fica silenciosa ao pé da cruz; ou se queremos entrar com a atitude de Judas, de Pedro, de Pilatos e daqueles que ‘olham de longe’ para ver como irá terminar aquele episódio” (1)

Oremos:

“Deus eterno e todo-poderoso, para dar aos homens um exemplo de humildade, quisestes que o nosso Salvador Se fizesse homem e morresse na Cruz. Concedei aprender o ensinamento da Sua Paixão e Ressuscitar com Ele em Sua glória. Por N.S.J.C. Amém!


(1) O Verbo Se faz Carne – Raniero Cantalamessa - Editora Ave Maria - 2013 -  pp.800-801

Caminhamos com Jesus (Domingo de Ramos - Ano C)

Caminhamos com Jesus

Naquele Domingo, Ele me levou ao deserto,
E pude ver Seu combate contra Satanás.
Por três vezes, eu O vi vencer,
Sem ceder às tramas diabólicas;
Com suas palavras “doces” e enganadoras,
Aparentemente, a felicidade realizar, porque “promissoras”.

Eu O vi vencer a tentação da abundância, da dominação e da fama.
Ensinou-me que também somos chamados o mesmo  fazer.
Temos também nossos combates diabólicos cotidianos,
E não estamos livres da tentação de tudo e muito ter,
De poder possuir, e dele, mau uso fazer, e tirânicos, outros fazer sofrer.
Da fama, prestígio e abuso das coisas divinas, amargo sabor.

No Domingo seguinte, dirigiu-Se ao Monte Tabor, 
Com Pedro, João e Tiago, em oração Se retirou.
Lá, no Monte, o acontecimento mais que memorável:
A Sua maviosa Transfiguração: Seu rosto radiante, roupas brilhantes.
As presenças testemunhais qualificadas de Moisés e Elias.,
Cumpriu e cumpre-se n’Ele, Jesus, a Lei e a Profecia.

A Transfiguração experimentada e depois lembrada
Afastaria o escândalo da aparente derrota do Senhor na Cruz.
No Mistério de dor e morte de Jesus Cristo, por amor,
Os discípulos serão testemunhas de que Ele Ressuscitou, e é nosso Senhor.
E assim, o mesmo haveremos de fazer até o fim dos tempos:
Testemunhar que o Amor do Pai, O glorificou, O Ressuscitou.

Mais um Domingo, e o Senhor nos revela dulcíssima verdade:
Deus é paciente e misericordioso conosco, Suas criaturas.
Ainda que fixemos tendas nos lamaçais do pecado e morte,
Deus não desiste de nós, e nos quer com Ele reconciliados.
Por isto, nos disse o Senhor, com palavras tão penetrantes:
“Mas, se não converterdes, morrereis todos do mesmo modo” (Lc 13,5).

Somos como uma figueira, na vinha do Senhor plantada,
Que precisa ser permanentemente cultivada e adubada.
Também o chão de nosso coração lavrar com o arado da Cruz,
Para que, como frondosa figueira, frutos saborosos
De amor, verdade, justiça e paz, produzir,
Na fidelidade à Palavra Divina, Sua luz reluzir.

É bom estar com o Senhor! E assim, em mais um Domingo,
O encontro dos encontros no Banquete da Eucaristia.
Ele, diante da crítica por comer com pecadores e publicanos,
Como que num magnífico mosaico da misericórdia,
Fala-nos na Parábola do filho pródigo, ou do pai misericordioso,
Que Deus, Seu Pai de amor, está sempre nos esperando de volta.

Não se pode ouvir a Parábola e ficar indiferente.
Parábola questiona, desinstala, provoca, pede conversão.
Se parecidos com o pai, misericordiosos seremos.
Se com o filho mais novo, reconhecedores de nossa miséria
E sedentos do perdão, da misericórdia divina, à “casa”, voltamos.
Se com o filho mais velho: legalismo, fechamento e muito mais...

No último Domingo, mais um encontro memorável,
Com Aquele que um dia encontramos, e nossa vida mudou,
Novo sentido conferiu e todos os horizontes alargou.
Diante da pecadora adúltera surpreendida em adultério,
Revelou a hipocrisia dos que condenam e matam,
Com “pedras” da maldade tirânica, diante de quem pecou.

