segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Mensagem para o 52º Dia Mundial da Paz – Papa Francisco (2019)




Mensagem para o 52º Dia Mundial da Paz – Papa Francisco

“A boa política está ao serviço da paz” –
“A paz esteja nesta casa”

Ofereço uma síntese da Mensagem do Papa Francisco para o 52º Dia Mundial da Paz, celebrado no dia 1º de janeiro de 2019.

A mensagem tem como titulo: “A boa política está ao serviço da paz”, e como inspiração bíblica, a passagem do Evangelho de Lucas: “Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: ‘A paz esteja nesta casa! ’ E, se lá houver um homem de paz, sobre ele repousará a Vossa paz; se não, voltará para Vós” (Lc 10, 5-6).

“Casa” refere-se a cada família, cada comunidade, cada país, cada continente, na sua singularidade e história; antes de tudo, é cada pessoa, sem distinção nem discriminação alguma. E é também a nossa «casa comum»: o planeta onde Deus nos colocou a morar e do qual somos chamados a cuidar com solicitude.

A paz parecida com a esperança, como uma flor frágil, que procura desabrochar entre as pedras da violência (citando o poeta Carlos Péguy) é compromisso de todos.

Neste sentido, somos desafiados a exercer a boa política, uma vez que a busca do poder a todo custo leva a abusos e injustiças.

A boa política é um meio fundamental para construir a cidadania e as obras do homem, mas, quando aqueles que a exercem não a vivem como serviço à coletividade humana, pode tornar-se instrumento de opressão, marginalização e até destruição.

O Santo Padre retoma as palavras do Papa São Paulo VI, na Octogésima Adveniens (1971) – “tomar a sério a política, nos seus diversos níveis – local, regional, nacional e mundial – é afirmar o dever do homem, de todos os homens, de reconhecerem a realidade concreta e o valor da liberdade de escolha que lhes é proporcionada, para procurarem realizar juntos o bem da cidade, da nação e da humanidade”.

Se a política for implementada no respeito fundamental pela vida, à liberdade e à dignidade das pessoas, ela pode se tornar verdadeiramente uma forma eminente de caridade.

No terceiro parágrafo, acentua sobre a importância da caridade e as virtudes humanas, para uma política ao serviço dos direitos humanos e da paz.

Recorda-nos as “bem-aventuranças do político”, que nos foram propostas por uma testemunha fiel do Evangelho, o Cardeal vietnamita Francisco Xavier Nguyen Van Thuan, falecido em 2002:

“Bem-aventurado o político que tem uma alta noção e uma profunda consciência do seu papel.

Bem-aventurado o político de cuja pessoa irradia a credibilidade.
Bem-aventurado o político que trabalha para o bem comum e não para os próprios interesses.

Bem-aventurado o político que permanece fielmente coerente.
Bem-aventurado o político que realiza a unidade.

Bem-aventurado o político que está comprometido na realização duma mudança radical.

Bem-aventurado o político que sabe escutar.
Bem-aventurado o político que não tem medo”.

Cada renovação nos cargos eletivos, cada período eleitoral, cada etapa da vida pública constitui uma oportunidade para voltar à fonte e às referências que inspiram a justiça e o direito, de modo que a  boa política está ao serviço da paz; respeita e promove os direitos humanos fundamentais, que são igualmente deveres recíprocos, para que se teça um vínculo de confiança e gratidão entre as gerações do presente e as futuras, afirmou o Papa.

No quarto parágrafo, apresenta-nos os vícios da política que  enfraquecem o ideal duma vida democrática autêntica, são a vergonha da vida pública e colocam em perigo a paz social: “a corrupção – nas suas múltiplas formas de apropriação indevida dos bens públicos ou de instrumentalização das pessoas –, a negação do direito, a falta de respeito pelas regras comunitárias, o enriquecimento ilegal, a justificação do poder pela força ou com o pretexto arbitrário da «razão de Estado», a tendência a perpetuar-se no poder, a xenofobia e o racismo, a recusa a cuidar da Terra, a exploração ilimitada dos recursos naturais em razão do lucro imediato, o desprezo daqueles que foram forçados ao exílio”.

No parágrafo seguinte, fala da boa política que promove a participação dos jovens e a confiança no outro, tornando-nos “Artesãos da paz” – “Uma tal confiança nunca é fácil de viver, porque as relações humanas são complexas. Nestes tempos, em particular, vivemos num clima de desconfiança que está enraizada no medo do outro ou do forasteiro, na ansiedade pela perda das próprias vantagens, e manifesta-se também, infelizmente, a nível político mediante atitudes de fechamento ou nacionalismos que colocam em questão aquela fraternidade de que o nosso mundo globalizado tanto precisa. Hoje, mais do que nunca, as nossas sociedades necessitam de ‘artesãos da paz’ que possam ser autênticos mensageiros e testemunhas de Deus Pai, que quer o bem e a felicidade da família humana.

No sexto parágrafo, exorta-nos a dizer não à guerra e à estratégia do medo – “O terror exercido sobre as pessoas mais vulneráveis contribui para o exílio de populações inteiras à procura duma terra de paz. Não são sustentáveis os discursos políticos que tendem a acusar os migrantes de todos os males e a privar os pobres da esperança...

O nosso pensamento detém-se, ainda e de modo particular, nas crianças que vivem nas zonas atuais de conflito e em todos aqueles que se esforçam por que a sua vida e os seus direitos sejam protegidos. No mundo, uma em cada seis crianças sofre com a violência da guerra ou pelas suas consequências, quando não é requisitada para se tornar, ela própria, soldado ou refém dos grupos armados.

O testemunho daqueles que trabalham para defender a dignidade e o respeito das crianças é extremamente precioso para o futuro da humanidade”.

No parágrafo seguinte, fala-nos da necessidade de um grande projeto de paz–“Com efeito, a paz é fruto dum grande projeto político, que se baseia na responsabilidade mútua e na interdependência dos seres humanos. Mas é também um desafio que requer ser abraçado dia após dia”

A tríplice dimensão da paz pressupõe a conversão do coração e da alma:

– “a paz consigo mesmo, rejeitando a intransigência, a ira e a impaciência e – como aconselhava São Francisco de Sales – cultivando «um pouco de doçura para consigo mesmo», a fim de oferecer «um pouco de doçura aos outros»;

– a paz com o outro: o familiar, o amigo, o estrangeiro, o pobre, o atribulado…, tendo a ousadia do encontro, para ouvir a mensagem que traz consigo;

– a paz com a criação, descobrindo a grandeza do dom de Deus e a parte de responsabilidade que compete a cada um de nós, como habitante deste mundo, cidadão e ator do futuro”.

Finaliza convidando-nos a promover a política da paz, tendo como inspiração o espírito do Magnificat que Maria, Mãe de Cristo Salvador e Rainha da Paz, canta em nome de todos os homens:

A «misericórdia [do Todo-Poderoso] estende-se de geração em geração sobre aqueles que O temem. Manifestou o poder do Seu braço e dispersou os soberbos. Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes (…), lembrado da Sua misericórdia, como tinha prometido a nossos pais, a Abraão e à sua descendência, para sempre» (Lc 1, 50-55).




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