domingo, 11 de fevereiro de 2024

As primeiras lições que a renúncia nos ofereceu

As primeiras lições que a renúncia nos ofereceu

Dez anos passados, naquele amanhecer, fiquei atônito com a notícia revelada ao mundo sobre a renúncia do Papa.

Esperei algum tempo para me certificar se fato ou boato. Ao compreender que se tratava de um fato real, a serenidade voltou ao coração quando li suas próprias palavras, que precisam ser lidas por todos, católicos ou não.

“Caríssimos Irmãos, convoquei-vos para este Consistório não só por causa das três canonizações, mas também para vos comunicar uma decisão de grande importância para a vida da Igreja. Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idôneas para exercer adequadamente o Ministério Petrino.

Estou bem consciente de que este ministério, pela sua essência espiritual, deve ser cumprido não só com as obras e com as palavras, mas também e igualmente sofrendo e rezando. Todavia, no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor, quer do corpo, quer da mente; vigor este, que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado.

Por isso, bem consciente da gravidade deste ato, com plena liberdade, declaro que renuncio ao ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro, que me foi confiado pela mão dos Cardeais em 19 de Abril de 2005, pelo que, a partir de 28 de Fevereiro de 2013, às 20 horas sede de Roma, a sede de São Pedro, ficará vacante e deverá ser convocado, por aqueles a quem tal compete, o Conclave para a eleição do novo Sumo Pontífice.

Caríssimos Irmãos, verdadeiramente de coração vos agradeço por todo o amor e a fadiga com que carregastes comigo o peso do meu ministério, e peço perdão por todos os meus defeitos.

Agora confiemos a Santa Igreja à solicitude do seu Pastor Supremo, Nosso Senhor Jesus Cristo, e peçamos a Maria, sua Mãe Santíssima, que assista, com a sua bondade materna, os Padres Cardeais na eleição do novo Sumo Pontífice.
Pelo que me diz respeito, nomeadamente no futuro, quero servir de todo o coração, com uma vida consagrada à Oração, a Santa Igreja de Deus".

Algumas horas passadas, compreendo na decisão do Papa como um belo gesto de humildade, reconhecendo que não tem mais condições físicas e de saúde para estar à frente da Santa Igreja em sua missão de Romano Pontífice.

Uma lição de vida a aprender, uma vez que vivemos momentos em que as pessoas estão muito ligadas ao poder. Ele, mesmo tendo cargo vitalício, abdicou pelo melhor da Igreja.

Indubitavelmente, uma lição a ser aprendida dentro e fora dos espaços da Igreja. Seu gesto foi expressão de coerência e amor à vida, um gesto humano para consigo mesmo, mas acima de tudo de amor para com a própria Igreja.

Cargos, ministérios, títulos são para servir a Igreja, antes de tudo à vivência da graça batismal, como Profetas, Sacerdotes e Reis.

Agora, cabe a nós rezar a Deus para que o assista como o fez até o presente, para que ele viva o propósito de uma vida consagrada à Igreja.

A renúncia ao cargo não o dispensou do bom combate da fé, até que mereça um dia a contemplação da face divina, a coroa da glória. 

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