Foi o mais belo encontro da Misericórdia com a miséria,
Miséria que sou e que todos somos. Reconheçamos.
Somente Ele tem Palavras de vida eterna,
E pode nossos pecados perdoar, as feridas abertas
De nossa alma, até mais que as do corpo, curar.
Jesus Cristo, Verdadeiramente Homem, Verdadeiramente Deus.

Ansiosos estávamos com a chegada do Domingo:
O Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor.
Ele conosco quis mais uma vez se encontrar.
Acolhemos o Messias, e proclamamos pelas ruas:
“Bendito o Rei, que vem em nome do Senhor!
Paz no céu e glória nas alturas” (Lc 19,38).

Iniciamos, com Ele, a grande Semana,
A Semana Santa, que nos convida,
Passo a passo, com Ele caminhar,
Cada momento, piedosamente celebrar,
Vivenciar com intensidade o Tríduo Pascal.
Ele será o Vencedor do amor sobre o ódio,
Bem como do bem sobre o mal.

A vida vencerá a morte.
O amor de Deus falou e falará como sempre mais alto.
Deus tem e terá sempre a última palavra. Amém.

“Acreditar, contemplar, imitar” a Paixão do Senhor! (Domingo de Ramos)


“Acreditar, contemplar, imitar” a Paixão do Senhor! 

Com a Liturgia do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, iniciaremos a Semana Santa, em que celebramos o Mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Sejamos iluminados pelas palavras do Papa São Leão Magno (séc. V):

“Através d’Ele (Jesus Cristo morto na Cruz) é dado aos crentes a força na fraqueza, a glória na humilhação, a vida na morte”.

De fato a glória de Deus manifesta-Se incompreensivelmente através do insucesso, do fracasso. É o grande paradoxo que mantém e desperta a esperança no carregar de nossas cruzes cotidianas, nas várias formas de manifestação da morte.

Na Semana Santa somos convidados, pela Igreja e como Igreja, a vivenciar estes três verbos: acreditar, contemplar e imitar a Paixão de Nosso Senhor, para que na madrugada do Domingo, quando ainda for escuro, Sua Ressurreição possamos contemplar e ao mundo anunciar e testemunhar. Será o nosso grande Aleluia, guardado ao longo de toda a Quaresma.

Devemos vivê-la com prolongado tempo de recolhimento, de Oração, participando dos Mistérios e riqueza Litúrgica que a Igreja nos oferece, e assim teremos nossas forças renovadas, porque é próprio do Amor de Deus vir em socorro de nossas fraquezas, limitações, misérias, com a expressão máxima de Sua Misericórdia, Jesus Cristo.

Nossa aparente humilhação, dificuldades serão configuradas ao Cristo Servo Sofredor, e assim, corajosamente carregando o peso de nossa cruz, trilharemos para o caminho da glória.

Nossos sinais de morte cederão aos sinais da Páscoa. A vida venceu a morte, o amor sempre fala mais forte. Esta é a Páscoa cotidiana que nos move, impulsiona, faz com que na vida de fé jamais recuemos, mas avancemos para o horizonte do inédito de Deus, e o melhor de Deus venhamos a alcançar.

É a Grande Semana para renovarmos aquilo que acreditamos, que nos faz comprometidos e apaixonados por Jesus e pelo Seu Reino. Crer na força da Palavra proclamada, lida, meditada, vivida para que nossa vida seja, enfim, transformada. Crer no Santo Sacramento da Eucaristia, que é força em nossa silenciosa e corajosa travessia no mar da vida, sem jamais submergir no mar das dificuldades, mas antes mergulhados no mar infinito de Deus que é Sua bondade, ternura, amor e misericórdia.

É a Grande Semana para em silêncio frutuoso e orante contemplarmos o imensurável Amor de Deus, cujas dimensões são impossíveis de serem abarcadas por nossas categorias do pensamento. Contemplarmos Cristo, mais que num crucifixo, nos crucificados da história: doentes, desanimados, famintos, despossuídos das condições dignas de existência, nos que estão bem ao nosso lado (Mt 25).

