“Ai da alma em que não habita Cristo!”
Com a Homilia do Bispo São Macário (séc. IV) refletimos sobre que tipo de “Habitação de Cristo” somos, e de que modo nos colocamos a serviço em Sua vinha, como discípulos missionários Seus.
“Deus outrora, irritado contra os judeus entregou Jerusalém como espetáculo aos gentios; e foram dominados por aqueles que os odiavam; não havia mais festas nem oblações. De igual modo, irado contra a alma por ser transgredido o Mandamento, entregou-a aos inimigos que a seduziram e a deformaram. Se uma casa não for habitada pelo dono, ficará sepultada na escuridão, desonrada, desprezada, repleta de toda espécie de imundícia.
Também a alma, sem a presença de Deus, que nela jubilava com Seus anjos, cobre-se com as trevas do pecado, de sentimentos vergonhosos e de completa infâmia. Ai da estrada por onde ninguém passa nem se ouve voz de homem! Será morada de animais.
Ai da alma, se nela não passeia Deus, afugentando com Sua voz as feras espirituais da maldade. Ai da casa não habitada por seu dono! Ai da terra sem o lavrador que a cultiva! Ai do navio, se lhe falta o piloto; sacudido pelas ondas e tempestades do mar, soçobrará! Ai da alma que não tiver em si o verdadeiro piloto, o Cristo! Porque lançada na escuridão de mar impiedoso e sacudida pelas ondas das paixões, jogada pelos maus espíritos como em tempestade de inverno, encontrará afinal a morte.
Ai da alma se lhe faltar Cristo, cultivando-a com diligência, para que possa germinar os bons frutos do Espírito! Deserta, coberta de espinhos e de abrolhos terminará por se encontrar, em vez de frutos, a queimada. Ai da alma, se seu Senhor, o Cristo nela não habitar! Abandonada, encher-se-á com o mau cheiro das paixões, virará moradia dos vícios. O agricultor, indo lavrar a terra, deve pegar os instrumentos e vestir a roupa apropriada para o trabalho; assim também Cristo, o Rei Celeste e verdadeiro agricultor, ao vir à humanidade, deserta pelo vício, assumiu um corpo e carregou como instrumento, a Cruz.
Lavrou a alma desamparada, arrancou-lhe os espinhos e abrolhos dos maus espíritos, extirpou a cizânia do pecado e lançou ao fogo toda erva e suas culpas. Tendo-a assim lavrado com o lenho da Cruz, nela plantou maravilhoso jardim do Espírito, que produz toda espécie de frutos deliciosos e agradáveis a Deus e ao Senhor”. (1)
Os “ais” acima nos interpelam:
Ai de mim se não assumir com alegria a Missão como servo e administrador da vinha do Senhor!
Ai de mim se deixar o coração tomado pelos abrolhos, ervas indesejáveis, que nos sufocam a alegria que Ele sempre quer nos oferecer...
Ai de mim se não me predispuser, permitindo no coração o Arado Divino, lavrando-o para que as Sementes Divinas possam nele serem lançadas, e os frutos por Deus esperados, abundantemente produzidos...
Ai de mim se não me deixar conduzir por Cristo, pela Sua Divina Palavra!
Ai de mim se não tiver d’Ele, mesmos pensamentos e sentimentos... Minha vida reduzir-se-á a tristezas, prantos, dores, choros, lamentos...
Mas, não!
Feliz a alma em que Cristo habita!
Oremos:
Peço-Vos, Senhor: Vem!Fazei em mim Vossa morada.
Que seja eu, embora indigno, hospedeiro do mais Belo Hóspede!
Peço-Vos, Senhor: Vem! Fazei em nós Vossa amável presença.
Que sejamos nós, embora pecadores, receptáculos de Vossa graça!
Amém!
(1) - cf. Liturgia das Horas - Volume IV - p.521.
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