sexta-feira, 7 de março de 2025

Rezando com os Salmos - Salmo 21 (22)

 


                          A súplica confiante do justo

“–1 Do mestre de canto, Sobre ‘a corça da manhã’. Salmo. De Davi.

–2 Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?
E ficais longe de meu grito e minha prece?
–3 Ó meu Deus, clamo de dia e não me ouvis,
clamo de noite e para mim não há resposta!

–4 Vós, no entanto, sois o Santo em Vosso Templo,
que habitais entre os louvores de Israel.
–5 Foi em Vós que esperaram nossos pais;
esperaram e Vós mesmo os libertastes.
–6 Seu clamor subiu a Vós e foram salvos;
em Vós confiaram e não foram enganados.

–7 Quanto a mim, eu sou um verme e não um homem;
sou o opróbrio e o desprezo das nações.
–8 Riem de mim todos aqueles que me veem,
torcem os lábios e sacodem a cabeça:
–9 'Ao Senhor se confiou, Ele o liberte
e agora o salve, se é verdade que Ele o ama!'

–10 Desde a minha concepção me conduzistes,
e no seio maternal me agasalhastes.
–11 Desde quando vim à luz Vos fui entregue;
desde o ventre de minha mãe sois o meu Deus!
–12 Não fiqueis longe de mim, porque padeço;
ficai perto, pois não há quem me socorra!

–13 Por touros numerosos fui cercado,
e as feras de Basã me rodearam;
–14 escancararam contra mim as suas bocas,
como leões devoradores a rugir.

–15 Eu me sinto como a água derramada,
e meus ossos estão todos deslocados;
– como a cera se tornou meu coração,
e dentro do meu peito se derrete.

=16 Minha garganta está igual ao barro seco,
minha língua está colada ao céu da boca,
e por Vós fui conduzido ao pó da morte!
–17 Cães numerosos me rodeiam furiosos,
e por um bando de malvados fui cercado.

– Transpassaram minhas mãos e os meus pés
18 e eu posso contar todos os meus ossos.
= Eis que me olham e, ao ver-me, se deleitam!
19 Eles repartem entre si as minhas vestes
e sorteiam entre si a minha túnica.

–20 Vós, porém, ó meu Senhor, não fiqueis longe,
ó minha força, vinde logo em meu socorro!
–21 Da espada libertai a minha alma,
e das garras desses cães, a minha vida!

–22 Arrancai-me da goela do leão,
e a mim tão pobre, desses touros que me atacam!
–23 Anunciarei o Vosso nome a meus irmãos
e no meio da assembleia hei de louvar-Vos!

=24 Vós que temeis ao Senhor Deus, dai-lhe louvores;
glorificai-O, descendentes de Jacó,
e respeitai-O toda a raça de Israel!

–25 Porque Deus não desprezou nem rejeitou
a miséria do que sofre sem amparo;
– não desviou do humilhado a sua face,
mas o ouviu quando gritava por socorro.

–26 Sois meu louvor em meio à grande assembleia;
cumpro meus votos ante aqueles que vos temem!
=27 Vossos pobres vão comer e saciar-se,
e os que procuram o Senhor O louvarão:
'Seus corações tenham a vida para sempre!'

–28 Lembrem-se disso os confins de toda a terra,
para que voltem ao Senhor e se convertam,
– e se prostrem, adorando, diante d’Ele,
todos os povos e as famílias das nações.

–29 Pois ao Senhor é que pertence a realeza;
Ele domina sobre todas as nações.
–30 Somente a Ele adorarão os poderosos,
e os que voltam para o pó O louvarão.
– Para Ele há de viver a minha alma,
31 toda a minha descendência há de servi-Lo;

– às futuras gerações anunciará
32 o poder e a justiça do Senhor;
– ao povo novo que há de vir, ela dirá:
'Eis a obra que o Senhor realizou!'”

 

Com o Salmo 21(22) refletimos sobre a aflição do justo e a súplica confiante a Deus por libertação. Temos a lamentação e a prece de um inocente perseguido, e que é concluída com uma ação de graças pela libertação esperada.

Lido na perspectiva da fé, vemos a Pessoa de Jesus ao morrer na Cruz, quando deu um forte grito: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Mt 27,46):

“Próximo do poema do Servo sofredor (Is 52,13-53,12), este Salmo, cujo início Cristo pronunciou sobre a Cruz e no qual os evangelistas viram descritos diversos episódios da Paixão, é, portanto, messiânico, ao menos em sentido típico.”  (1)

Também nos enriquece esta nota sobre este Salmo:

“Oração pessoal de súplica. O inocente perseguido, vivendo profunda experiência de abandono sente-se esquecido pelo próprio Deus (cf. Mt 27,46). Na angústia, faz memória dos fatos e recorda a presença de Deus na vida dos antepassados. O fiel sente-se longe de tudo e de todos. Será que até Deus se afastou? Ele que socorre sempre quem vive à margem de tudo? Onde está a face de Deus, nessas horas angustiantes? Mas da oração suplicante brota a certeza de que Deus na realidade está presente e vai socorrer o fiel contra os inimigos violentos; vai lhe fazer justiça e devolver-lhe a tranquilidade. Javé ouve o grito do pobre e lhe revela sua face libertadora. A oração ensina a confiar, mesmo quando as trevas da injustiça parecem triunfar. Pregado na cruz, Jesus rezou este Salmo (cf. Mc 15,34).” (2)

Também nós, em momentos de provações e dificuldades, podemos e devemos rezar este Salmo, sobretudo neste tempo da Quaresma, tempo favorável de graça e salvação. Tempo de renovarmos nossa confiança incondicional em Deus, e mais perfeitamente configurados a Jesus, no Seu Mistério de Paixão, Morte e Ressurreição. Ou rezá-lo na comunhão com alguém que esteja vivendo tal realidade. Amém.

 

 

(1) Bíblia de Jerusalém – Editora Paulus

(2)Bíblia Edição Pastoral – Editora Paulus

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