domingo, 3 de novembro de 2024

Contemplemos o Deus de Amor! (XXXIDTCC)

Contemplemos o Deus de Amor!

Com a Liturgia do 31º Domingo do Tempo Comum (ano C), refletimos sobre o amor de Deus, sempre pronto a nos acolher e oferecer uma nova vida, desde que nos proponhamos à conversão e uma vida nova, com salutares compromissos, com gestos de amor e partilha.

A passagem da primeira Leitura (Sb 11,22-12,2) nos ajuda a refletir sobre o amor de Deus: transformador e vivificador. 

Sobre a presença de Deus e Seu amor, também podemos refletir à luz da passagem da segunda leitura (2 Ts 1,11-2,2).

Trata-se de uma comunidade entusiasta e fervorosa, como devem ser todas as comunidades que professam a fé no Senhor.

Temos dois temas: a súplica de Paulo, para que os membros da comunidade vivam com dignidade a vocação que de Deus receberam, uma vez que o chamado é um dom divino;  e o segundo, trata-se da espera vigilante da vinda gloriosa do Senhor.

Paulo nos assegura que o amor de Deus acompanha a história da humanidade, e exorta que a comunidade não se deixe enganar por fantasias de fanáticos que possam surgir, semeando discórdias e falsas esperanças no coração dos que creem no Senhor.

A comunidade que espera a vinda gloriosa de Cristo, não pode esperar sem compromissos sagrados no tempo presente. Olhar com expectativa para a Sua vinda, mas concretizar a fé em gestos, vivendo com dignidade a vocação que receberam pelo Batismo.

Esta espera vigilante exige que a comunidade não se demita, ou caia em estéril acomodação e ociosidade, pois ficaria enfraquecida em sua missão evangelizadora.

A comunidade precisa ter a Palavra como fonte de espiritualidade e intimidade com Deus, e em cada Eucaristia que celebrar, anunciar a Morte e Ressurreição do Senhor, na espera de Sua vinda gloriosa, empenhando-se com ardor na participação da construção do Reino de Deus.

Tão somente vivendo, com alegria e ardor, a missão que o Senhor nos confiou é que nos preparamos para a Sua vinda gloriosa, que ninguém pode determinar quando acontecerá. Importa estarmos vigilantes e ativos na fé, na esperança e na caridade. 

A passagem do Evangelho (Lc 19,1-10), sobre a acolhida de Jesus por Zaqueu em sua casa, é marcante para a espiritualidade e muito nos ajuda na caminhada de fé, como discípulos missionários do Senhor.

Os autores da Sagrada Escritura, de modo geral, não economizam tinta para descrever a face do Amor de Deus que nos transforma.

Zaqueu vendo a Misericórdia, e sendo por Ela visto, na sua expressão maior, que é o próprio Jesus, é transformado e faz sagrados propósitos: “… Senhor, eu dou metade dos meus bens aos pobres, e se defraudei alguém, vou devolver quatro vezes mais”  (Lc 19,8). 

Zaqueu não somente acolhe, mas se converte a partir da presença de Jesus. Ele é a representação de nossa miséria, nossa condição pecadora, que corre para ver a misericórdia. 

Sua baixa estatura revela nossa pequenez, insignificância, nossa condição de criaturas diante do Criador, que apesar de nossas infidelidades, nossos pecados, jamais nos abandona… É próprio do amor não abandonar o amado.

Quando o homem corre para encontrar Deus e não corre de Deus, por Ele é encontrado e sente o desejo profundo de levar outros ao mesmo encontro. 

Verdadeiramente, o encontro com Deus nos transforma para sermos instrumentos de transformação da vida do outro. 

Contemplemos, silenciosamente, a cena maior da história: Jesus é Deus, que veio ao encontro da humanidade, no entanto, ainda há quem não quer encontrá-Lo, e deixar-se por Ele encontrar, porque não ama e não se sente amado, distanciando-se, assim, da vida e da felicidade.

Somente a experiência de amar e ser amado nos possibilita subir degraus na escada do conhecimento de Deus. Se assim não acontece é porque ainda não O encontramos.  

