domingo, 22 de setembro de 2024

A bondade divina ultrapassa a justiça (XXVDTCA)

                                                           

A bondade divina ultrapassa a justiça
 
Com a Liturgia do 25º Domingo do Tempo Comum (ano A), refletimos sobre a lógica do Reino e as preferências de Deus.
Na passagem da primeira Leitura (Is 55,6-9), o Senhor nos fala pelo Profeta: "Meus pensamentos não são os vossos pensamentos; vossos caminhos não são os meus caminhos".
 
De fato, a lógica de Deus é diferente da lógica dos homens; às vezes, oposta e inconciliável com ela, embora sempre superior.
 
Assim diz o Missal Dominical:
 
“Em geral, o que é lucro para o homem, é perda para Deus; e o que para o homem está em primeiro lugar, vem em último lugar para Deus".
A Palavra de Deus e seu juízo comportam uma radical inversão de valores: os primeiros são os últimos (Mt 20,1-16a); felizes são os que choram; os verdadeiros ricos são os que abandonam tudo; quem quer salvar sua vida a perde...
 
A Lei do Reino parece ser o paradoxo, o inédito, o inesperado; Deus escolhe as coisas frágeis e desprezíveis deste mundo para confundir as fortes e bem consideradas.
 
Não escolhe o primeiro, mas o último; não o justo, mas o pecador; não o sadio, mas o doente. Faz mais festa pela ovelha perdida e reencontrada do que pelas noventa e nove que estão na segurança do aprisco.
 
O Deus cristão é o ‘absolutamente-Outro’, o imprevisível. Nenhuma categoria humana pode "capturá-Lo". Ele escapa a qualquer definição e revela continuamente novos aspectos do Seu Mistério" (1).
 
Com Sua ação, Jesus revela, com clareza e insistência, um traço da face de Deus: o Amor pelos empobrecidos, pelos últimos, pelos mais humildes.
 
Segundo o Teólogo Joaquim Jeremias, citado por Raniero Cantalamessa, “A Parábola não descreve um ato arbitrário, mas um gesto de uma pessoa cheia de bondade, generosa e de fina sensibilidade para com os pobres. Deus é assim! – quis dizer Jesus; é tão bom que faz participar de Seu Reino também os publicanos e pecadores” (2)
 
Muito enriquecedora é também a nota da nova Bíblia Pastoral:
 
“A chave de compreensão da Parábola está no v. 4: o dono da vinha decide pagar o que for justo. E a justiça não é definida pelo merecimento, mas pela necessidade que cada trabalhador vive.
 
A perturbação e o ciúme provocados por essa ação mostram como a mentalidade e a prática dominantes estão longe dos princípios que regem o Reino e a vida nele. É fundamental comprometer-se, a todo tempo, em realizar na terra a justiça de Deus” (3).
 
Temos muito que aprender sobre a lógica de Deus, porque a justiça paga conforme o merecido, mas a bondade olha a necessidade, e Deus tem sempre solícito olhar de compaixão para com as nossas necessidades.
 
Que assim seja também nosso olhar, acompanhado desta ação cheia de amor, compaixão, bondade e solidariedade, e então entenderemos o que disse o Profeta:
 
"Meus pensamentos não são os vossos pensamentos; vossos caminhos não são os meus caminhos".
 
Concluo com esta afirmação do Lecionário Comentado:
 
“Abandonemos as nossas perspectivas limitadas, o espírito de lucro, que aplicamos inclusive ao nosso relacionamento com o Senhor, e partilhemos sobretudo a alegria que Deus experimenta ao recompensar os últimos tal como os primeiros. O que conta, e nisto também o nosso coração de via arder, como ardia o coração de Cristo, é que todos entrem a fazer parte do Povo de Deus, herdeiros da Salvação. Por fim, não nos escandalizemos facilmente, não esqueçamos que, chegados entre os primeiros ou entre os últimos, somos todos, do mesmo modo, ‘servos inúteis’ (Lc 17,10).” (4)
 
De fato, a lógica do Reino vai na contramão da lógica humana, e só quem ama e se abre à sabedoria Divina poderá compreendê-la e vivê-la.
 
 
 
(1) Missal Dominical - p.806 -Editora Paulus, 1995 - p.806
(2) O Verbo Se faz Carne – Pe. Raniero Cantalamessa - p.187
(3) Bíblia Edição Pastoral – (letra grande) – 2013 - p.1706 
(4) Lecionário Comentado – Tempo Comum – Volume II – p.387
 


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