segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Confiança e paciência nas tribulações

 


Confiança e paciência nas tribulações

Reflexão à luz das Cartas de São Pedro Damião, bispo (séc. XI):

“Pediste-me, caríssimo, que te escrevesse palavras de consolação, a fim de reconfortar teu ânimo amargurado por tantos golpes dolorosos.

Mas se tua prudência e sensatez não estiverem adormecidas, a consolação já chegou. Na verdade, as próprias palavras mostram, sem sombra de dúvida, que Deus te está instruindo como a um filho, para alcançares a herança. É o que indicam claramente estas palavras: Filho, se decidires servir ao Senhor, permanece na justiça e no temor, e prepara tua alma para a provação (Eclo 2,1-2). Onde existe o temor e a justiça, a prova de qualquer adversidade não é tortura de escravo, mas antes correção paterna.

Pois até o santo Jó, quando diz no meio dos flagelos da infelicidade: Quem dera que Deus me esmagasse, estendesse a Sua mão e pusesse fim à minha vida (Jó 6,9), imediatamente acrescenta: É este o meu consolo, porque me atormenta com dores e não me poupa (Jó 6,10).

Para os eleitos de Deus o castigo divino é consolação, porque através das tribulações passageiras que suportam se fortalecem na firme esperança de alcançar a glória da felicidade eterna.

O artesão bate o ouro com o martelo para retirar os resíduos de impureza; a lima raspa muitas vezes para que os veios do metal brilhante cintilem com maior fulgor. Como o forno prova os vasos do oleiro, é na tribulação que são provados os homens justos (Eclo 27,5, Vulg.). Por isso diz também São Tiago: Meus irmãos, quando deveis passar por diversas provações, considerai isso motivo de grande alegria (Tg 1,2).

Sem dúvida, é justo que se alegrem aqueles que neste mundo suportam a tribulação passageira por causa de seus pecados, mas que, pelo bem praticado, têm guardada para si uma recompensa eterna no céu.

Por isso, irmão muito querido, enquanto és atingido pelos golpes da desgraça, enquanto és castigado pelos açoites da correção divina, não te deixes abater pelo desalento, não te queixes nem murmures, não fiques amargurado pela tristeza nem te impacientes pela fraqueza de ânimo. Mas conserva sempre a serenidade em teu rosto, a alegria no teu coração, a ação de graças em teus lábios.

De fato, é preciso louvar a providência divina que castiga os seus nesta vida, a fim de poupá-los dos flagelos eternos; abate para elevar, fere para curar, humilha para exaltar.

Portanto, caríssimo, fortalece o teu espírito na paciência, com estes e outros testemunhos das Sagradas Escrituras e espera confiantemente a alegria que vem depois da tristeza.

Que a esperança dessa alegria te reanime, e a caridade acenda em ti o fervor, de tal modo que o teu espírito, santamente inebriado, esqueça os sofrimentos exteriores e anseie com entusiasmo pelo que contempla interiormente.” (1)

São Pedro Damião, bispo, nasceu em Ravena no ano de 1007. Após os estudos, dedicou-se ao ensino, que logo abandonou, para se tornar eremita em Fonte Avelana. Eleito prior do mosteiro, dedicou-se incansavelmente a promover a vida religiosa, não somente ali, mas em toda as outras regiões da Itália.

Numa época muito difícil, ajudou os Papas em vista da reforma da Igreja, com sua atividade, escritos e do desempenho das embaixadas.

Destaco estas palavras de sua Carta:

“Portanto, caríssimo, fortalece o teu espírito na paciência, com estes e outros testemunhos das Sagradas Escrituras e espera confiantemente a alegria que vem depois da tristeza.”

Com o Salmista rezemos:

“Eu Vos exalto, ó Senhor, pois me livrastes,

e preservastes minha vida da morte!...

 

Cantai Salmos ao Senhor, povo fiel,

Dai-lhe graças e invocai Seu Santo nome!

 

Pois Sua ira dura apenas um momento,

Mas Sua bondade permanece a vida inteira;

 

Se à tarde vem o pranto visitar-nos,

De manhã vem saudar-nos a alegria...” (Sl 29

 

Oremos:

Ó Deus, fortalecei-nos na missão que nos confiastes. Cumulai-nos de paciência nas tribulações cotidianas de tantos nomes.

Iluminai-nos e conduzi-nos por Vossa Santa Palavra, e ajudai-nos para que dela, não apenas meros ouvintes, sejamos.

Dai-nos serenidade e maturidade para os prantos vespertinos, sem jamais perder a esperança das alegrias matutinas.

Fortalecei nossa confiança em Vós, na fidelidade ao Vosso Filho, como peregrinos de esperança, com a presença e ação do Santo Espírito. Amém.

 

(1) Memória celebrada dia 21 de fevereiro

(2)PS – fonte – Liturgia das Horas Volume Tempo Comum I – pág. 1268

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