Quando abrimos as portas para a Salvação a novidade se instaura em nosso coração e desejamos ardentemente comunicá-la, e escrevemos belas páginas de nossa história.

A experiência de Zaqueu pode ser a nossa experiência quotidiana, depende de cada um de nós.

A transformação acontece porque somos acolhidos pelo amor de Deus; e uma vez acolhidos e amados, transformados somos revivificados e na comunidade reintegrados, para que nos tornemos participantes da História da Salvação que insistentemente quer conosco escrever. 

A História da Salvação é única e acolhe nossa realidade de pecado: em Deus o pecado cede lugar para a graça, a morte para a vida, a escuridão para a luz, o ódio para o amor, o rancor para o perdão, a carência do essencial para a abundância daquilo que é de fato vital. 

Afinal, Ele veio para que tenhamos vida plena, consumando no seu ápice, o céu, a eternidade, a plenitude de seu Amor.

É próprio do amor de Deus não exterminar, não excluir, a fim de que todos sejam salvos.

Infinita é a superioridade da lógica de Deus em comparação com a lógica dos homens. A lógica do amor de Deus, passando pelo AT e NT, é sempre aquela que nos garante a verdadeira sabedoria e felicidade, e ninguém e nem nada nos poderá tirar desta lógica.

Nada poderá nos desviar do Caminho, porque n’Ele encontra-se a plena Verdade que nos garante a Vida abundante.

O rosto de Deus onipotente manifesta-se na grandiosidade de Sua tolerância e misericórdia, na Sua prontidão em conceder o perdão, no amor para com todas as criaturas, porque todas receberam o sopro da vida.

Falar de Seu rosto misericordioso não é romantismo inútil, estéril, discurso evasivo, ao contrário, crendo neste Deus bíblico, somos questionados sobre a nossa capacidade de acolher o diferente, o pecador e a ele dirigir nosso perdão.


Esperando a Sua segunda vinda, é tempo favorável para relacionamento e aprofundamento da nossa amizade com este Deus Amor que nos é revelado na Sagrada Escritura.

Acomodação, desistência, abandono do mandamento do amor que nos dá vida nova, jamais! 

O Senhor aguardamos vigilantes amando, e  somente assim sentiremos sua presença, sentindo-nos plenamente mergulhado no Seu coração, no Seu Amor…

Finalmente, o encontro de Jesus com Zaqueu nos possibilita a reflexão sobre três olhares:

- O próprio olhar de Zaqueu, o olhar do pecador;

- O olhar dos olhares, o olhar de Jesus, o olhar d’Aquele que acolhe e ama, porque ama transforma;

- O olhar da multidão que recrimina e não compreende a intensidade e profundidade do amor de Deus pela humanidade, sobretudo a humanidade pecadora, que por Seu amor, amor extremado na Cruz a redimiu. Sim, por amor e por um amor filial, incondicional, fomos redimidos. Este é o nosso caminho: mais que o Deus de amor contemplar, Seu amor viver.

Que nossos olhares sejam como o olhar de Zaqueu, reconhecendo nossa condição pecadora, e fazendo a experiência da acolhida, amor e perdão divinos, por Deus enxergados, corações transformados. Somente assim os outros olhares também poderão se renovar.

É próprio do amor de Deus curar nossa cegueira. E curados, podemos ajudar a curar a cegueira do próximo. Curados de toda cegueira pelo Amor divino, podemos nos ver e nos relacionar como irmãos e irmãs!

“O amor do Senhor é uma chama devoradora, que se te pega te envolve todo, ainda antes que tu te percebas”, diz o teólogo Hans Urs Von Baltazar.

Reflitamos:

-  Como amamos o pecador e o possibilitamos a se libertar de seu pecado?

-  Qual a intensidade de perdão que somos capazes de viver?

-  Como vivemos a lógica do amor que tem sua alta expressão na vivência do perdão?

-  Como amar o pecador e odiar o pecado?

Somente o Amor de Deus transforma o mundo e o coração da humanidade! É próprio do amor transformar o coração do amado! 

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