segunda-feira, 26 de maio de 2025

“Alegrai-vos no Senhor”

                                                  

“Alegrai-vos no Senhor”
 
“A alegrai-vos sempre no Senhor” (Fl 4,4)
 
Sejamos enriquecidos por um dos Sermões do Bispo e Doutor da Igreja, Santo Agostinho (séc. IV), que nos exorta a manter viva a alegria, desde que ela seja no Senhor, como já dissera o Apóstolo Paulo aos Filipenses.
 
“O Apóstolo manda que nos alegremos, mas no Senhor, não no mundo. Pois afirma a Escritura: A amizade com o mundo é inimizade com Deus (Tg 4,4). Assim como um Homem não pode servir a dois senhores, da mesma forma ninguém pode alegrar-se ao mesmo tempo no mundo e no Senhor.
 
Vença, portanto, a alegria no Senhor, até que termine a alegria no mundo. Cresça sempre a alegria no Senhor; a alegria no mundo diminua até acabar totalmente. Não se quer dizer com isso que não devamos alegrar-nos, enquanto estamos neste mundo; mas que, mesmo vivendo nele, já nos alegremos no Senhor.
 
No entanto, pode alguém observar: ‘Eu estou no mundo; então, se me alegro, alegro-me onde estou’. E daí? Por estares no mundo, não estás no Senhor?
 
Escuta o mesmo Apóstolo, que falando aos atenienses, nos Atos dos Apóstolos, dizia a respeito de Deus e do Senhor, nosso Criador: n’Ele vivemos, nos movemos e existimos (At 17,28). Ora, quem está em toda parte, onde é que não está? Não foi para isto que fomos advertidos? O Senhor está próximo! Não vos inquieteis com coisa alguma (Fl 4,5-6).
 
Eis uma realidade admirável: Aquele que subiu acima de todos os céus, está próximo dos que vivem na terra. Quem está tão longe e perto ao mesmo tempo, senão Aquele que por misericórdia Se tornou tão próximo de nós?
 
Na verdade, todo o gênero humano está representado naquele homem que jazia semimorto no caminho, abandonado pelos ladrões. Desprezaram-no, ao passar, o sacerdote e o levita; mas o samaritano, que também passava por ali, aproximou-se para tratar dele e prestar-lhe socorro. O Imortal e Justo, embora estivesse longe de nós, mortais e pecadores, desceu até nós. Quem antes estava longe, quis ficar perto de nós.
 
Ele não nos trata como exigem nossas faltas (Sl 102,10), porque somos filhos. Como podemos provar isto? O Filho único morreu por nós para deixar de ser único. Aquele que morreu só, não quis ficar só. O Unigênito de Deus fez nascer muitos filhos de Deus. Comprou irmãos para Si com Seu Sangue. Quis ser condenado para nos justificar; vendido, para nos resgatar; injuriado, para nos honrar; morto, para nos dar a vida.
 
Portanto, irmãos, alegrai-vos no Senhor (Fl 4,4) e não no mundo; isto é, alegrai-vos com a verdade, não com a iniquidade; alegrai-vos na esperança da eternidade, não nas flores da vaidade. Alegrai-vos assim onde quer que estejais e em todo o tempo que viverdes neste mundo. O Senhor está próximo! Não vos inquieteis com coisa alguma”.  (1)
 
Embora vivamos momentos difíceis, nos mais diversos âmbitos, é preciso manter viva nossa esperança, a fim de que não vejamos morrer, sem perspectivas de amanhecer, a nossa alegria.
 
Crer no Ressuscitado, e n’Ele nos alegrarmos sempre, pois como disse o Bispo, para que fôssemos justificados Ele aceitou ser condenado; para que fôssemos resgatados, Ele foi vendido; para sermos honrados, aceitou todas as formas de humilhação e injúria; para termos vida, Ele passou pela Paixão e experimentou a morte.
 
De fato, “a alegria não é captada pelo crente como uma ultrapassagem da Cruz, mas como uma compreensão diferente do próprio Crucificado; não é, pois, derrota, mas revelação. Revelação de uma Salvação realizada por nós em Jesus: o amor que parecia derrotado é, na verdade vitorioso” (2).
 
Renovemos nossas forças em nosso discipulado marcado por superação de dificuldades, cansaços, desilusões, em todos os âmbitos de nossa vida. Exultemos de alegria no Senhor! 
Aleluia!
 
Mantenhamos viva a nossa alegria, e assim acontecerá se buscarmos nossa alegria no Senhor, a Verdade que nos faz verdadeiramente livres e realizados (cf. Gl 5,1), com confiança e serenidade, e jamais “nas flores da vaidade”, como tão bem expressou o Bispo.
 
Oremos:
 
Senhor Jesus Cristo, Vivo e Ressuscitado, presente no centro de nossas comunidades, rompendo as pedras que as fecham, pois nada pode impedir Sua Divina ação e manifestação em nosso meio, vos pedimos ajudai-nos a fim de que nos alegremos com a Verdade, que sois tão somente Vós, e fonte de toda a nossa esperança para o tempo presente e para toda a eternidade.
 
Senhor Jesus Cristo, Vivo, Glorioso e Ressuscitado, enviai-nos com o Vosso divino sopro, o Santo Espírito, como fizeste naquele primeiro dia da semana, quando as portas se encontravam fechadas por medo dos judeus (Jo 19, 19-31), para que enviados ao mundo, como continuadores de Vossa missão, sejamos sinais de uma vida nova, como instrumento para comunicar o perdão dos pecados a serem perdoados.
 
Senhor Jesus Cristo, Vivo, Glorioso, Ressuscitado, que subiu aos céus para ficar perto de nós, e está à direita do Pai sentado, a quem damos toda honra, glória, poder e louvor, não permitais que compactuemos ou nos omitamos diante do mistério da iniquidade, e tão pouco seduzidos pelo odor das flores da vaidade, ou qualquer outra “flor” que nos distancie, das mais belas flores que nos foram, pelo Vosso Pai Criador, no Jardim do Éden; mas movidos pela fé em Vós e em Vossa Palavra, sejamos os jardineiros de um mundo novo, em que as flores exalem alegria, confiança, esperança, serenidade, ternura, amor e bondade. Amém. Aleluia!
 

 
 
(1)   Liturgia das Horas – Volume II – Tempo Quaresma/Páscoa – pág. 1504-1505
(2)   Lecionário Comentado – Editora Paulus – Lisboa p. 603
 

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