Vivificados
pelo Espírito
Sejamos
enriquecidos pelo Sermão de Teodoro de Mopsuéstia (séc. V):
“Porém,
é notável que ao dar o pão Ele não dissesse: ‘Isto é a figura de meu corpo’, mas: Este é o meu corpo; e da mesma maneira o cálice, não diz: ‘Isto é a figura do meu sangue’, mas: Este é o meu sangue; porque ele quis que
tendo estes (o pão e o cálice) recebido a graça e a vinda do Espírito Santo,
não apreciemos mais a sua natureza, mas o recebamos como o corpo e o sangue que
são de nosso Senhor.
Pois
o corpo de nosso Senhor também não teve, por sua própria natureza, a
imortalidade e o (poder de) dar a imortalidade, mas foi o Espírito Santo que a
deu, e pela ressurreição dentre os mortos recebeu a conjunção com a natureza
divina, veio a ser imortal e causa de imortalidade para os demais.
Portanto,
tendo dito nosso Senhor: Aquele que come
o meu corpo e bebe o meu sangue viverá eternamente, quando viu aos judeus
murmurarem e duvidarem desta palavra – pensando que por meio de uma carne
mortal não é possível receber a imortalidade –, acrescentou para prontamente
resolver a dúvida: Se virdes ao Filho do
homem subir para onde estava antes, como se dissesse: ‘Agora isto não vos parece certo porque disse isto de meu corpo; porém,
quando me verdes ressuscitado dentre os mortos e subir ao céu, certamente não
se poderá mais ter por dura e estranha esta palavra; porque pelos próprios
fatos vos convencereis de que passei para uma natureza imortal; se eu não
estivesse nela, eu não subiria ao céu’.
E
para indicar de onde lhe virá isto, acrescenta em seguida: O Espírito vivifica, porém o corpo de nada serve. Isto, ele diz,
lhe virá pela natureza do Espírito vivificante, pela qual ele será transformado
para este (estado); que ele seja imortal e que ele concede a imortalidade aos
demais – aquilo que Ele não tinha e o que não podia dar aos demais como
proveniente de sua natureza, porque a natureza da carne é impotente para um dom
e um auxílio deste gênero.
Porém,
se a natureza do Espírito vivificante fez o corpo de nosso Senhor desta
natureza, da qual ele não era antes, é preciso que tampouco nós, que recebemos
a graça do Espírito Santo pelas figuras sacramentais, ainda vejamos como pão e
como cálice o que nos é apresentado, mas (consideremos) que é o corpo e o
sangue de Cristo, nos quais são transformados pela descida da graça do Espírito
Santo: ela, que obtém para os que dela participam o mesmo que por meio do corpo
e sangue de nosso Senhor, nós pensamos que recebem os fiéis.
Por
isto ele diz: Eu sou o pão da vida
descido do céu; e eu sou o pão da vida. E para mostrar que ele é aquilo que
ele chama de pão, diz: E o pão que vos
darei é meu corpo para a vida do mundo.
Já
que, de fato, nós subsistimos nesta vida por meio do pão e do alimento, ele se
chama a si mesmo pão da vida descido do céu, significando isto: ‘Verdadeiramente eu sou o pão da vida, que
dá a imortalidade aos que creem em mim, mediante este (corpo) visível, pelo
qual eu desci e ao qual conferi a imortalidade, e por meio do qual (a dou) aos
que creem em mim’. Podendo dizer: ‘Eu
sou aquele que dá a vida’, se abstém e no lugar diz: Eu sou o pão da vida.
De
fato, já que a imortalidade esperada, cuja promessa nos foi dada aqui, a vamos
receber nas figuras sacramentais por meio do pão e do cálice.
Ele
devia chamar-se pão a si mesmo e ao seu corpo, de modo que pela própria figura
venerássemos aquele que reivindicou esta denominação; para dar-nos a conhecer
estes dons, chamou-se a si mesmo de pão, mas quis também, por estas coisas
daqui (terrenas), fazer-nos receber sem duvidar estes bens demasiado elevados
para as palavras.” (1)
Oremos:
Senhor
Jesus Cristo, Pão da Vida e da Imortalidade, cremos em Vossa real presença na
Eucaristia, Mistério da fé e do amor e da salvação do mundo.
Concedei-nos
a graça de participar de Vossa Mesa, ouvindo Vossa Palavra e com o Vosso
Espírito, ajudai-nos a colocá-la em prática.
Dai-nos
a graça de sermos vivificados pela
Eucaristia que recebemos, e deste modo, renovarmos sagrados compromissos com a
vida em todas as suas dimensões. Amém.
(1)
Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes - pág. 455-456
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