É a Grande Semana para imitarmos Jesus Cristo e o Mistério de Sua Vida, Paixão e Morte. 

Caminhar com Ele, seguir Seus passos, morrer com Ele e Ressuscitar com Ele. 

Imitá-Lo, tendo d’Ele os mesmos sentimentos (Fl 2,5): Amar, perdoar, viver, sonhar, sorrir, partilhar, doar a vida por amor, expressa no serviço, humildade, paciência...

Acreditemos, contemplemos e imitemos o Senhor. Amém. 

Acreditar, contemplar, imitar” a Paixão do Senhor! (continuação)


Acreditar, contemplar, imitar” a Paixão do Senhor!

Acreditemos, contemplemos e imitemos o Senhor;
Vencendo as ciladas do antigo inimigo, e suas tentações matrizes (ter, ser poder), como bem Ele nos ensinou no deserto.
Que Se nos revelou transfigurado na montanha, comprometidos com os desfigurados da planície, para que um dia possamos ser merecedores de um lugar em Sua glória.

Tendo a alma consumida pelo zelo e amor pelas coisas de Deus, porque membros do Seu Corpo, o Novo Templo nos fez.
Acreditemos, contemplemos e imitemos o Senhor,
Vivendo o Amor tão belamente pelos autores sagrados anunciado e descrito, e por Ele, Jesus mesmo plenamente revelado e vivido;
Grão de trigo que caiu no chão, morreu e frutificou em Flores e Frutos Pascais em favor de toda a humanidade, de todos nós pecadores que somos, não por nossos méritos, até mesmo pela falta deles.

Suportando a perda, a dor, a morte, com sementes de eternidade, porque sabemos que a morte não tem a última palavra. Deus a tem, o Amor tem a última palavra.
Acreditemos, contemplemos e imitemos o Senhor,
Que Deus Ressuscitou, nós o cremos, e quem n’Ele vive e crê, ainda que morra, para sempre, na alegria plena do céu viverá.
E, será então a mais rica, frutuosa e desejada Semana Santa que viveremos, para que enfim sejamos melhores, pois Deus merece que sejamos melhores.
Será o nosso eterno Aleluia, cantado com os anjos e santos. Um canto de exultação interminável. Por ora, solidarizemos com o canto daqueles que choram, clamam, suplicam, labutam, e o Reino constroem.

O mais belo canto de Deus na eternidade é precedido pelo clamor que da Cruz ecoou, e os séculos atravessou. Nós cremos e vimos a Sua glória. Amém.

Itinerário Quaresmal vivido, Alegria Pascal celebrada!

                                                            


Itinerário Quaresmal vivido, Alegria Pascal celebrada!

Como a Liturgia Quaresmal nos enriquece numa autêntica espiritualidade Pascal, levando-nos cada dia a um mergulho no Mistério do Amor de Deus vivenciado e celebrado em cada Banquete da Eucaristia e, na vida, expresso com palavras e ações, sem o que esvaziaremos a beleza do Mistério!

Como Igreja, estamos em permanente travessia do deserto, enfrentando as tentações do Maligno (ter, ser, poder), mas subindo ao Monte Tabor para escutar o que o Filho Amado de Deus, Jesus, tem a nos dizer para sua Palavra na planície vivermos.

Também como Igreja presente na Cidade, com seus inúmeros clamores e desafios, nos sentamos à beira do poço para saciar nossa sede de eternidade, ouvindo o que o Senhor tem a nos dizer.

Sua Palavra acolhida é o colírio de nossa fé, para que nosso olhar não se desvie e deixemos de perceber os sinais de morte que estão diante de nossos olhos e clamam por uma resposta. O Senhor é a Ressurreição e a Vida, n’Ele vivendo e crendo teremos a vida eterna.

Com o Domingo de Ramos, iniciaremos a Semana Santa, firmando nossos passos no fortalecimento de nossa fé em Jesus Cristo que, por amor a nós,  Sua vida entregou; Seu Sangue derramou para nos redimir e nos reconciliar com Deus.

No Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, O acolhemos não mais em Jerusalém, mas em nosso coração, em nossos lares e em todos os lugares; aclamaremos que Jesus: “Bendito o que vem em nome do Senhor. Hosana nas alturas!”. Um Rei diferente, que ama doando a vida e Se entregando por todos nós por amor, no crudelíssimo Sacrifício da Cruz, enfrentando toda maldade humana.

Na Quinta-Feira Santa iniciaremos o Tríduo Pascal, celebrando a Instituição da Eucaristia, na qual Jesus nos dá o Mandamento do amor e nos ensina, com o lava-pés, a atitude de serviço em favor da vida de nosso semelhante, num gesto supremo de humildade.

Na Sexta-Feira Santa, celebraremos o Mistério de Sua Paixão e Morte na Cruz, por amor extremo e infinito por todos nós, e mergulharemos em intenso e profundo silêncio, contemplando imensurável Mistério que se prolongará até a noite do Sábado. A Celebração no recolhimento, o vermelho da Liturgia, o silêncio profundo... Tudo se cala diante do Mistério do Amor que ama até o fim. Amor, que incrível o Amor de Deus por nós!

E começando lentamente a Celebração na noite da Vigília do Sábado Santo, celebraremos, ainda que seja noite, a Sua gloriosa Ressurreição, e então voltaremos a dar glória a Deus, com exultação e alegria, os sinos voltarão a soar, as flores embelezarão nossos altares, o branco da Liturgia nos convidará a sentir a leveza da paz, alcançada pela Vitória da Vida que venceu a morte. O Aleluia! cantado com júbilo será a expressão grandiosa de tudo isto.

E, quando a manhã do Domingo irromper, já estaremos dentro do longo e alegre Tempo Pascal.

Itinerário Quaresmal percorrido com fidelidade, Páscoa celebrada, amor e alegria, no coração, transbordados. Aleluia aclamaremos! 

Em poucas palavras...

                                               



Celebremos e vivamos O Mistério da Semana Santa

 

Somos discípulos missionários do Senhor, do Servo Sofredor e vencedor, porque o Pai O Ressuscitou, e em Seu nome, nos enviou o Seu Espírito: acreditemos, contemplemos e imitemos a Paixão do Senhor, morrendo com Ele, para com Ele também ressuscitarmos.

 

 

“Deus amou tanto o mundo...”

                                                           


“Deus amou tanto o mundo...”

Com a Liturgia do Domingo de Ramos, iniciaremos a Semana Santa, contemplando a imensidão do Amor de Deus por nós, não poupando o próprio Filho – “Pois Deus amou tanto o mundo, que entregou o Seu Filho único, para que todo o que n’Ele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16).

Neste contexto, acolhamos o Tratado sobre a fé de Pedro, do Bispo São Fulgêncio de Ruspe, século IV.

“Os sacrifícios das vítimas materiais, que a própria Santíssima Trindade, Deus único do Antigo e do Novo Testamento, tinha ordenado que nossos antepassados lhe oferecessem, prefiguravam a agradabilíssima oferenda daquele sacrifício em que o Filho unigênito de Deus feito carne iria, misericordiosamente, oferecer-Se por nós.

De fato, segundo as palavras do Apóstolo, Ele Se entregou a Si mesmo a Deus por nós, em oblação e sacrifício de suave odor (Ef 5,2). É Ele o verdadeiro Deus  e o verdadeiro sumo-sacerdote que por nossa causa entrou de uma vez para sempre no santuário, não com o sangue de touros e bodes, mas com o Seu próprio Sangue. Era isto que outrora prefigurava o sumo-sacerdote, quando, uma vez por ano, entrava no santuário com o sangue das vítimas.

É Cristo, com efeito, que, por Si só, ofereceu tudo o quanto sabia ser necessário para a nossa redenção; Ele é ao mesmo tempo sacerdote e sacrifício, Deus e templo. Sacerdote, por quem somos reconciliados; sacrifício, pelo qual somos reconciliados; templo, onde somos reconciliados; Deus, com quem somos reconciliados. Entretanto, só Ele é o sacerdote, o sacrifício e o templo, enquanto Deus na condição de servo; mas na Sua condição divina, Ele é Deus com o Pai e o Espírito Santo.

