Capítulo IV - “Buscar abrigo na Caixa de Pandora”
- o medo, a segurança e a cidade -
Encontramo-nos profundamente identificados, pois consegue descrever com extrema precisão o mundo em que vivemos marcados por relações de medo e insegurança, necessidade cada vez maior de investirmos em recursos que nos garantam um pouco mais de privacidade e segurança.
Citando Ray Surette, afirma: “... o mundo visto pela TV parece um de ‘cidadãos-ovelhas’ sendo protegidos de ‘criminosos-lobos’ por ‘policiais-cães pastores” e citando Diken e Laustsen – “A vida urbana se transforma num estado de natureza caracterizado pelo domínio do terror, acompanhado pelo medo onipresente” (p. 96).
Há uma procura pela invisibilidade planejada, bem como a intimidação (guaritas, fortalezas e outras formas de garantir a segurança...).
Na sociedade “líquido-moderna” vemos a arquitetura do medo e da intimidação se espalhando por todos os espaços públicos urbanos abrindo espaço para a inventividade e o consumo pela segurança desejada.
Algumas questões pertinentes sobressaem ao longo de todo o capítulo:
Ø Insegurança e medo, como superar?
Ø Qual o caminho para um urbanismo integral em que seja possível a conexão, a comunicação e a celebração do existir em espaços sem medo e sem o tédio do isolamento?
Capítulo V
“Os consumidores na sociedade ‘líquido-moderna’”
A sociedade de consumo torna permanente a insatisfação, e uma das formas é a depreciação e desvalorização dos produtos de consumo logo depois de terem sido alçados ao universo do desejo do consumidor (o leitor vai também se identificando na percepção e descrição do autor).
Outra forma é o método de satisfazer toda necessidade/desejo/vontade de uma forma que não pode deixar de provocar novas necessidades/desejos/vontades (p. 105).
A síndrome consumista degradou a duração e promoveu a transitoriedade – “colocou o valor da novidade acima do valor da permanência...
A síndrome consumista é uma questão de velocidade, excesso e desperdício” e, deste modo, a sociedade de consumo não é nada além de uma sociedade de excesso e da fartura, e, portanto, da redundância e do lixo farto, conclui o autor (p.110).
Tudo isto também vai influenciar relacionamentos e inclusive os casamentos pouco duradouros (p.114ss).
Em longas páginas, de modo muito pertinente, descreve sobre o quanto a sociedade “líquido-moderna” fomenta o consumo em nome da preservação do corpo, da boa forma, como o corpo se torna fonte de lucro. Em diversos momentos nos encontraremos profundamente identificados com a problemática apresentada.
Também nos apresenta as crianças ocupando espaço fundamental como destinatários imediatos e futuros na sociedade consumo. Como elas influenciam nas decisões de seus pais.
Citando Allen Kanner, um psicoterapeuta de Berkeley sintetiza muito bem uma preocupação: “O consumismo dirigido pelas corporações tem amplos efeitos psicológicos não apenas sobre as pessoas, mas também sobre o planeta...
Com muita frequência, a psicologia individualiza exageradamente os problemas sociais. Ao fazê-lo, acabamos culpando a vítima, neste caso localizando o materialismo basicamente na pessoa, ignorando a cultura das grandes corporações que está invadindo uma parte tão grande de nossas vidas” (p.149/150).
Inquietante a conclusão do autor, e nos provoca a repensar e buscar novos caminhos:
“A espiritualidade pode ser um dom de nascença da criança, mas foi confiscada pelos mercados de consumo e reapresentada como um lubrificador das rodas da economia de consumo.
A infância, como sugere Kiku Adatto, se transforma numa ‘preparação para venda do ser’, à medida que as crianças são treinadas ‘para ver todos os relacionamentos em termos de mercado’ e encarar os outros seres humanos, incluindo os amigos e membros da família, pelo prisma das percepções e avaliações geradas pelo mercado” (p.150).
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