No Santuário Boa Viagem – Belo Horizonte – MG, celebramos a Missa de acolhida de migrantes venezuelanos.
Na homilia, referi-me ao Santuário como casa dedicada à Mãe, e como toda a mãe, acolhe hoje seus filhos migrantes.
Estando o Santuário em reforma, me veio à mente a Homilia escrita pelo Bispo São João Crisóstomo (séc. IV), sobre o Evangelho de São Mateus, sobre o cuidado do templo e os templos de Deus; quando afirmei – “é preciso cuidar do templo, mas também dos templos vivos de Deus, como a Igreja assim está fazendo neste momento.”
“Queres honrar o corpo de Cristo? Não O desprezes quando nu, não O honres com vestes de seda e abandones fora no frio e na nudez o aflito.
Pois aquele que disse: Isto é o meu Corpo (Mt 26,2) e confirmou com a Palavra, é o mesmo que falou: Tu Me viste faminto e não Me alimentaste (Mt 25,35); e: O que não fizeste a um destes mais pequeninos, não o fizeste a mim (Mt 25,45). Este não tem necessidade de vestes, mas de corações puros, aquele, porém, precisa de grande cuidado...
Aprendamos, portanto, a raciocinar e a reverenciar a Cristo como lhe agrada... Assim, honra-O tu com a honra prescrita em lei, distribuindo tua fortuna com os pobres. Deus não precisa de vasos de ouro, mas de almas de ouro.
Que proveito haveria, se a Mesa de Cristo está coberta de taças de ouro e Ele próprio morre de fome? Sacia primeiro o faminto e, depois, do que sobrar, adorna sua mesa.
Fazes um cálice de ouro e não dás um copo de água? Que necessidade há de cobrir a mesa com véus tecidos de ouro, se não lhe concederes nem mesmo a coberta necessária? Que lucro haverá? Diz-me: se vês alguém que precisa de alimento e, deixando-o lá, vais rodear a mesa, de ouro, será que te agradecerá ou, ao contrário, se indignará? Que acontecerá se ao vê-lo coberto de andrajos e morto de frio, deixas de dar as vestes, mandas levantar colunas douradas, declarando fazê-lo em sua honra? Não se julgaria isto objeto de zombaria e extrema afronta? Pensa também isto a respeito de Cristo, quando errante e peregrino vagueia sem teto.
Não O recebes como hóspede, mas ornas o pavimento, as paredes e os capitéis das colunas, prendes com cadeias de prata as lâmpadas, e a Ele, preso em grilhões no cárcere, nem sequer te atreves a vê-Lo.
Torno a dizer que não proíbo tais adornos, mas que com eles haja também cuidado pelos outros. Ou melhor, exorto a que se faça isto em primeiro lugar. Daquilo, se alguém não o faz, jamais é acusado; isto porém, se alguém o negligencia, provoca-lhe a geena e fogo inextinguível, suplico com os demônios.
Por conseguinte, enquanto adornas a casa, não desprezes o irmão aflito, pois ele é mais precioso que o templo”
Esta é uma Homilia profundamente questionadora, na indispensável necessidade de cuidar da beleza do templo e de tudo que ao culto se refira, sem deixar de lado o essencial do Evangelho, o cuidado e a promoção dos pobres.
Reflitamos:
- De que modo cuidamos da Casa do Senhor e de tudo quanto esteja relacionado?
- Quanto de recurso financeiro e de tempo investimos no cuidado do Senhor, na pessoa dos pobres que nos interpelam, como Sua real presença?
- A preocupação que temos com o esplendor de nossos templos e liturgia é a mesma que temos com o resgate do esplendor do brilho dos olhos de nossos irmãos empobrecidos?
Concluindo: O zelo pela casa do Senhor e o amor pelos Seus templos vivos, os pobres, são inseparáveis.
Oremos:
Senhor, que eu cuide de Ti em cada irmão e irmã empobrecido, com o mesmo amor com que cuido do culto e de Tua casa;
Senhor, que o zelo, a promoção da vida e da dignidade dos pobres me consuma como me consome o zelo pela Tua casa.
Senhor, que este zelo inseparável, irrenunciável e inadiável, por nós seja vivido, porque para Vós agradável e louvável.
Senhor, não permita que caiamos em omissões execráveis, detestáveis e lamentáveis, porque por Vós inadmissíveis e impensáveis. Amém.
PS: Celebrada dia 18 de fevereiro de 2019, no Santuário da Boa Viagem - Belo Horizonte - MG
PS: Celebrada dia 18 de fevereiro de 2019, no Santuário da Boa Viagem - Belo Horizonte - MG
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