segunda-feira, 1 de abril de 2024

A Ressurreição de Jesus: O Mistério central da fé (Parte V)

A Ressurreição de Jesus: O Mistério central da fé

Quanto à celebração do Mistério, a Igreja coloca a Ressurreição de Jesus no centro e no coração do Ano Litúrgico.

A Páscoa do Senhor é preparada pelo Tempo Quaresmal (quarenta dias), e o seu acontecimento dá origem ao Tempo Pascal (cinquenta dias) que se estende desde o Domingo de Páscoa, passando pela Solenidade da Ascensão no domingo antecedente ao Domingo de Pentecostes:

“Os quarenta dias do Sofrimento Quaresmal são resgatados pelos cinquenta dias da Alegria Pascal. A Sexta-feira Santa e o sábado de Aleluia, com sua providencial realidade de morte salvífica, não foram a última palavra do evento Cristo.

À morte de Jesus não se seguiu o silêncio absoluto de Deus. O Filho eterno feito homem, Crucificado e deposto no sepulcro escavado na rocha, não foi presa da morte...  a morte é derrotada e anulada pela plenitude e potência da vida divina.

Ao entrar na humanidade do Filho de Deus, ao imergir no oceano e vida que é Deus, a morte morre e se faz vida” (1)

Um período muito rico por diversos motivos, um deles é a Liturgia da Palavra, em que o Antigo Testamento dá lugar totalmente ao Novo Testamento:

“O tempo do anúncio passou. Celebra-se o tempo da realização da salvação com a leitura dos Atos dos Apóstolos e dos relatos evangélicos das aparições de Jesus aos discípulos, da Sua Ascensão ao céu e do dom do Espírito Santo à Igreja e a toda a humanidade.

A Liturgia respeita a sucessão cronológica dos eventos que constituem essencialmente um só Mistério, o da glorificação de Jesus, exposto, porém, em várias passagens como em um drama sagrado.

A celebração desse Mistério em diversas etapas tem um objetivo pedagógico (guiar gradualmente os fiéis à compreensão do Mistério) e espiritual (formar os fiéis para uma experiência de vida com Cristo)” (2)

Evidentemente, pela importância central da Ressurreição, ela oferece uma espiritualidade Pascal para toda a Igreja, em que “...a pregação cristã deve propor não apenas a experiência quaresmal de conversão e de purificação, mas também a pascal, de comunhão e de glorificação com o Cristo Ressuscitado.

Nesse sentido, pode-se legitimamente falar de uma espiritualidade da ‘via lucis’. Como sequência e ápice da renomada e tradicional espiritualidade da ‘via crucis’” (3)

A Espiritualidade “Via lucis” é fruto da “experiência de quem pretende retomar o caminho dos Apóstolos e dos primeiros discípulos que passaram da desilusão e do desconforto da Paixão e da Morte ao espanto e à alegria do encontro com o Ressuscitado.

O Mistério Pascal não se esgota no sofrimento do Crucificado, mas se cumpre plenamente na glória do Ressuscitado.” (4).

Dito de forma contundente, inequívoca e irrefutável: “O fruto maduro da Cruz é o esplendor da Ressurreição” (5)

O Bispo Santo Agostinho assim afirmou – “Nosso Senhor Jesus Cristo, ressuscitando, tornou glorioso o dia em que, morrendo, havia tornado pleno de luto” (Sermo 5,1).

O Teólogo Yves Congar (cf Credo nello Spirito santo, I, Brescia, 1981, 69-72) afirma com precisão:

“O Pentecostes nada mais é que a Páscoa de modo completo, com seu fruto, que é o Espírito. Jesus só morre, só Ressuscita e só sobe ao céu – é esta Sua Páscoa – para nos transmitir o Espírito”.

Deste modo, a Espiritualidade Pascal tem matizes de forte transbordamento de alegria pela Ressurreição de Jesus, sendo inaugurada uma espiritualidade não de tristeza e de desespero, mas de grande esperança e de otimismo realista:

“Ela representa a cura definitiva da fragilidade humana e cósmica. É o nível máximo da libertação cristã. Uma antropologia da carne ressuscitada é efetivamente uma antropologia de libertação absoluta.

A vida do homem não é uma noite invencível, mas um dia sem ocaso. Sua existência não se resolve em um não ser, mas em um ser para sempre.

A morte não é, portanto, imortal, mas mortal; e desemboca no rio de vida que é Cristo Ressuscitado.

De ser para a morte, a pessoa humana se faz ser para a vida. No mundo, reino da morte, a Ressurreição depositou as sementes da vida sem fim” (6)

Um pouco mais sobre a “Via Lucis” é bem-vindo para que fortaleçamos nossa espiritualidade genuinamente Pascal, uma novidade de vida, testemunho, alegria, libertação, espaço de esperança e de humanidade renovada:

“A Espiritualidade Pascal é momento interior de experiência de vida nova no Espírito de Cristo Ressuscitado, e momento exterior de encarnação e irradiação da alegria e da esperança da Ressurreição.

No dia a dia, realizar a Páscoa é fazer com que toda a humanidade participe do convite da vida, de suas riquezas, de sua dignidade, de seus dons.

A Páscoa não é a idade do ouro, miticamente atrás de nós, mas o irresistível polo de atração que está diante de nós e nos arrasta irresistivelmente para a vida.

A história do cosmos e da humanidade está permeada de Páscoa e respira a esperança da Ressurreição: ‘O Ressuscitado é o motor da história, inserido por Deus no centro do devir humano.

O ponto de apoio é a vitória de Cristo sobre a morte, xeque de todas as conquistas, enigma insuperável para o homem em busca do seu significado’ (cf. S. Palumbieri, Cristo risorto leva dela storia, Turim, 1988, 292)” (7)

Renovando cada dia nossa fé no Ressuscitado, tendo a graça de acolher a sua manifestação, saibamos reconhecê-Lo, e tenhamos a graça de sermos aqueles a quem se referiu, quando permitiu que Tomé tocasse Suas Santas Chagas e disse –“Porque viste creste. Felizes os que não viram e creram” (Jo 20,29).

Felizes seremos se crermos e ao mundo anunciarmos e testemunharmos a Vida Nova de Jesus Cristo, por nós alcançada com Sua crudelíssima Morte e gloriosa Ressurreição.


(1) (2) (3) (4) (5) Dicionário de Homilética – Verbete Ressurreição – p. 1498.
(6) (7) Idem pp. 1498/1499

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