quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Ah, se mais tempo eu tivesse...

                                                        

Ah, se mais tempo eu tivesse... 

Escrever é entrar na alma do outro, e não se pode fazê-lo sem responsabilidade. Entrar na alma, na mente e no coração do outro... Ainda que muito forte, que seja assim.

Sei que para escrever é preciso ler, e com o tempo fui aprendendo que é preciso também dialogar, e o mais difícil, escutar, e mais difícil ainda, a autocrítica, o aperfeiçoamento, a intuição, a captação dos sinais ao nosso redor, esforço e, sobretudo, a abertura à Inspiração Divina. Sem ela...

Escrever é dar ao outro o melhor que possuímos, acolhendo o que ele tem a dizer, criando relações de reciprocidade, vínculos fraternos, numa sadia e edificante comunicação que liberta mutuamente, e em minhas limitações sempre escrevo com o viés da espiritualidade, como não poderia deixar de ser.

Ah, se mais tempo eu tivesse...
Escreveria e aprofundaria a seríssima questão do Egito e outros tantos conflitos, mas desejo que lá ou em qualquer lugar os povos aprendam a viver na concórdia, em relações fraternas e democráticas, onde nenhum governo despótico, tirânico tenha algum quê de sobrevivência, apenas remota lembrança de um passado, alegria de uma página que para sempre foi virada...

Ah, se mais tempo eu tivesse...
Falaria da criminalidade nos morros, das drogas, do tráfico... Expressaria meu desejo e sonho (que ao de muitos se somam) de que um dia, em paz, haveremos de viver, e a vida não mais ameaçada, banalizada, destruída o será.

Ah, se mais tempo eu tivesse...
Escreveria sobre amigos virtuais, aqueles a quem não esqueço jamais, dos amigos espirituais, amigos para sempre, amigos geniais, aqueles sempre presentes, ainda que não correspondamos à altura.

Escreveria sobre a amizade que estabeleço com amigos leitores e leitores amigos (qual a diferença?) enriquecendo-me com seus retornos, desde que se abra a possibilidade para tal.

Vida corrida, tempo limitado, amizades que se eternizam vivendo da memória do belo construído um dia no passado, que para sempre no coração ficarão eternizadas.

Ah, se mais tempo eu tivesse...
Escreveria e partilharia reflexões que fiz sobre os escritos de São João da Cruz, diga-se, textos excepcionais, de riquezas profundas, que tocam o fundo da alma, porque tão belos e espirituais (Subida do Monte Carmelo, Noite Escura, Cântico Espiritual, Chama Viva de Amor etc.)

Ah, se mais tempo eu tivesse...
Escreveria sobre Edgar Morin e sua colaboração antropológica que, superando todo “antropologismo” e “biologismo”, nos coloca em frente ao grande desafio de o homem compreender, procurando tomar consciência do fio da história (quem sabe um dia falo dele e de um livro seu, “O paradigma perdido - a natureza humana”, que leio e releio por que me ajuda a compreender um pouco mais o homem, que ele bem define como “sapiens” e “demens”).

Ah, se mais tempo eu tivesse...
Possibilitaria ao leitor entender um pouco como sobre a mente daquele que escreve... Um emaranhado de ideias, um feixe com interconexões. Além da necessidade de escrever, a necessidade de dar conteúdo e base ao que se escreve e o necessário tempo para elaborar suas ideias ou para simplesmente expressá-las.

Ah, se mais tempo eu tivesse...
Acredito que o tempo somos nós que fazemos. E assim, aos poucos vou pagando minhas dívidas.
Ainda há tempo, exíguo, mas há...
O leitor merece o melhor, ainda que não consiga, tento...

Ah, se mais tempo eu tivesse... 

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