Vigilância
necessária no relacionamento comunitário
Sejamos
enriquecidos pelo Sermão escrito pelo bispo e doutor da Igreja, Santo Agostinho
(séc. V), no aprofundamento da passagem do Evangelho de Marcos (Mc
9,38-43.45.47-48).
“Portanto,
quando escutas: Ai do mundo por causa dos
escândalos, não te assustes. Ama a lei de Deus e não haverá escândalo para
ti. Mas se aproxima a mulher te sugerindo não sei que mal. A amas como deve
amar-se a esposa, como membro teu que ela é. Mas se teu olho te escandaliza, se tua mão te escandaliza, se teu pé te
escandaliza, como ouviste no Evangelho: corta-os
e lança-os longe de ti.
Quem
te é muito querido, aquele a quem tens muito apreço, considera-o grande,
considera-o como teu membro querido enquanto não comece a escandalizar-te, ou
seja, a persuadir-te algum mal. Escutai que isto é o escândalo.
Colocamos
como exemplo a Jó e a sua esposa; porém, ali não aparece a palavra escândalo.
Escuta o Evangelho: Quando o Senhor se pôs a falar de sua paixão, Pedro começou
a dissuadir-lhe de padecer. Aparta-te de
mim, satanás, porque tu és para mim escândalo. Desta forma o Senhor, que te
deu o exemplo de como viver, te ensinou em que consiste o escândalo e o modo de
precaver-te dele.
Tendo-lhe
dito antes: Feliz és, Simão Bar Jona,
tinha manifestado que era seu membro. Mas quando começou a servir-lhe de
escândalo, cortou o membro; em seguida o refez e o repôs. Portanto, será
escândalo para ti quem comece a te persuadir para algum mal. E entenda-o bem
vossa caridade: isto acontece a maior parte das vezes não por malignidade, mas
por uma perversa benevolência.
Por
exemplo: teu amigo te vê, que te ama e a quem amas, teu pai, teu irmão, teu
filho, tua esposa; teu amigo te vê no mal e quer te fazer mal. O que é te ver
no mal? É te ver em alguma tribulação. Talvez a sofres por causa da justiça;
talvez a sofres porque não queres proferir um falso testemunho. Falei isto a
modo de exemplo. Estes abundam, visto que ai
do mundo por causa dos escândalos!
Por
exemplo: um homem poderoso, para alcançar seu despojo e conseguir seu roubo, te
pede o serviço do falso testemunho. Tu te negas; negas a falsidade, para não
negar a verdade. Para não perder tempo, ele se enfurece e, sendo poderoso, te
recompensa. Aproxima-se o teu amigo que não deseja ver-te em tal aperto com
estas palavras: ‘Suplico-te, faz o que te diz: que importância tem?’ Talvez se
repete o que satanás disse ao Senhor: Está
escrito de ti que enviará os seus anjos para que teu pé não tropece. Talvez
também este teu amigo, como vê que és cristão, quer persuadir-te com
testemunhos da lei a que faças o que ele pensa que deves fazer. ‘Faz o que diz’. ‘O quê?’ ‘O que ele deseja’.
‘Mas se trata de uma mentira, de uma falsidade’. ‘Não leste que todo homem é
mentiroso?’ Eis aqui já o escândalo. Trata-se de teu amigo; o que vais
fazer? É tua mão, teu olho: Arranca-o e
lança-o longe de ti. O que significa arranca-o e lança-o longe de ti? Não
consintas. Arranca-o e lança-o longe de
ti significa não consentir.
Os
membros de nosso corpo, pela coesão, formam uma unidade, pela coesão que vivem,
e pela coesão se unem entre si. Onde há dissensão há enfermidade ou ferida.
Portanto, visto que é teu membro, o amas; mas se te escandaliza, arranca-o e lança-o longe de ti. Não
consintas; afasta-o de teus ouvidos, talvez volte corrigido.” (1)
Na
vivência comunitária, devemos ser vigilantes na própria conduta, para que não
sejamos motivo de escândalo, fragilizando a convivência e fortalecimento de
nossas comunidades.
Bem
afirmou o bispo – “Ama a lei de Deus e
não haverá escândalo para ti”.
Na
prática fecunda do Mandamento do amor a Deus e ao próximo, não seremos causa de
escândalo, bem como, saberemos ajudar nosso próximo a retornar ao bom caminho,
na fidelidade ao Senhor.
Seja
em todo o tempo vivida a misericórdia em suas expressões, como nos lembra Santa
Faustina de Kowalskas:
“Vós
mesmo mandais que eu me exercite em três graus da misericórdia; primeiro: Ato
de misericórdia, de qualquer gênero que seja; segundo: Palavra de misericórdia
– se não puder com a ação, então com a palavra; terceiro: Oração. Se não puder
demonstrar a misericórdia com a ação nem com a palavra, sempre a posso com a
oração. A minha oração pode atingir até onde não posso estar fisicamente.
Ó meu Jesus, transformai-me em Vós,
porque Vós tudo podeis”. Amém.” (2)
(1)
Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes – 2013 – pp.477-478
(2)Santa Faustina Kowalska, escrito em 937, Diário (p.163 - Caderno I)
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