Acredita, pois, firmemente e não duvides que o próprio Filho Unigênito de Deus, a Palavra que Se fez carne, Se ofereceu por nós como sacrifício e vítima agradável a Deus. A Ele, na unidade do Pai e do Espírito Santo, eram oferecidos sacrifícios de animais pelos patriarcas, Profetas e sacerdotes do Antigo Testamento. E agora, no tempo do Novo Testamento, a Ele, que é um só Deus com o Pai e o Espírito Santo, a santa Igreja Católica não cessa de oferecer em toda a terra, na fé e na caridade, o sacrifício do pão e do vinho.

Antigamente, aquelas vítimas animais prefiguravam o Corpo de Cristo, que Ele, sem pecado, ofereceria pelos nossos pecados, e Seu Sangue, que Ele derramaria pela remissão desses mesmos pecados. Agora, este sacrifício é ação de graças e memorial do Corpo de Cristo que Ele ofereceu por nós, e do Sangue que o mesmo Deus derramou por nós. A esse respeito, fala São Paulo nos Atos dos Apóstolos: Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho, sobre o qual o Espírito Santo vos colocou como guardas, para pastorear a Igreja de Deus, que Ele adquiriu com o Sangue do Seu próprio Filho (At 20,28). Antigamente, aqueles sacrifícios eram figura do dom que nos seria feito; agora, este sacrifício manifesta claramente o que já nos foi doado.

Naqueles sacrifícios, anunciava-se de antemão que o Filho de Deus devia sofrer a Morte pelos ímpios; neste sacrifício anuncia-se que Ele já sofreu essa morte, conforme atesta o Apóstolo: Quando éramos ainda fracos, Cristo morreu pelos ímpios, no tempo marcado (Rm 5,6). E ainda: Quando éramos inimigos de Deus, fomos reconciliados com Ele pela Morte do Seu Filho (Rm 5,10).”

Contemplemos o Amor que por nós Se doa e Se entrega na crudelíssima Morte de Cruz, para nos ensinar o Caminho que nos conduz ao Pai. Fará da Cruz um sinal aparente de derrota, o caminho da nossa vitória, quando for Ressuscitado na madrugada das madrugadas, precedida pela noite sombria, da Sua descida à mansão dos mortos, para libertar os que jaziam na sombra da morte e todos quantos vierem a n’Ele crer.

Mergulhemos na compreensão do Mistério do Amor de Deus, da oferenda de Cristo por Amor de cada um de nós, Mistério que não compreendemos, Mistério de Amor que não merecemos.

Em poucas palavras...

                                                            


O Mistério da Cruz 

“Senhor Salvador levantou a voz e com incomparável majestade disse: Saibam todos que depois da tribulação se seguirá a graça; reconheçam que sem o peso das aflições não se pode chegar ao cimo da graça; entendam que a medida dos carismas aumenta em proporção da intensificação dos trabalhos. Acautelem-se os homens contra o erro e o engano; é esta a única verdadeira escada do paraíso e sem a cruz não há caminho que leve ao céu... 

“Ninguém se queixaria da cruz nem dos sofrimentos que lhe adviriam talvez, se conhecessem a balança, onde são pesados para serem distribuídos aos homens."  (1)

 

(1) Santa Rosa de Lima, (1586 -1617), Padroeira da América Latina. 

Em poucas palavras...

                                             


Jesus, por amor, na Cruz, consuma o Sacrifício Redentor

É o «amor até ao fim» (Jo 13,1) que confere ao sacrifício de Cristo o valor de redenção e reparação, de expiação e satisfação. Ele conheceu-nos e amou-nos a todos no oferecimento da sua vida (Gl 2,20). «O amor de Cristo nos pressiona, ao pensarmos que um só morreu por todos e que todos, portanto, morreram» (2 Cor 5, 14).

Nenhum homem, ainda que fosse o mais santo, estava em condições de tornar sobre si os pecados de todos os homens e de se oferecer em sacrifício por todos.

A existência, em Cristo, da pessoa divina do Filho, que ultrapassa e ao mesmo tempo abrange todas as pessoas humanas e O constitui cabeça de toda a humanidade, é que torna possível o seu sacrifício redentor por todos.” (1)

 

(1) Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n. 616