Sagrados compromissos com o Reino
Para aprofundamento da Liturgia do 5º Domingo do Tempo Comum (ano B), acolhamos um trecho da Homilia de Raniero Cantalamessa:
“Se a salvação do homem dependesse de um simples voltar atrás, para a condição paradisíaca, bastaria eliminar do mundo o suor e a dor, com tudo o que estas palavras implicam; em outros termos, bastaria a promoção humana...
Mas para o crente a salvação está ‘à frente’, não atrás. Não consiste em voltar no paraíso perdido, mas em entrar no Reino de Deus anunciado por Cristo; não é um retorno ao antigo e ao natural, mas ‘uma renovação para melhor’.
De pronto, a promoção humana assume para nós um significado totalmente diferente; é em função do Reino; é preparação evangélica, isto é, é um elevar o homem para que se torne apto para entrar no Reino de Deus (cf. Lc 9,62). Ela não pode ficar, por isso, sem a evangelização...
O esforço para a promoção humana deve ‘preparar a matéria para o Reino dos céus (Gaudium et spes n.38). A Redenção coroa assim – não anula – a criação...”
‘A obra redentora de Cristo, que por natureza visa salvar os homens, compreende também a restauração de toda a ordem temporal. Daí que a missão da Igreja consiste não só em levar aos homens a mensagem e a graça de Cristo, mas também em penetrar e atuar com o espírito do Evangelho as realidades temporais’ (Apostalicam Actuositatem n.5)”. (1)
Algumas considerações:
- Não vivemos um saudosismo do paraíso, como algo perdido e que ficou nos primórdios da existência. Antes, este é desafio e compromisso a ser construído, com práticas mais humanas e fraternas, sobretudo quando vivermos a expressão maior do que o cristianismo nos apresenta: o amor a Deus e ao próximo (o primeiro na ordem dos preceitos, e o segundo na ordem da execução, como tão bem nos falou o Bispo e Doutor Santo Agostinho);
- A evangelização não é apenas uma promoção humana, no entanto, ela não a dispensa, pois o anúncio da Boa-Nova do Reino, pressupõe a promoção humana, o empenho para superar toda forma de dor, sofrimento, miséria, desigualdade, violência, injustiça etc.
- A evangelização engloba a existência humana, portanto, tudo que diz respeito aos homens e mulheres, diz respeito à própria Igreja, assim como suas alegrias e tristezas, angústias e esperanças, como tão bem ressaltou a “Gaudium Et Spes” (Documento do Vaticano II);
- Destaca-se, de modo especial, o protagonismo de cristãos leigos e leigas na construção de uma sociedade justa e fraterna, por seu anúncio e testemunho; animados e fortalecidos pelos que se consagram de modo pleno à vida sacerdotal (clero) e religiosas, que são motivadores, animadores destes neste árduo e desafiador testemunho no vasto e complicado mundo da economia, da política, da cultura, da economia, dos meios de comunicação e em outros âmbitos, como nos falou o Bem-aventurado Paulo VI na “Evangelli Nuntiandi” (n.70):
“Os leigos, a quem a sua vocação específica coloca no meio do mundo e à frente de tarefas as mais variadas na ordem temporal, devem também eles, através disso mesmo, atuar uma singular forma de evangelização... O campo próprio da sua atividade evangelizadora é o mesmo mundo vasto e complicado da política, da realidade social e da economia, como também o da cultura, das ciências e das artes, da vida internacional, dos ‘mass media’ e, ainda, outras realidades abertas para a evangelização, como sejam o amor, a família, a educação das crianças e dos adolescentes, o trabalho profissional e o sofrimento.”
Recolhidos e revigorados pela oração, continuemos, com alegria e coragem, a missão que o Senhor nos confiou, com a força do Espírito, que nos anima e nos assiste, para que o Reino de Deus se faça presente em nosso meio.
(1) O Verbo Se faz Carne – Raniero Cantalamessa - Editora Ave Maria – 2013 - pp.351-352
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