segunda-feira, 25 de março de 2024

O Anúncio do Evangelho (Evangelii Gaudium - Capítulo III) -segunda parte-

II. A homilia
 “... Deter-me-ei particularmente, e até com certa meticulosidade, na homilia e sua preparação, porque são muitas as reclamações relacionadas com este ministério importante, e não podemos fechar os ouvidos.

A homilia é o ponto de comparação para avaliar a proximidade e a capacidade de encontro de um Pastor com o seu povo. De fato, sabemos que os fiéis lhe dão muita importância; e, muitas vezes, tanto eles como os próprios ministros ordenados sofrem: uns a ouvir e os outros a pregar.

É triste que assim seja. A homilia pode ser, realmente, uma experiência intensa e feliz do Espírito, um consolador encontro com a Palavra, uma fonte constante de renovação e crescimento”. (n.135)

Modelos de pregadores:
- “Com a Palavra, Nosso Senhor conquistou o coração da gente. De todas as partes, vinham para O ouvir (cf. Mc 1, 45). Ficavam maravilhados, «bebendo» os Seus ensinamentos (cf. Mc 6, 2). Sentiam que lhes falava como quem tem autoridade (cf. Mc 1, 27)”.

Os Apóstolos, enviados por Jesus chamados «para estarem com Ele e para os enviar a pregar» (Mc 3, 14), atraíram para o seio da Igreja todos os povos com a palavra (cf. Mc 16, 15.20).

- São Paulo fala vigorosamente sobre a necessidade de pregar, porque o Senhor quis chegar aos outros por meio também da nossa palavra (cf. Rm 10, 14-17).  (n.136)

O que é e o que não é a homilia:
- é “a proclamação litúrgica da Palavra de Deus, principalmente no contexto da assembleia eucarística, não é tanto um momento de meditação e de catequese, como sobretudo o diálogo de Deus com o Seu povo, no qual se proclamam as maravilhas da salvação e se propõem continuamente as exigências da Aliança”;

- é um retomar este diálogo que já está estabelecido entre o Senhor e o seu povo;

- aquele que prega deve conhecer o coração da sua comunidade para identificar onde está vivo e ardente o desejo de Deus e também onde é que este diálogo de amor foi sufocado ou não pôde dar fruto;

- não pode ser um espetáculo de divertimento, não corresponde à lógica dos recursos mediáticos, mas deve dar fervor e significado à celebração;

- é um gênero peculiar, já que se trata de uma pregação no quadro duma celebração litúrgica; por conseguinte, deve ser breve e evitar que se pareça com uma conferência ou uma lição;

- uma conversa na exata medida do tempo, de modo que se ela se prolongar demasiado, lesa duas características da celebração litúrgica: a harmonia entre as suas partes e o seu ritmo;

- quando a pregação se realiza no contexto da Liturgia, incorpora-se como parte da oferenda que se entrega ao Pai e como mediação da graça que Cristo derrama na celebração;

- a pregação orienta a assembleia, e também o pregador, para uma comunhão com Cristo na Eucaristia, que transforme a vida;

- a palavra do pregador não pode ocupar um lugar excessivo, para que o Senhor brilhe mais que o ministro.  (n.137-138)

A Homilia como conversa da mãe: “Lembra-nos que a Igreja é mãe e prega ao povo como uma mãe fala ao seu filho, sabendo que o filho tem confiança de que tudo o que se lhe ensina é para seu bem, porque se sente amado. Além disso, a boa mãe sabe reconhecer tudo o que Deus semeou no seu filho, escuta as suas preocupações e aprende com ele... Esta linguagem é uma tonalidade que transmite coragem, inspiração, força, impulso”. (n.139)

“No diálogo deve ser cultivado através da proximidade cordial do pregador, do tom caloroso da sua voz, da mansidão do estilo das suas frases, da alegria dos seus gestos. Ainda que às vezes a homilia seja um pouco maçante, se houver este espírito materno-eclesial, será sempre fecunda, tal como os conselhos maçantes duma mãe, com o passar do tempo, dão fruto no coração dos filhos”. (n.140)

Os recursos empregados pelo Senhor:
- o Seu olhar para o povo vai além das suas fraquezas e quedas: «Não temais, pequenino rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o Reino» (Lc 12, 32). Jesus prega com este espírito;

- o transbordando de alegria no Espírito, bendiz o Pai por lhe atrair os pequeninos: «Bendigo-Te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos inteligentes e as revelaste aos pequeninos» (Lc 10, 21). (n.141)

Palavras que abrasam os corações:
 “A pregação puramente moralista ou doutrinadora e também a que se transforma numa lição de exegese reduzem esta comunicação entre os corações que se verifica na homilia e que deve ter um carácter quase sacramental: «A fé surge da pregação, e a pregação surge pela palavra de Cristo» (Rm 10, 17)...Na homilia, a verdade anda de mãos dadas com a beleza e o bem”. (n.142)

“O pregador tem a belíssima e difícil missão de unir os corações que se amam: o do Senhor e os do seu povo... Durante o tempo da homilia, os corações dos crentes fazem silêncio e deixam-No falar a Ele...

A Palavra é, essencialmente, mediadora e necessita não só dos dois dialogantes, mas também de um pregador que a represente como tal, convencidos de que ‘não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor, e nos consideramos vossos servos, por amor de Jesus’ ( 2 Cor 4,5)”  (n.143)

A Homilia é “falar com o coração implica mantê-lo não só ardente, mas também iluminado pela integridade da Revelação e pelo caminho que essa Palavra percorreu no coração da Igreja e do nosso povo fiel ao longo da sua história... Fazer com que o nosso povo se sinta, de certo modo, no meio destes dois abraços (o pai e o filho pródigo, e o abraço de Maria) é a tarefa difícil, mas bela, de quem prega o Evangelho”.  (n.144)


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