quarta-feira, 21 de agosto de 2024

Sem lamentações inúteis

                                                           

Sem lamentações inúteis

Cada tempo tem suas dificuldades e provações, portanto, o Bispo Santo Agostinho (séc. V), em seu Sermão, nos convida a perseverar até o fim, pois assim alcançaremos a salvação, conforme também diz as Sagradas Escrituras.

“Qualquer angústia ou tribulação que sofremos é para nós aviso e também correção. As Sagradas Escrituras não nos prometem paz, segurança e repouso; o Evangelho não esconde as adversidades, os apertos, os escândalos; mas quem perseverar até o fim, esse será salvo (Mt 10, 22). Que de bom teve jamais esta vida desde o primeiro homem, desde que mereceu a morte e recebeu a maldição, maldição de que Cristo Senhor nos libertou?

Não há então, irmãos, por que murmurar, como alguns deles murmuraram, como disse o Apóstolo, e pereceram pelas serpentes (1Cor 10,10). Que tormento novo sofre hoje o gênero humano que os antepassados já não tenham sofrido? Ou quando saberemos nós que sofremos o mesmo que eles já sofreram?

No entanto, encontras homens a murmurar contra seu tempo como se o tempo de nossos pais tivesse sido bom. Se pudessem retroceder até os tempos de seus avós, será que não murmurariam? Julgas bons os tempos passados porque já não são os teus, por isto são bons.

Se já foste liberto da maldição, se já crês no Filho de Deus, se já estás impregnado ou instruído das Sagradas Escrituras, admiro-me de que consideres bons os tempos de Adão. Esqueces que teus pais traziam consigo o mesmo Adão? Aquele Adão a quem foi dito: No suor de teu rosto comerás teu pão e lavrarás a terra donde foste tirado; germinarão para ti espinhos e abrolhos (cf. Gn 3,19 e 18). Mereceu isto, aceitou-o, como vindo do justo juízo de Deus.

Por que então pensas que os tempos antigos foram melhores que os teus? Desde aquele Adão até o Adão de hoje, trabalho e suor, espinhos e cardos. Caiu sobre nós o dilúvio? Vieram os difíceis tempos de fome e de guerra, que foram escritos para não murmurarmos agora contra Deus?

Que tempos aqueles! Só de ouvir, só de ler, não nos horrorizamos todos? Mais razões temos para nos felicitar que para murmurar contra o nosso tempo.”

Evidentemente que o Bispo não desmerece ou desconsidera as dificuldades, sofrimentos e provações que fazem parte de nossa história, em todos os âmbitos.

Mas o que não podemos é mergulhar num falso saudosismo de que os dias foram melhores, e que hoje tudo é mais difícil. Cada tempo tem suas marcas, seus desafios, e cabe a nós buscarmos, com sabedoria, a melhor forma de enfrentá-los, e de encontrar as respostas e saídas possíveis.

Sem recuos, lamentos inúteis, mas a perseverança se faz necessária, para que não somente encontremos a saída, mas encontremos e passemos pela porta estreita que nos conduz à salvação.

Troquemos lamentos por confiança, perseverança, esperança, fidelidade e coragem, no viver dos sagrados compromissos que abraçamos desde o dia memorável de nosso Batismo, em que acolhemos em nós o mais belo Hóspede, o Espírito Santo que em nós faz morada, acompanhando-nos e nos assistindo em todos os momentos, com os dons necessários.

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