domingo, 21 de julho de 2024

Que o Grão de mostarda seja semeado em nossa alma (XVIDTCA)

Que o Grão de mostarda seja semeado em nossa alma

Retomo um trecho do Sermão do Bispo São João Crisóstomo (séc. IV) que nos fala sobre Cristo, o grão que dissipou as trevas e renovou a Igreja, a partir da Parábola do grão de mostarda (Mt 13,31-32).

“Ó grão por quem foi feito o mundo, por quem foram dissipadas as trevas e renovada a Igreja!

Este grão, suspenso na Cruz, teve tal eficácia que mesmo estando cravado, somente com Sua Palavra raptou o ladrão do madeiro e o transladou às delícias do paraíso; este grão, ferido pela lança no Seu lado, destilou para os sedentos uma Bebida de imortalidade; este grão de mostarda, descido do madeiro e depositado no horto, cobriu toda a terra com os Seus ramos; este grão, depositado no horto, plantou Suas raízes até o inferno, e, tomando consigo as almas que ali jaziam, em três dias as levou para o céu.

Portanto, ‘o Reino dos Céus é semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e o semeou em seu horto’.

Semeia este grão de mostarda no horto de tua alma. Se tiveres este grão de mostarda no horto de tua alma, o Profeta também dirá a ti: ‘Serás um horto bem regado, um manancial de águas cuja veia nunca seca.’...

Ó semente de vida semeada na terra por Deus Pai! Ó gérmen de imortalidade que reconcilias com Deus aos mesmos que tu alimentas!

Diverte-te sob esta árvore e dança com os Anjos, glorificando ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, agora e sempre e por todos os séculos dos séculos. Amém.” (1)

Contemplemos este grão com Seus ramos, alcançando a profundidade do inferno para resgatar ao mais alto dos céus, depois do terceiro dia, com Sua Ressurreição.

Assim cremos: Ele desceu à mansão dos mortos, Ressuscitou ao terceiro dia, para que, em Sua Ressurreição, nossa morte fosse vencida, alcançando-nos a glória da imortalidade.

Que estes benditos ramos também nos alcancem a mesma graça de um dia, enraizados em Cristo e Ele em nós, tenhamos a graça de contemplar a face de Deus na glória da eternidade.

O imperativo do Sermão também nos toca profundamente: “Semeia este grão de mostarda no horto de tua alma...”.

Este grão é o próprio Cristo, é a Sua Palavra, e o abrir-se à graça do Reino que Ele anunciou, nosso tesouro mais precioso, nossa pérola preciosa, que Ele mesmo nos fala nas Parábolas, e o Evangelista nos apresenta (Mt 13, 44-46).

O Reino dos Céus é realmente um tesouro, e ainda mais, o único tesouro verdadeiro, um tesouro escondido, difícil de ser descoberto, mas que vale a pena todo esforço para descobri-lo.

Um tesouro que, uma vez encontrado, exige sacrifício, renúncia, o vender tudo, no dia a dia, para conservá-lo:

“O tesouro escondido, pelo qual é preciso vender tudo, é, sim, o Reino dos Céus, isto, é, uma realidade, mas é também em primeiro lugar uma Pessoa: é o próprio Jesus. Segui-Lo, escolhê-Lo pela vida e voltar a escolhê-Lo sempre de novo, ser Seu discípulo, significa ter feito a escolha certa, a única que assegura o tesouro nos céus. É Ele a pérola preciosa.

Nossa comunhão seja ocasião para confirmamos esta escolha de Jesus que fizemos no Batismo. Se soubermos reconhecê-Lo, este é o momento em que o tesouro vem se esconder dentro de nós para que O descubramos”.

Lembrando a Parábola do semeador (Mt 13, 1-23), que não tenhamos coração endurecido,  num relacionamento superficial e leviano com Deus (semente que caiu à beira do caminho); impermeáveis aos apelos divinos (semente que caiu no meio das pedras); ou demasiadamente preocupados com as múltiplas tarefas, sacrificando o tempo  do diálogo amoroso com Deus, numa intimidade e amizade frutuosa.

Que a Palavra do Divino Semeador seja plantada em nosso coração, no horto de nossa alma, e que procuremos ser o chão fértil onde ela possa cair e produzir os frutos que Deus tanto espera de nós, em contínua transformação e conversão, fecundando a Semente do Verbo, nutridos da Mesa da Eucaristia, indispensavelmente, porque sem Ele nada somos, nada podemos...

(1) Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes - 2013 - pág.182

PS: Passagem paralela: Evangelho de Lucas (Lc 13,18-21)

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