quarta-feira, 6 de novembro de 2024

A autêntica e frutuosa religião (XXXIIDTCB) (Homilia)

                                                         

A autêntica e frutuosa religião

Com a Liturgia do 32º Domingo do Tempo comum (Ano B), refletiremos sobre o culto verdadeiro e agradável a Deus, tão diferente dos cultos marcados pelas aparências dos rituais. 

A Deus não interessa grandes manifestações religiosas ou ritos externos suntuosos. Duas pobres viúvas são o centro da Liturgia deste Domingo. 

Deus não mede nossas ações e gestos com algarismos, ao contrário, mede com o amor; avalia de acordo com os valores interiores da pessoa porque Ele vê além das aparências, vai até o coração.

O culto autêntico deve ser marcado na atitude de vida: doação, confiança e entrega total em favor do próximo, esvaziando-se de si mesmo e colocando-se plenamente nas mãos de Deus.

A passagem da primeira Leitura (1Rs 17,10-16) narra uma história de natureza popular (a acolhida do Profeta Elias pela viúva e a solidariedade feita).

Ressalta-se que a vida marcada pela partilha e solidariedade na fidelidade a Javé é garantia de vida em abundância; portanto, uma história de natureza tão popular com notáveis mensagens:

 -   A comunicação e revelação do Amor de Deus pelos empobrecidos;

   -   Deus é o grande vencedor e não baal (ídolo);

 -   A graça de Deus é para todos, sem distinção de raças, fronteiras ou crenças religiosas.

Reflitamos:

- Do que precisamos  nos despir, para que nosso coração não fique atravancado, e assim impedido de acolher os desafios e as propostas de Deus?

-  Quais são os bens que temos para repartir, a fim de que se tornem fonte de vida e de bênção para nós e para todos aqueles que deles se beneficiam?

- De quais ídolos devemos nos libertar para adoração a Deus de coração sincero, em espírito e verdade?

A passagem da segunda Leitura (Hb 9,24-28) nos apresenta Jesus Cristo como o Sumo Sacerdote perfeito, que  entregou Sua vida em favor da humanidade, tornando-Se o mediador da Nova e Eterna Aliança.

A entrega de Cristo, com o sacrifício consumado do dom total de Sua Vida, teve eficácia total e universal: assim Ele conseguiu a destruição da condição pecadora do homem e da mulher, a salvação foi nos alcançada.

O autor da Carta aos Hebreus, dirigindo-se aos cristãos em dificuldade, com a perda do entusiasmo inicial, pois grandes eram as dificuldades, os reanima para que não corram o risco de renunciar ao compromisso assumido no dia do Batismo. 

É notável o seu esforço em animar e revitalizar a experiência de fé de seus destinatários. Do mesmo modo, é preciso que renovemos nossa adesão incondicional a Jesus, fazendo de nossa vida um dom de amor aos irmãos, apesar de nossas fragilidades e debilidades. 

Não podemos nos afastar da comunhão com Deus e da vida eterna, mas nos colocarmos numa constante “metanoia”, transformando radicalmente para viver no amor, serviço, perdão e dom da vida. Como isto se manifesta em nossa vida e em nossos compromissos pastorais?

A passagem do Evangelho (Mc 12,38-44) nos apresenta a oferta da viúva no templo. 

Esta passagem está situada em Jerusalém, nos dias que antecedem à prisão, julgamento e morte de Jesus.

Jesus faz uma crítica aos ritos vazios, desmascarando a hipocrisia, a incoerência dos cultos e ritos realizados no templo pelos doutores da lei, e nos ensina como deve ser um culto agradável a Deus. De fato Deus vê além das aparências. 

Os doutores da lei têm comportamentos hipócritas, uma devoção de fachada, revelando que os ritos externos que realizam, os gestos teatrais, o cumprimento das regras, ainda que religiosamente corretas, não aproximam as pessoas de Deus, e nem as conduzem à santidade de Deus. 

Os discípulos de Jesus deverão ter outra atitude diante de Deus e do próximo: dom total, despojamento pleno, entrega radical e sem medida. Viver a fé cristã não é uma representação teatral.

De fato, o verdadeiro crente é aquele que nada guarda para si, mas no dia a dia, no silêncio e nos gestos mais simples, sai do seu egoísmo e da sua autossuficiência, colocando toda sua existência nas mãos de Deus.

Há momentos em que tudo escurece, falta-nos apoio, nossa vida parece tremer. É nesta hora que damos o autêntico testemunho da solidez de nossa fé, e verdadeiramente, podemos dizer: 

“Senhor, eu creio, mas vem em auxílio de minha pouca fé, e minha fraqueza. Pai, entrego-me em Tuas mãos”.

Urge que nos coloquemos totalmente nas mãos de Deus, oferecendo a Ele toda a nossa vida, vivendo na gratuidade, e não na troca de favores, sem a procura da  fama e dos privilégios.

Também precisamos nos despojar de nossos projetos pessoais e preconceitos, a fim de nos entregarmos com total confiança nas mãos de Deus, com completa doação, dando um salto em total abandono no Senhor, sem nenhuma dúvida ou hesitação. 

Assim viveremos uma fé amadurecida, na doação total inclusive nas situações mais adversas, no testemunho da pobreza evangélica, acompanhada da humildade e fecundidade da fé, num amor sem limites e incondicional.

Tão somente assim teremos uma verdadeira motivação de nosso engajamento pastoral, em total expressão de gratuidade, sem procura de honrarias, valorização, promoção ou elogios.

Oremos:

"Que Deus, afastando de nós todos os obstáculos, nos acompanhe para que inteiramente disponíveis nos coloquemos a serviço do Reino, na fidelidade a Jesus Cristo, com a força do Santo Espírito. Amém

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