segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Vida Líquida (I,II,III)

                                                               


Capítulo I – “O indivíduo sitiado”

Destaco esta citação, que expressa o drama da existência de uma vida líquida:

“Em nossa sociedade de indivíduos que buscam desesperadamente sua individualidade, não há escassez de auxílios, consagrados ou autoproclamados, que (pelo preço certo, é claro) se mostrarão totalmente dispostos a nos guiar pelos calabouços sombrios de nossas almas, onde os nossos autênticos ‘eus’ permanecem supostamente aprisionados, lutando para escapar em busca da luz” (p. 28).

Não há mais autoevidência incontestável e a transparência que permitia travessias livres de encruzilhadas e obstáculos a serem evitados, negociados ou forçados.

Ø Por onde caminhar?
Ø Qual a nossa singularidade?
Ø O que aprender com jangadeiros e marinheiros para construirmos nossa identidade e fazermos nossa travessia?

O autor, a partir desta metáfora, procura as respostas: “Jangadeiros que descem o rio sobre troncos de árvores só fazem seguir a corrente. Não precisam de bússola – ao contrário de marinheiros em mar aberto, que não navegam sem uma.

Os jangadeiros se deixam levar pela força do rio, ocasionalmente auxiliando-a com os remos ou afastando a jangada das rochas e cachoeiras, evitando bancos de areia e margens pedregosas.

Os marinheiros, porém, estariam perdidos se confiassem sua trajetória ao sabor dos ventos e às mudanças das correntes. Eles não podem deixar de controlar os movimentos do barco. Devem decidir para onde ir e por isso precisam de uma bússola que lhes diga quando e onde virar com o intuito de chegar ao destino” (p. 31).

Temas muito pertinentes são abordados neste capítulo: a procura da identidade; o alcance da liberdade; a questão gravíssima de repensar o consumo responsável para não destruirmos o planeta (se a população mundial vivesse o conforto do norte-americano, precisaríamos de mais três planetas); os efeitos negativos da globalização excludente e o repensar um novo caminho.

Capítulo II – “De mártir a herói e de herói a celebridade”

O autor afirma que a sociedade de consumo “líquido-moderna”, na parte rica do planeta, não tem espaço para mártires ou heróis, porque não há espaço para sacrifício das satisfações imediatas em função de objetivos distantes e não há porque sacrificar satisfações individuais em nome de uma causa ou do bem-estar de um grupo:

“À medida que avança a sociedade “líquido-moderna”, com seu consumismo endêmico, mártires e heróis vão batendo em retirada...

A sociedade-líquido-moderna de consumidores considera os feitos dos mártires, heróis e todas as suas versões híbridas quase incompreensíveis e irracionais, e, portanto, ultrajantes e repulsivos...” (p. 64-65).

Nesta sociedade há lugar para as “celebridades” que aparecem do nada e facilmente podem cair no esquecimento. Há a possibilidade de numerosas celebridades, bem como suas combinações: “O culto a uma celebridade (ao contrário da adoração de mártires e heróis, que limita a liberdade de escolha dos adoradores) não tem aspirações monopolistas.

Por mais que as celebridades sejam competitivas elas não estão realmente competindo. O culto a uma delas não exclui, muito menos proíbe, que alguém se junte à comitiva de outra... ”(p.69).

A sociedade “líquido-moderna” precisa da multiplicação das celebridades, mais que mártires e heróis.

Capítulo III – “Cultura rebelde e ingovernável”

A cultura “líquido-moderna” não se apresenta mais como a cultura do aprendizado e do acúmulo, como nos revelam historiadores e etnógrafos. Surge uma nova cultura do desengajamento, da descontinuidade e do esquecimento.

Nesta cultura o tempo flui, não “marcha mais” – “Há mudança, sempre mudança, nova mudança, mas sem destino, sem ponto de chegada e sem a previsão de uma missão cumprida. Cada momento vivido está prenhe de um novo começo e de um novo fim...” (p.88).


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