Em
tempos difíceis que estamos vivendo, em quarentena, devido a pandemia do novo
coronavírus, muito oportuna esta reflexão do Papa Bento XVI, no Ângelus
do dia 17 de junho de 2012, na Praça de São Pedro, em que reflete a passagem do
Evangelho de Marcos (Mc 4,26-34):
“Queridos
irmãos e irmãs,
A
liturgia de hoje nos oferece duas breves parábolas de Jesus: a da semente que
cresce por si próprio e da semente de mostarda (cfr Mc 4,26–34). Através de
imagens referentes ao mundo da agricultura, o Senhor apresenta o mistério da
Palavra e do Reino de Deus, e indica as razões da nossa esperança e do nosso
empenho.
Na
primeira parábola, a atenção é colocada sobre o dinamismo da semeação: a
semente que é lançada sobre a terra, enquanto o agricultor dorme e acorda,
germina e cresce sozinha.
O
homem semeia com a confiança que o seu trabalho não será infecundo. Aquilo que
sustenta o agricultor nos seus afazeres cotidianos é justamente a confiança na
força da semente e na bondade do terreno.
Esta
parábola se refere ao mistério da criação e da redenção, da obra fecunda de Deus
na história. Ele é o Senhor do Reino, o homem é seu humilde colaborador, que
contempla e aprecia a ação criadora divina e espera pacientemente os frutos.
A
colheita final nos faz pensar na intervenção final de Deus no fim dos tempos,
quanto Ele realizara plenamente o seu Reino. O tempo presente é o tempo de
semear e o crescimento da semente é assegurado pelo Senhor.
Cada
cristão, então, sabe bem que pode fazer tudo aquilo que puder, mas que o
resultado final depende de Deus: esta consciência é o sustenta no cansaço de
cada dia, especialmente nas situações difíceis.
A
tal propósito escreve Santo Inácio de Loyola: ‘Aja como se tudo dependesse de
você, sabendo bem que, na realidade, tudo depende de Deus’ (cfr Pedro de
Ribadeneira, Vida de S. Inácio de Loyola, Milão, 1998).
Também
a segunda parábola utiliza a imagem da semente. Aqui, porém, se trata de uma
semente específica, o grão de mostarda, considerada a menor de todas as
sementes.
Embora
tão miúda, no entanto, é plena de vida, desde sua ruptura, vem um rebento capaz
de quebrar o solo, e chegar até a luz do sol e crescer até se tornar ‘maior de
todas as plantas da horta’ (cfr Mc 4,32): a fragilidade é a força da semente, a
ruptura é sua potência: assim é o Reino de Deus: uma realidade humanamente
pequena, composta por quem é pobre de coração, por quem não confia na própria
força, mas naquela do amor de Deus, por quem não é importante aos olhos do
mundo; e ainda, justamente através da ruptura deles, explode a força de Cristo
e transforma aquilo que é aparentemente insignificante.
A
imagem da semente é particularmente querida para Jesus, porque expressa bem o
mistério do Reino de Deus. Nas duas parábolas de hoje, isso representa um ‘crescimento’
e um ‘contraste’: o crescimento que vem graças a um dinamismo inserido na
própria semente e o contraste que existe entre a pequenez da semente e a
grandeza daquilo que produz.
A
mensagem é clara: o Reino de Deus, também exige nossa colaboração, é antes de
tudo, dom do Senhor, graça que precede o homem e suas obras. A nossa pequena
força, aparentemente impotente diante dos problemas do mundo, se colocada
naquela de Deus, não teme obstáculos, porque certa é a vitória do Senhor.
É
o milagre do amor de Deus, que faz germinar e crescer cada semente de bem
lançada na terra. E a experiência deste milagre de amor nos faz otimistas,
apesar das dificuldades, sofrimentos e o mal que encontramos.
A
semente germina e cresce, porque o que a faz crescer é o amor de Deus. A Virgem
Maria, que acolheu como ‘terra boa’ a semente da Palavra divina, reforça em nós
essa fé e esta esperança”.
Reflitamos
sobre a graça do Reino de Deus que Jesus inaugurou, e que nos chama para sermos
colaboradores e trabalhar pelo mesmo.
“...Venha a nós o
Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade...”,
assim rezamos na Oração que o Senhor nos ensinou.
O
Reino cresce no silêncio e na aparente insignificância de nossos trabalhos. No
entanto, são preciosos aos olhos de Deus, se feitos com amor.
Retomemos as palavras de Santo Inácio de Loyola (séc. XVI) ao
longo destes dias de recolhimento e oração:
“Aja como se tudo dependesse de você, sabendo bem que, na
realidade, tudo depende de Deus”.
(1) (cf. Pedro de Ribadeneira, Vida
de S. Inácio de Loyola, Milão, 1998).
PS: Escrito em 23 de março de 2020
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