A misericórdia divina e a nossa conversão
A misericórdia
divina e a nossa conversão
Reflexão
à luz de uma das Cartas do abade e Confessor São Máximo (séc. VII), em que
retrata a ação de Deus em favor de todos nós, movido pela misericórdia.
“Os
pregadores da verdade e os ministros da graça divina, todos os que, desde o
princípio até os nossos dias, cada um a seu tempo, expuseram a vontade
salvífica de Deus, dizem que nada lhe é tão agradável e conforme a Seu Amor
como a conversão dos homens a Ele com sincero arrependimento.
E para
dar a maior prova da bondade divina, o Verbo de Deus Pai (ou melhor, o primeiro
e único sinal de Sua bondade infinita), num ato de humilhação que nenhuma
palavra pode explicar, num ato de condescendência para com a humanidade,
dignou-Se habitar no meio de nós, fazendo-Se homem.
E
realizou, padeceu e ensinou tudo o que era necessário para que nós, Seus
inimigos e adversários, fôssemos reconciliados com Deus Pai e chamados de novo
à felicidade eterna que havíamos perdido.
O Verbo
de Deus não curou apenas nossas enfermidades com o poder dos milagres. Tomou
sobre Si as nossas fraquezas, pagou a nossa dívida mediante o suplício da Cruz,
libertando-nos dos nossos muitos e gravíssimos pecados, como se Ele fosse o
culpado, quando na verdade era inocente de qualquer culpa.
Além
disso, com muitas Palavras e exemplos, exortou-nos a imitá-lo na bondade, na
compreensão e na perfeita caridade fraterna.
Por isso
dizia o Senhor: Eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores para a
conversão (Lc 5,32). E também: Aqueles que têm saúde não precisam de médicos,
mas sim os doentes (Mt 9,12). Disse ainda que viera procurar a ovelha
desgarrada e que fora enviado às ovelhas perdidas da casa de Israel.
Do mesmo
modo, pela Parábola da dracma perdida, deu a entender mais veladamente que
viera restaurar no homem à imagem divina que estava corrompida pelos mais
repugnantes pecados.
E
afirmou: Em verdade Eu vos digo, haverá alegria no céu por um só pecador que se
converte (cf. Lc 15,7).
Por esse
motivo, contou a Parábola do bom samaritano: àquele homem que caíra nas mãos
dos ladrões, e fora despojado de todas as vestes, maltratado e deixado
semimorto, atou-lhe as feridas, tratou-as com vinho e óleo e, tendo colocado em
seu jumento, deixou-o numa hospedaria para que cuidassem dele; pagou o
necessário para o seu tratamento e ainda prometeu, dar na volta, o que
porventura se gastasse a mais.
Mostrou-nos
ainda a condescendência e bondade do pai que recebeu afetuosamente o filho pródigo
que voltava, como o abraçou porque retornara arrependido, revestiu-o de novo
com as insígnias de sua nobreza familiar e esqueceu todo o mal que fizera.
Pela
mesma razão, reconduziu ao redil a ovelhinha que se afastara das outras cem
ovelhas de Deus e fora encontrada vagueando por montes e colinas. Não lhe bateu
nem a ameaçou nem a extenuou de cansaço; pelo contrário, colocando-a em seus
próprios ombros, cheio de compaixão, trouxe-a sã e salva para o rebanho.
E deste modo exclamou: Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob
o peso dos vossos fardos, e Eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo
(Mt 11,28-29).
Ele
chamava de jugo os Mandamentos ou a vida segundo os Preceitos evangélicos; e
quanto ao peso, que pela penitência parecia ser grande e mais penoso, acrescentou:
O meu jugo é suave e o meu fardo é leve (Mt 11,30).
Outra vez, querendo nos ensinar a justiça e a bondade de Deus, exortava-nos com
estas Palavras: Sede Santos, sede perfeitos, sede misericordiosos, como também
vosso Pai celeste é misericordioso (cf. Mt 5,48; Lc 6,36).
E:
Perdoai, e sereis perdoados (Lc 6,37). Tudo quanto quereis que os outros vos
façam, fazei também a eles (Mt 7,12).”
Deus age
movido por Sua misericórdia infinita e irrevogável para com os pecadores, para
que se convertam e vivam, recuperando a dignidade e o sentido da existência
perdida.
Com a carta, o Abade nos leva a um mergulho na profundidade da misericórdia de
Deus, que encontramos no Sagrado Coração de Jesus.
Como que
um pintor, nos apresenta, em telas do Espírito, a ação de Jesus em diversas
situações e parábolas, com uma leveza indescritível.
Reconheçamos,
em todo o tempo, nossa condição pecadora, intensificando o processo contínuo de
conversão e arrependimento sincero.
Procuremos novos caminhos, renunciando às obras das trevas, o que nos
introduzirá no esplendor da luz do Ressuscitado, como discípulos missionários
Seus, em contínuo processo de conversão, com gestos e novos compromissos, para
que sejamos testemunhas vivas e credíveis do Ressuscitado; testemunhas de que a
misericórdia de Deus pode nos purificar e nos libertar de todo pecado que rouba
nosso movimento, como que numa indesejável paralisia espiritual.
Bem afirmou o Apóstolo Paulo: “É para a liberdade que Cristo nos
libertou” (Gl 5,1).
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