quinta-feira, 26 de setembro de 2024

Orgulho e humildade

                                                     

Orgulho e humildade

Sejamos enriquecidos por uma das Conferências de São Doroteu de Gaza (séc. VI), na qual nos fala de duas classes de orgulho, assim como duas espécies de humildade.

“Existem duas classes de humildade, assim como existem duas classes de orgulho: a primeira classe de orgulho consiste em desprezar ao seu irmão, não levando em consideração, como se não fosse nada, e em crer-se superior a ele.

Se não tratamos imediatamente de vigiar-nos com rigor, cairemos pouco a pouco na segunda espécie, que consiste em exaltar-se diante do próprio Deus e atribuir suas boas obras a si mesmo e não a Deus... Devemos lutar contra a primeira classe de orgulho, para não cair lentamente no orgulho total.

Existe também um orgulho mundano e um orgulho monástico. O mundano consiste em crer-se mais do que seu irmão por ser mais rico, mais belo, melhor vestido ou mais nobre do que ele.

Quando percebemos que nos gloriamos nestas coisas, ou que nosso monastério seja maior ou mais rico ou mais numeroso, saibamos que ainda estamos no orgulho mundano. O mesmo acontece quando nos vangloriamos de qualidades naturais, por exemplo: ter uma bela voz ou salmodiar bem, ou ser hábil ou de trabalhar e servir corretamente. Estes motivos são mais elevados que os primeiros, embora ainda se trate de orgulho mundano.

O orgulho monástico consiste em gloriar-se de suas vigílias, de seus jejuns, de sua piedade, de suas observações, de seu zelo, assim como em humilhar-se por vaidade. Tudo isto é orgulho monástico. Se não podemos evitar de orgulhar-nos, convém que este orgulho recaia sobre coisas monásticas e não mundanas.

Explicamos, então, qual é a primeira espécie de orgulho e qual a segunda; também temos definido o orgulho mundano e o orgulho monástico. Mostremos agora quais são as espécies de humildade.

A primeira espécie de humildade consiste em atribuir a Deus as boas obras. Esta é a perfeita humildade dos Santos. Ela nasce naturalmente na alma como consequência da prática dos Mandamentos.

De fato, olhemos, irmãos, as árvores carregadas de frutos: são os frutos que fazem curvar e baixar os galhos. Ao contrário, o galho que não tem frutos se ergue no espaço e cresce direito. Inclusive há certas árvores cujos galhos não dão frutos enquanto se mantém erguidos para o céu, porém, se lhes coloca uma pedra para orientá-los para baixo, então dão fruto. O mesmo acontece com a alma: quando se humilha dá fruto, e quanto mais produz, mais se humilha. Porque quanto mais se aproxima de Deus, mais pecadora se vê.” (1)

Supliquemos ao Senhor que nos liberte de quaisquer sentimentos em que venham a crescer em nós os dois tipos de orgulho: o desprezo ao irmão ou a autoexaltação diante de Deus. Pois quem deles está plenamente imune?

Também suplicamos ao Senhor que acompanhe nossa súplica, para que na fidelidade, como discípulos missionários Seus, nossa vida de fé seja marcada por uma autêntica humildade, tendo o próximo em maior estima, e reconhecer que as boas obras que possamos fazer é pela graça de Deus que em nós age copiosa e incessantemente.

Cuidemos para que nosso coração não seja fecundado pelo germe do orgulho, mas intensamente levedado pelo mais salutar sentimento de humildade, expresso na alegria em servir ao próximo, na mais genuína gratuidade, acompanhada da gratidão à graça de Deus que nos é derramada, e que Ele sempre espera que estejamos abertos e predispostos a recebê-la e corresponder, numa relação intensa e fecunda de amor com Ele.


(1) Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes - 2013 - pp. 707-708

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