A bondade divina ultrapassa a justiça
Com a Liturgia do 25º
Domingo do Tempo Comum (ano A), refletimos sobre a lógica do Reino e as
preferências de Deus.
Na passagem da primeira Leitura (Is 55,6-9), o Senhor nos fala pelo
Profeta: "Meus pensamentos não
são os vossos pensamentos; vossos caminhos não são os meus caminhos".
De fato, a lógica de
Deus é diferente da lógica dos homens; às vezes, oposta e inconciliável com
ela, embora sempre superior.
Assim diz o Missal
Dominical:
“Em
geral, o que é lucro para o homem, é perda para Deus; e o que para o homem está
em primeiro lugar, vem em último lugar para Deus".
A Palavra de Deus e seu juízo comportam uma radical inversão de
valores: os primeiros são os últimos (Mt 20,1-16a); felizes são os que
choram; os verdadeiros ricos são os que abandonam tudo; quem quer salvar sua
vida a perde...
A
Lei do Reino parece ser o paradoxo, o inédito, o inesperado; Deus escolhe as
coisas frágeis e desprezíveis deste mundo para confundir as fortes e bem
consideradas.
Não
escolhe o primeiro, mas o último; não o justo, mas o pecador; não o sadio, mas
o doente. Faz mais festa pela ovelha perdida e reencontrada do que pelas
noventa e nove que estão na segurança do aprisco.
O
Deus cristão é o ‘absolutamente-Outro’, o imprevisível. Nenhuma categoria
humana pode "capturá-Lo". Ele escapa a qualquer definição e revela
continuamente novos aspectos do Seu Mistério" (1).
Com Sua ação, Jesus
revela, com clareza e insistência, um traço da face de Deus: o Amor pelos
empobrecidos, pelos últimos, pelos mais humildes.
Segundo o Teólogo
Joaquim Jeremias, citado por Raniero Cantalamessa, “A Parábola não descreve um ato arbitrário, mas um gesto de uma pessoa
cheia de bondade, generosa e de fina sensibilidade para com os pobres. Deus é
assim! – quis dizer Jesus; é tão bom que faz participar de Seu Reino também os
publicanos e pecadores” (2)
Muito enriquecedora é
também a nota da nova Bíblia Pastoral:
“A
chave de compreensão da Parábola está no v. 4: o dono da vinha decide pagar o
que for justo. E a justiça não é definida pelo merecimento, mas pela
necessidade que cada trabalhador vive.
A
perturbação e o ciúme provocados por essa ação mostram como a mentalidade e a
prática dominantes estão longe dos princípios que regem o Reino e a vida nele.
É fundamental comprometer-se, a todo tempo, em realizar na terra a justiça de
Deus” (3).
Temos muito que
aprender sobre a lógica de Deus, porque a justiça paga conforme o merecido, mas
a bondade olha a necessidade, e Deus tem sempre solícito olhar de compaixão
para com as nossas necessidades.
Que assim seja também
nosso olhar, acompanhado desta ação cheia de amor, compaixão, bondade e
solidariedade, e então entenderemos o que disse o Profeta:
"Meus
pensamentos não são os vossos pensamentos; vossos caminhos não são os meus
caminhos".
Concluo com esta
afirmação do Lecionário Comentado:
“Abandonemos
as nossas perspectivas limitadas, o espírito de lucro, que aplicamos inclusive
ao nosso relacionamento com o Senhor, e partilhemos sobretudo a alegria que
Deus experimenta ao recompensar os últimos tal como os primeiros. O que conta,
e nisto também o nosso coração de via arder, como ardia o coração de Cristo, é
que todos entrem a fazer parte do Povo de Deus, herdeiros da Salvação. Por fim,
não nos escandalizemos facilmente, não esqueçamos que, chegados entre os
primeiros ou entre os últimos, somos todos, do mesmo modo, ‘servos inúteis’ (Lc
17,10).” (4)
De fato, a lógica
do Reino vai na contramão da lógica humana, e só quem ama e se abre à sabedoria
Divina poderá compreendê-la e vivê-la.
(1) Missal
Dominical - p.806 -Editora Paulus,
1995 - p.806
(2) O Verbo Se
faz Carne – Pe. Raniero Cantalamessa - p.187
(3) Bíblia Edição Pastoral – (letra grande) – 2013 - p.1706
(4) Lecionário Comentado – Tempo Comum – Volume II – p.387
Nenhum comentário:
Postar um comentário