sábado, 2 de março de 2024

“Festa, roupa nova, anel e sandálias”


“Festa, roupa nova, anel e sandálias”

Iluminados sejamos pelo Sermão do Papa e Doutor da Igreja, São Gregório Magno, sobre o filho pródigo, contida na  passagem do Evangelho (Lc 15,11-32).

“Disse o pai aos seus servos: Trazei depressa a primeira túnica para vestir meu filho. A primeira túnica é a veste abençoada da inocência, que nosso primeiro pai Adão recebeu, tendo sido criado com sabedoria pela mão de Deus, e depois a perdeu sendo enganado pelo demônio.

E assim, após nossos primeiros pais terem pecado conheceram que estavam nus, e como pessoas que haviam perdido aquela glória da imortalidade, revestiram-se de peles de animais mortais.

Pelos servos aos quais o Pai deu esta ordem, entendemos todos os santos pregadores: estes trouxeram a primeira veste, quando com sua santa doutrina não só converteram os homens, mas também mostraram claramente que, guardando a devida justiça em suas obras, seriam sublimados a tanta graça que não seriam apenas cidadãos dos anjos, mas também herdeiros de Deus e coerdeiros de Jesus Cristo.

E colocai um anel nos seu dedo. Este é o costume que, com o anel, sejam seladas as coisas íntimas; e, assim, pelo anel podemos entender o selo da fé, com a qual se selam no coração dos fiéis todas as coisas que da parte de Deus lhes são prometidas.

Também é costume que a esposa confirme com um anel a fidelidade com seu esposo, e assim podemos entender por este anel a graça que Cristo nosso Redentor dá para a Igreja, Sua Esposa.

E diremos, então, que o filho pródigo recebeu o anel quando uniu a si, mediante a fé, a Igreja tirada da gentilidade. E com razão se põe o anel na mão, para mostrar que, com as obras, se confirmará a fé, e com a fé as obras.

E sandálias nos pés. Pelos sapatos entende-se o ofício da pregação, porque assim afirma a Sagrada Escritura quando diz: quão formosos são os pés dos mensageiros da paz, e que pregam o bem; e o glorioso Apóstolo confirmando isto escrevendo de Éfeso diz: tende, irmãos, os pés calçados, e estai preparados para a pregação do santo Evangelho.

Diremos, pois, que voltando o filho pródigo à misericórdia do pai, adornam-lhe os pés e as mãos. Adornam-lhe as mãos para ensinar a nós e a todos os fiéis que vivamos com obras de justiça; e os pés para que, levando em consideração o exemplo dos santos, trabalhemos por caminhar ao céu.

Trazei um novilho gordo e matai-o. Por este novilho gordo entende-se o próprio Filho de Deus, Jesus Cristo, nosso Senhor e Redentor: porque na verdade, para a nossa alma, Sua carne é de uma gordura e virtude espiritual de tão abundante graça, que se nos dispusermos a recebê-la, muito nos confortará no caminho em que peregrinamos, pois só ela foi capaz de apagar os pecados do mundo inteiro.

Mandou, pois trazer o novilho e matar-lhe, na mesma ocasião em que ordenou que os Mistérios de Sua vida santíssima e de Sua morte e paixão fossem publicados pelos santos Apóstolos. Porque parece que este novilho santíssimo acabou de ser sacrificado para alguém, quando de novo volta a crer n’Ele; e então é comido, quando é recebido sacramentalmente na alma limpa, quando se faz memória de Sua paixão com alma limpa.

Este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi encontrado. Deveis observar que disse ‘comamos’, falando em plural, por onde podemos entender que da carne santíssima deste novilho tão santo, não só come o filho que estava morto e reviveu, perdido e foi achado, mas também comeu o pai e os criados de sua casa.

Nisto se vê que nossa conversão e saúde é a alegria do Pai celestial, e Sua alegria é o perdão de nossos pecados. E este gozo não é só do Pai soberano, mas também do Filho e do Espírito Santo, porque a obra, a alegria e o amor da Santíssima Trindade é una.” (1)

Cremos que Deus é misericórdia, e Jesus é o rosto da misericórdia divina. Jesus nas Parábolas da misericórdia (Lucas 15) nos fala da alegria que há nos céus por um só pecador que se converte.

Na própria Parábola comentada por São Gregório Magno, temos a festa promovida pelo pai, pelo fato do filho ter voltado, pois estava perdido e foi encontrado, estava morto e voltou a viver.

São expressivas as palavras finais do Sermão do Papa:
“Nisto se vê que nossa conversão e saúde é a alegria do Pai celestial, e sua alegria é o perdão de nossos pecados. E este gozo não é só do Pai soberano, mas também do Filho e do Espírito Santo, porque a obra, a alegria e o amor da Santíssima Trindade é una”.

E antes, guardemos tempo meditando no simbolismo da veste, anel, sandália e do banquete oferecido, no qual se sacrificou um novilho para comemorar a grande e esperada volta do filho, que o pai soube aguardar com toda paciência, pois a misericórdia de Deus Se revela na paciência e espera de nossa conversão.

(1) Lecionário Patrístico Dominical – Ed Vozes - 2013 – pp. 571-572.

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