Ela voltou a cantar...
Escrevi este texto num momento muito difícil para a comunidade, a Páscoa de alguém muito querido, subitamente, em um trágico acidente.
Momentos assim se repetem quando menos esperamos; quantos fatos surgem subitamente roubando-nos inspirações, motivações...
Rouba-nos até mesmo a vontade de fazer o que mais gostamos.
Como cantar?
Como louvar?
O que dizer?
Melhor nada dizer. Se canto houver, de dor, lamento, súplica, confiança...
Já fazia algum tempo que não a via cantar.
Já fazia algum tempo que não a via sorrir.
Finalmente, ela voltou a sorrir e a cantar. A dor da ausência teve que suplantar, Uma nova presença contemplar e o coração realegrar…
Assim foi com Maria nas primeiras Eucaristias:
Como cantar se a privaram da companhia de seu Filho?
Como ouvir os Apóstolos dizerem: “Isto é o meu Corpo, Isto é o meu Sangue”, sem o coração estremecer?
Aquele Pão Eucaristizado é o Corpo do seu Filho acolhido.
Aquele Pão partilhado é o Corpo do Seu Filho tão querido.
Aquele Vinho bebido, verdadeira Bebida é o Sangue do seu Filho, o mesmo que vira jorrar do lado trespassado. A certeza de que o mundo foi finalmente redimido e nutrido. Os pecados da humanidade foram lavados, pela água do coração que foi jorrada.
- Quantas mães tiveram por um tempo o canto sufocado, o sorriso ocultado!
- Quantas mães que precisaram de longo silêncio para a releitura da morte à luz do Mistério Pascal, para reencontrar o sentido da vida, para não dar a vida toda como jornada perdida?
- Quantas ainda mesclam sorriso com lágrimas vertidas pela dor da precoce morte/partida?
Contemplo e rezo pelas mães que choram seus filhos. Recordo aquela mãe que disse que a pior de todas as dores é o enterro de um filho, pois é como enterrar uma parte de si.
Pelas mães que choram morte de filhos que pela violência tiveram vidas abreviadas. Contemplo as mães que choram a morte das crianças inocentes de aqui ou em qualquer outro lugar…
Por aquela mãe que voltou a cantar fazendo com que o céu ganhasse mais tonalidade azul cor de anil.
Por aquela mãe que voltou a cantar e o céu mais uma vez se abriu; também por aquela que sabe para onde seu filho partiu.
Contemplo aquela mãe, respeitando sua dor, entendendo seu silêncio.
Contemplo aquela mãe que traz presente os traços da Mãe Maria, desde o Anúncio do Anjo Gabriel, passando pela Encarnação, acompanhando os passos que levou a Cruz da Redenção, e que saboreou e testemunhou, com sua presença, a Vitória da Ressurreição. Por isto reina junto do Filho, é soberana e rainha; vitoriosa, premiada, coroada no Mistério de sua Assunção.
Como preciosa é, para todos nós, a Palavra de Deus. Rezemos o Salmo 125:
“A alegria e esperança em Deus”
“Quando o Senhor reconduziu nossos cativos,
parecíamos sonhar; encheu-se de sorriso nossa boca,
nossos lábios de canções... Entre os gentios se dizia:
‘maravilhas fez com eles o Senhor!’
Sim, maravilhas fez conosco o Senhor,
Exultemos de alegria!
Mudai a nossa sorte, ó Senhor, como torrentes no deserto.
Os que lançam as sementes entre lágrimas, ceifarão com alegria.
Chorando de tristeza sairão, espalhando suas sementes;
cantando de alegria voltarão, carregando os seus feixes!”
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