domingo, 28 de julho de 2024

O Senhor nos ensina a alegria da partilha (XVIIDTCB)

                                                             

O Senhor nos ensina a alegria da partilha

 “Jesus tomou os pães, deu graças e distribuiu-os aos
que estavam sentados, tanto quanto queriam.
E fez o mesmo com os peixes.”
(Jo 6,11)

A Liturgia do 17º Domingo do Tempo Comum (ano B) nos convida a refletir sobre a realidade da fome em sua múltipla expressão, e a ação de Deus em nosso favor para que esta seja saciada em plenitude, também nos exorta aos necessários compromissos de amor e partilha.

Aqui, não se trata apenas da fome do pão material, mas de outras tantas fomes: amor, liberdade, justiça, paz, esperança, fraternidade, solidariedade, alegria, ternura...

Na passagem da primeira Leitura (2 Rs 4, 42-44), com o Profeta Eliseu, aprendemos que a multiplicação de gestos de partilha e generosidade para com os irmãos revelam a presença de Deus, que vem ao nosso encontro para saciar a fome do mundo.

O Profeta Eliseu viveu um período muito conturbado, com a multiplicação das injustiças contra os pobres e as arbitrariedades contra os fracos, acompanhado da infidelidade a Deus na violação da Aliança.

A descrição contida na passagem nos revela que quando o homem é capaz de sair do seu egoísmo, com a disponibilidade para a partilha dos dons recebidos das mãos de Deus, torna-se gerador de vida em abundância. Ainda que pareça paradoxal, a partilha e a solidariedade não empobrecem, mas geram vida em abundância: quanto mais se partilha, mais se tem.

A ação de Deus se revela na ação dos pobres, que partilham com amor e generosidade, sem espetáculos. Deus quer precisar de nós, de nossa generosidade e bondade. Criando-nos sem a nossa participação, não quer nos salvar sem a mesma, como disse Santo Agostinho.

Na passagem da segunda Leitura (Ef 4,1-6), o Apóstolo Paulo exorta a comunidade a amadurecer na autenticidade de seu testemunho, abolindo toda prática fundada no egoísmo, orgulho, ciúmes, rivalidade, inveja, ódio, autossuficiência e preconceito, e assim, se esforçar em viver as exigências cristãs: a humildade, a mansidão e a paciência, que são os pilares da unidade.

A mensagem do Apóstolo é como que um convite a construir pontes, que criam proximidade, e não muros, que criam barreiras e divisões.

Na passagem do Evangelho (Jo 6,  1-5), com a multiplicação dos pães e peixes, Jesus nos convida a passar da escravidão à liberdade, da lógica do egoísmo à lógica do amor e da partilha.

Ainda podemos dizer que o capítulo 6 deste Evangelho é uma Catequese sobre Jesus, o Pão da Vida, que sacia a fome de vida plena de toda a humanidade em todos os tempos.

Alguns paralelos são notáveis:
- O Evangelista nos apresenta a ação libertadora de Jesus, de modo que Ele é o Novo Moisés, que tirará o povo da situação de miséria e escravidão em que se encontrava;

- O local em que Jesus realiza o sinal nos reporta ao Monte Sinai, onde Moisés recebeu os Dez Mandamentos;

- Com Moisés se deu a passagem da libertação da escravidão do Egito, e com Jesus temos a nova Páscoa, de modo especial a passagem da morte para a vida.

Outros elementos contidos na passagem, como também os gestos e palavras, revelam que a comunidade é constituída de gente simples e humilde, e com vocação para o serviço, que se expressa na partilha e solidariedade. Tão somente assim ela passa a viver a nova lógica proposta por Jesus.

É preciso substituir o egoísmo pelo amor e pela partilha. Jesus é a revelação do Deus que Se revestiu de nossa humanidade, e veio ao nosso encontro para revelar o amor Trinitário, fonte de vida plena e fraterna.

Com Jesus, vivendo a Sua Palavra, acolhida de modo especial na Eucaristia que celebramos, tornamo-nos partícipes de uma sociedade da saciedade, e não de uma sociedade com o pecado da desigualdade, da fome e da morte.

A caridade vivida em relação ao outro, sobretudo aos pobres, revela a autenticidade de nosso discipulado. Deste modo a comunidade tem que ser sempre um lugar deste aprendizado que nunca termina.

Sintamo-nos questionados e inquietos sobre os “pães e peixes” que temos para partilhar: amor, amizade, tempo, sorriso, dons, etc. Ainda que tenhamos pouco aos olhos humanos, quando partilhado com amor, torna-se multiplicado aos olhos de Deus.

Não há ninguém neste mundo que não tenha nada a partilhar ou algo a receber. E assim, todos nos enriquecemos, quando aprendemos e reaprendemos a alegria da partilha que o Senhor nos ensina, como expressão do amadurecido amor.

Somente deste modo é que o Reino de Deus acontece, quando não partilhamos do que sobra, mas até mesmo daquilo que possa nos faltar. Se assim realizado, não falta, multiplica, e todos somos saciados e alcançamos a verdadeira felicidade.

Renovemos a certeza de que quando colocamos nas mãos de Deus o que temos e o que somos, Ele faz o milagre acontecer!

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